☾✧ ━━ 36 ━━ ✧☽
━━━━━━✧❂✧━━━━━━
☾✧ ━━ Seríamos como elos de uma corrente inquebrável, formando um grupo extremamente forte, capaz de superar qualquer desafios juntos... seríamos, se não houvesse tanta desconfiança e hostilidade entre nós (Ohime) ━━✧☽
━━━━━━✧❂✧━━━━━━
Um silêncio pesado preencheu o ar ao nosso redor.
— Então — Khalil acabou rompendo o silêncio — o que vamos fazer com esse poder dela? Toda vez que ela usar o poder dela, ela vai ficar assim?
— Costumamos dizer em Himura que todo o poder descontrolado vem de maus sentimentos. Qualquer sentimento ruim, se for forte o suficiente, pode alterar o nosso ruah e isso piora muito quando o ruah em questão é de origem destrutiva. Antes que ela conseguisse controlar os poderes dela, usávamos um método que pode parecer um pouco brutal inicialmente, mas era um bom método de alívio. A menos que ela consiga manter sempre o controle, continuaremos a enfrentar situações semelhantes. Fazer esse tipo de controle com o próprio ruah é extremamente difícil, principalmente tendo a classificação de força tão elevada quanto o da Rainha Carmesim. Usamos esse método algumas vezes como treino também, lembra Ohime?
— Eu gosto dessa ideia — falei com um pequeno sorriso — a última vez que tive algo parecido foi com a filha do Príncipe Corvo, quando fui ajudar no controle dela. Ela sem dúvidas me deu uma boa luta.
— O que pode acontecer com a Ohime se não conseguirmos lidar com isso? — Syaoran perguntou com sua voz passiva.
— Temo que o que acontece com ela não é a questão, enquanto o corpo dela rejeitar o poder e ela perder a consciência, nada irá acontecer além do que aconteceu hoje. Só não podemos deixar que ultrapasse isso. Vamos torcer para que isso siga apenas drenando sua energia e a deixando mais fraca.
— Você está ocultado uma parte, não é mesmo professor? — falei colocando as mãos atrás da cabeça — Todos sabemos o que acontece quando uma energia é drenada toda de uma vez.
— Certo — o professor falou em voz baixa — mas não deixaremos isso acontecer.
— Eu preciso falar... — Zyon começou parecendo incomodado. Eu sabia que ele iria falar sobre o meu selo, o selo que eu deliberadamente escolhi para tirar a sentença de morte do próprio Imperador, talvez aquele pequeno incidente fosse o início de tudo, mas e se não fosse?
— Não, Zyon — o interrompi — não vá falar algo que você possa se arrepender depois e nem algo que vai me deixar brava agora.
Ele ficou quieto e o silêncio preencheu o ar enquanto todos fazíamos o nosso melhor para processar o incidente ocorrido há tanto tempo. Todas as minhas decisões egoístas de proibir meus amigos a falar, de apagar suas memórias e todas as minhas tentativas vãs de salvá-los naquela época, voltavam a cada segundo para assombrar os dias atuais.
— Eu tenho perguntas — me levantei me sentindo melhor — e vou aproveitar que vocês conseguem responder. Primeiro, meu irmão ao morrer disse que não perdoaria alguém, quem era?
— Não foram as divindades que mataram o seu irmão — Tales colocou a mão na cintura.
— Então, quem foi? — perguntei já com a emoção controlada. Qualquer notícia podia ser ruim o suficiente, mas pelo menos ajudava na hora de traçar um plano.
— Isso parece contradizer o que vocês têm nos dito — Syaoran comentou — que as divindades mataram todos por ordens da divindade chamada Nifir.
— Isso é verdade — Tales retrucou — mas as divindades nunca alcançaram o irmão da Ohime, tanto ele como nós nos defendemos bem o tempo todo, pois éramos fortes o suficiente para lidar com eles.
— E então? Ainda não sei quem o matou e nem quem ele não perdoaria — perguntei de novo.
Tales fez uma pausa, tomou ar, como se estivesse reunindo coragem para falar novamente.
— Naquela época corríamos pela mansão fazendo o possível para impedir que matassem a todos. Até mesmo o Qiang estava junto. Tudo o que víamos eram sangues e corpos — a luz de Tales se contraiu enquanto possivelmente se lembrava das cenas — Enquanto fazíamos isso, o irmão da Ohime estava ocupado procurando a divindade responsável por aquilo, ou pelo menos era isso que pensávamos. Quando o encontramos, ele já estava morto. Assim como todos vocês viram na visão, alguém o atravessou com uma espada.
— E como pudemos recuperar uma memória que não é nossa? — cruzei os braços e encostei na janela na tentativa de conseguir um pouco de vento — essa lembrança precisa ser minha ou de um dos dois que tiveram a lembrança alterada. Não recuperaríamos uma lembrança que não fosse nossa.
Eles ficaram em silêncio, um silêncio pesado. De repente fui tomada por uma raiva repentina, eles podiam falar, mas estavam escondendo um dado importante.
Saí da janela e parei na frente do Tales.
— Fala a verdade — minha voz saiu dura — eu já me fiz a merda de alterar e apagar as minhas memórias e estou realmente cansada de tentar encaixar peças de um quebra cabeça que parece sem fim.
— Eu não sei do que você está falando — a luz do Tales parecia alterada apesar da voz controlada dele.
Agarrei-o pela gola da roupa.
— Acha que eu não aguento saber a verdade? Acha que vai me proteger se esconder isso de mim? Você claramente viu que não ter memórias não protege ninguém, se protegesse, eu não estaria aqui agora. O que você acha que vai acontecer? Quem estava com o meu irmão quando ele morreu?
— Ohime, para — o Professor suspirou e tentou ir para perto de mim.
— Não paro, eu estou cansada disso tudo. Que inferno, estou cansada de não saber de tudo, então eu aconselho que comece a falar... — minha raiva era tanta que o chão tremeu... eu sentia meu ruah se contorcer dentro de mim e aparentemente Tales notou minha raiva também, porque ele praticamente cuspiu a resposta.
— O Qiang Huang estava com ele. Ele estava com o seu irmão em seus últimos momentos. Ele é o único que pode saber o que aconteceu... ele...
Todos pareceram ficar surpresos, mas diferente de todos, eu relaxei.
— Obrigada por me falar — a luz de Tales pareceu ser inundada por um rancor até então desconhecido por mim e eu o fitei soltando sua roupa — Então, você acha que foi o Imperador que matou o meu irmão? É por isso que você o odeia? É por isso que quer tanto que eu tenha cuidado com ele? Por que acha que ele irá fazer o mesmo? — perguntei sorrindo.
— Eu não disse isso.
— Não precisa dizer o que está estampado na sua cara — falei dando de ombros — sentem-se todos.
— O que? — Tales perguntou atônito enquanto eu me distanciava.
— Eu mandei vocês se sentarem — falei irritada — isso inclui Vossa Majestade real.
— Eu iria questionar as suas ordens, senhorita — o Imperador deu de ombros — mas quero saber o que te tirou tanto do sério a ponto de deixar a sua luz como um redemoinho.
— Ótimo início Majestade — falei encostando de novo no batente da janela — nossos ruahs são ótimos companheiros, não são?
Todos ficaram em silêncio, mas notava a confusão de cada um. Resolvi continuar sem muitos rodeios.
— Dizem que nossos ruahs são heranças, até o mais ordinário dos seres possuem um ruah, mas poucos chegam a conhecer seus nomes, mas quando os conhecemos, as vezes chegamos a nos perguntar como conseguimos viver tanto tempo sem eles, não é assim? Eu particularmente sou louca pela Rainha Carmesim. Ela é inteligente, forte e uma grande amiga, não consigo imaginar a minha existência sem ela. Mas além de bons companheiros, eles também servem para nos ensinar sobre nós mesmos. Ninguém sabe melhor sobre um hansha do que um próprio hansha — me virei para o Imperador ao dizer isso — do mesmo jeito que ninguém sabe melhor de um Malpha do que um próprio Malpha. Eu posso não conhecer a minha história, mas conheço bem a minha própria "espécie" por assim dizer.
— E o que isso prova? — a pergunta veio de maneira irritada da boca do Tales — Agora vai me dizer que vocês não matam?
— Eu matei bilhões de pessoas, como poderíamos não matar? Tales, eu não acabei de falar, me mostre um mínimo de educação — falei sorrindo — os hanshas enxergam as luzes dos ruahs de cada um. Cada ruah tem uma cor distinta, vejo o de vocês de maneira incrível. O ruah é impresso no nosso próprio espírito assim como os nossos atos. Claro que é impossível saber o que cada um fez somente prestando atenção na frequência e cor de cada ruah, mas existem manchas que deixamos nessas luzes que são impossíveis de não identificar. Então, vamos agora a uma pequena lição sobre isso. Depois agradeçam a Rainha Carmesim por ela ser a melhor instrutora de todos os tempos. Após a demonstração lamentável da confiança fraca que vocês têm uns com os outros, eu irei expor todos aqui.
— Tem certeza de que isso é uma boa ideia? — Khalil de repente pareceu se encolher na cadeira.
— Vamos começar comigo — eu falei sem responder — o meu ruah originalmente era apenas vermelho, vocês mesmos constataram isso quando vimos o meu passado, meu ruah quando era exposto através das borboletas eram vermelhas e brancas... quer me falar como ele aparece para o senhor, majestade?
Ele pigarreou, claramente incomodado com aquilo.
— Parece uma mistura constante de luz vermelha com manchas pretas.
— E qual a quantidade dessas manchas pretas? — perguntei notando que ele não falaria mais.
— Muitas — ele respondeu — há muito mais manchas pretas do que luz.
— Exato — continuei — essas manchas foram deixadas no meu ruah através de todas as pessoas que morreram através de mim. Eu carrego tantas mortes que fica muito difícil saber quantas delas foram por acidente, quantas foram propositais e quantas foram por defesa. Cada morte nos dá uma mancha diferente e eu vou falar exatamente as que eu vejo aqui. Vamos primeiro dividir as mortes em duas partes: 1: O assassino matou outro ser considerado inteligente e capaz. 2: O assassino matou seres considerado prejudiciais, ele matou esse ser de maneira defensiva ou para defender e proteger outros seres, nesse caso irei deixar as divindades, que apesar de serem inteligentes e capazes, também são prejudiciais para muitos seres. Dos 6 aqui presentes, apenas 1 se encaixa no caso 2, apenas um de nós não é considerado um assassino.
Antes de continuar eu cheguei até o criado mudo e tirei uma garrafa de bebida da gaveta com alguns copos de doses e me ofereci um, passando a garrafa para o lado. Bebi de um gole e segui.
— Parabéns Syaoran por ter sido riscado da lista dos assassinos cruéis, um brinde para o melhor ser entre nós — acredito que todos notaram que minha irritação crescia à medida que eu falava, pois cada um apenas pegou um pouco de bebida e pareciam segurar a respiração conforme eu falava — Como eu disse, cada morte deixa um tipo de marca diferente dentro de nós. Sabendo que todos nós matamos por defesa contra as divindades no decorrer do caminho e sabendo que eles se encaixam na situação 2, iremos falar apenas das mortes que se encaixam na situação 1. Então vamos ao meu julgamento: Khalil, você matou acidentalmente e indiretamente, não conseguia controlar o seu corpo, o que explica as manchas cinzas pintando levemente o seu ruah alaranjado, o fato de as manchas serem claras, indica o tamanho do seu arrependimento e as suas mortes se resumem a isso. A outra única mancha que aparece indica que você matou seres inteligentes e capaz apenas para sua defesa ou para defesa de outra pessoa, talvez uma guerra ou algo do tipo. Tales, você matou de maneira defensiva, em guerras e em duelos. As mortes causadas nos duelos não são mostras de debilidades ou crimes, são mortes honrosas para os nefilins e possuem tons amarelados. Você possui prazer nas lutas e no derramamento de sangue, contanto que seja de forma honrosa. Professor, sua luz me mostra que seus segredos são tantos e tão pesados que parecem demais para os seus ombros, a pedido da sua luz, ocultarei suas informações. Príncipe Corvo, por que será que eu imagino que você é o único que está sorrindo aqui?
— Porque eu não me importo com isso tudo, e me parece fascinante seu poder de dedução apenas estudando o nosso ruah — ele respondeu parecendo dar de ombros — vamos, quero saber o que a minha luz fala de mim.
— Assim como os nefilins, os malphas gostam da desordem, gostam de terem servos e gostam de uma boa briga — dei de ombros — além de eu ter tido um longo caminho ao seu lado e ter muitas lembranças nítidas, eu consigo ver também que você matou direta e indiretamente, por ordens e por omissões, matou por diversão e por defesa, suas manchas pretas se parecem com as minhas, mas não carregam o peso do arrependimento em relação a muitas delas e apesar disso, seu ruah só me mostra que você não é um ser cruel. Bateu em duelos por pura diversão com outros seres que apenas queriam isso também, não me parece um crime grave, também viveu por alguns anos em um navio, junto com uma das quadrilhas mais perigosas daquele universo o que te rendeu algumas outras manchas pretas. Sua filha certamente teve a quem puxar.
— Não esquece que você ajudou que ela e toda a sua quadrilha chegasse no trono, Ohime.
— Não esqueço — dei de ombros, me sentindo um pouco mais relaxada — agora chegamos no nosso querido Imperador. Alguém aqui consegue adivinhar as mortes que ele carrega? Tales, talvez você queira tentar?
— Já entendi, Ohime — Tales respondeu irritado.
— Não, eu quero falar sobre isso — falei — o Imperador matou por defesa, através de guerras e indiretamente, provavelmente em julgamentos, mas não saberia dizer. Na luz do nosso rei eu não vejo injustiças, é a luz que mais me mostra justiça aqui, perdendo apenas para Syaoran e certamente meu irmão sabia disso, mesmo assim eu não vou descartar a possibilidade de ele ter matado o Yohan, porém se ele o fez, sem dúvidas ele tinha um motivo para isso. Verdade seja dita, ele não lembra do que aconteceu e não saberemos a não ser que recuperemos essa memória também. Eu decidi não ir embora, decidi não fugir dessa vez, mas se eu notar esse tipo de desconfiança de novo, eu irei agradecer a ajuda e irei desaparecer novamente. Eu não estou pedindo que vocês gostem uns dos outros, mas por favor, não sejam hostis. Vamos deixar essa parte de lado por enquanto e tentar descobrir qual deve ser o nosso próximo passo.
— A Ohime está certa — Zyon me apoiou — Brigar não vai nos levar a lugar nenhum, certo? De qualquer forma, que tal encerrarmos o dia por enquanto — ele se aproximou e colocou a mão no meu ombro — Você ainda não parece muito bem, acho que você deveria descansar um pouco.
— Não se preocupe — respondi — eu estou...
— O velhote está certo — Khalil interrompeu — você está horrível.
— Sua sinceridade me toca, Khalil — eu dei risada, mas de fato eu não estava me sentindo perfeitamente bem.
Eu me sentia cansada e me senti incapaz de retrucar mais do que isso.
— Viu só? — o Príncipe Corvo me guiou até a cama — Então, todos vocês ouviram, vamos sair logo daqui.
E foi assim que a elaboração de planos para o nosso próximo passo foi adiada até um dia posterior. Por enquanto, cada um iria cuidar de seus próprios negócios, até que eu pudesse realmente descansar.
━━━━━━✧❂✧━━━━━━
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro