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☾✧ ━━ Você já viu o gelo queimar? (Ohime) ━━ ✧☽
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Por que eu me importava? Eu estava me sentindo irritado e mal-humorado. Quando dei por mim eu estava apenas seguindo-a. Vampiro? Que raios era aquilo? A advertência de Zyon para ela me deixou preocupado, ele iria beber o sangue dela? Que ser desprezível fazia tal coisa com uma dama?
Eles caminhavam e pareciam conversar tranquilamente rua após rua. Tudo estava vazio e mal iluminado, mas a luz dela continuava brilhante. Eles caminharam tempo suficiente até pararem na frente do lago mais bonito da região. A luz da lua provavelmente estava deixando a paisagem estonteante para qualquer um. Ele olhava para a paisagem e ela seguia parada ao seu lado, eles pareciam estar bem tranquilos e a vontade. Aquilo me deixou com um ciúme fora do comum. Incapaz de conter a ansiedade de saber com exatidão o que estava se passando eu tirei a faixa. A luz da lua ofuscou minha visão por um tempo até que eu pude vê-los com claridade. Ele era bonito, eu não podia negar, mas ao lado dela... ao lado dela nada mais parecia brilhar. Sua pele branca combinava com seu rosto fino e delicado. Seus cabelos negros e longos caíam com perfeição em suas costas em um penteado meio preso. A roupa que ela usava era digna da realeza, mas ainda não parecia o suficiente para se equiparar com ela. A faixa em seus olhos era minha. Após a sua ser destruída enquanto ela se defenda ainda no palácio, cedi uma das minhas para que ela não precisasse manter os olhos fechados e apesar de não combinar em nada com a roupa que ela usava, ficava tão perfeita nela, que eu me vi tentado a nunca mais ter aquela faixa de volta, só para que ela a seguisse usando.
Tudo o que eu sentia através dela era uma bondade imensa e uma solidão melancólica. Virei meus olhos para o seu companheiro e de repente senti uma dor terrivelmente forte no estômago, como se eu não comesse há muito tempo e aquilo começou a me deixar enjoado, mas eu não queria fechar novamente os olhos, eu queria seguir vendo-a.
Ela mantinha um sorriso encantador no rosto enquanto falava e segurei a respiração quando ela levou seus dedos até a boca dele. O ciúme parecia me dominar por completo, mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa ele a grudou. Vi com raiva ele se demorando no pescoço dela e depois senti uma dor forte de algo o perfurando enquanto pouco a pouco a dor no estômago diminuía. A sensação era tão contraditória que precisei me encostar em uma pedra próxima. Aos meus olhos ela parecia apenas uma presa que havia sido vítima de um animal predador.
Incapaz de seguir vendo tal atrocidade, eu fechei novamente os olhos, me sentindo aliviado por fazer a dor perfurante sumir do meu pescoço e a sensação de alívio desaparecer do meu estômago.
Fiquei ali, sem reação nenhuma. Meus pensamentos voaram longe e acabei sendo surpreendido pelo vampiro que apareceu rapidamente ao meu lado.
— O espetáculo estava divertido? — ele perguntou com uma voz bastante cínica.
— Com certeza estava — dei de ombros, sem querer admitir que a raiva me dominava — Pelo visto, você é bastante perceptivo.
— Você nos seguiu por todo o caminho, estou surpreso que ela não tenha percebido — ele respondeu — então, você é o famoso rei da história dela.
— Ela te contou, foi? — eu ri da situação embaraçosa que eu estava.
— Nos seguiu por ciúmes ou ficou com medo de não poder pagar a dívida que você diz ter? — ele pareceu cruzar os braços ao dizer isso.
— Só não quero problemas no meu reino — falei forçando o maxilar — o que você e ela fazem juntos não me interessa. Os segui porque ela é um problema ambulante e você não me parece muito diferente.
— Que bom que você vê a situação dessa forma — ele parecia querer me provocar, e eu não estava em condições de continuar com aquilo — Então presumo que não se importará em saber que ela compartilhou a cama comigo todos os dias por três meses, certo?
Uma onda de tensão varreu meu corpo inteiro, e um vazio tão profundo se instalou em meu estômago que era quase doloroso. Eu queria responder à altura, mas naquele momento, não conseguiria com facilidade. Lembrava-me dela, de ter estado com ela. Às vezes, a via como uma menina teimosa e birrenta que eu adorava provocar, mas também me recordava do quanto a amei. Saber que ela estivera com aquele sanguessuga me fez suar frio e tremer. Contudo, antes que pudesse reagir, o som característico do gelo se formando e se desfazendo alcançou meus ouvidos.
— Ouviu isso? — eu me levantei em um pulo.
— Ouvi o quê?
— Você conseguiu me perceber e não ouviu algo tão claro? — virei meu rosto para onde ela deveria estar e não a encontrei, meu sangue gelou... era o som de um Espírito da Neve, e eu sabia que elas geralmente não eram amigáveis — Droga, ela vai se meter em problemas novamente — apertei os pulsos.
— Pode deixar que eu vou até onde ela está — Bae falou tranquilamente — melhor você esperar um pouco se não quiser que ela saiba que você nos seguiu. Acredite em mim quando eu digo que ela iria ficar muito irritada se descobrisse isso. Toma um tempo e invente uma história convincente.
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Eu estava parada, sentada na grama e como o Bae estava demorando para chegar, eu me permiti tirar um pouco a venda dos olhos e ficar olhando a paisagem maravilhosa que se estendia à minha frente.
Examinei atentamente a faixa que o rei me emprestara, admirando cada detalhe do tecido preto com ornamentos dourados, e de um lado, o nome dele em hanzi. O aroma dele ainda impregnava aquele tecido, e por um instante, a paisagem deslumbrante ao redor foi esquecida. Como ele estaria agora? Me lembrava claramente de sua luz agradável e bela, mas e seu aspecto físico? Seria tão bonito quanto o jovem daquela visão? Permaneci ali, refletindo sobre um rei que eu desejava desprezar, me recusando a aceitar que um dia poderia ter sido apaixonada por ele.
O tempo parecia ter parado ao meu redor quando ouvi um som estranho; não era humano, e eu tinha certeza disso. Me levantei sem pensar nas consequências de seguir aquilo sozinha. Com a faixa sobre os olhos, corri em direção ao som, que não estava longe. Ao chegar, não encontrei nada de particular, apenas uma luz que lembrava estranhamente a de Syaoran. Talvez ele ou ela estivesse somente admirando a paisagem, e eu me assustei à toa.
— Ah — a voz tranquila de uma jovem chegou até mim — Sinto muito, não sabia que eu tinha companhia. Quem é você? Que estranho, tenho certeza de que o Imperador usa uma faixa muito parecida a essa.
"Quem será que é ela?" me perguntei sem saber se eu me colocava na defensiva ou não. No fim, pensar sobre isso não iria ajudar, pois meus ouvidos novamente captaram um outro som e joguei instintivamente meu corpo para o lado para evitar um ataque direto de espada. As divindades realmente estavam chegando longe para me alcançar, já nem se importavam se estavam ou não colocando outros serem em perigo. Ele estava mesmo lutando comigo com alguém tão próximo a nós?
— Oras, não irá nem me convidar para sair antes? — falei em um riso nervoso — Sabia que o seu ruah parece apenas uma fumaça preta e feia?
— Então acostume-se Rainha Carmesim, pois a senhorita verá essa cor durante muito tempo assim que eu consiga te capturar.
— Caramba... vocês são chatos viu? Eu nem tive tempo de descansar.
Não era possível liberar meu ruah livremente, pois isso colocaria em risco a vida da garota à minha frente. Também não podia agir de forma estranha que prejudicasse o Imperador. Observei meu rival se aproximar, buscando a melhor solução. Não deveria me preocupar com as consequências para o Imperador naquela situação; eu precisava lutar. Depois, poderia simplesmente alterar a memória da menina e resolver tudo sem problemas.
Abaixei a faixa e recitei "Nam omnis iste dolor, Regina, fac illud ardere", ele se contorceu, chegou a ser uma luta monótona, mas me deixou cansada. Fazer um selo capaz de prender uma divindade e ainda ter forças para mandá-la de volta para casa exigia uma boa quantidade de ruah. Coloquei as mãos na perna e momentaneamente tentei respirar de maneira regular. Eu estava cansada só com aquilo, aquilo não estava certo.
— Estou confusa, você é um hansha ou outra coisa?
Sem sequer pensar, eu virei meus olhos para a garota a minha frente, que por alguma razão tinha um sorriso satisfeito no rosto. Um sentimento retorcido tomou o meu corpo e um desejo de vingança tomou cada célula minha. Surpreendida por sua pergunta, eu comecei a tremer. Como ela sabia sobre os Hanshas?
— O que você é? — perguntei sem desviar o olhar e por não aguentar tamanha repulsa, acabei por fechar os olhos novamente.
A garota se aproximou, eu sentia como ela mantinha seus olhos fixos em mim.
— Por que você não quer me olhar? — ela tentou levar sua mão até a faixa que eu estava terminando de colocar, mas eu a interceptei com a outra mão.
— Não encoste na faixa — falei de maneira ríspida.
— Vejo que você tem potencial. Seria bom ter você ao nosso lado. Você faria bem se escolhesse o nosso lado ao invés de escolher o reino humano — minha mão ao redor de seu braço começou a gelar e um arrepio percorreu o meu corpo — Os humanos só vão te usar e depois irão jogá-la fora. Qual é a sua escolha?
— Minha escolha? — eu ri e soltei a sua mão — acha que eu vim até esse universo para escolher um lado de uma guerra que eu nem sabia que existia? O que te faz acreditar que eu escolheria algum lado?
— Entendo — ela falou decepcionada e enxerguei sua luz se encolhendo por alguma tristeza interna — Então eu temo que o seu destino esteja selado.
A temperatura do ar ao redor da garota começou a cair rapidamente, a mão da garota se abriu enquanto uma rajada cortante de vento e gelo passava raspando pelo meu rosto.
— Entendi — sorri sem humor — um Espírito da Neve. Bem que dizem que vocês não são muito receptivos.
Ao escutar isso ela gesticulou novamente e o vento ficou ainda mais forte.
— Vai para casa garota — falei cruzando os braços — eu não tenho tempo para isso.
— Não se preocupe, você irá morrer aqui de qualquer maneira — o vento se intensificou fazendo com que eu fosse obrigada a recuar — Essa é a sua última chance de mudar de ideia. Concorde agora em unir forças comigo e eu vou parar aqui.
— E essa é a última vez que eu vou falar para você ir para casa. Eu não tenho tempo para brincar com você agora. Eu já tenho problemas suficiente com as divindades.
Assim que ela finalmente aceitou que eu não cederia, ela intensificou os ataques criando estacas de gelo, estacas que foram facilmente desviadas. Suspirei me sentindo frustrada com a situação e novamente tirei a faixa.
— Por favor, eu não quero lutar com você — falei em um último apelo.
— O que você vai fazer? Refletir o meu poder e usar contra mim? — ela riu — acha que o gelo me afeta?
— Ah — respondi — sabe qual é o problema de quase não existir ou quase não ter existido hanshas? É que você nunca irá saber o verdadeiro poder deles. Me diga, você já viu o gelo queimar?
— Então você também tem algum dom a parte? Isso pode ser interessante, mas saiba que meu gelo é capaz de vencer o fogo.
— Fogo? — eu sorri com a arrogância dela — mas quem falou em fogo?
Assim que eu terminei minha frase eu finalmente abri os olhos novamente, senti o líquido quente escorrer dos meus olhos, duas pequenas lágrimas de pura lava.
— Destruir essa paisagem seria uma pena, senhorita. Ouvi dizer que poucas coisas são tão destrutivas quanto esse seu poder — me virei em direção a voz e vi que Bae estava parado na margem do lago — O que está acontecendo? Você está bem?
Assim que ele olhou realmente o meu rosto ele ficou pálido.
— Espera — falei tentando salvá-lo do ataque de gelo — fica para trás.
— Ah, vieram te ajudar... não consigo nem definir o que ele é. Saia já da minha vista. Homens me dão nojo — a garota praticamente cuspiu as palavras antes de acenar com a mão o ar a frente dela atirando um pico de gelo diretamente até o Bae.
Em um piscar de olhos, Bae sacou o seu sabre desviando o ataque para outra direção.
— Oras, então os Espíritos de Gelo também existem aqui — Bae se preparou para contra-atacar, mas assim que eu pus realmente os olhos nele, eu senti todo o medo que o consumia e entendi que um vampiro não era capaz de vencer um espírito daqueles. Ele sabia bem disso também.
Sem deixar tempo para pensar, a garota levantou a mão para outro ataque.
— Ei — gritei para ela — seu problema é comigo, ele não tem nada a ver com isso. Vamos resolver isso, só entre nós.
Se aproveitando do momento de distração, Bae avançou com a espada em punho e posicionou a lâmina ameaçadoramente diante do rosto da moça; contudo, antes que a espada atingisse seu alvo, ela esboçou um sorriso sutil e agarrou a lâmina do sabre com firmeza, sem hesitação.
— Você foi um tolo de se aproximar tanto assim sabendo o que eu sou.
Uma espessa camada de gelo envolveu o sabre, avançou pela mão de Bae e subiu pelo seu braço. Incapaz de apenas observar, corri em sua direção, e ela, numa tentativa de deter meu ataque, lançou seu gelo contra mim. Não me esquivei e, pela primeira vez, vi o medo em seus olhos quando o gelo se desfez antes mesmo de tocar minha pele.
Agarrei com força seu braço enquanto ela gritava. Consegui que ela soltasse o Bae, mas não conseguia conter minha própria raiva.
— Me fala, Espírito da Neve. Você já viu gelo queimar?
— O que você é? — ela perguntou com o corpo tenso e trêmulo.
— Eu sou um vulcão e você não deveria ter me despertado — assim que eu comecei a invocar um poder na qual eu não tinha controle nenhum, ouvi o som de sinos tocando e hesitei por pouco tempo, segundos que foram o suficiente para a garota se livrar dos meus braços e ver horrorizada a lava cair no chão fazendo uma bolha preta se formar logo abaixo.
— Você é um monstro — ela me olhou em um misto de raiva e medo, mas antes que ela pudesse me atacar de novo, uma bola de fogo roxa foi arremessada em direção ao Espírito da Neve.
— Honestamente — a voz do Imperador chegou como uma melodia aos meus ouvidos — quanto tempo faz que deixamos você? Primeiro você é perseguida por uma divindade e agora por um Espírito da Neve. Devo dizer que não invejo a sua agenda.
Fechei imediatamente os olhos para deixar de sentir todas as dores recentes e não pude evitar um sorriso.
— Vossa Majestade, que honra ser salva pelo senhor novamente — suspirei aliviada com a aparição dele.
— Então eu chego e a senhorita fecha os olhos, sinto-me ofendido com isso.
Rapidamente uma cena me veio à mente, aquilo era estranho, havia uma casa típica do oriente, mas também havia fogo por todos os lados.
— Aquele lugar, agora... — o Imperador pareceu surpreso também.
— Oras se não é o grande vilão. Você ousa me desafiar?
— Ah — o Imperador voltou ao seu humor habitual — esqueci de você por um momento. Minhas mais sinceras desculpas.
Antes que a garota pudesse conjurar outro pico de gelo, o Imperador lançou uma bola de fogo deixando-a em xeque. Aproveitei a oportunidade para correr até onde o Bae estava. Ele estava se contorcendo de dor enquanto observava o Imperador e o Espírito da Neve.
Virei o rosto em direção a eles e vi a luz da garota parada, estática na frente do Imperador e pouco depois ela deu uma risada divertida.
— Entendi — ela continuava rindo — os Hanshas realmente possuem dons especiais e pelo visto são muito poderosos. É uma pena que seres tão fascinantes quanto vocês se rebaixem para ajudar os humanos.
— Um Imperador sem servos não seria um Imperador, a senhorita não acha? Mas nesse momento não é nos humanos que estou pensando. Eu preciso daquela senhorita em particular, entende? Deixá-la morrer aqui seria um inconveniente terrível para mim.
Escutei-a bufar antes de sentir um pequeno redemoinho de neve ser formando ao redor de sua luz.
— Isso não é o fim, Majestade. Eu te darei o troco muito em breve — ela se virou em minha direção — nos veremos em breve também garota vulcão. Lembre-se, você escolheu seu lado.
O vendaval ao redor dela ficou mais forte e quando a nevasca passou a luz da garota havia desaparecido sem deixar vestígios.
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