Capítulo 26 - Cuidando de um coração partido ✭
Há muito tempo que não vejo Haneul tão quieto e frio, menos com a Moon, o que me deixa mais tranquila. Um mês se passou desde a última vez que ele encontrou Camille Campbell, a mulher que dilacerou o coração dele. Não via o meu irmão tão bêbado e chorão desde o acidente que matou nossos pais que morreram em um assalto de uma casa lotérica. Não falamos muito sobre isso, mas o nosso appa tentou proteger a nossa omma que estava em choque por ter uma arma apontada para sua cabeça. Naquela noite, quatro pessoas ficaram feridas, mas para nós, nossos pais tinham feito o que podiam um pelo outro, até o resto de suas vidas.
Mas eu não conseguia imaginar como meu irmão estava se sentindo. Toda essa decepção, a ilusão de um amor tranquilo, tudo isso foi por água abaixo. Mas acho que ele já estava começando a endurecer seu coração, pois ao ver Camilla e Brendon na TV de nosso novo apartamento, Haneul não correu para desligar a televisão, ele apenas continuou conversando com sua equipe de assessoria por uma videochamada. Moon estava em uma nova escola particular, longe do assédio dos jornalistas na antiga creche dela, no subúrbio de West Lake. Morarmos no mesmo bairro que Julian Campbell ainda parecia algo difícil de acreditar.
— Haneul, tudo bem? — pergunto baixo, aproveitando que estamos sozinhos. Amber estava se aproveitando da publicidade que ganhava por ser a ex louca de Haneul para dar entrevistas vazias para portais de notícias tão vazios quanto ela. — Sabe que está na hora de irmos até a mansão dos Campbell, não é? Julian quer conversar algumas questões com você.
— Sim, eu sei disso. Pode encaixar na minha agenda. Ou melhor, eu vou só tomar banho e logo chegamos por lá — ele tira o fone bluetooth dos ouvidos e sorri de uma forma forçada e talvez até um pouco automática. Meu irmão estava diferente, como se facilmente tivesse se adaptado à nova vida. Talvez seja a forma dele superar a paixão pela blogueira. Mas, confesso que às vezes não o reconheço mais.
— Está tudo bem mesmo, oppa? Você parece tão... fechado... Se quiser desabafar, sabe que pode contar comigo sempre, certo? — sorrio de forma gentil e observo o quanto a aparência de Haneul mudou. O semblante está mais firme, o cabelo um pouco comprido abaixo da orelha e as roupas pretas de sempre. Algo me diz que o Haneul que eu conhecia antes da ilha não existe mais.
— Obrigada, Yuna. Estou bem, preciso ir logo nessa mansão resolver qualquer coisa que esse cara queira comigo, estou cansado dessa família. Quero dar um ponto final nisso. Estou indo tomar banho, beijinhos — ele se aproxima e beija minha testa de um jeito casto, subindo as escadas para seu quarto-suíte.
Haneul ainda não tinha se acostumado com a vida invasiva que ele tem agora, mas disfarça bem, bem até demais. Ele colocou na cabeça que ser uma subcelebridade podia ser uma droga, mas isso pagava nossas contas e os números não paravam de crescer. Isso o seduzia ainda mais e o fazia querer não voltar ao anonimato repleto de salários injustos e patrões nada agradáveis. Este, talvez tenha sido o movimento de fazer o meu irmão querer se adaptar mais rápido.
Era a única oportunidade de dar para a minha sobrinha, asas que ele jamais pensou que poderia dar. Ele comprou carros, dois apartamentos mobiliados, investiu em alguns ramos imobiliários e alimentou seus fãs com sua rotina de exercício e até mesmo um pouco do seu lado pai bobão ao lado de Moon. Os vídeos em que os dois faziam vídeos engraçadinhos vestidos de unicórnio ganharam a internet. Haneul para os fãs, era o homem perfeito que Camille Campbell deixou escapar.
E, a blogueira, se mantinha cada vez mais afastada de suas redes sociais, ou quando aparecia, era em eventos sociais ao lado de Brendon. Camille não parecia feliz, ela não sorria mais como antes e isso levantava as suspeitas dos fãs que sempre tentavam achar brechas em cada postagem enigmática que ela fazia. As coisas tinham mudado completamente, quando paro para admirar o porcelanato impecável deste apartamento e todos os móveis bonitos e caros, internamente agradeço a Haneul por aceitar essa nova vida que não pediu licença.
Deixo meus questionamentos para lá e procuro uma roupa decente para vestir, estou sentindo que esse encontro vai ser diferente. Ao menos, Naty me garantiu que estaria por lá. Preciso confessar que falar com ela desde que Haneul e Camille entraram no reality, foi o que colocou a minha cabeça no lugar, ela me ajudou mais do que ninguém. Não posso me afobar e parecer uma sapata desesperada. Se ela gostar apenas da minha amizade, isso será o bastante para mim.
[...]
Tento dar um jeito no meu cabelo preto, liso e sem graça, mas apenas suspiro frustrada na frente do espelho. Pego um vestidinho azul básico, uso saltinhos nude e passo uma make mais leve para combinar com o clima mais opaco de West Lake.
— Nossa, você está indo para algum encontro? — Haneul surge com suas mesmas camisetas pretas e básicas de sempre, quase me obrigando a fazê-lo trocar de roupa. Porém, hoje ele está com um boné branco que combina com os tênis, de calça jeans surrada e alguns colares e anéis nos dedos — Que atraente, maninha! Vão pensar que hoje é a minha nova paixão.
— Que nojo! — gargalho dando um tapa nele, que se encosta na porta do meu closet projetado. Finalmente tínhamos privacidade e um espaço decente para nós, com camas e móveis enormes e confortáveis. — Obrigada, vou entender como um elogio. Vamos logo, você tá parecendo o Jay Park — pego ele de surpresa, arrancando uma gargalhada gostosa do meu irmão, que há muito tempo eu não ouvia.
— Com certeza eu sou muito mais bonito. Por isso prefiro o BTS, não tem comparação comigo, eu não pareço com nenhum deles. Agora vamos logo, Yuna — Haneul balança as chaves do carro e diz que vai me esperar na garagem. Passo perfume e pego uma bolsa, pronta para qualquer coisa que possa acontecer neste encontro estranho.
Seguimos ouvindo músicas do BTS somente pela piadinha interna do meu irmão. Ele parece conhecer bem mais os meninos, muito mais do que eu imaginava... Porém, resolvo não brincar com isso, aproveitando-se de cada gota deste Haneul mais solto e risonho. Não sei o que aconteceu com o humor dele, mas estou feliz pela cara de mau ter dado lugar aos sorrisos mais sinceros dele. No entanto, isso muda quando chegamos na mansão dos Campbell em menos de vinte minutos.
As risadas são substituídas pela mágoa e posso ver, neste momento, o quanto Haneul ainda está magoado com a Camille, o quanto ainda sente a falta dela. Somos barrados pelos seguranças e ele parece mais receptivo com um segurança bonito, alto e negro com um sorriso lindo. Que cara, gato! Deve ser o tal John que ele sempre fala.
Somos liberados e ele dirige mais um pouco até chegarmos no estacionamento. Eu nunca tinha vindo até aqui quando ainda era o trabalho de Haneul, mas agora as memórias parecem querer voltar aos poucos. Uma pena que Jeong era pequeno demais para lembrar do quanto gostava desta casa. Estacionamos o carro e seguimos juntos ao portão de entrada. Enorme, lindo, tudo aqui parece brilhar. Rapidamente, a porta se abre, como se nos convidasse para o paraíso.
— Boa tarde, Haneul Jeong. Vejo que está acompanhado. Seja bem-vinda, senhorita Jeong — um homem com sotaque francês e traços finos demais para o rosto acentuado e queixo pontudo nos cumprimenta. — Desculpe, senhorita, mas irei pedir para que aguarde na sala para os convidados. Esta conversa é restrita entre o Sr. Campbell e o Sr. Jeong.
— Obrigado, Louis. Não precisa de formalidades, ainda sou o mesmo cara de sempre. Só que menos otário como você tinha me chamado daquela vez que saímos da ilha. — Fico surpresa com a reação de Haneul, que também surpreende o homem. Pouco depois que as coisas se acalmaram, eu disse a ele que estava tentando voltar a ser professora de francês e inglês, mas que estava tendo alguns insucessos. Ele repetiu com dificuldade a frase que os dois seguranças tinham dito, mas a mensagem está completamente legível para mim.
— Obrigada, irei aguardar o meu irmão lá — sorrio de uma forma educada e vejo que um homem de mesmos traços e sotaque marcado me indica a tal sala. Louis e Luigi, os ex-companheiros de trabalho de Haneul. — Até mais, maninho.
Haneul se despede e me dá uma piscadinha divertida, como se finalmente tivesse se vingado. Sigo para a tal sala com a companhia do irmão do homem que nos recebeu, Luigi. Ele explica que devo aguardar um pouco e que assim que a reunião acabar, serei avisada. Suspiro fundo e quando a porta da tal "sala de espera" se abre, noto uma enorme biblioteca particular com três vãos.
Diversas prateleiras do chão ao teto enchem a sala, com uma decoração linda com quadros e itens decorativos que parecem caros demais. Luigi me deixa sozinha e me serve um pouco de café antes de ir. Resolvo explorar um pouco mais e encontro uma salinha no final do corredor com uma placa de "obras raras". Isso está ficando uma delícia... Mando mensagem para Naty e tento matar um tempo, mas nada acontece, estou sozinha aqui.
— ... Que droga, você esqueceu como deve sorrir? Somos um casal feliz, porra! Feliz, feliz... — vozes exaltadas preenchem a sala, enquanto me escondo entre as estantes ao fundo, espero que não me vejam aqui.
— Não é como se você fosse a pessoa mais divertida do mundo... — conheço essa voz, Camille... — Até quando vamos fingir? Não aguento mais essas merdas. Meus seguidores estão desconfiando e...
— Então seja convincente, caralho! — tento bisbilhotar e vejo Brendon agitado pelo recinto. Se ele ousar encostar um dedo nela, juro que corto o pênis dele... Com um pouco de dificuldade, tento abrir a bolsa sem fazer barulho e saco o celular, na tentativa de gravar essa conversa — Isso acaba quando eu quiser que acabe, Campbell. Ou você quer que as pessoas saibam? Que seus fãs vejam a puta que você é? Isso vai ser uma delícia de escândalo. Como seus haters vão ficar quando descobrirem o vídeo de sexo? Haneul, mais uma vez, vai ser o fodão que te comeu. E você? Apenas mais uma vagabunda que a mídia adora destruir.
— Eu não aguento mais... — ela chora baixinho e isso parte meu coração. Permaneço no mesmo cantinho, silenciosa e fria. Preciso dar um basta nessa farsa escrota desse babaca. — Não aguento mais fingir que está tudo bem, me deixa em paz...
— Seja uma boa garota até o nosso casamento e eu vou deixá-la livre para voltar aos braços daquele amarelo de merda! Sabia que ele está na sua casa? Com o seu pai no escritório? — o loiro estúpido diz, fazendo a coitadinha suspirar alto de surpresa. — Mas, você não vai chegar perto dele, temos aquele compromisso, lembra? Só te trouxe para essa sala maldita para te ensinar a sorrir. Na verdade, mudei de ideia. Vem, vamos dar um alô para aquele maldito. Quero que ele veja que você é minha agora.
Camille resmunga, mas Brendon não deixa espaço para que ela recuse. Bufo, conto até quinze e noto que gravei em boa qualidade o áudio e um pouco dos dois no meio da sala. A coitadinha, esse tempo fingindo que estava apaixonada, enquanto esse idiota chantageava ela com vídeo de sexo. Que baixaria! E eu já sei como fazer algo digno de alguém tão baixo quanto ele... Acesso meus contatos na agenda e vejo alguns compromissos de Haneul. Ele estava evitando dois programas televisivos de fofoca, mas desta vez, ele teria motivos o suficiente para comparecer.
— Alô, sou Yuna Jeong e gostaria de confirmar a presença de Haneul no seu programa de sábado. Ele estará lá, mas não divulgue isso na mídia por enquanto, ou Jeong irá desistir. Ah, e tem mais, farei com que Camille Campbell também esteja. Irei fazer acontecer o encontro que todos estão esperando — o diretor do programa comemora ao fundo e diz que vai checar a veracidade da minha ligação. Não demora, todos têm o meu número. Irei dar para este maldito branquelo a atenção midiática que ele merece.
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