✦Trinta E Dois✦
ADORA
É hoje, o grande dia.
Faz mais ou menos um mês que Felina sumiu. Um mês em que eu não como e não durmo direito. Um mês em que tudo que eu faço é pensar nela e pensar em como eu faria pra tirar ela de lá.
Troquei informações com Mara sobre o que descobri quando voltei à Zona do Medo pela última vez. A princípio ela brigou comigo e me chamou de imprudente, mas sei que ela entende meus motivos pra fazer o que faço, pra me arriscar como me arrisco.
Não é como se Felina fosse apenas uma amiga ou alguma ficante, para mim ela deixou de ser isso há muito tempo. Ela significa muito pra mim, mais do que eu poderia sequer imaginar um dia.
Seguiram-se dias e semanas de planejamento com a polícia e o resto dos envolvidos no resgate dela. Eu, sinceramente, não gosto da ideia de mais alguém se arriscando por um plano maluco meu. Essa luta é minha, mas não consigo sozinha.
Mara pensou em trazer policiais de outras cidades ou estados, já que os daqui são rostos conhecidos pela Horda e seriam facilmente interceptados pelos criminosos caso aparecessem, o que estragaria totalmente o nosso plano.
Mas, trazer policiais de outros lugares exigiria mais preparo e espera, por conta de toda a situação em que estamos inseridos, não temos tempo para isso. Precisamos agir rápido, não se passa um dia sem que eu pense no que podem estar fazendo com ela lá dentro e no tipo de coisa que ela têm passado.
Já esperei tempo demais, não posso deixar ela lá nem mais um dia. É agora ou nunca.
Amarro meu cabelo e dou uma apertada nos cadarços dos meus nikes pretos. Encaro meu reflexo no espelho, minhas olheiras estão escondidas por trás de um potente corretivo e minhas pálpebras estão coloridas por uma discreta sombra marrom. Minha alma e meu corpo estão cansados, totalmente, mas agora não é hora de pensar nisso.
Ouço alguém bater na porta.
- Ei, tá pronta? - Adam aparece, vestindo roupas escuras, um capuz sobre a cabeça e lentes de contato castanhas. Ele já foi um dos pupilos valiosos de Prime, não poderia arriscar que ele fosse reconhecido. Mara aparece atrás dele. Eles vêm se aproximando com o passar dos dias e aos poucos estamos nos tornando uma verdadeira família. As coisas estão meio estranhas ainda e aos poucos estamos entendendo o passado da nossa família juntos.
Ainda há muitas coisas faltando, muitas peças a encaixar. Mas, iremos descobrir tudo, não importa o tempo.
Tudo fica mais fácil na companhia de quem amamos, não é?
- Estou.
Saio do quarto e vou até a sala.
- Bom, vocês estão sozinhos a partir daqui. - Mara toca meu ombro e o de Adam com as mãos e olha profundamente em nossos olhos. - Eu vou estar na base da polícia monitorando, não vou poder acompanhar vocês nessa. - ela suspira. - Me prometam que vão ter cuidado, okay? Isso não é uma brincadeira e eu não quero que nada de ruim aconteça. Eu amo vocês. - Mara nos abraça apertado.
- Também te amamos. - Adam e eu dissemos em uníssono.
De todas as pessoas, Adam é a que eu menos queria que estivesse envolvida nisso tudo. Ele é minha família, meu irmão, e eu não queria ter que correr o risco de perdê-lo outra vez. Mas, assim como eu, Adam é teimoso e irredutível, não houve nada que eu dissesse que o convencesse a me deixar ir às cegas nessa missão.
Ele conhece a Zona do Medo, sabe como funcionam as coisas muito melhor do que eu. Talvez eu não conseguisse sem ele, e Adam sabe disso.
Ele disse que não quer me deixar, que haja o que houver e em todas as situações ele quer estar comigo, e eu não posso tirar isso dele, já ficamos longe por tempo demais.
Saímos pela porta e descemos as escadas do prédio. Me despeço de Charles, que franze as sobrancelhas, preocupado. Charles é como um pai pra mim, não poderia esconder dele o que quer eu fosse fazer, não privaria ele disso. Sei que ele não me apoia totalmente nessa loucura, nem ele e nem Mara, mas entendem meus motivos, entendem que eu não vou desistir de Felina, nunca.
Queria que tivesse outro jeito, mas não tem.
- Adora! - antes que eu possa atravessar a rua, vejo Ray correndo em minha direção. - Eu vou com você.
Meneeio com a cabeça, já tivemos essa conversa antes. Obviamente Ray sabia de toda a situação, Felina é sua sobrinha e a única família que ele tem aqui.
- Ray...
- Por favor, Adora, é minha sobrinha. Não pode me tirar isso. - Ray está nervoso e consigo ver lágrimas singelas escorrendo pelo seu rosto. Por trás daquela face dura e cheia de linhas de expressão, havia um homem extremamente sensível e que amava a sobrinha mais do que qualquer coisa nesse mundo. Sei que ele já perdeu o irmão e não suportaria perder mais ninguém.
- Não estou tirando. - olho os olhos âmbar de Ray. - Já tem bastante gente envolvida, envolver você também seria arriscado demais e eu não gosto de abusar da sorte. - fecho os olhos por alguns segundos e dou um suspiro pesado, pesado demais. - E, além disso, é uma missão perigosa. Se algo acontecer comigo você precisa estar aqui por ela, você é o único elo familiar que ela tem.
Ray, a contragosto, acena positivamente com a cabeça. Me viro para atravessar a rua mas, antes disso Ray segura meu braço.
- Obrigado, Adora, por tudo. - dou um sorriso sem mostrar os dentes e ele me solta. Assim, vou rumo ao desconhecido.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
- Recapitulando. Hawk vai por baixo para os containers de gás, Bow tem que achar o painel e desligar as câmeras de segurança, Glim e Serena procuram a Felina e Adam vem comigo. Todas as escutas estão funcionando? - pergunto e meus amigos acenam positivamente com a cabeça. - Ótimo, tentem não chamar a atenção, só temos 3 horas pra fazer isso.
Bato na grande porta de metal a nossa frente, que é aberta por um homem alto e engravatado. Mostro o mapa que Horde Prime me entregou e ele nos deixa passar sem problemas. Respiro fundo, a hora é agora.
Logo ao entrar, já vejo que o lugar está cheio de todos os tipos de foras da lei, desde traficantes de drogas à vendedores de armas. Os mais e menos procurados pela polícia, os grandes e pequenos nomes do crime.
- E agora? - me viro para Adam.
- Bom, quando eu morava aqui eles deixavam os "prisioneiros" num bunker no prédio lateral, mas vocês precisam de um identificador pra passar por lá e pra acessar o painel das câmeras. - ele coloca a mão no queixo, pensando. - Vocês sabem bater carteira? - nos olhamos e acenamos negativamente com a cabeça. - Então tá, vamos fazer do jeito difícil. Estão vendo os engravatados nos cantos e nas portas? Eles tem os identificadores, guardam dentro do paletó, basta vocês esbarrarem com um e tirar. Mãos leves, tentem distrair eles com outras coisas.
Nos separamos e nos misturamos entre as tantas pessoas no salão. Ando em direção ao chique e bem iluminado bar, apoio os cotovelos no balcão preto e peço um drink qualquer ao barman, que não demora a me entregar uma taça com um líquido vermelho dentro e uma rodela de limão decorando a borda. Ah, e um canudo.
Viro para a multidão e avisto um homem moreno vestindo um caro terno da Prada, parado em um dos cantos da parede. Dou um gole na bebida antes de me desencostar do balcão e andar em direção a ele.
Conforme desvio das pessoas e vou me aproximando do engravatado, finjo tropeçar e esbarrar em alguém, cambaleando falsamente e tombando a taça para frente, fazendo derramar o líquido no paletó do homem, que chiou ao me ver.
Apoio uma das mãos em seus ombros e levanto os olhos.
- Por Eteria, mil perdões. - passo a mão na parte molhada do blazer, fingindo uma tentativa de secar o pano molhado. Ao tatear o local, sinto um relevo na parte de dentro do blazer, como um pequeno disco. Na maior velocidade que consigo e com a ajuda da falta de iluminação naquele local, consigo colocar o objeto por entre meus dedos e o puxo para o lado, arrastando o identificador para dentro da manga da minha camisa. O homem afasta minhas mãos e me olha sério, se afastando e olhando a situação do seu blazer preto.
Aproveito para sair do lugar e me misturar no meio da multidão, segurando a manga da camisa firmemente para que o pequeno objeto não caísse. Agora, temos que ser mais rápidos ainda. Esses caras são espertos e não vão demorar muito para darem falta dos identificadores.
Coloco a mão no ouvido, sentindo a escuta dentro dele.
- Adam, você tá aí?
- Tô, consegui pegar um. - o avisto no outro lado do salão e vou até ele. - Não vai demorar muito para o Prime aparecer.
- E o que eu faço quando isso acontecer?
- Mantenha ele falando e não faça nenhum movimento brusco. Ele é esperto e inteligente e eu não confio nesse papo dele. - Adam cruza os braços. - Nada do que ele diz é o que parece.
- Você tem ideia do que ele pode estar armando? - a essa altura, já me encontro nervosa. Obviamente Horde Prime é um homem grande e poderoso e se ele está envolvido com o sequestro de Felina é porque o buraco é bem mais embaixo do que parece. Mil coisas se passam pela minha cabeça, das melhores até as piores expectativas.
Na melhor das hipóteses ela só está presa e um pouco ferida, na pior delas, está morta.
Não gosto de pensar na segunda opção.
- Não sei, mas vou descobrir. - Adam suspira. - Quando Prime te chamar eu vou passar pelas outras entradas ou pelos tubos na ventilação até a sala dele, saiba que eu vou estar lá mesmo que você não me veja.
- Você não deveria ajudar os outros a fugir? Vão ganhar mais tempo se eu fizer o Prime se distrair comigo.
- Então, vamos dobrar esse tempo. - Adam sorri de canto e eu devolvo o sorriso. Não importa o que aconteça, sei que ele nunca vai me deixar.
Me separo do meu irmão e vou novamente em direção ao bar, sentando em uma das cadeiras altas em frente ao balcão.
Estou cercada de pessoas e tento o meu máximo não parecer deslumbrada ou assustada com toda essa situação. Não é a minha primeira vez nesse meio, mas comprar drogas num beco escuro e participar de um evento de criminosos com o líder do tráfico na sua cola são duas coisas distantes.
Pessoas assim são observadoras e, sei que ao primeiro sinal suspeito eu estou fodida. Tem que dar tudo certo, não posso estragar isso. É por Felina que estou fazendo isso e eu preciso tirá-la daqui a qualquer custo.
Passo a mão na lateral do meu cabelo raspado, secando o suor frio que escorre pelas minhas têmporas.
Foco, Adora, foco.
Peço uma dose de tequila e viro o líquido inteiro na boca, bebendo tudo em uma só golada. A sensação horrível da bebida descendo ácida e parecendo rasgar minha garganta por dentro me desperta dos meus devaneios. Respiro fundo e aperto os olhos por alguns segundos.
- Está gostando da festa? - não preciso me virar para saber quem é, aquela voz rouca e calma que fala sempre devagar e nunca altera seu volume.
- Estou.
- Pensou no que eu te disse? - ele se aproxima mais e consigo vê-lo de relance pelo canto dos olhos.
- Pensei, muito, mas não sei se cheguei numa conclusão concreta. - digo, fingindo a maior simpatia é serenidade que me é possível. - Gostaria de acertar melhor os detalhes sobre isso.
- Ah sim, certamente. Podemos ir para minha sala para conversarmos melhor? - firmo a postura e finalmente olho para Prime, encarando seu olhos verdes e frios como uma noite de inverno.
- Claro.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
SALVE CACHORROS DO MANGUE AAAAAAAAAA
Gente do céu nem tenho muito o que falar, só dedo no cu, gritaria e desgraça.
Lembram daquele spoiler que eu postei uns capítulos atrás? Pois é, fiquem atentos pq tá muito, mas muito perto.
Segurem na mão de Deus e bebam muita água.
Por hoje é só, até o próximo capítulo.
Will catradora be canon?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro