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✦Trinta e Cinco✦

MARA

Eu... Vou ser indiciado por isso? - Adam me pergunta, enquanto esta sentado na cama do hospital esperando sua alta. Ele se recuperou bem da cirurgia e seus exames não mostraram nenhuma anormalidade ou coisas malignas.

Fiz alguma perguntas a ele sobre o que aconteceu lá dentro do prédio da Horda para o inquérito policial e, já que ele não pode ir à delegacia para prestar depoimento por estar parcialmente debilitado, recolhi o depoimento aqui mesmo.

Mas, obviamente, esse não é o único motivo de eu estar aqui. Sou uma policial, sim, mas Adam, acima de tudo, é minha família. E, para mim, nada importa mais que a família.

Venho acompanhado a recuperação dele de perto, junto aos pais e o pequeno irmão. Adam é forte e destemido, assim como eu, Adora e seus pais também foram um dia.

— Não, seu caso se enquadra em legítima defesa, está tudo bem. - coloco a mão sobre seu ombro e ele sorri. Estamos nos tornando próximos e começando a nos tratar como família aos poucos. Tudo ainda é tão novo e recente mas, nesse momento, precisamos ficar mais unidos do que nunca.

Adam suspira, aliviado.

— Eu não queria ter atirado no Prime, mas era ele ou Adora, não podia deixar ele matá-la. - ele diz, com pesar na fala. Adam é um homem bom e sei que nunca machucaria alguém a não ser que fosse extremamente necessário fazê-lo. Prime está morto, e a mãe de Felina está presa, a justiça foi feita. — E Adora, como ela está?

— Estou indo ver ela agora, mas nada dela abrir os olhos. - meu coração dói. Adam segura minha mão que ainda está por cima de seu ombro e sorri sem mostrar os dentes. Temos dado forças um para o outro nesse momento doloroso e difícil.

— Ela é forte, sei que ela não vai desistir. Ela vai ficar bem, eu sei que vai.


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A enfermeira permite minha passagem e abre a porta da sala para que eu entre. O cômodo é arejado, as paredes são brancas, sem manchas ou marcas e a luz do sol entra forte pela grande janela sem cortinas.

Olho para frente e avisto a cama onde Adora está, a única cama no quarto.

Ela vem estado em observação constante pelos médicos e, por isso, acharam melhor que ela ficasse em um quarto separado aos outros. O quadro dela é difícil, delicado, e seu estado de saúde é extremamente instável.

Me aproximo devagar e, quando finalmente chego perto, encaro seu rosto por um tempo.

Sua respiração é calma, ritmada, e por enquanto ela não precisa da ajuda de aparelhos para isso. Seu semblante é sereno, como se ela estivesse apenas tirando um cochilo depois do almoço. 

Há tempos não a via assim, com o semblante tão calmo, parecendo tão em paz depois de tanta dor e sofrimento.

Me sento na beirada da cama, ao lado do tronco de Adora. Passo as costas dos dedos pelo seu rosto e tiro alguns fios de cabelo que estão sobre seus olhos. Observo a sonda que está acoplada ao nariz dela, sentindo pesar no coração.

Aquela menina tão alegre e ativa, que nunca parava quieta e sempre estava comendo algo como uma grande esfomeada, agora deitada numa cama há 2 semanas, se alimentando por sonda. Eu quase não a reconheço.

Não há um dia em que eu não pense em quando ela vai acordar, no dia em que ela vai abrir os olhos, sorrir, e reclamar de fome. Penso nas inúmeras perguntas que ela me faria e em como eu passaria horas as respondendo, sem soltar a mão dela por sequer um segundo.

É devastador quando perdemos alguém que amamos. Eu não tenho palavras bonitas para explicar isso. Eu só tenho dor.

Eu já perdi muita gente nessa vida e gostaria de dizer que estou calejada e acostumada com as perdas que a vida me trouxe, mas não estou. A dor da perda é a pior dor que eu já senti, e nunca irei me acostumar com a sensação.

Com a perda, parece que falta algo, que um pedaço de nós se foi e, de certa maneira, foi mesmo. É uma dor inexplicável. São os piores sentimentos que já senti todos reunidos... e não passa.

Sei que a justiça foi feita e, como policial, eu deveria me orgulhar disso.

Mas, a que preço?

— Oi, minha tortinha de maçã. - sorrio ao lembrar desse apelido, e de como ela ficava constrangida quando eu a chamava assim. A olho mais uma vez, cada vez que venho aqui olho cada detalhe. Quero conseguir lembrar de tudo, não há nada que eu queira esquecer se eu perdê-la. Mas, não quer dizer que eu esteja preparada para isso, jamais estive, e jamais estarei. — O Adam está bem, e vai sair do hospital hoje. Estamos tão ansiosos para que você acorde logo, meu bem. Ficar sem você é como viver ao contrário, e morrer aos poucos. - seguro as mãos de Adora, fazendo um carinho leve nas costas de seus dedos. Nesse momento, só que eu quero é que ela saiba que estou aqui para ela. E sempre estarei, sempre. — Talvez eu esteja sendo ingênua, ou imatura para alguém da minha idade, mas eu prefiro acreditar que um dia você irá abrir os olhos novamente do que encarar o fato de que eu posso te perder pra sempre.

Às lágrimas descem pelo meu rosto, como se apostassem uma corrida. É como se um filme passasse pela minha cabeça.

Olho novamente o rosto de Adora, percebendo o quanto ela é parecida com o pai. São traços simples, singelos, mas não consigo não lembrar dele quando a olho. Ela é forte, teimosa e destemida, assim como Randor também fora um dia. Nunca esquecerei as brincadeiras, os segredos, as mentiras, as verdades, as brigas... E o amor.

Posso ter lacunas nas minhas memórias, mas há coisas que o tempo jamais apaga.

— Não sabe como sinto sua falta, não sabe o quanto eu queria que isso fosse tudo um sonho, e não sabe o quando eu quero que fique. - pouso uma das mãos na bochecha de Adora. — Sei que você tem os seus motivos para querer partir e sei o quanto seu coração dói em culpa, mas não foi culpa sua, nada do que aconteceu. - respiro fundo, tentando recompor a fala. — Você, Adora, é uma das pessoas mais preciosas desse mundo. Você também merece o amor. - seguro as mãos dela com mais força, na esperança de que ela esteja sentindo que estou aqui, na esperança de que ela resista. — Eu não estou pronta para deixar você ir, mas entendo se você quiser partir. Saiba que eu te amo e vou te amar pra sempre, não importa a escolha que você faça. Não vou superar, mas aceitarei.

Como é agoniante viver na espera de Adora voltar.

Minha sobrinha, minha família, meu bem mais precioso nesta vida.

— Prometi ao seu pai que cuidaria de você, e cuidarei. Será para sempre minha tortinha. - me curvo e dou um beijo na ponta do nariz de Adora, como sempre costumo fazer. — Eu te amo, nunca esqueça disso.

Dou um suspiro pesado e me levando da cama, me afastando de Adora aos poucos.

Sei que tem sido uma luta grande, e vai continuar sendo.

Mas, amanhã é um novo dia, e nunca é tarde demais.


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Salve cachorros do mangue, como estão?

E esse foi pra listinha de capítulos mais bonitos e emocionantes da fic, confesso que escorreu uma lágrima enquanto eu tava escrevendo.

Mas, se vcs pensam que acabou, erraram. Então, se preparem.

Mais sofrimento vem aí.

Enfim, por hoje é só.

Até o próximo capítulo.

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