FELINA

— DESGRAÇAAAAAAAA. - Adora curva a cabeça para trás e grita, logo depois de uma moto passar colada com a gente, virando sem ligar a seta e raspando na lateral do carro. Ela sai do carro e bate a porta, emputecida. Tenho pena desse pobre motoqueiro.

Assim começamos uma linda quarta-feira.

Abro a janela do carro e coloco a cabeça para fora, vendo minha amiga estressada dar a volta no veículo, olhando a parte lateral dele. Ela coloca o polegar e o indicador na lateral do nariz, apertando o espaço entre os olhos. Dá um suspiro pesado.

Arranhou o carro. Fodeu.

O motoqueiro desce do seu veículo de duas rodas. Ele estava sem capacete e aparentava ter mais ou menos 18 anos. Vejo ele se cagar de medo ao ver o olhar de Adora sobre ele.

Isso vai ser interessante.

— Eu acho bom você ter visto o que fez. - o garoto de cabelos pretos engole seco. — Seta não é cu pra pensar se vai dar ou não.

— AH NÃO. - Não consigo conter uma risada alta e Adora me olha com as sobrancelhas juntas, tampo a boca na mesma hora.

Não quero que sobre nada para mim.

Ela volta a atenção ao garoto, que parece estar morrendo de medo de levar uma porrada.

Não o julgo, eu também estaria.

Adora no geral não é uma pessoa violenta, não costuma falar palavrões e nunca vi ela batendo ou agindo com violência com alguém. Para uma mulher daquele tamanho, ela é muito dócil e meio boba, tipo um Golden Retriever.

A não ser que você mexa com algo que ela ame muito. Aí ela vira um Golden Retriever sarnento e raivoso.

Sim, o carro está mais do que incluso nessa lista.

— Eu não tenho dinheiro. - o garoto não consegue olhar os olhos de Adora. Ele aperta e solta as mãos desesperadamente.

Isso está sendo bem divertido. Tiro uma foto e mando no grupo dos meus amigos.

Eu amo o caos.

— É o seguinte, garoto. - ela chega mais perto dele, o fazendo dobrar levemente o pescoço para cima para olhá-la. Ele não é baixo, mas ainda assim é uns 3 centímetros menor do que ela. — Você vacilou, eu não quero fazer nada com você, mas eu tenho que tomar alguma providência. - ela estala os dedos das mãos. — Então, o que vai ser?

— Bom, e-eu... Acho que tenho 50 dólares na carteira.

— Serve. - ele tira a carteira do bolso rapidamente, a abrindo e entregando o dinheiro nas mãos de Adora. Olho sua testa franzidas e seus músculos contraídos.

Ela fica tão bonita brava. E sexy também.

Repreendo meus pensamentos antes que eu possa pensar em mais alguma coisa.

Ela volta para dentro do carro, batendo a porta e encostando a testa no volante.

— O que foi? - sou pega de surpresa pela fala de Adora.

— Eu? Nada. - cruzo os braços e olho para a janela. Ela ri e dá partida no carro.

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— Você fica com a parte dos arranjos e eu fico com a teoria musical, aí a gente acerta os detalhes no decorrer da semana. - converso com Scorpia enquanto caminhamos pelo corredor, indo em direção a uma das lanchonetes da universidade. — Vai querer sentar aonde?

— Uh, na verdade, eu vou comer com a Perfuma e os amigos dela hoje. - ela coça a parte de trás da cabeça e da um sorriso nervoso. — Por que você não vem também?

— Que?

— É. Por favor, vai, você já conhece os amigos dela. - ela junta as mãos em súplica e faz um bico. — E tem a Adora também. - ela sorri maliciosa.

— Sai pra lá, doida.

— Ah vai, eu sei que você quer. - ela me pega no colo e me aperta.

— Tá bom, tá bom. Mas eu preciso de ar pra respirar. - ela me solta e eu respiro fundo, devolvendo o ar para meus pulmões. Scorpia ama dar abraços muito, MUITO apertados. — Vem, vamos chamar os outros.

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Brinco com uma moeda entre meus dedos enquanto penso no meu almoço com Adora e os amigos dela, confesso que foi um bom momento e eu dei umas boas risadas. Pude conhecer mais da namoradinha de Scorpia, querendo ou não eu me preocupo com aquela doida. Fico feliz de Perfuma ser uma boa pessoa, tirando o fato que as good vibes dela me deixam um pouco estressada e ela ter uma exímia cara de quem fuma maconha.

Nada contra, quem sou eu para julgar.

Mas, pessoas muito calmas são estressantes, pelo menos para mim.

Apesar dos pesares a conversa foi muito boa, só não contava com o fato de Adora assumir que gosta de alguém no meio do papo, fazendo Scorpia e Entrapta olharem para mim e esconder o riso.

Não consigo parar de pensar nisso.

Adora gosta de alguém, que poderia ser eu, afinal fomos a um "encontro" juntas.

Ou ela poderia estar apenas tirando uma com a minha cara com esse papo todo e me fazendo de otária.

Não, ela é boa demais pra isso.

Eu, que sempre soube como reagir a isso tranquilamente, não sei reagir agora. Talvez seja pela razão de eu geralmente não gostar de volta, mas agora é diferente. Não sei dizer o porque, ou como, mas ela conseguiu me deixar completamente boba.

Não sei dizer se isso é bom.

As últimas duas semanas vêm sido boas, muito boas. Finalmente estou conseguindo recomeçar a minha vida, sem preocupações e, principalmente, sem a Sombria no meu pé. É inevitável para mim pensar no meu pai nesse momento, mas acho que ele estaria orgulhoso de mim.

Olho meus pés para o lado de fora do terraço do prédio, vendo os carros lá embaixo. Tudo parece pequeno e frágil olhando daqui. Me sinto tão grande, como se o mundo estivesse nas palmas das minhas mãos.

Será que essa é a vista que meu pai tem quando olha para mim lá de cima? Não sei se existe um céu, mas gosto de pensar que ele está em um bom lugar.

Me pergunto se ele gostaria de Adora.

Claro que gostaria, quem não gosta dessa menina irritante?

Imagino eles conversando sobre lutas de MMA e coisas do tipo.

Sinto saudade dele.

— Ei. - estou tão distraída que não noto Adora se aproximar. — Quer? - ela me entrega uma garrafa de cerveja. Como recusar?

— Claro. - pego a garrafa das mãos dela. Ela se senta ao meu lado, esticando uma das pernas para fora dos limites do prédio enquanto  dobra a outra e apoia o cotovelo sobre seu joelho. Adora admira o pôr do sol. — Então, como foi?

— Como foi o que?

— Seu primeiro dia de trabalho né, burra.

— Ah, tá. - ela bate na própria testa. — Foi cansativo, mas muito bom. Não me lembrava que crianças tinham tanta energia pra gastar.

— E o carro? - ouso perguntar.

— Foi um arranhão, um polimento e uma pintura resolveram. - ela sorri sem olhar para o meu rosto e agarra o pingente do seu colar.

— Uh, por que esse carro é tão importante pra você? - ela solta o pingente e abaixa o olhar. — Desculpa, não precisa responder se não quiser.

— Tudo bem. - ela suspira. — Esse carro era do meu pai. Meu avô passou para minha tia que é a irmã mais velha, que passou pro meu pai quando ele fez dezoito anos. - ela sorri sem mostrar os dentes. — E então meu pai passou pra mim, é uma herança de família.

— Nossa, isso explica muita coisa. - não sei o que dizer nesse momento, sei que é difícil pra ela, e eu não sou a melhor pessoa pra dar consolo. — E você vai passar esse carro pra alguém um dia?

— Talvez, eu passaria para algum irmão ou irmã, se tivesse um. - ela dá uma golada na cerveja. — Mas, pode ser qualquer pessoa da família. - ela tira o colar e o entrega nas minhas mãos. Observo cuidadosamente o pingente dourado, apertando o fecho e o abrindo, vendo uma foto dos pais de Adora.

— Você é igualzinha a sua mãe. - olho para ela e para a foto. Ela tem os cabelos louros da mãe, o mesmo nariz, os mesmos lábios, tudo no rosto dela. Menos os olhos azuis e o sorriso de canto, essas coisas vieram do pai.

— Eu sei. - ela parece ficar feliz com a minha fala. — Mas e você? Quer dizer, eu sei que você é reservada e tudo mai-

— Tudo bem, relaxa. - coloco a mão em seu ombro. — Meu pai morreu há quatro anos, e, bom, ele deixou umas coisas pra mim também.

— Que tipo de coisas? - ela levanta uma das sobrancelhas.

— Hum... Eu e minha família tínhamos uma situação bastante confortável, por assim dizer. - não gosto muito de falar sobre isso, mas é reconfortante falar nem que seja só uma vez. — Quando meu pai se foi ele deixou uma herança pra mim.

— Tipo, dinheiro? Então você é rica?

— É. - fico um pouco desconfortável. Falar sobre meu dinheiro é complicado, principalmente por conta dos meios que ele foi ganho. Não gosto de ostentar, e também não quero que as pessoas se relacionem comigo por causa dos meus status. — Não conta isso pra ninguém.

— Minha boca é um túmulo. - ela pisca para mim.

— Acho que a coisa mais preciosa que meu pai me deixou foram o violão e a guitarra que ele usava, ele era um excelente músico, um ídolo pra mim. - não preciso explicar muito, acho que ela me entende. — Não tem nada material que o substitua, ele era um homem incrível e um ótimo pai. Ele fazia de tudo por mim, e eu daria tudo para tê-lo de volta se pudesse.

Ainda estou com a mão sobre o ombro de Adora quando sinto ela colocar sua mão em cima da minha. Ela sorri ternamente para mim, seus olhos azuis brilham como o céu e alguns de seus fios de cabelo bagunçados balançam com o vento. Não há palavras que digam mais que o silêncio nesse momento. Nós duas estamos feridas, calejadas.

Ela encara o meu rosto. Poderia desviar o olhar, mas não consigo, e não o faria se pudesse.

Está ficando escuro, mas não está frio, uma típica noite de verão.

Adora é como o verão.

Ela acaricia as costas da minha mão com o polegar e, aos poucos, seus olhos se aproximam mais dos meus. Consigo ver suas pupilas dilatadas, não sobrando quase nada do azul que antes havia ali. Fecho os olhos, sentindo a respiração quente e o hálito fresco dela cada vez mais perto, fazendo os pelos do meu braço se arrepiarem. Estávamos há centímetros de distância uma da outra.

Meu celular toca alto e nos afastamos de abrupto com o susto. Ela sorri nervosamente.

Merda.

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SALVE CACHORROS DO MANGUE
Espero que tenham gostado e que não queiram me matar, amo vcs.

Me parece que uma certa adora vai fazer sidecut HUUUUUMMMMMM

Hoje gostaria de fazer uma pergunta, quantas palavras por capítulo vocês acham o ideal? Fico meio noiada com isso KKKKKKKK

E quando coloco fanarts e coisas do tipo, vocês preferem aqui nas notas finais ou na mídia do capítulo?

Enfim, acho que é só

Até o próximo capítulo

Catradora is canon