ADORA

— Alô, alô, terra chamando. - Glimmer passa as mãos na frente dos meus olhos rapidamente, me fazendo meneear a cabeça. — Você tá mais lerda que o normal hoje, aconteceu alguma coisa.

— Não aconteceu nadinha. - tento mentir. Não consigo parar de pensar sobre ontem, de pensar sobre Felina. Ela se abriu comigo, se abriu de verdade. Óbvio que ela não contou tudo, mas foi um bom começo, ela está se esforçando. Nossa convivência vêm sido mais fácil, e isso é bom. É ótimo na verdade.

E, bom, teve o beijo. Ou quase.

Penso em Mara e passo a mão na lateral do cabelo.

Foi só um quase beijo, não significa muita coisa, certo? Afinal a vida de Felina era levar mulheres para o apartamento e fazer barulho a noite inteira.

Talvez eu esteja certa, ou talvez eu só esteja querendo me enganar.

Felina é uma pessoa difícil de decifrar, num momento ela me xinga e no outro quer me beijar. Não sei o que pensar, sinceramente.

Me sinto levemente constrangida. Não quero que as coisas fiquem estranhas a essa altura do campeonato.

Espero que ela não fuja de mim.

— Você mente muito mal. - agora é a vez de Arqueiro falar. — É a tal menina, quer dizer, Felina.

— Como assim vocês sabem? - fecho meu armário abruptamente, atraindo a atenção de algumas pessoas.

— Loirinha, você não é nada, nada discreta, você praticamente come a menina com os olhos. - Serena ri. — Você é idiota, a gente não.

Acho muito legal o quanto meus amigos são carinhosos comigo, me sinto muito amada.

— Tá bem, é ela sim. Mas nada de planos de cupido, eu conheço vocês.

— Sim senhora, pode deixar. - meus amigos respondem. Não sei distinguir se foi sério ou se foi sarcasmo.

Porque eu sinto que eles não me levam a sério?

Olho as horas no relógio em meu pulso, tenho que correr.

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— Certo, hoje vamos treinar passadas de bola. - olho para minha turma de crianças, que prestam atenção atentamente em cada palavra. — Quero que vocês se espalhem, deem no máximo 3 passos com a bola e passem para a pessoa mais próxima, tudo bem? Qualquer dúvida podem me perguntar. - jogo a bola para uma garota, que sai correndo para o meio da quadra junto com as outras crianças. Fico em pé, rondando pelo espaço.

São crianças talentosas.

Até que noto um garoto sentado no banco, sozinho. Me sento ao lado dele, que toma um leve susto ao me ver.

— Ei, porque você não está lá com os outros? - falo do jeito mais doce que posso, ele abaixa a cabeça. — Eu não vou brigar com você.

— Eu... tenho vergonha. - ele entrelaça as mãos em cima de seu colo, mexendo os polegares, inquieto. — Eu sou muito baixinho, nunca vou ser um bom jogador.

— E quem te disse isso? - o olho, ele é realmente um pouco mais baixo do que as outras crianças da idade dele.

— As outras crianças na escola. - os cabelos castanhos do garotinho caem sobre seus olhos. Desço do banco e sento no chão da quadra, de frente para ele. Ele levanta um pouco a cabeça e me olha. Consigo ver seus olhos castanhos e tristes.

— Você gosta de basquete? - pergunto e ele acena positivamente com a cabeça. — Então você não deve ligar para o que as pessoas dizem de você, eu sei que você tem talento. Não importa o seu tamanho, você consegue.

— Mas você é tão alta. - ele faz um gesto com as mãos.

— Sou, mas nem sempre eu gostei disso, me zoavam muito na escola por eu ser maior do que todo mundo. - ele parece surpreso. — Vem comigo. - ele se levanta e me segue até uma das extremidades da quadra, perto da cesta. As crianças param seus movimentos ao me ver, peço a bola para um garotinho loiro, que a joga para mim. Me sento no chão, ficando aproximadamente do mesmo tamanho que o garoto parado ao meu lado, seguro a bola. O garoto moreno parece confuso.

Olho para a cesta e jogo a bola. É meio difícil jogar uma bola estando sentada no chão, mas consigo impulso suficiente e a jogo, a vendo rodar por alguns segundos pelo aro, e depois cair dentro dele.

O garoto olha a cena, encantado.

— Nossa, você acertou mesmo estando do meu tamanho! Como você fez isso? - ele sorri.

— Nenhum sonho é grande demais, e nenhum sonhador é pequeno demais. Você pode fazer tudo que quiser.

— Obrigado, professora. - ele me abraça. Que graça de menino.

— Pode me chamar de Adora.

— Adora? Que nome legal. Eu me chamo Keith.

— Certo, Keith, pronto pra jogar? - o garoto não me responde, só pega a bola das minhas mãos e sai correndo em direção às outras crianças.

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Estou cansada.

Não é um cansaço ruim, mas ainda assim é um cansaço.

Jogo minha mochila no chão do quarto, reparando que Felina não está em casa. Pego uma toalha no guarda roupas e vou direto para o banheiro.

Ouço um barulho na porta.

— Ah, Melog, eu te esqueci, desculpa. - abro a porta e deixo o gato preto entrar. Melog gosta de me acompanhar quando estou no banheiro, não importa o que eu esteja fazendo.

Jogo minhas roupas no cesto e entro dentro do box, ligando a água morna e a deixando cair sobre o meu corpo. Não demoro muito, afinal temos conta de água para pagar no fim do mês.

Me enrolo numa toalha e saio, Melog me segue, miando.

— O que foi? - ele mia. — Olha, eu não falo gatês. - o gato anda até a cozinha e eu o sigo. Ele senta em frente ao armário embaixo da pia e solta outro miado. — Felina vai me matar se eu te der outro. - Melog me encara, ele sabe que eu sou mole. — Tá bom.

Pego o pacotinho de petiscos de atum e dou dois para ele, que come de bom grado. Guardo o pacote, tentando o deixar na mesma posição que estava para que Felina não percebesse que eu tirei.

— Nosso segredo, viu? - ele sobe na bancada, pulando em mim. Ele deita em um de meus ombros, o seguro com uma das mãos. Bicho interesseiro.

Faço carinho nele, ele ronrona.

Aproveito para ir até a pia e beber um copo de água, estou completamente desidratada.

— Adora, você colocou o li- Nossa, então é assim que você anda quando eu não estou? - Felina entra no apartamento e me encara.

— Que foi? - levanto uma das sobrancelhas. Ela aponta para a parte de baixo do meu corpo.

Só então percebo que ainda estou de toalha.

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Salve cachorros do mangue

Capítulo mais softzinho hoje pra dar uma acalmada nos ânimos. Keith única criança que eu gosto quem amou?

Não revisei muito, então me perdoem qualquer erro.

Enfim, espero que tenham gostado desse capítulo mais paradinho.

Por hoje é só, até o próximo capítulo.

Catradora is canon.