Rosas Vermelhas (Lembranças inebriadas de nossa saudade)
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Maio.
A cidade inteira vibra com a presença dele. É quase como um grito que ecoa em uníssono, uma vibração cósmica que pode ser sentida desde que meus pés tocam no saguão do aeroporto e por todo trajeto até o hotel onde Jungkook está hospedado.
Garotas felizes desfilam com seu rosto estampados em camisetas, seu nome cintilava em letreiros incandescentes iluminando avenidas, doce nos lábios e no coração de alguém, por todo lugar onde meus olhos conseguiam alcançar. Como se nossos papéis tivessem sido invertidos, havia atravessado alguns oceanos para encontrá-lo em casa, depois de toda correria de uma turnê finalizada e outra iniciada em seguida, nos mantendo conectados por meio de ligações e mensagens em fuso horários distintos. Na maioria das vezes, quando estava de pé para o trabalho, Jungkook estava se preparando para dormir após mais um dos shows e nossa rotina se arrastou daquela maneira por quatro longos meses até aquele fim de semana.
São Paulo permanecia da maneira como me lembrava: fria e caótica, ainda brilhante e viva como a Tóquio noturna que eu estava acostumada, mas com aquela essência de lar que nenhum outro lugar teria. Sentia saudade de ouvir uma conversa e reconhecer aquela língua como minha, até mesmo um assunto qualquer dentro do táxi, no caminho até o hotel parecia agradável o bastante para me manter animada. No rádio, ouço a voz familiar de Jungkook, seguido de um ou dois avisos sobre os dias de show na cidade, a movimentação no trânsito e todo o mundo que ele movia só por estar aqui.
— É, moça, a cidade tá cheia, tudo isso por conta desses garotos... —
O taxista comenta, quando a música novamente toca.
— É, eu posso imaginar! — Respondo.
"Você gosta deles? Veio para o show também?"
A pergunta soa engraçada. Talvez porque apenas a mera menção me deixe nervosa e a sensação que corre pela minha espinha de estar ali unicamente por algo que ainda sim, envolve os garotos embora não seja os shows parece divertida demais.
— Digamos que sou uma grande fã. — Ele sorri e aumenta o volume do rádio como uma maneira de me deixar mais confortável, naquele instante me pego de olhos fechados, desejando que aqueles minutos de trânsito entre o aeroporto e o hotel não pareçam uma eternidade que nos separa. Me sinto novamente como no dia de nosso primeiro encontro, quando nossas mãos geladas e desajeitadas conseguiram encontrar um encaixe dentro do bolso do moletom de Jungkook, enquanto observávamos o nascer do Sol no terraço da casa de Jordana, completamente em silêncio. O mundo parecia ter parado para nós dois. Lembro de como minha mente ficou em branco quando nossos dedos se tocaram pela primeira vez, naquela noite, como se fosse um primeiro beijo, mesmo que nossos lábios não tenham sequer se tocado. São sentimentos embebidos na intensidade da emoção que ainda sinto quando recordo de todas as nossas primeiras memórias, porque me apaixonei por Jungkook uma centena de vezes, e aquela noite também foi uma delas, no tempo que sua mão levou até encontrar a minha, como se tivéssemos o infinito.
Quando cruzamos a entrada do hotel, sinto meu estômago fervilhar outra vez pela ansiedade, envio uma última mensagem avisando que estou no hall de entrada, enquanto puxo minha bagagem para fora do carro e sou recebida pelo concierge do hotel, numa tentativa de me ajudar da melhor maneira possível embora eu já possa ver o Sr. Lee nas portas do elevador naquela distância, provavelmente já estava me aguardando há alguns minutos. Seu sorriso se ilumina quando me encontra, sibilando um "por aqui", enquanto puxa a mala de tons vivos de amarelo para mais perto. Lee era um dos meus managers favoritos, além de ser o responsável por Jungkook, tomava total responsabilidade por me buscar e me deixar em qualquer aeroporto cada vez que me atrevia a estar nos hotéis com Jeon ao redor do mundo, como se para ele, me trazer para perto de Jungkook fosse o que mais desejasse. Havíamos evitado aquela vez apenas por segurança, eu conheci a cidade e me sentia segura ali, mesmo com sua insistência para ir me receber.
— Ele está muito ansioso... — Ele diz, balançando um pouco os ombros como se estivesse tentando conter a própria animação, com aquele olhar orgulhoso de que não conseguiu negar um pedido à uma criança de olhos brilhantes. Imaginava o quanto Jungkook havia falado e falado sobre a minha vinda, embora ele negasse que fosse um assunto repetitivo, Taehyung sempre acabava comentando que qualquer visita - minha ou dele - durava uma semana do mesmo falatório, além de idas e vindas ao quarto dos mais velhos para pedir ajuda sobre as sobreposições de roupas esportivas que deveria levar e ser o tema central das piadas entre os garotos por conta disso.
— Meu andar é esse, o seu é o próximo, o quarto é o 5105, ok? — Lee diz, antes de se despedir para descer, me entregando os cartões extras do quarto. Concordo quando as portas se abrem e fecham novamente e o elevador se move, fazendo com que toda aquela sensação quente e estranha que corre meus braços e pernas pareça ainda mais intensa, respiro fundo e aguardo as luzes indicando o próximo andar, anunciadas pela voz robótica do elevador, até as portas abrirem outra vez.
E lá está Jungkook.
De pé, na penúltima porta do corredor. De costas para mim. Consigo identificá-lo naquela distância, porque jamais me esqueceria de suas costas bonitas, de como seus ombros pareciam perfeitos até mesmo dentro daquelas camisas largas. As mãos estão enfiadas no bolso da calça, está usando chinelos com listras horizontais e é o olhar atencioso de Yoongi por cima de seu ombro denuncia minha aproximação.
O caminho tortuoso dura cerca de vinte e oito passos até ele, me contenho para não abraçá-lo bem ali, para não correr até ele como gostaria de ter feito em todas as vezes que revivi cada lembrança de seus retornos várias e várias vezes para não afundar na sua ausência. Sua cabeça gira em minha direção, um sorriso tão bonito se forma em sua boca, radiante demais para que eu possa ignorar como algo trivial e nossos olhares se encontram depois de tantos dias, horas e fusos que nos separavam. Nós ligamos novamente nossa mágica. Yoongi me cumprimenta rapidamente, meio desajeitado, se despedindo de Jungkook, que num impulso, me puxa para dentro, no meio tempo de uma porta batida de seu quarto, me envolvendo um abraço super protetor e penso que posso derreter no seus braços naquele momento, que na ocasião em que pensei que suportaria mais algum dia de nossa distância, eu estava errada. Não suportaria uma hora a mais sequer longe dele, de seu cheiro doce de roupa limpa e seu calor confortável, do seu coração. Talvez eu tivesse algumas queixas, dizer que senti sua falta demais, que estive sozinha, que o trabalho estava nos consumindo e nos levando sempre em direções opostas, mas era ele ali, era Jeon perto novamente e meu coração tremendo outra vez, passível de esquecer tudo diante dele.
Me afasto apenas o necessário para segurar seu rosto bonito entre minhas mãos, eu tive tanto medo de esquecer aqueles traços bonitos, suas sobrancelhas marcadas, seus cílios, seu nariz longo, seus lábios delicados, por Deus, como senti saudade de sua boca. Do seu sorriso. Do som da sua voz macia sussurrando meu nome. Senti falta até das suas camisas largas que me serviam de pijama, de suas meias monocromáticas pretas que sempre acabavam sendo mais minhas do que dele, do seu cabelo natural repartido ao meio, sempre caindo sobre os olhos. Ah, os olhos. Os amei até na distância também. Todas as partes alcançáveis ao meu tato agora, foram amadas em lembrança, ofuscadas nos tons de nossa saudade. Você nem imagina o quanto te ansiei, Jeon. Quanto senti saudade de você por inteiro.
— Noonim, nem acredito que você está aqui... Você está aqui! —
O quarto permanece naquela penumbra, iluminado por uma ou duas luminárias acesas no criado mudo, nossos pés esbarram no escuro quando tento me livrar de meus sapatos, largando meus casacos e mochila pelo chão, retornando ao seu abraço apenas na fração de segundos que levo para me livrar de todas as coisas que havia trazido comigo, que na presença de Jungkook se tornavam insignificantes.
— Senti tanto sua falta, Je... Todos os dias. —
Sussurro.
Havia escrito tanto sobre Jungkook naqueles dias de distância, que às vezes me perguntava se o garoto presente em meus textos e poemas ao menos existia, se meu coração não havia criado aquela versão para habitar na ficção, como todos os personagens que aos poucos tomavam forma e ainda sim, tinham um pouco dele. Mas quem eu queria enganar? O Jungkook de carne e ossos jamais poderia se equiparar a qualquer poema que tentasse escrever, ele era a poesia que nunca escrevi, as rimas, linhas, métricas que eu lia e relia na tentativa de pôr em palavras e jamais conseguiria, era como tentar fotografar uma noite estrelada e nunca captar o mesmo brilho que meus olhos eram capazes de enxergar. Eu tinha a sorte de enfeitá-lo com todas as poesias que conseguia, mas era impossível transcrevê-lo com a mesma exatidão.
O brilho de sua pele, como se ele fosse feito de milhares de estrelinhas brilhantes, as vinte e duas mil constelações que seriam necessárias se cada átomo dele fosse feito delas. Os olhos acesos como duas chamas vivas, o sorriso que enfeitava seu rosto como se algo a mais fosse necessário para fazê-lo bonito, e seu coração, que seguia o compasso de uma harmonia partida quando estávamos perto um do outro. Jungkook era amor. Essa é a única palavra que talvez pudesse defini-lo.
A meia-luz das luminárias clareiam seu rosto à medida que nos aproximamos novamente, minhas mãos deslizam em sua nuca, sentem a superfície de sua camisa, o calor de sua pele que vence facilmente qualquer tecido, seus dedos firmes que me puxam ainda mais para perto, a respiração suave que banha meu rosto outra vez, Jungkook refaz todo o trajeto até meus lábios como um primeiro beijo. Lentamente se aproxima, os olhos nos meus olhos, sem desviar por um segundo, seu beijo ainda tem o mesmo gosto de amor, assim como seu abraço que é feito de saudade e outra vez, o tempo parece ter parado bem ali para nós dois.
Eu amo Jeon, eu amo.
Eu repetiria quantas vezes fosse preciso para que o mundo soubesse, não teria medo de enfrentar todas aquelas consequências de ter nossos segredos expostos se isso garantisse que seríamos felizes, embora soubesse que aquela não era sequer uma opção viável para nós. Não naquele momento. Nem daquele jeito.
Sinto meu peito queimar quando seus lábios aos poucos procuram um pouco mais de minha pele para tocar, como se aquela sensação de estar inebriada não me deixasse pensar com clareza. Envolvo outra vez minhas mãos em seu rosto, para olhá-lo uma segunda vez e ter certeza que aquilo tudo não é um sonho, tenho tanto medo de que ele desapareça sob minhas digitais, porque naqueles dias distantes o buscava no aconchego de minha cama e sempre que abria meus olhos não encontrava Jungkook por perto. Nem sua bagunça largada pelo apartamento, os rastros de sua vinda e nós dois, no chão da sala, aproveitando as últimas horas antes dos seus vôo noturnos de volta para casa. Mas ali, não era um devaneio ocasionado pela saudade e nós dois sabíamos disso.
🌸
Jungkook brinca com minhas mãos, beijando a ponta de cada um de meus dedos enquanto conversamos sobre nossos últimos meses e nossa distância infeliz. Estava entre a terceira ou quarta taça de vinho, embora ele estivesse tomando goles maiores e sua resistência ao álcool permitisse que ele fizesse aquilo. Estamos rindo de nossos dias tristes como se eles não pudessem nunca mais nos assombrar, de alguma forma me sinto invencível à eles outras vez e é engraçado pensar que as coisas pareciam encontrar encaixes perfeitos quando estávamos juntos, como se os compromissos, a rotina dura de trabalho e as responsabilidades não fossem nos encontrar no fim daquela linha para nos lembrar que éramos dois adultos com vidas tão diferentes. Ali, naqueles momentos, não existiam títulos, cargos ou qualquer outra preocupação adulta: era apenas Jeon e eu. Não existia Jungkook num palco imenso como o garoto inalcançável iluminado por todas as suas luzes artificiais, era apenas Jeon, o meu Je, o garoto bonito que se encaixava perfeitamente no meu coração, e era aquilo que eu gostaria de me lembrar, de como meu amor já o conhecia antes mesmo de o saber por inteiro.
Por puro instinto, deslizo minhas mãos nos seus cabelos tão macios, puxando-os para trás na tentativa de olhar seu rosto outra vez, Jungkook é suave na maioria das vezes, etéreo, embora sua intensidade seja sempre tão notável, ela é puramente física. O garoto que toco com minhas mãos e dedos, com meus lábios e com minhas palavras é tão puro, e o amo além do que posso manter dentro de um corpo tão pequeno.
— Por que tá me olhando assim, Noonim? —
— É só que você é tão lindo, só queria te olhar um pouquinho, tenho medo de esquecer como você é de perto... — Ele respira fundo, puxa minha mãos novamente para seu rosto, de olhos fechados.
— Deixa suas mãos em mim, eu senti falta delas aqui... — Sussurra, naquela frequência que criamos para nós dois. Um tom de voz perfeito para caber apenas na distância de nossos rostos separados.
Aproximo meu corpo dele, o abraçando ainda mais forte, deixando uma distância mínima para qualquer vestígio de saudade.
— ...assim a Noona não vai poder me esquecer nunca. — Ele continua.
Estou prestes a desmanchar naquele chão. Eu o amei mais a cada infinidade de dias que o esperei retornar, mesmo que tenha pensado na possibilidade de ir embora algumas vezes. Em Fevereiro fiquei por nós dois. Em Março, quase me esqueci que existia distância física e um oceano inteiro entre nós, em Abril o mundo o abraçava inteiro como o ponto reluzente e brilhante fixo no meio do Céu, mas Maio chegou, traçando um caminho de margaridas ao redor do Sol pela chegada da Primavera, desabrochando as rosas vermelhas que tinham cheiro de nossa primeira memória, trazendo Jungkook novamente para mim. E só consigo agradecer por ter escolhido ficar, todas as vezes.
Beijo a pintinha abaixo de seu lábio inferior, a minha favorita, e ele permanece de olhos fechados como um pedido silencioso para que eu apenas continue. Contorno com meus lábios seu queixo, seu maxilar bonito, até bagunçar seu cabelos sussurrando o quanto o amava em todas as línguas que Jungkook pudesse entender. Inclusive aquela, feita de sentimentos que não precisavam ser verbalizados, que podiam ser compreendidas na própria pele.
— Acho que estou errada, Jeon, é impossível te esquecer... — Cochicho em seu ouvido, no momento em que seu corpo se move por cima do meu para caber no meu abraço, que seu cabelo cai por cima de meus olhos e sua boca, com sabor doce de álcool, beija a minha outra vez. Ainda é quente como me lembrava. Cada pequena parte dele. Cada pedaço de Sol escondido dentro daquele coração, fazendo o Verão inteiro nunca parecer forte o bastante perto do calor que Jungkook possuía. Suas mãos entrelaçam as minhas por cima de nossas cabeças, seguindo nosso ciclo vicioso da saudade, para não deixar espaço para sentirmos aquilo outra vez.
— Eu te amo tanto, Noonim...—
Ele diz, antes de silenciar meus pensamentos outra vez, numa necessidade tão intrínseca de senti-lo que preciso me manter firme antes de ceder ao que meu corpo pede.
— ...tanto. — Memorizo uma infinidade de vezes o seu rosto concentrado no meu, seu toque firme no contraste da suavidade do seu olhar, e o amo mais, infinitamente mais a cada vez que o sinto mais perto de mim. Por que todas as vezes que senti amor, mesmo na infinidade de nossa distância física, sempre foi você, Jeon. E sempre será você.
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S/A: E ontem foi aniversário da Ari, então, antes de mais nada, feliz aniversário! Esse capítulo é todinho pra você, espero que toda a intensidade do amor desses dois possa alegrar seu dia! Tudo de incrível pra você.
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