Who's That Girl
Após correr várias quadras para longe do café, o garoto recobra o fôlego com uma dezena de questionamentos na sua cabeça.
— Mas por que alguém seria tão bom comigo assim de graça? — diz o jovem, que toma um susto ao sentir alguém se aproximando dele. — Merda! E você, Pepê, o que faz por aqui?
— Não poderia perder a oportunidade de te assustar, Sebastian. Você sempre parece um gatinho assustado, mas agora tá pior e ainda mais suado. Aconteceu alguma coisa?
— Nada, só não queria ser pego pelos guaxinins — diz ele, limpando o suor da sua testa com o braço.
— Hum... Se acha que vai enganar seu irmão mais velho com uma dessas? — diz Pepê com certa seriedade na voz. — Conta aí, alguém mexeu com você?
— Não...
Ele suspira e olha bem nos olhos de Pepê.
— Foi só uma garota no café do centro.
— No lar dos riquinhos metidos à besta? Eu também ficaria assustado com a sujeira. E o que essa mina fez pra te deixar assim?
— Cara, podemos só ir pra casa... por favor? — diz Sebastian com firmeza na voz.
O sentimento incômodo de Sebastian era nítido para o seu irmão, que ficou em silêncio no mesmo instante e passou a ajudá-lo com as sacolas pesadas que carregava.
Os dois irmãos caminham mais alguns minutos, até chegarem em um orfanato que foi fechado há alguns anos, mas que ainda abrigava um pequeno grupo de órfãos que não tinha para onde ir.
— Eles chegaram! — diz um dos jovens que desce as escadas correndo e chamando a atenção dos outros.
— O lugar já é velho e você ainda quer correr? Cuidado para não perder mais alguma coisa — diz uma senhora que fuma na entrada e observa os dois irmãos se aproximando.
— E aí, Maddie, olha só quem eu achei correndo de guaxinins — diz Pepê.
— Pelo menos não era de mais um tarado — diz Maddie. — Estou ficando sem criatividade para me livrar deles.
Ela se levanta, se aproxima dos dois e faz um leve carinho em seus rostos.
— Coloquem as coisas ali no canto e lavem as mãos, estávamos esperando vocês para comer.
Mesmo com todas as dificuldades, Maddie é a responsável por manter as autoridades e pessoas mal intencionados longe do orfanato, seja com a sua influência ou métodos diferenciados e nada ortodoxos.
Assim que entram, a Sidney, ou Sid, para de por a mesa para dar um pouco de atenção a eles.
— E aí, acharam alguma coisa legal lá fora? — perguntou a Sid.
— Nada, só esse aqui correndo a maratona da vida dele — diz o Pepê, que vai se limpar.
— Qual é? Ei, Sid, trouxe isso pra você — diz o Sebastian, que tira algumas colheres de bronze retorcido de uma sacola.
— Ah, que lindas, muito obrigada! Vai combinar com a minha coleção!
—E esses são pra você, Artie! — diz o Sebastian, que se vira para entregar uma cartela de adesivos de bichinhos.
— Valeu, maninho! — agradece Artie, que puxa a manga da sua blusa até o antebraço e começa a colar na sua prótese.
— Eu vou jogar água no rosto, a gente se vê daqui a pouco — diz Sebastian.
Ele caminha até o mesmo banheiro que seu irmão mais velho está e aproveita que a torneira está ligada para limpar suas mãos e o seu rosto, enquanto Pepê olha para ele.
— Foi uma garota que te importunou mesmo ou... Sei la, um idiota qualquer? — pergunta Pepê.
— Já disse o que houve e já passou — responde Sebastian. — Agora eu tô em casa e quero descansar.
— Beleza, mas a gente tá junto, se lembra disso! — diz o Pepê, que dá dois tapinhas no ombro do Sebastian, antes de sair do banheiro.
Após algum tempo, Sebastian também desce para o salão de jantar, onde ele ajuda Maddie a pôr a comida sobre a mesa.
— Eu não consegui achar o vinho que se gosta — diz o Pepê. — Vou ficar te devendo pra próxima que eu sair.
— Relaxa, eu vou ter uma conversa com a assistente do prefeito neste final de semana, acho que aguento até lá — responde Maddie.
— E podemos saber sobre o que será a conversa? — pergunta a Sid.
— O mesmo de sempre: demolição. Para eles, somos nós que deixamos esse lugar feio. Então, eles preferem demolir do que reabrir.
— Se vai dar seu jeito, sempre dá — diz o Artie.
— Sebastian, vai chamar o Stan, por favor? Ele deve estar na estufa — diz a Maddie.
Imediatamente ele sai para chamar seu outro irmão, passando por alguns corredores com carpete velho e sujo, chegando até uma pequena estufa improvisada com várias plantas e um jovem garoto de moletom tentando regalas.
— Stan? — pergunta Sebastian.
— Hm? Ah, oi, Seba! — responde ele. — Que bom que voltou antes da chuva, estou sentindo o cheiro dela desde de manhã.
— Bom ainda está seco, que nem seu regador — Eles riem um pouco. — Bora comer, a comida tá na mesa já.
— Já é. Espero que não tenha molhado muito o chão — diz o Stan, colocando o regador na mesa com calma — Bom, pelo cheiro, vai se misturar com o resto da umidade.
— Ah, relaxa, a gente limpa isso, qualquer coisa — diz Sebastian, que se aproxima para ajudar Stan a caminhar até salão sem bater em nenhuma parede ou móvel.
— Hmmm... que cheiro bom! — diz o Pepê.
— E mesmo, o que você fez, Maddie? — pergunta Artie.
— Nada mais que um ensopado de favores pagos — Ela abre a panela com o ensopado de frango com legumes e pega prato por prato para servir os jovens. — Cadê o Sebastian?
No mesmo momento, ele adentra o salão com o Stan e o ajuda a se sentar ao lado da Sid.
— Ótimo, vou servi-los agora — diz Maddie.
Após Maddie servir todos, ela serve o último prato para o Sebastian e se senta ao lado dele, preferindo não se servir.
— Ah... a senhora não vai comer? — pergunta o Sebastian.
Mas ela o ignora e pega em uma das mãos de Sebastian e Artie para fazer as preces.
— Meninos, vamos dar as mãos e agradecer pelo alimento. Hoje é uma ocasião muito mais que especial, já que temos um belo prato de comida na nossa frente. Viva as pessoas de rabo preso e viva a honestidade dos meus filhos, que mesmo sendo pobres, ainda são honestos. Amém!
Todos repetem "amem".
— Agora, aproveitando o momento, o que aconteceu? Já vi essa cara e não e um guaxinim que te deixa assim, são pessoas — diz Maddie ao olhar para o Sebastian.
— Nada, foi só uma garota que eu encontrei no café lá no centro.
— Garotas não são tão assustadoras assim — diz o Artie.
— Ainda bem que nunca vi uma — diz o Stan em tom de deboche.
Sebastian respira fundo para continuar a contar o que aconteceu, estando bem envergonhado com a situação, olhando para o seu prato.
— Eles me deixaram entrar e todo mundo tava me olhando como se eu fosse um... bem...
— Um alien? — sugere o Artie.
— Um monstro? — sugere a Sid.
— Como se eu não fosse daquele lugar. Aí uma menina me chamou pra sentar com ela e... me comprou doces.
— Você tem doces? — pergunta o Stan.
— Não... eu deixei com ela — diz Sebastian, que olha para a Maddie com vergonha. — Não tive coragem de pegar.
— Uma pessoa dá doces e você não aceita? Pega e sai vazado, oras — diz o Artie.
— Nada vem de graça nesse mundo. O que ela queria em troca? — pergunta a Maddie com seriedade.
— Esse é o esquisito... Ela não queria nada — responde Sebastian.
— E porque você fugiu então? — pergunta o Pepê.
— Ela me trouxe algumas lembranças que eu não me senti confortável. Só queria ir embora e não ver mais ela...
— Pelo menos poderia ter trazido os doces. Queria um docinho depois dessa sopa... — diz o Stan.
— E como ela era? — pergunta a Maddie.
— O cabelo dela tinha duas cores, começava loiro e terminava rosa, tinha roupas coloridas e parecia feliz. Ela era bonita, mas mesmo assim... Por que ela me ajudaria do nada? — pergunta o Sebastian.
— Fica calmo, não precisa fazer essa cara de quem comeu jiló. As pessoas não fazem nada de graça, muito menos para alguém de classe social inferior. Teremos sorte se não te transformarem em uma manchete de que a filha do prefeito ajudou um pobre no...
— Shhhhh...
Stan interrompe Maddie para que todos possam ficam em silêncio.
— Temos visita — diz Stan, antes de todos ouvirem batidas na porta de entrada.
— Não sei se fico assustado com você ou com alguém que é louco pra vir aqui. — diz o Artie.
Maddie se levanta, segurando uma faca nas costas, e vai abrir a porta com cautela.
Todos ficam curiosos para saber quem é a pessoa que ousou ir até aquele lugar esquecido, mas a curiosidade se torna ainda mais forte para Sebastian, que vê a Maddie o chamando até a porta com uma de suas mãos e uma cara de poucos amigos.
— Sim? — pergunta Sebastian com um olhar intimidado.
A porta se abre um pouco mais e ele consegue ver que a ilustre visita e a garota do café.
— Você...
— Oi... Você esqueceu sua torta!
Ela, sorridente, mostra o pedaço de torta embalado, não parecendo estar preocupada em estar naquele lugar aquela hora da noite e daquele jeito.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro