Tom's Diner
O alvorecer em Howling Briggs é sempre cheio de surpresas. Em dias nebulosos, como o de hoje, os guaxinins saem da floresta e fazem uma festa na cidade, com direito a comes e bebes espalhados pela rua comercial mais movimentada.
Os donos de pequenos negócios temem pelo pior nessa hora, então tudo que podem fazer é fortalecer suas vitrines com placas de madeira. Afinal, estamos falando de guaxinins, não uma invasão ala "Independence Day", certo?
— Alguém pode chamar a polícia? — diz a atendente de uma lanchonete.
— Ninguém responde. Cadê as autoridades quando precisamos?
Sorte dos ladrõezinhos, a policia é bastante lerda as terças e nas quartas eles continuam lerdos, mas de camiseta rosa.
— Devíamos fazer alguma coisa? — pergunta o policial, jogando cartas.
— Tem muito problema lá fora, vamos aguardar.
A partida tá feia para um dos lados. Vamos para algo mais interessante, o dia começando em uma bela casa de verão com a jovem garota, Hana; acordando otimista, esboçando um enorme sorriso, mesmo sabendo de toda a merda que será seu dia.
— Você acha? Eu tenho boas vibrações — diz Hana, levantando para se trocar e ir à escola. — Não é todo dia que você acorda inspirada, então é melhor fazer o dia valer a pena.
Ela abre a porta do seu quarto e dá de cara com um bilhete de seu tio: "Irei levar sua avó em um exame de rotina. Volto tarde. Se vire!".
— Vovó tá doente?
Demonstrando sarcasmo ao abrir a caixa de mensagens do celular e ver uma foto da sua avó curtindo bastante uma festa no lar de idosos, na noite anterior.
— O segredo para não se sentir sozinha no café da manhã é fazer como a sua família: tome na rua. Lá fora tem gente.
Hana pega sua bolsa e sai para a rua, não se importando com os guaxinins que invadiram a cidade.
— A vida é muito curta para se preocupar com isso. Como vai, amiguinho?
Ela oferece um biscoito para um deles e continua seu trajeto até uma confeitaria.
— Senhorita... Nos seus pés!
A atendente impede a entrada de Hana, por ter alguns guaxinins em seu pé. Então ela joga mais alguns biscoitos para eles, um pouco mais distante, e com a saída deles consegue entrar.
— Deveria tomar mais cuidado, se eles entrassem aqui...
Hana para de prestar atenção na atendente e olha a vitrine de bolos, escolhendo o seu pedaço.
"Eu tenho uma prova sobre o feudalismo hoje. Isso pede algo com uma cobertura doce"
— Quero um cheesecake de framboesa e um copo de leite, por favor.
Enquanto preparam o pedido dela, Hana se sente próximo a janela para olhar os guaxinins. Será que eles invadiram a loja por uma fatia?
— Nada contra o feudalismo, mas acho que perdemos tempo demais tentando entender o que aconteceu a milhares de anos atrás... — Ela agradece a moça que entrega seu bolo.
Seguindo sua pausa reflexiva, observando um vendedor afugentando os guaxinins com uma vassoura.
— Esquecendo do que acontece agora.
Bebendo seu leite e comendo o bolo com uma expressão alegre, ela observa os animaizinhos colocando o vendedor para correr.
— Mais alguma coisa, senhorita? — pergunta a atendente.
Com uma expressão tranquila em seu rosto, a garota responde com toda a serenidade da sua voz.
— Poderia aumentar a música?
Logo de cara, a atendente estranha o pedido, mas não resiste aos seus olhos laranja.
— Só um momento que pedirei para aumentarem — Ela acena levemente a cabeça e se afasta da jovem.
Não é que funcionou? Embora esteja em um ambiente aconchegante, ela não para de olhar para os guaxinins do lado de fora.
— Eles são tão fofos.
Hana começa a contemplar tantas coisas, enquanto come sua torta, mas logo sua atenção é voltada para a música. Infelizmente, alguns desaplaudidos pede para que o volume seja reduzido.
— Não sabia que "raves" vendiam bolos confeitados — diz a mulher à sua filha em uma mesa.
— Misericórdia... Baixa isso, menina! — diz uma senhora à balconista.
A atendente acata aos pedidos para diminuir a música, mas enquanto continua a tocar, o alto volume espanta os guaxinins da frente da loja.
Voltando ao seu volume original, Hana sorri ao ver os animais indo embora.
— Acho que eles não curtem "True Blue".
Ela continua a saborear aquela visão, até ter sua visão bloqueada por um jovem rapaz, vestido aos trapos, que olha para o que ela está comendo.
— É aquele menino da semana passada que demos um bolo — diz a balconista. — Mas ele não estava com aquelas roupas... Estão muito limpas para um mendigo.
A operadora do caixa olha a confusão do lado de fora e assobia para ele, que consegue ouvir e o chama com a mão esquerda para entrar. Acanhado, ele se dirige ao caixa.
— Onde conseguiu essas roupas? — pergunta a mulher firmemente.
— Do-doação... — diz o menino em tom quase silencioso.
— Não ouvi.
— Doação — diz ele com bastante receio e vergonha.
A mulher o olha de cima a baixo, enquanto a balconista e os clientes observam tudo em silêncio.
— Pode ficar aí até essa confusão passar, mas sem incomodar os clientes. Ok? – pergunta firmemente a mulher.
Ele acena sua cabeça e lentamente se dirige a um canto vazio da loja, até que lhe é jogado um objeto leve nas suas costas. Rapidamente olha para o chão, pegando uma borracha em formato de cogumelo.
— Hum?
Enquanto se levanta, ele observa Hana que, aparentemente, havia jogado o objeto nele.
-— É seu? — Ele pergunta ao estender a borracha a ela.
A jovem se levanta para pegar de sua mão trêmula, por causa do ar gelado do ar-condicionado.
— Obrigada — diz ela com um sorriso. — Quer me fazer companhia?
Ele se surpreende com o convite.
— Não preci...
— Tá bom, venha — Ela pega-o pelo punho e o leva até sua mesa, sem deixá-lo terminar. — Gosta de torta?
— Sério, não precisa... — diz ele com as bochechas coradas.
— Torta de chocolate então — diz ela enquanto olhava o cardápio atrás dele.
O rapaz repara que os demais clientes pararam de encara-lo após sentar-se com ela.
— Você estuda naquela escola ao lado, não é? — pergunta ele.
— Estudar é uma palavra forte, eu diria que é o local que mais frequento depois da minha casa — diz ela. — E você?
O rapaz fica visivelmente desconfortável com a pergunta da menina e se levanta, acenando com a cabeça.
— Obrigado pela gentileza, mas eu preciso ir.
Ele deixa a loja, voltando a ser observado, sem se importar com o caos que está acontecendo lá fora.
Hana não entende muito bem o que houve, então pede para colocarem um pedaço de torta de chocolate em uma caixinha, para ir atrás dele em seguida.
— Mas só depois que eu terminar esse leite — diz ela, antes de beber.
Depois de satisfeita, ela pega a caixinha com a torta e vai atrás do rapaz.
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