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MÁRIO

Mario abriu o armário e tirou de lá o volume que estava guardado há 25 anos. O volume que havia sido deixado para ele como o pegado de uma maldição que estava prestes a se cumprir.

Era o diário de José Augusto da Silva, o ventríloquo. O home que não era um bruxo como as pessoas alegaram na época, mas que encontrara uma maneira de acessar o oculto.

Ele não encontrara o diário, aquilo fora deixado para ele na cadeira de que Celso lhe falara.

Mario entrou na casa exatamente uma semana após a fatídica noite. A noite mais tenebrosa se que ele se lembrava até então. A noite em que a cidade começou a morrer.

As lembranças ainda eram muito recentes, apesar de 25 anos terem se passado, e ele sabia que nunca deixariam sua mente, o acompanhariam para o túmulo.

Naquele dia Mário precisava espairecer. Ele já estava cansado daquele negócio de penitência e perdão. Não havia perdão, todos ali eram culpados e qualquer espécie de vingança seria mais do que merecida. Eles mereciam o mal que haviam causado.

Ele saiu naquela manhã e viu que a cidade estava morta. O silêncio desabava sobre o lugar como uma mortalha. Nem mesmo um único pássaro cantava empoleirado em algum galho, aliás, os pássaros pareciam ter desaparecido. Nuvens cobriam os cumes das montanhas mais altas. Não ventava, não fazia frio. O ar parecia estranhamente rarefeito, como se a cidade tivesse sido transportada da serra da Mantiqueira para os andes.

A cidade era um túmulo, um fétido e miserável túmulo.

A natureza estava morta, queimara-se juntamente com Sônia.

Muitas coisas haviam sido queimadas naquela noite. O fogo fora aceso e ainda queimava, continuaria queimando para todo sempre.

Mario saiu andando e não viu viv'alma. Seus pensamentos perdidos, presos nas lembranças horríveis que o atormentariam para sempre. Ele buscava redenção mas ali não havia. Ali só havia o peso da morte.

(Kaliban).

Mario estremeceu. Tentou rezar mas aquilo não lhe trouxe alento, era em vão. Deus os havia abandonado por causa do seu grande e terrível pecado e o mal os abraçara.

Suas lembrança o transportaram desgraçada e dolorosamente para a loja de Sônia, onde ele a possuira, onde ele vivera os momentos mais intensos de amor em toda a sua vida.

Depois que Ivone morrera ele achou que nunca mais fosse capaz de amar uma mulher, mas estava enganado. Ele amara Sônia, e a amara com toda a força que havia dentro dele, e estava disposto a assumir aquele amor.

Iria largar a batina por ela, iria enfrentar o marido dela, iria enfrentar o mundo para viver aquele amor. Mas o que fizera foi se esconder atrás de um sentimento egoísta de culpa que o algemara, que o fizera fraquejar.

Como pudera ser tão covarde?! Um homem covarde assim merecia a morte.

Ele sentiu-se um lixo e começou a chorar, mas o choro também não lhe trouxe conforto. Chorar não apagava o passado, não concertava os erros.

Ele só queria andar, ir para longe, para um lugar onde as lembranças não pudessem atingi-lo. Algum lugar escuro. A escuridão seria sua fuga, seu lugar seguro.

Ele ouviu a voz e era a voz de Sônia: "A morte Mário. É o lugar seguro que você procura. A morte."

Era isso! A morte era a salvação! A morte seria seu lugar seguro.

Seria simples, num momento a luz, a luz da razão se apagaria e junto com ela o terror das lembranças recentes que ainda sangravam.

Ele podia morrer, podia ter um pingo de dignidade e simplesmente morrer, como deveria ter morrido naquela fogueira no lugar de Sônia.

Uma corda poderia servir. Ele podia se enforcar exatamente acima do altar da igreja. Os fiéis, aquele povo que se dizia cristão mas tivera coragem de matar uma inocente em uma fogueira; aquele povo apóstata, eles chegariam para a missa matinal e encontrariam o padre em seu lugar seguro pendurado acima do altar. Poderia escrever a palavra redenção com seu⁰ sangue acima da cruz onde estava pendurada a imagem de Cristo.

Seria um ato de dignidade, o mínimo que ele poderia fazer depois de ter consentido na morte de Sônia.

Mas os suicidas iam para o inferno, não iam? Mas o que era o inferno diante do que aquela cidade iria se transformar?

(25 anos).

O próprio inferno se acenderia ali e o mal nasceria.

(... eu ressurgirei das cinzas…)

Algo desconhecido, algo que se alimentava do medo e da culpa que eles carregavam. O terror que os consumiria para sempre.

Aquele lugar estava cheio daquelas coisas, medo e culpa, e havia um inútil remorso entre algumas pessoas, mas ele de nada valia.

"Vamos Mário, seu verme, seja o covarde que você sempre foi, fuja. A fuga é a morte, você sabe."

Mas ele não fugiria, ele ficaria ali e veria o mal que lhe estava reservado. Ele queria ver a face do mal, e quando chegasse a hora se entregaria a ele como em um sacrifício. O mal seria sua verdadeira redenção.

Ele saiu andando e quando deu-se conta estava parado diante da casa queimada que José Augusto dividia com sua esposa Sônia, e aquilo foi como levar um tapa e ser bruscamente despertado. Mário levou um susto.

As faixas de contenção que o corpo de bombeiros de Pindamonhangaba havia colocado ainda estavam ali.

Mario ficou parado diante da casa simplesmente olhando para ela. Seu coração palpitava. Ele sentia-se observado, como se alguma coisa estivesse lá dentro desafiando-o a entrar.

Ele aceitou o desafio.

Havia um terço em seu bolso. Ele o enrolou na mão, passou por baixo da fita de contenção e desceu o caminho que levava até a casa.

Todo o primeiro andar que era de madeira estava queimado. O térreo era de alvenaria,as havia marcas do fogo por toda parte.

Todas as portas e janelas haviam explodido com o fogo. A fogueira foi maior ali em cima.

Seu coração estava a ponto de sair do peito e batia mais forte à medida que ele ia se aproximando da casa.

Mesmo ali fora ele sentia emanar intensas vibrações daquela casa. O mal habitava aquele lugar e Mario sentiu vontade de sair correndo dali, mas não o fez.

Aproximou-se da janela e olhou para dentro. O que viu foi um cenário desolador. Não havia sobrado nada no interior da casa, o fogo consumira cada móvel. Menos uma cadeira.

Mario viu a cadeira e lembrou-se das palavras de Célso "Tantan":

"Havia uma cadera padre. Só uma cadera. Era gozado. Bem no meio de uma istrela."

Célso não sabia, mas Mário tinha certeza que a estrela era um pentagrama.

Ele respirou fundo e passou pela porta, entrando na casa.

A cadeira estava posta diante de uma porta envidraçada que ia dar numa sacada. Os vidros já não existiam mais.

O chão da casa, assim como a cadeira, estavam cobertos de fuligem e já não se notavam qualquer vestígio pentagrama.

Uma cadeira colocada no centro de um pentagrama, crânios humanos com velas pretas acesas em casa uma das pontas.

O que era aquilo?

Um feitiço, um feitiço de invocação.

Naquela noite, antes de morrer queimado, José Augusto invocara algo, e aquela coisa que fora chamada veio, ele tinha certeza. Mesmo agora podia sentir aquilo, e sua pele arrepiava-se toda.

Aquilo era macabro, medonho.

Algo terrível acontecera ali, naquela casa, e Mario desconfiava que a coisa ocorrera no exato momento em que Sônia estava na fogueira.

Ele se lembrava de suas palavras e de como naquele momento ela parecera não ser ela, como s algo estivesse dentro dela,
(A partir de hoje vocês são malditos!...)
(25 anos)
e então veio o fogo.

As tochas estavam todas apagadas, isso era uma certeza, mas mesmo assim o fogo acendeu-se e Sônia foi envolvida pelas chamas, e ela ria, ela dava gargalhadas que ecoavam pela noite e aquilo era o mais terrível na coisa toda.

As pessoas começaram a se retirar apavoradas no momento em que Sônia começou a gargalhar, e o cheiro de carne humana queimada começou a emanar impregnando o ar.

Não era Sônia. Ela havia desaparecido, e agora o que estava em seu corpo era
(Kaliban)
a coisa, a coisa que havia sido invocada naquela sala.

Mas como? Como José conseguira?

Um encantamento antigo, algum amuleto, algo escrito em um livro...

Mario arregalou os olhos.

Um livro!

Ele se lembrou do dia em que estivera na loja de Sônia e encontrara o homem lá.

Naquele dia ele havia decidido assumir seu amor por Sônia e enfrentar o mundo por ela, mas o que encontrou foi José Augusto, o marido dela, e ele pensou que fosse morrer, e foi naquela hora que ele descobriu o quanto era fraco, pois não voltou a ver Sônia até a noite da fogueira, não tivera coragem de procurá-la para esclarecer as coisas, para ao menos por um ponto final em tudo aquilo de uma maneira decente, a maneira que ele encontrou foi queimá-la em uma fogueira, queimar o seu amor como se ela fosse uma bruxa.

Naquele dia ele, José Augusto estava sentado por trás da mesa onde ficava a bola de cristal e lia um livro semi oculto pela penumbra. Sim, um estranho livro de capa de couro marrom com aparência antiga.

Ele se lembrava bem daquele livro porque o aspecto da capa lhe causara arrepios. O couro se assemelhava com pele humana.

Mário tinha certeza que José Augusto encontrara alguma coisa naquele livro.

A coisa acontecera em abril, mas ele se lembrava como se fora ontem.

Naquela tarde Mario tivera quase certeza de que iria morrer. O homem descobrira a traição e estava ali para matá-lo. Mas ele foi surpreendido por uma pergunta, a pergunta que ele menos esperava:

- Acredita no oculto padre?

Ele meio que engasgou. Achava que o homem estava perguntando aquilo porque iria matá-lo.

- Oculto?...

- O que não se pode ver. O paralelo espiritual.

Mario acreditava. Ele era um padre, padres haviam sido preparados para acreditarem naquelas coisas

Então José Augusto exibiu aquele livro e perguntou:

- Acredita que possamos acessá-lo?

Padre Mário tentou dizer que podíamos acessá-lo na hora da morte mas foi interrompido pelo homem que se levantou e disse a estranha frase, a frase que ecoavam em sua mente:

- Morte. A morte é apenas uma porta padre, apenas uma porta.

E agora Mário tinha certeza que José Augusto conseguira encontrar e acessar aquela porta. Ele tinha a chave, e a chave estava naquele livro.

A morte é apenas uma porta.

José Augusto abrira aquela porta e trouxera de lá o oculto, alguma coisa, alguma coisa tenebrosa e terrível.

O livro.

Onde estaria o livro? Provavelmente se fora, consumido pelo fogo que destruíra aquele local.

Não havia nada ali, apenas cinzas.

Mario deu três passos em direção à porta, ouviu um barulho atrás de si e voltou-se para ver.

Viu a cadeira. Mas agora a fuligem havia sido tirada dela e sobre o acento havia um livro.

Mario quase soltou um grito e encolheu-se contra a parede, sentindo um medo crescente dentro de si.

Ficou ali por segundos que pareceram uma eternidade e então aproximou-se da cadeira olhando para o livro. Sabia que não era o livro que  José Augusto estivera lendo naquela tarde de Abril na loja de Sônia. A capa era diferente e o livro parecia ser mais recente.

Olhou à sua volta certificando-se que estava sozinho. Estava. Mas podia sentir uma presença invisível e horrenda. Fazia todo seu corpo estremecer. Era aquela coisa. A coisa que tinha sido invocada por José Augusto, a coisa que atendera o chamado e que agora habitava a cidade. Não havia ali nenhum lugar para se fugir daquela presença.

Mário tocou o livro com cautela e o pegou, abrindo-o.

Era um diário, o diário de José Augusto da Silva, que ele guardava consigo como um tesouro.

Mario enfiou o diário no bolso e saiu dali rapidamente.

Naquela mesma noite Mario começou a ler o diário de José Augusto e passou a conhecer todos os segredos do homem que as pessoas chamavam de o ventríloquo, e alguns daqueles segredos eram escabrosos.

Mario sabia e poderia ter alertado a cidade, poderia, quem sabe, ter buscado uma saída junto com a população, uma maneira de reverter a maldição, mas não o fez, porque, na época, achava que era o único que acreditava em uma maldição.

Anos mais tarde ele continuava sendo o único que acreditava naquilo. Os outros tratavam a coisa como uma lenda, uma coisa inventada para assustar crianças. Eles ensinavam a nova geração a ver a história assim, e achavam que era o melhor a fazer. Não havia aquele negócio de maldição, era apenas uma lenda, a lenda do ventríloquo.

Padre Mário sentou-se à mesa e colocou sobre ela o diário.

"A morte é uma porta."

A porta já estava aberta, agora deveria ser fechada. Mas onde estava a chave?

Vinte e cinco anos.

Naquela mesma noite, à meia noite, completariam os 25 anos.

(... Vinte e cinco anos. É o tempo que vocês terão para lamentarem seus pecados! Então eu virei. Eu ressurgirei das cinzas e acenderei um fogo que os consumirá para sempre!)

Era hoje!

O mal já estava à soleira da porta e ele o sentia.

Era o inominável. A coisa desconhecida.

(KALIBAN).

Ele ouviu o som metálico de dobradiças rangendo e olhou para a porta. A viu abrindo-se sozinha.

Dali ele podia ver parte da nave da igreja.

Havia uma coisa lá. Ele não sabia o que era mas podia ver e sentir.

A igreja não era mais um local santo. Agora estava profanada pelo mal, o mal que detruiria a cidade, e não havia nada que alguém pudesse fazer para impedir.

Mario começou a rezar. Não adiantava mas ele não conseguia pensar em algo melhor:

- Pai nosso que estais no céu! Santificado seja o vosso nome!

Ele ouviu risos. A coisa zombava dele.

"Ainda há tempo padre."

Mario olhou para o altar e viu uma corda amarrada acima dele.

"Ainda há tempo para se  redimir."

-...ave Maria cheia de graça! Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus...

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