HORA DE FUGIR
Quando os gritos começaram Maralina se assustou, mas a princípio achou que fosse alguma coisa relacionada com a festa de Halloween.
De dentro da padaria ela viu pessoa correndo. Pareciam assustadas. Ela também viu outras coisas correndo. Pareciam animais, mas não dava para ter certeza. Ao menos não eram parecidos com nenhum animal que ela conhecia. Talvez fossem macacos. Mas, por Deus, de onde tinham surgido tantos macacos?
Então um pandemônio se instalou e Maralina teve certeza de que aquilo não tinha nenhuma relação com o dia das bruxas.
Primeiro dois carros se chocaram de frente. Um deles começou a pegar fogo. Maralina saiu de trás do balcão e se aproximou da rua vendo carros batidos ao longo de toda a avenida. Era como se a pacata cidade tivesse se tornado o cenário de uma guerra, o que era uma coisa completamente absurda.
Ela viu pessoas em fuga, uma mulher caída no meio da rua, gritando enquanto tentava se livrar do ataque de pequenas criaturas asquerosas que a mordiam e arrancavam sangue.
Maralina arregalou os olhos e viu que aquelas coisas não eram macacos. Pareciam, mas ela tinha certeza que não eram animais. Ela sabia exatamente o que eram, mas isso era algo totalmente impossível, completamente absurdo.
"Não é possível! É só uma lenda. Essa merda é só uma lenda!"
"Será?"
"É claro que é uma lenda!"
"Mas e aquelas coisas correndo lá fora, matando as pessoas? Você sabe o que é. Sabe exatamente o que é."
"Não, não pode..."
- Deus do céu! O que está havendo?!
Maralina foi trazida de volta à realidade de supetão e quase deu um salto.
Mariza, a dona da padaria estava ao seu lado.
- Isso faz parte da festa?!
- Eu acho que não. - Respondeu Maralina. - Acho melhor fechar a padaria.
- O que é aquilo?!
- É... É algum tipo de animal...
"Não são animais, você sabe. São aqueles bonecos. Aqueles daquela lenda."
Lenda?
Maralina deu um passo para trás.
- Vamos Mariza. Vamos fechar a padaria!
- Será mesmo necessário?
- Eu acho que sim.
Então ela olhou para o céu e teve a certeza de que algo estranho estava acontecendo naquela droga de cidade.
A lua era uma gigantesca bola e estava vermelha como se fosse feita de sangue. O céu era um grande manto escuro e opaco.
Maralina sentiu uma pontada de medo dentro de si. Um arrepio gelado e tenebroso percorreu todo seu corpo fazendo-a estremecer.
- VAMOS MARIZA! - Ela gritou. Era a primeira vez que gritava com sua patroa. - Precisamos fechar a merda da porta!
Então Mariza foi atacada. As criaturas surgiram do nada. Pelo menos seis se lançaram sobre ela e a jogaram no chão. Ela começou a gritar e estendeu a mão pedindo ajuda.
Maralina também gritou em estado de pânico.
Em questão de segundos centenas daquelas criaturas asquerosas surgiram e devoraram Mariza.
Maralina intentou fechar a porta mas já era tarde, as criaturas invadiram a padaria.
Ela gritou e correu para trás do balcão tentando se proteger.
"Isso não está acontecendo! Não pode estar acontecendo! Eu devo estar sonhando! Só pode ser um pesadelo! Vamos Maralina. Acorde porra!"
Mas ela não acordou, porque aquilo não era um pesadelo, era a mais pura realidade.
As criaturas a atacaram, Maralina sentiu mordidas nas pernas, nos braços e em todo o corpo. Uma dor terrível a envolveu, o sangue jorrou pintando as paredes e o balcão de vidro.
Maralina rastejou-se desesperadamente tentando se ver livre do terrível ataque.
Ela vizualizou a porta da cozinha. Fez um esforço descomunal e ficou em pé. Chutou algumas criaturas e saiu cambaleando. Passou pela porta e a fechou. Escorregou e caiu de cara no chão. Ficou ali durante alguns instantes chorando em estado de total pânico. Uma poça de sangue se formou ao seu redor.
Escutou um baque na porta. As criaturas iriam entrar em breve, ela precisava sair dali, mas sentia-se completamente vencida e esgotada. Ela sentia a morte se aproximar rastejando em sua direção. Seus olhos queriam se fechar, a visão tremeluzia diante de si.
Mas precisava ser forte. Tinha que ao menos tentar.
Fez força e saiu cambaleando em direção da porta dos fundos. Enxugou as lágrimas tentando se acalmar. Precisava manter o controle. Era a única coisa que ela tinha agora, porque ela desconfiava que depois daquela noite nada mais existiria.
Ela passará a vida ouvindo coisas sobre a lenda do ventríloquo e seus bonecos horríveis, mas nunca entenderá ao certo o "q" de realidade que havia por trás da história. Agora ela precisava entender o que estava acontecendo ali. Mas talvez depois, agora era a hora de fugir, agora era hora de fazer uma coisa que ela já devia ter feito há muito tempo: fugir aquela droga de cidade. Uma cidade que, pelo que ela podia ver, ela amaldiçoada.
Ela abriu a porta bem devagar e pela fresta olhou para fora. Parecia limpo.
Maralina saiu e começou a correr.
De repente ela não reconhecia a cidade. Havia gritos em toda parte,pessoas mortas pelas ruas, carros batidos e queimando. Cassas também queimavam, lâmpadas piscavam nos postes. Era como um pesadelo, Maralina rezava para que fosse, ela queria desesperadamente acordar. Acordar e ver que tinha a vida que eempr sonhara, ver ao seu lado Paulo, o amor de sua vida. Ele acordaria, sorriria para ela e então os dois fariam amor, e ela diria que o amava e que queria viver ao seu lado para sempre.
Maralina viu mais daquelas criaturas horrendas que ela sabia serem bonecos do ventríloquo, o homem que segunda lenda seria um bruxo, cuja mulher fora queimada em uma fogueira, fazendo-o assim, para se vingar, lançar uma maldição sobre a cidade.
"E vejam só, isso não é uma lenda porra nenhuma, é a mais pura verdade!"
Ela aumentou a velocidade da corrida desprezando a dor que era grande.
Deus! Como doía!
Ela não viu as criaturas em cima de uma árvore. As coisas pularam sobre ela e começaram a morder.
Dentes enormes e afiados penetraram em suas costas como agulhas.
Maralina começou a gritar em pânico e caiu no chão.
Ela viu a morte chegando. O lugar estava infestado daquelas coisas. Não havia como fugir.
Seu último pensamento foi: Paulo, me perdoe, nunca mais irei vê-lo. Eu o amo.
As criaturas mordiam e rasgavam sua carne.
Maralina gritou desesperadamente.
E então ela ouviu o grito, e era a voz de Paulo:
- MARALINA!
E então ela ouviu o tiro.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro