O baile fluía quando o monstro capturou sua vítima.

Eram por volta das dez e meia da noite, as pessoas ainda estavam chegando mas a música já rolava na pista de dança improvisada no pátio.

O monstro estava fantasiado de fantasma da ópera, a mesma do ano passado, a única que ele tinha.

Ele ficou ali, parado na  entrada, agindo como um dos garotos. Fumava um cigarro e de vez em quando tomava um gole de cerveja da latinha que estava em sua mão. Esperava pacientemente como todos os anos.

Precisava fazer a escolha certa para não cometer erros e não levantar suspeitas. Era um trabalho perigoso (prazeroso sim, mas acima de tudo perigoso), e precisava ter cautela.

Não foi preciso esperar muito tempo, por volta das onze da noite ele já tinha escolhido sua garota.

Era a loirinha fantasiada de mulher maravilha. Era linda, a garota mais linda em toda aquela porcaria de festa.

O monstro lutou para conter uma ereção e se colocou em posição nas sombras, próximo da entrada dos banheiros.

Era uma noite linda, a lua brilhava intensamente. O monstro sentia-se bem, estava calmo. Os anos de experiência lhe transmitiam calma e lhe proporcionavam a ausência de medo.

Não havia medo, não havia euforia, e o principal, não havia remorso ou arrependimento. Não havia nada. Era uma coisa comum, apenas uma coisa que ele precisava fazer, não estaria em paz se não fizesse.

Ele tirou o vidro de formol do bolso de maneira discreta e umedeceu um pedaço de pano com o líquido. Quem o visse, e era improvável isso acontecer, pensaria se tratar de uma garrafa de bebida.

Ele esperou. Saber esperar era uma virtude, e ele sabia.

Faltavam mais ou menos vinte e cinco minutos para a meia noite quando a garota loira, gostosa foi ao banheiro. Então o monstro agiu.

Saiu das sombras sorrateiramente e se aproximou. Entendeu o pano umedecido em formol e tapou o rosto dela.

Ela levou um susto e lutou quando percebeu o que estava acontecendo.

O monstro só precisou segurá-la por alguns segundos. Logo seu corpo caiu flácido.

O fantasma da ópera a pegou no colo e adentrou as sombras com seu prêmio.