DO DIÁRIO DE JOSÉ AUGUSTO DA SILVA
31 de outubro de 1975
Eles a mataram! Mataram o meu amor, a razão da minha existência! Eles a chamaram de bruxa e a queimaram em uma fogueira.
Eu vi a coisa aqui de cima, eu ouvi seus gritos desesperados que imploravam por misericórdia, eu pude sentir sua dor enquanto o fogo queimava sua pele negra.
Eu até poderia aceitar ser chamado de bruxo, poderia até enfrentar a fogueira se fosse preciso, mas eu não posso aceitar a morte de minha linda e doce Sônia.
Ela não tinha nada a ver com a coisa, era inocente, mas eles a queimaram. Eu ouvi seus gritos aterradores ecoando pela noite tenebrosa.
Como foi horrível, meu Deus! Como foi tenebroso!
Hoje o céu dessa decrépita cidade se cobriu de travas, as trevas que eles mesmos trouxeram, as trevas que se ergueram das cinzas.
Sônia! Oh minha amada e doce Sônia!
Eles a queimaram e o maldito padre consentiu na sua profana inquisição.
Mas eu me vingarei. Oh sim, haverá vingança, a mais tenebrosa e maligna vingança que alguém poderia executar. Uma vingança que nascerá dos poderes ocultos das trevas.
Eu já sei como. O livro mostra como, e até agora eu estou seguindo todos os passos.
Kaliban!
Logo ela virá me buscar. Já posso sentir o maligno frescor de sua presença a impregnar a sala, assim como ouço as vozes dos malditos inquisidores subindo a colina.
Sim, eles estão vindo, sobem a colina para saciar sua sede de sangue, e eles terão sua sede saciada.
Essas são minhas últimas palavras. Ecrevo as últimas linhas e deixo aqui registrado que o mal que se abaterá sobre a cidade, o mal que eu invoquei (e ele virá... Já veio) foi causado por eles mesmos. Eles quiseram assim.
Haverá vingança, eu digo.
A vingança não será agora, eu sei. Preciso ser paciente. Tenho tempo. Depois dessa noite, terei toda a eternidade para esperar.
Mas a cidade terá apenas 25 anos. Foi o que ela me disse. 25 anos e então virá o terror.
Não direi mais nada. Ouço-os à minha porta, tentando arrombá-la.
Em breve me juntarei à escuridão.
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