31 DE OUTUBRO DE 1975.
Todos estavam indo para a praça da igreja para ver a fogueira. A notícia se espalhou como um enxame de abelhas por toda a cidade e de repente toda a população estava lá. Ela também estava. Seus pais também estavam. Tinham ido até lá por insistência de sua mãe que queria ver a bruxa queimar.
Ela tinha só cinco anos e não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sabia que uma bruxa era uma mulher má.
Era uma noite enluarada e quente e seu pai achou que seria uma boa dar uma volta.
A bruxa estava amarrada na fogueira e o povo ao redor dela. O padre estava lá, talvez para fazer valer a lei de Deus que dizia que as bruxas deviam ser queimadas.
A mulher chorava e gritava em estado de desespero:
- ME AJUDE! ME TIRE DAQUI! POR FAVOR!
O padre então lhe deu a extrema unção. Era a unção que se dava aos mortos, e aquela mulher já estava morta, iria morrer naquela fogueira.
Jordana assistia à cena impressionada. Não era um lugar para uma criança estar, mas havia outras crianças ali além dela.
- O QUE... O QUE ESTÁ FAZENDO?! O QUE É ISSO?! - Gritava a bruxa a plenos pulmões.
- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito santo.
O padre a benzeu encomendando sua alma.
- NÃÃÃÃOOOO!
A mulher começou a se debater tentando desesperadamente se soltar.
- O QUE ESTÁ FAZENDO?! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEU FILHO DA PUTA?! NÃO PODEM FAZER ISSO! NÃO PODEM ME MATAR! EU NÃO SOU UMA BRUXA! NÃO SOOOOU!
- QUEIMEM A BRUXA! - Alguém gritou.
Homens armados com rochas se aproximaram da fogueira.
- NÃO! MALDITOS! MALDITOS!
Foi então que aconteceu. Vieram as nuvens e o vento quente começou a assoprar apagando as tochas.
A bruxa se contorceu e aconteceu algo com os olhos dela. A maioria das pessoas não viu, mas Jordana estava atenta, ela observava cada movimento da bruxa. Seus olhos agora eram brancos, desprovidos de pupilas e quando ela falou sua voz havia mudado. Era uma voz maligna, era como se houvesse outra pessoa dentro dela:
- A PARTIR DE HOJE VOCÊS SÃO MALDITOS! TODOS VOCÊS! VINTE E CINCO ANOS, É O TEMPO QUE VOCÊS TERÃO PARA LAMENTAREM O SEU PECADO. ENTÃO EU RESSURGIREI DAS CINZAS E ACENDEREI UM FOGO QUE OS CONSUMIRÁ PARA SEMPRE!
Ela sorriu, Jordana pensou que aquele era o sorriso mais maligno que ela já tinha visto em todos os seus cinco anos de vida.
O padre correu para ela e então a fogueira explodiu em chamas, e aquilo aconteceu espontaneamente, ninguém jogou nenhum fósforo lá, as tochas que os homens seguravam estavam apagadas. Mesmo assim, o fogo acendeu-se e a bruxa começou a queimar, e ao invés de gritar ela dava risadas. E aquilo era horrível.
Algumas pessoas começaram a se retirar, crianças choravam, Jordana abraçou a perna de sua mãe e tapou o rosto.
A mulher na fogueira começou a gritar. Eram gritos apavorantes, faziam sua alma estremecer.
Logo o cheiro de carne humana invadiu o ar e seus pais a arrastaram longe dali.
E aquilo povoou por longo tempo o recôndito de seus pensamentos. E lá a lembrança apodreceu.
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