4. Stay
Assim que abriu os olhos, Skylar Howard estranhou a luminosidade excessiva do lugar onde estava. Podia jurar que seu apartamento não era assim nem quando todas as cortinas do seu quarto estavam abertas e ela nem mesmo costumava esquecê-las assim.
Depois, sentiu uma picada de leve no braço esquerdo quando tentou puxá-lo para si. E foi só apertando os olhos e notando vários tubos enrolados nele que percebeu que algo estava errado.
Ela estava em um quarto de hospital. Era a única coisa que podia explicar a enorme agulha conectada ao seu braço que a faria desmaiar em qualquer outra ocasião, o esparadrapo que incomodava seus pêlos toda vez que ela se mexia e a bata azul sem graça que ela vestia.
Sua última lembrança era de estar na festa de inauguração do hotel Marlowe, na quinta avenida. Não conseguia entender como ela fora de um vestido de grife para aquela roupa em tão pouco tempo.
— Mas que...
— Se você puxar seu braço de novo desse jeito, o acesso venoso vai sair e vai doer ainda mais para colocar de volta.
A voz baixa vinda do canto da sala chamou a atenção de Sky, que fechou a boca e engoliu em seco assim que viu o homem olhando-a fixamente.
Naquele momento ela pode ver, debaixo dos spots fortes de luz da sala daquele hospital, que Benjamin era ainda mais bonito com uma boa iluminação. Usava a mesma blusa social de quando tinha o conhecido, só bem mais amassada que antes, e o cabelo estava ainda mais bagunçado, como se ele tivesse passado as mãos muitas vezes por ele.
Os olhos azuis do homem brilhavam em contato com os escuros dela e, enquanto ele se aproximava da maca que ela estava deitada, Sky não conseguiu emitir uma palavra sequer, apesar de sua mente está a mil por hora.
Por que ela estava em um hospital?
E o que Benjamin Elliot fazia lá com ela?
— Eu já chamei a enfermeira, ela deve chegar a qualquer minuto — Ben explicou, parando bem ao seu lado. — Como você está se sentindo?
— Bem — respondeu sem pensar, levando a mão livre até o rosto. — Confusa. O que aconteceu? Onde eu estou e o que você está fazendo aqui?
Benjamin levou uma mão até o queixo e sorriu minimamente com a inquietação dela, não deixando de notar o quão bem ela ficava mesmo com a cara de sono e os cabelos loiros bagunçados.
Tão diferente da postura de intocável que ela apresentara na festa, e em todas as fotos de uma revista com uma reportagem enorme dela que ele tinha passado os olhos enquanto esperava na recepção do hospital. Ali ela parecia... Humana.
— Meu Deus, não me diga que eu bebi demais? — Sky o questionou, levando a mão até a boca. — Você teve que me arrastar por todo o caminho até a saída e tem milhares de fotos minhas estampadas no TMZ, não é? Damn, eu preciso ligar para a minha agente e... Onde estão minhas roupas? Eu tenho uma reunião hoje e...
— Skylar — a voz firme de Ben fez com que ela se calasse, arqueando as sobrancelhas enquanto ele continuava a falar. — Respire.
A fala dele serviu como um comando e a única coisa que ela fez nos instantes seguintes foi fechar seus olhos, encher seus pulmões com ar e expirar lentamente.
Não se recordava quando tinha sido a última vez que tinha parado de pensar tanto e fazer tantas coisas ao mesmo tempo para apenas respirar. Talvez nas suas aulas de ioga, que ela tinha deixado três meses antes porque já não conseguia conciliar com sua agenda lotada.
A primeira coisa que viu quando tornou a abrir os olhos foram os azuis de Benjamin, olhando-a fixamente enquanto sua mão descansava na maca, ao lado do corpo dela. Ele engoliu em seco no momento seguinte, desviando olhar para o monitor que exibia os batimentos cardíacos dela acelerados.
— O médico vai te explicar tudo — Ben murmurou no momento em que a porta do quarto fora aberta, dando dois passos para trás, deixando o espaço livre para que uma enfermeira checasse todos os aparelhos ligados na loira.
— Boa tarde, senhorita Howard — o médico de meia idade cumprimentou assim que se aproximou dela com a prancheta em mãos, levando o olhar da loira ao homem ao seu lado. — Senhor Marlowe.
O sobrenome conhecido fez com que Skylar juntasse as sobrancelhas, vendo Ben assentir minimamente quando ele fora dito.
Marlowe.
— Você está bem agora, Skylar — o médico começou, olhando diretamente para a loira que ainda alternava o olhar entre os dois homens em confusão. — Mas você estava desacordada e apresentava um quadro severo de exaustão quando chegou aqui. Você precisa se alimentar, beber água e descansar pelas próximas horas e eu vou te manter internada se achar que não irá cumprir essas coisas.
Sky nem se recordava quando fora a última vez que tinha dormido mais de cinco horas seguidas ou feito uma refeição completa. A maioria das noites da sua última semana foram passadas em aviões desconfortáveis que nada mais rendiam que um pequeno cochilo de duas ou três horas.
Estava na Itália, na segunda, em uma sessão de fotos para uma marca de maquiagem que tinha seu rosto como garota propaganda. Na terça, precisou ir a Paris para um evento de lançamento de um perfume que ela tinha participado do pequeno curta. Na quarta, a Alemanha fora seu destino em uma festa de gala de uma marca automobilística e passara os outros dois dias lá, em reunião.
Tinha chegado em Nova Iorque três horas antes da grande inauguração e passara todo esse tempo com sua agente e Mika, fazendo fotos para serem postadas no blog, desejando que a base aplicada pela sua maquiadora fosse suficiente para esconder as olheiras que marcavam seu rosto.
Aparentemente, a base tinha aguentado bem, mas o corpo dela não.
— Essa semana foi corrida — se explicou, sentindo sua voz falhar pela falta de uso. — Mas eu irei me cuidar, doutor.
Soube que nenhum dos dois homens acreditara nas suas palavras, mas viu o médico abaixar o rosto para assinar um papel em sua prancheta e tentou prender a atenção nele o máximo possível, evitando o outro homem que estava ali.
Ben tinha os braços cruzados e os lábios apertados firmes enquanto parecia estudar a expressão dela, exatamente como fizera na noite anterior. Era como se ele pudesse desvendar qualquer mentira ou qualquer omissão que ela resolvera fazer.
— Eu preciso fazer mais alguns exames antes de te liberar e depois disso eu resolvo sobre a sua alta hospitalar — o médico quebrou o silêncio que tinha se estabelecido ali, oferecendo um sorriso cordial a paciente. — Você precisa se cuidar de verdade, Skylar.
A loira assentiu minimamente antes de ver o médico deixar a sala e pensou mais de duas vezes em pedir para ele não deixá-la ali sozinha com Benjamin. Para ela, a qualquer momento o homem usaria todo seu talento com as palavras para fazê-la perder as próprias.
— Você estava certo ontem — Sky murmurou baixinho, vendo Ben arquear as sobrancelhas. — Eu estava a beira de um colapso nervoso. Ou em um estado severo de exaustão.
Ela sorriu com o que acabara de falar, mas não havia um graça alguma na situação. Um silêncio incômodo se instalou entre os dois em seguida, mas Ben permaneceu com os braços cruzados e o olhar preso nos próprios sapatos sociais como se houvesse alguma coisa de interessante ali.
— Sky, eu não sou médico e você já ouviu isso dele, mas... — Ben começou, travando o maxilar de uma forma que fez a loira engolir em seco. — Mas eu realmente acho que você deveria cuidar da sua saúde antes de tudo.
— Eu sei — ela concordou baixinho, abaixando o olhar para as mãos que repousavam em cima do lençol que a cobria. — Você não precisava ter ficado.
Ben demorou um pouco para entender o que ela tinha dito, juntando as sobrancelhas antes de suavizar a sua expressão. Ganhou um tempo enquanto dobrava as mangas da sua camisa social, levando o olhar até ela.
— Eu não sabia para quem ligar — confessou, escondendo as mãos nos bolsos de sua calça. — Você tem ficha no hospital, eles tentaram ligar para seus números de emergência mas não conseguiram falar com ninguém.
Não havia um pingo de surpresa no semblante de Sky, que apenas baixou o olhar novamente para suas mãos. Seus números de emergência eram os dos seus pais, que estavam fora do país em reuniões de negócios há quase duas semanas naquele dia.
— Desculpe por ter estragado sua noite — ela murmurou baixinho, oferecendo um pequeno mas sincero sorriso em sua direção. — Não estava nos meus planos.
— Você salvou minha noite, na verdade — Ben respondeu, vendo-a arquear as sobrancelhas em surpresa. — Eu não queria ficar nem mais um minuto naquela festa. Só realmente não estava nos meus planos passar a noite em um sofá de hospital desconfortável.
Sky deixou o riso escapar dos seus lábios, pronta para agradecê-lo pela companhia quando um toque de celular soou pela sala e Ben levou uma mão ao bolso, olhando a tela do aparelho por alguns segundos antes de rejeitar a ligação.
— Você pode ir — falou, deitando a cabeça no encosto da maca. — Eu vou ligar para a minha agente e para meus amigos. Está tudo bem agora.
Ben ia retrucar, mas o celular voltou a vibrar em suas mãos, mostrando um nome que ele não gostaria de ver pelas próximas horas, dias, talvez até semanas.
— Eu vou deixar meu telefone com o médico, você pode me ligar se precisar de alguma coisa — o homem falou, colocando o terno dobrado em um dos braços e voltando a se aproximar da loira. — Se cuide.
— Eu ouvi da primeira vez — Sky murmurou, rindo em seguida. — Só me responda uma coisa, Ben.
O apelido saiu trêmulo em sua voz e apesar de ter desejado que ele não tivesse percebido isso, Ben era um observador nato.
— Só pergunte.
— Qual o seu nome?
Benjamin pensou em fazer uma piada sem graça de que o médico realmente precisaria avaliá-la mais uma vez que provavelmente não a faria rir, nem sanaria a dúvida que ele percebeu que ela tinha desde que o doutor usou o seu último nome.
Fora a necessidade de acabar logo com isso com a iminência dela saber exatamente quem ele era de qualquer forma que o fez ser sincero.
— Eu não menti para você, se é isso que você quer saber, Sky. Meu nome é Benjamin Elliot, exatamente como eu disse na festa.
— Ele te chamou de Marlowe — Sky falou assim que os lábios de Ben se tocaram. — Benjamin Marlowe. Então se você não mentiu...
— Benjamin Elliot Marlowe, mas eu não uso o último com frequência.
— Então ontem você estava na inauguração porque...
— Porque eu produzi a festa — Ben a interrompeu, passando a língua nos lábios antes de continuar. — E porque eu sou filho de James Marlowe.
O nome do CEO da empresa de hotelaria Marlowe fez as sobrancelhas da loira se arquearem em surpresa, tentando compreender o motivo dele não ter dito isso em um primeiro momento.
Ela era filha de um importante redator do maior jornal de Nova Iorque e por muito tempo achava o máximo quando as pessoas a reconheciam por isso. Depois dos seus quinze anos, começou a perceber que isso a trazia mais contras do que ela queria para o momento, mas nem por um momento sequer pensara em esconder de onde ela vinha.
Benjamin tinha escolhido seu nome do meio, deixando o Marlowe de ouro que abriria tantas portas para trás.
— Por que você esconde isso?
As palavras saíram da boca dela antes que ela pudesse controlá-las, fazendo com que Ben arqueasse as sobrancelhas em surpresa.
Era uma pergunta que ele já tinha escutado outras diversas vezes, mas definitivamente não esperava que ela fosse ser tão direta.
A tela do seu celular se acendeu mostrando novamente o nome do seu pai, fazendo-o rejeitar a chamada mais uma vez e dar mais um passo para longe da maca onde a loira estava deitada.
— É uma conversa para uma outra hora — Ben falou na defensiva, arrependendo-se do tom que tinha usado assim que viu o semblante de Sky transformar-se. — Não é nada particular, só...
— Está tudo bem — Sky murmurou baixo, interrompendo-o. — Você teve um dia cansativo ontem, entendo que não queira falar sobre drama familiar hoje e eu peço desculpas pela minha falta de tato.
Ele negou com a cabeça como se quisesse dizer que estava tudo bem, encarando-a com um pequeno sorriso nos lábios.
— E você deveria mesmo ir para casa — voltou a dizer, assentindo. — Esse sofá realmente não parece confortável para passar a noite.
Ben teria que concordar com o dito dela, sentindo uma dor recorrente na lombar que provavelmente fora causada pelo estofado desgastado e pela madeira que ficava bem no meio do móvel. Acabaria se rendendo a sua caixa de primeiros socorros quase nunca utilizada que ficava no banheiro do seu apartamento assim que chegasse lá, a única coisa que faria antes de dormir pelas próximas quatorze horas sem interrupções.
— Eu faria o mesmo se pudesse — Sky terminou, olhando para a porta branca e novamente para o soro que continuava a pingar lentamente ao lado de sua cama.
Benjamin viu o pequeno sorriso desaparecer do rosto da mulher, respirando fundo e colocando uma das mãos no bolso da sua calça social.
Poderia ter saído daquele quarto com cheiro pesado de éter e produtos de limpeza que incomodavam sua rinite naquele momento, como a mulher tinha sugerido apenas alguns instantes antes. Poderia ter se despedido dela, pego o primeiro táxi amarelo que estivesse estacionado na frente do hospital e ido para casa, aproveitar o descanso que ele merecia após tanto estresse para a noite anterior.
Mas deixá-la daquela forma ia contra todos os seus princípios.
Principalmente quando seus lábios diziam que estava tudo bem se ele fosse embora, mas seus olhos implorassem para que ele não a deixasse sozinha.
Ben deixou o terno dobrado em cima do sofá escuro que ocupava o canto do quarto do hospital, puxando um dos bancos estofados que havia ali para mais perto da maca de Sky, sentando-se e olhando fixamente para seu rosto abatido.
— Ou eu poderia sentar e fazer companhia a você até a sua alta — falou, entrelaçando seus dedos enquanto encarava o semblante confuso de Skylar. — Não me olhe assim, eu não sou uma companhia tão ruim, você mesma disse isso ontem a noite.
Ela deixou um sorriso escapar dos seus lábios, surpresa com a mudança de atitude dele. Pensou em insistir mais uma vez para ele ir para casa, mas se fosse bem sincera consigo mesma ela não queria que Ben a deixasse sozinha.
— Você sempre faz companhia às mulheres que você salva nas festas que você produz, Benjamin Elliot? — ela tinha um sorriso provocativo nos lábios quando terminou de falar, que não passou nem um pouco despercebido por ele.
Sky preferia acreditar que a sensação que sentiu no seu estômago tinha sido pelo tempo que ela passara sem comer desde a noite anterior, mas sabia que tinha muito a ver com o sorriso que se formara no rosto de Ben.
— Bom, o que eu posso dizer... — ele entrou na brincadeira, dando de ombros. — Você foi a primeira.
"GossipNY: Bravo, Bravo Marlowe e E!vents pela grande inauguração. Mas a verdadeira pergunta da noite é: onde estava Ben Marlowe no momento do ato final? 👀🗣"
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