Momentos. É disso que a vida é feita. Momentos bons e ruins que todos tem de passar e comigo não foi diferente.

Eu confesso,esses dias estão sendo tão difíceis como na noite em que eu descobri sobre o falecimento dos meus pais. Nossa,como eu sinto falta deles! Como eu queria ter somente mais cinco minutos para dizer o quanto eles eram importantes para mim. Mas no fundo,bem lá no fundo do meu peito,eu sei que isso não vai acontecer. Eu nunca mais poderei ver o sorriso do meu pai ao assistir uma partida de futebol ou as carícias e os abraços acolhedores da minha mãe.

Pensar nisso sempre me trazia sofrimento. Mas naquele momento,eu só queria que a minha mãe estivesse ao meu lado e me dissesse que tudo ficaria bem. Limpei as lágrimas da minha bochecha e respirei fundo antes de atender ao telefone,que tocava incessantemente.

"Alô?"-Eu sussurrei e minha voz saiu como se eu tivesse levando um soco bem no meio da barriga.

"Sophia"- A voz do outro lado disse e minha respiração se tornou irregular assim como o batimento do meu coração.

Fiquei em silêncio. Ele não poderia estar me ligando. Eu pedi para ele sumir mas claro que ele não iria cumprir com sua promessa.

"Por favor! Não desliga o telefone"-Ele implorou e eu continuei muda.

Ficamos em silêncio por um tempo. Sua respiração era tão pesada e eu conseguia ouvir soluços baixos vindo de lá.

"Não chore"-Eu consegui dizer,finalmente.

Se tinha uma coisa que acabava comigo,era saber que ele estava chorando por minha causa.

"É bom ouvir a sua voz"- Ele disse depois de longos minutos sem ninguém pronunciar uma única palavra.

Eu sorri fracamente e as lágrimas continuaram descendo pelo meu rosto.

"Você não deveria estar fazendo isso,Harry"

"Eu sei. Eu sei que não deveria"

"Então por que faz?"

"Porque eu não consigo ficar longe de você"-Ele sussurrou.

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde,aquilo aconteceria. Na verdade,eu queria que aquilo acontecesse.

"Eu sinto muito por ter causado essa bagunça na sua vida"-Eu disse com a voz mais firme.

"A questão aqui não sou eu,Sophia. É você! Eu estou preocupado. Na verdade,todos estão"

"Eu ficarei bem"

"Sophia,você está a mais de duas semanas só dentro de casa"

"E o que você esperava que eu fizesse?"

"Eu não sei. Só não consigo imaginar o seu sofrimento"

"Harry,não podemos conversar mais sobre isso. Você não vê que só nos trará mais dor? Você deveria estar levando a sua vida em frente"

As palavras saíam pesadas da minha boca. Eu sabia que havia necessidade de dizê-las mas o meu coração não aceitava isso.

"Eu tentei ficar longe. Eu juro,Sophia. Mas não funcionou,eu não consegui sair da sua vida e provavelmente nunca conseguirei"

Harry dizia de forma rápida e embolada. Era mais como se ele tivesse esperado muito tempo para dizer tudo aquilo e agora sentia um grande alívio por colocar tudo para fora.

"Eu sinceramente não sei o que fazer"-Bufei frustada pela situação.

"Nós podemos tentar ser amigos,pelo menos?"-Harry perguntou e senti um pouco de esperança em sua voz. Esperança essa que eu não poderia alimentar,eu sabia que não deveria mas o meu coração fazia o favor de ignorar todos os pensamentos sensatos da minha cabeça.

"Como?"-Eu perguntei

"Voltaremos a ser somente dois bons amigos. Acho que assim não sofreremos tanto"

"Você sabe que isso tem uma grande chance de dar errado,não sabe?"

"Eu sei,mas farei qualquer coisa para pelo menos,te ver. Mesmo que seja escondido"

Eu seria idiota se aceitasse isso. É claro que eu não conseguiria ser amiga do Harry. Meu consciente me lembrava o tempo todo mas eu não queria ouví-lo. Tudo o que eu precisava naquele momento,era da presença do Harry na minha vida. Mesmo que seja como amigo.

"Eu sou burra demais por aceitar isso"-Eu disse me jogando na cama.

Harry riu levemente e uma das melhores sensações vieram em seguida.

Ultimamente nós estamos chorando tanto,que uma simples risada tinha se tornado algo inovador.

"Os meninos estão vindo passar a noite aqui. Vem também,Sophi"-Ele disse com uma voz tão rouca e sedutora,que meu coração acelerou levemente.

"É melhor não"

"Por favor! Eu preciso te ver"

"Não Harry,isso não está certo. Eu já concordei em tentar ser sua amiga,isso já está bom por hoje"

"Eu não estou conseguindo mais dormir direito"-Ele sussurrou.

"Harry...eu sinto muito"-Eu disse com a voz falhando e sentindo as minhas mãos tremerem.

"Deixa eu dormir com você?"-Ele perguntou do nada.

"O quê?"

"Deixa eu dormir com você,Sophia"-Ele repetiu.

"Como assim dormir comigo? Do que você está falando,Harry?"

"Eu não consigo mais dormir sem você perto de mim. É sério Sophia,eu tenho tido pesadelos. Na verdade,eu sempre os tive mas depois que te conheci,eles foram se tornando escassos"

"Você nunca me falou sobre isso"

"Não tinha motivos para dizer. Mas agora que nós estamos assim,eles voltaram e eu tenho medo deles. Não suporto ter aquelas sensações horríveis durante todas as noites"

Eu fiquei totalmente sem saber o que dizer. Harry nunca havia tocado no assunto desses pesadelos e agora que eu sei da existência deles,meu coração dói.

"Me desculpe,me desculpe mesmo mas não dá. Você deveria ficar longe de mim"

"Então é isso?"-Ele perguntou com a voz trêmula.

"Eu sinto muito"-Eu sussurrei e ele desligou o telefone.

É claro que aquilo não podia dar certo. Harry e eu nunca conseguiríamos voltar a ser amigos e isso me deixa triste de alguma forma.

Tentei afastar todos aqueles pensamentos terríveis e fui dormir. Talvez na tentativa de esquecer todos esses péssimos dias mas não resultou em nada.

Acordei com o toque do meu celular. Olhei no visor e atendi já sabendo que não tinha sido uma boa ideia.

"Sophia!"-Harry exclamou com a voz totalmente alterada.

"Harry? Está bêbado?"-Eu disse esfregando meus olhos para afastar o sono.

"Não estou bêbado! Apenas vim relaxar um pouco"-Ele disse e começou a rir mesmo sem ter algum motivo aparente.

Bufei de raiva pela sua atitude infantil.

"Tudo bem,você já bebeu e relaxou,agora volte para casa e me deixe dormir"-O ordenei.

"Casa? Eu não chamaria aquilo de casa. Sabe por que? Porque os meus amigos a invadiram e eles estão me sufocando. Eu não quero voltar para lá"-Sua voz era totalmente embolada e as palavras se arrastavam uma na outra,mas o que me deixou mais impressionada,foi a sinceridade dele.

"Onde você está,Harry?

"Eu não sei! Está tudo tão colorido e as pessoas estão rodando. Eu estou confuso"

Consegui ouvir barulho de copos caindo no chão e uma voz gritando ao fundo.

"Harry? O que aconteceu?"-A essa altura eu já estava totalmente preocupada e o sono não fazia mais parte do meu corpo.

"Estou em um bar perto da sua casa"

Sua voz havia saído de forma mais clara e na mesma hora,eu já sabia a localização dele.

"Estou indo te buscar. Fique aí"

Cerca de vinte minutos depois,eu já estava em frente ao pequeno bar. Procurei Harry pelo balcão e o encontrei com a cabeça apoiada sobre o mesmo.

Seu estado era caótico. Haviam grandes olheiras debaixo dos seus olhos e seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal.

"Harry,vamos para casa"-Eu disse e peguei em sua mão.

O caminho foi totalmente silencioso. Ele não fazia qualquer tipo de gesto e não puxou qualquer assunto. Aquele Harry estava me assustando.

"Por que me trouxe até aqui?"-Ele perguntou assim que passamos pela porta do meu apartamento.

"Talvez porque você não queria voltar para a sua casa"- Eu disse como se fosse óbvio.

"Pensei que você queria manter distância de mim"

Seus olhos estavam presos nos meus. Eu não conseguia pensar em mais nada direito. Harry tinha esse poder sobre mim.

"Eu pensei que você estivesse bêbado o suficiente para não conseguir formular frases coerentes"

"Não estou tanto assim"-Ele disse enquanto dava passos em minha direção-"Você não vai pedir para eu me afastar?"

Parei alguns segundos com a sua pergunta. É claro que deveria mas não,pela primeira vez na minha vida,eu contrariaria o certo.

"Não preciso pedir. Você sabe até onde pode chegar"

Seus olhos se arregalaram. Provavelmente não estava á espera que eu o respondesse com tanta certeza.

Ele suspirou e abaixou sua cabeça. Fiquei o encarando sem saber o que tinha acontecido.

"Por que tem que ser tudo tão complicado?"-Ele perguntou.

Não o respondi. Eu realmente não sabia o que dizer.

Ele se sentou no sofá e eu continuei parada na soleira da porta.

"Eu vou voltar para o meu quarto. Pode dormir aí no sofá,se você quiser" -Tentei fazer com que as minhas palavras soassem o mais suave possível,mas não pareceu adiantar em muita coisa.

Antes que eu pudesse chegar até a porta do meu quarto, meus ouvidos foram invadidos pela voz lenta e profunda do Harry.

"Eu te amo"

Meu coração apertou com suas palavras. Da primeira vez que ouvi,estávamos totalmente angustiados e agora sim eu consigo sentir o que ele realmente disse.

Harry me ama. E isso só torna tudo mais difícil para a nossa situação.

"Eu sei"-Disse e esbocei um leve sorriso-"Eu não deveria fazer isso mas vem,passe a noite comigo"

Os olhos dele saltaram. Sua expressão foi de confusão por uns minutos mas logo deu lugar ao sorriso mais lindo do mundo.

O sorriso do garoto que eu amo