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SETE. Querida Daisy,

made by @xmoanax ♡

Harry e Daisy. Um casal de apaixonados. Até aqui, nada que se demonstre diferente do habitual, certo?

Porém, Harry e Daisy, são tudo menos um casal normal. Amam-se com tudo o que têm, que não têm, poderão vir a ter e com o que nunca terão. Amam-se profunda e eternamente.

Mas nem sempre foi assim.

Harry e Daisy já foram apenas dois seres perdidos no mundo, sem um rumo, sem uma direção a tomar. Já foram apenas duas pessoas sozinhas -ainda que felizes. Harry e Daisy nem sempre tiveram sorte, e a sorte é algo muito relativo, não é?

Na verdade, Harry e Daisy já ultrapassaram várias atrocidades e obstáculos que a vida lhes colocou. Ainda assim, ergueram-se perante as cinzas e ruínas que restavam após todas as batalhas travadas.

Inconscientemente, ambos desejaram sempre a mesma coisa. Que o outro o amasse de volta. Gritaram, riram, insistiram, embirraram, chatearam-se, magoaram-se -inclusive- e nunca foram capazes de perceber que partilhavam o mesmo sentimento. Na verdade, que partilhavam a mesma agonia, porque o amor é tudo exceto um mar de rosas; é um sofrimento coberto por risos, beijos, abraços, carícias. O amor é uma agonia disfarçada e não existe algo mais belo do que isso.

O amor magoa e ninguém pode fazer nada para contrariar tal coisa. Nem mesmo eles os dois, que se amaram desde sempre, com tudo o que têm, que não têm, poderão vir a ter e com o que nunca terão.

O amor aparece de várias maneiras e feitios: numa caixa de bombons, num ramo de flores, num abraço apertado, num beijo cheio de saudade. Em gritos, em pequenas discussões, em pequenos amuos. O amor é mesmo isso: aparecer em todos os pequenos gestos, ações, palavras, pessoas. Para Harry, Daisy era o amor espelhado numa pessoa e para Daisy, Harry era o amor espelhado numa pessoa.

Casaram-se, viveram juntos (mesmo com alguns amuos, lágrimas e dificuldades) e morreram a pensar um no outro. Viveram cada dia intensamente, amando-se mais do que no dia anterior e menos do que se amariam no próximo. Riram juntos, choraram juntos, gritaram juntos, sofreram juntos, ergueram-se juntos.

Durante todos os anos em que estiveram casados não houve um único dia em que não escrevessem pequenas cartas um ao outro e as colocassem no frigorífico para que quando o outro acordasse pudesse ver. Acordaram muitas vezes juntos, no entanto houveram dias em que isso era impossível de acontecer, mas eles não se importavam. Continuavam juntos.

Quando o tempo já não era medido em primaveras, mas em dias, permaneceram juntos, como fizeram sempre.

Amaram-se sempre e nem quando o primeiro deles se foi, deixaram de o fazer. Já não havia mais tempo para novas paixões. A vida deles estava a acabar e eles tinham-se amado todo o tempo, todos os anos e segundos que viveram.

Daisy foi a primeira a ir. Como é claro, Harry sentiu-se vazio desde então e escreveu-lhe cartas todos os dias, a contar-lhe o que se havia passado e as saudades que sentia dela. Agora, era a vez de Harry ir ter com a pessoa que mais amou em todos os anos que vivera. Sabia-o porque estava pronto para abandonar este mundo que para ele não significava mais nada senão sofrimento e saudades. Decidira por fim à sua vida com noventa e três anos. Já não há muito mais para viver. Está acabado e sabe disso. Escreve uma carta para Daisy, tal como fez nos últimos anos. Quando a acaba, coloca-a dentro de um envelope e beija-a; deixa o papel embrulhado na almofada que pertencera à sua amada e toma uma dose suficiente para se deixar dormir num sono eterno e sem mais sofrimento.

''Amar-te-ei para sempre, Daisy.'' Foram as últimas palavras que ele proferiu, mas que ninguém sabe. Apenas nós e não tem problema.

Harry foi encontrado morto, na sua cama (e de Daisy) a treze de março de dois mil e oitenta e sete, por uma rapariga com longos cabelos castanhos, que havia entrado no seu apartamento ao ver que a porta estava mal fechada.

A rapariga havia ficado chocada ao ver um corpo pálido estendido numa cama, mas ainda assim, abriu a carta que se encontrava a seu lado.

''Querida Daisy,

Partiste já fazem sete anos e eu estou a morrer de saudades tuas. É a minha vez de te procurar, de te encontrar e ficar contigo (e desta vez, é para sempre).

Os dias que passei sem ti já não pareciam ter a mesma alegria; a nossa casa já não se encontra cheia de sentimentos mas sim de memórias que tenho nossas.

És o meu paraíso e disse-to diversas vezes, mas nunca me pareceram suficientes. Amo-te tanto...

A tua escova de dentes ainda está ao lado da minha. Como pode haver algo tão estranho como precisar de ti assim tanto? O pior é quando durmo e fecho os olhos, e estás ao meu lado, quando acordo, já não estás cá e foste embora.

As pessoas têm pena de mim, por me ver tão sem vida. Mal elas sabem que a minha vida eras tu.

Por vezes ainda sinto o cheiro do teu perfume no ar e sinto uma nostalgia imensa. O frasco ainda se encontra intacto na cómoda, tal e qual o deixaste.

Por favor, promete-me que da próxima vez, quando fores embora, me levas contigo e me amas.

Podia dizer-te tantas palavras, citar-te poemas e inspirar-te mas apenas consigo pronunciar a palavra que tantas vezes te dirigi. Amo-te. Nunca me cansarei de a dizer se for dirigida a ti.

O amor é muitas coisas exceto politicamente correto e isso é uma treta. Somos felizes mas vistos como uns egoístas.

Nunca fui bom com as palavras e parece que nem com os anos que passaram por mim isso mudou.

Amei-te intensamente e não há nada de que me arrependa de ter feito (exceto não te ter ajudado a arrumar a casa uma vez e deixaste de falar comigo).

Não sou romântico, mas sou romântico para ti e isso basta. Eras tudo o que importava e agora que já não estás cá, já nada importa.

Espera mais um pouco por mim, meu amor, estou quase a chegar.

Amo-te,

Sempre teu,

Harry."

A rapariga não conhecia a sua história, mas sabia que não era preciso uma casa grande nem muito dinheiro para se ser feliz. É-se milionário com o amor e isso é o que realmente importa. Complicamos o amor, mas é tão simples.

Harry e Daisy foram felizes e amaram-se todos os dias das suas vidas. Para eles, mais nada importa, pois estão juntos de novo.

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