75- Um homem, um herói, um avô e uma doença
Ele era um senhor que usava balas de hortelã no bolso
Gravata bem feita e um cinto charmoso
Sapato algumas vezes apertado
Mas sempre engraxado
Tinha um coração enorme
Todos conheciam seu nome
Pobre e não sabia ler
Mas conhecia coisas que muitos jamais conseguiriam entender
Amou uma só mulher
Por toda vida, ela era a que fazia seu coração bater
Ele lutou todos os dias para não vê-la sofrer
Os dois se amaram para valer
Teve filhos, bem criados e amigos
Era um pai complicado, sério, fechado
Mas eles sabiam o quanto tinham sido amados
Há muitos pais pelo mundo
Mas poucos se igualam
Viveu por um ideal
Morreu por esse ideal
Combateu o bom combate
Foi um grande homem
Inteligente, formado pela vida e seus incautos
Ensinou a neta a assobiar
E a amarrar o cadarço
E ela ainda lembra de como ele gostava de dizer "obrigado"
Não era o Mguelim, mas foi menino sofrido
Mas ensinou a gerações
Como ser querido
Mostrou a jovens como deixar os vícios
Ensinou meninos a serem sinceros e sem achismos
Até que um dia, você começou a esquecer os fatos
Sentiu-se cansado, desconfiado
Já não lembra quem era sua família, nem quem estava do seu lado
Amou-a tanto, mas agora nem falava nada, porque era raras as vezes que se lembrava
Mas sabíamos que você ainda a amava
Sua família tentava, seus netos ouviam suas histórias mal contas
Mas para eles, o importante era que você se lembrava
Com quem falava
Foi triste te ver partir
Mas era melhor do que você sofrer aqui
E sabemos que você não está triste aí
Afinal, você venceu aqui
Era um homem que chorava
Era um homem que cantava
Foi um homem que amava
É um grande homem em nossas memórias
E seguimos sentindo sua falta
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