29°
MEU punho irradia dor. Nunca soquei alguém na minha vida. Às vezes Max e eu brigamos, mas isso... Que inferno!
— Argh! — Seguro meu punho, me arrependendo profundamente, ao mesmo tempo que foi bem merecido.
— Você nunca bateu em alguém na vida? — Sebastian está agora tentando alcançar meu punho, parecendo inabalado pelo soco.
— Ninguém nunca foi babaca o suficiente ao ponto de merecer! — grito para ele, que me ignora, pegando meu punho. Bom, ele tenta, Theodore segura o braço dele.
— Não encoste nela. — Nunca vi Theo falar desse jeito... Tão frio e ameaçador.
— Não encoste em mim. — Também não tinha reparado que Sebastian é mais alto que Theo e agora parece a morte encarnada.
— Se machucá-la...
— Por que acha que eu faria isso? — Sebastian se solta com um movimento brusco, praticamente rosnando na cara de Theo.
— Acabou de apagar um homem. Madelaine não daria muito trabalho — a coisa errada a dizer, percebo, quando Sebastian segura Theo pela gola da camisa.
— Olha aqui, seu mauricinho de merda, eu nunca machucaria a Madelaine ou qualquer outra mulher, então cuidado com o que fala ou vou fazer você engolir os próprios dentes.
Theo não mostra nenhum medo quando Sebastian o solta, apenas arruma a camisa e me encara.
— Foi por isso que você me trocou? — um riso de escárnio e Sebastian avança para cima dele. Entro no meio, ficando de costas para Theo.
— Olhe para mim — peço. Sinto como se estivesse falando com um cão raivoso. Ele não olha. — Seu imbecil, pode me ouvir pelo menos uma vez?
Ele olha e por um segundo, vejo a diversão em seus olhos.
— Pare de agir como um cão marcando território e vamos embora. — Eu não sabia que podia ser tão fria também, mas os ombros de Sebastian relaxam um pouco.
— Chamá-lo assim é um insulto aos cães — Theo murmura atrás de mim e Sebastian dá um passo, eu pressiono minha mão boa em seu peito e viro para Theo.
— E você, pare de ser esse idiota do qual você resolveu se fantasiar essa noite ou vou deixá-lo — aponto com a cabeça para Sebastian — cumprir a promessa de lhe fazer engolir os próprios dentes.
Surpresa e mágoa dançam em seus olhos, mas ele dá um passo para trás, erguendo as mãos.
— Não gosto mesmo dos restos de ninguém. — filho da mãe...
Sebastian avança, mas eu espalmo as mãos em seu peito, meu punho reclamando de dor.
— Vamos embora. Ou eu juro nunca mais falar com você em toda minha vida — uma ameaça idiota, admito, mas ele recua. Uma parte irracional de mim se alegra com isso.
Entrelaço nossas mãos e puxo ele pela multidão, desviando daqueles dançando feito loucos. Eu poderia estar entre eles se não tivesse subido para aquele maldito quarto.
Eu ferrei tudo mais uma vez.
Do lado de fora não tem tantas pessoas assim e facilmente acho o carro de Max, mas sem sinal do mesmo ou o resto do bando. Prefiro não imaginar o que estão fazendo ou o que o meu irmão faria com Sebastian e Theodore. Melhor ainda, o que ele fará quando souber dessa briga, pois não tenho dúvida que segunda-feira será um dos assuntos mais comentados na escola.
— Deixa eu ver seu punho — Sebastian pede quando chegamos ao carro. Abro a porta para ele, mantendo meu punho machucado contra o peito.
— Entre nessa merda de carro e cale a boca. — talvez eu tenha gostado de bancar a mandona sem sentimentos. A melhor parte é que ele me obedece.
Se Sebastian Blackwood é um cão marcando território, eu tenho sua coleira em minhas mãos.
~•~
Não falei com ele no caminho até o mercado. Ainda estou irritada. Meu punho está latejando e eu estou dirigindo apenas com uma mão. Eu estou dirigindo a noite. Se isso já não bastasse, ainda tem o fato de a minha relação com Theo ter ido para o ralo, sendo que eu apenas comecei isso com Sebastian por conta dele.
Mandei uma mensagem para meu irmão, dizendo que ia dormir na casa de uma amiga e para meus pais. Não sei se o primeiro acreditou.
Deixei Sebastian trancado no carro, entrando no mercado sozinha. Pego pacotes de ervilhas congeladas, fita adesiva, água e salgadinho. Faço isso em cinco minutos e volto para o carro, mas antes, pego a caixa de primeiros socorros de Max.
— Exatamente onde deixei você — digo com ironia.
— Fica difícil sair quando se está trancado. — ele não retribui o sorriso, está encarando meu punho e seu maxilar se contrai.
Lhe estendo um pacote de ervilha.
— Não preciso disso. Já estive pior — presunçoso, é isso que ele é. Sebastian suspira quando continuo com o pacote estendido, mas o pega. — E o seu punho?
Silenciosamente, pego outro pacote de ervilha e a fita adesiva. Olhando para os dois, percebo que não consigo fazer isso, pelo menos não sozinha.
— Para sua sorte, não sou uma pessoa rancorosa. — Sebastian pega a fita e as ervilhas.
Observo ele pôr o pacote nos nós de meus dedos e eu acabo gemendo. Ele continua, agora com a fita adesiva, passando em volta. Uma, duas... Seis vezes e minha mão está empacotada.
— Obrigada — me obrigo a murmurar. — Banco de trás. — Aponto com a cabeça. Sebastian suspira, mas obedece. Quando ele já está acomodado, lhe entrego as coisas, pulando para trás também.
Com uma única mão boa, abro a maleta de primeiros socorros, pegando pano e então a garrafa de água, molhando um pouco do pano. Encaro Sebastian.
— Isso vai doer um pouco — aviso, sabendo que vai mesmo.
— Não precisa...
— Você é tão orgulhoso assim? — Suspiro. Sebastian desvia os olhos, mas deixa eu limpar o corte no supercílio, fazendo careta e gemendo um pouco. — Nisso que dá se envolver em brigas.
— Ele mereceu. — Pego o remédio, espirrando no algodão e passando no ferimento, com batidinhas leves — Ai! — Ele me olha furioso e eu dou um sorrisinho. — Está se divertindo com isso, não é?
— É um insulto você achar que sou tão maldosa assim. — Termino e ponho um curativo. Faço o mesmo processo com seu lábio, mas sem colocar o curativo. Pego sua mão com o pacote de ervilha, fazendo pressionar na bochecha. — Prontinho
— Obrigado.
Ponho a maleta no banco da frente e volto a sentar normal. Nós dois ficamos em silêncio. As coisas desandaram muito rápido nas últimas horas.
— Me desculpe... — Sebastian começa. — Não devia ter tratado você daquela forma.
— Por que você me tratou daquela forma? — Não lhe encaro, mas olho pela janela ao meu lado. Estacionei em uma parte afastada do estacionamento do mercado.
— Vi quando subiu com ele...
— Eu não subi com ele, subi sozinha e ele foi atrás de mim. — Sinto uma necessidade estranha de corrigi-lo.
—... achei que tinham se acertado e queriam... Privacidade.
— Foi um idiota — murmuro. Ele foi mesmo. Eu estava com ele, dançando com ele e de repente Theodore aparece e ele acha que eu vou sair correndo?
— Ei... — Sebastian segura meu rosto, e nossos olhares se encontram. — Não mereço suas desculpas, eu sei, mas me perdoe...
Me inclino para o seu toque, fechando os olhos. Seu polegar acaricia minha bochecha.
— Amo seu toque — sussurro, um pouco surpresa por admitir isso em voz alta.
Sem falar mais nada, me ajeito no carro, de modo que minhas costas ficam contra seu peito, seu calor me aquecendo.
— Quer falar sobre o que aconteceu com o Hendriks? — Sinto um arrepio quando sua respiração acaricia meu pescoço.
— Ele sabe sobre nós... E disse que... — Engulo em seco. — Ele disse que me amar foi a pior coisa que aconteceu na vida dele...
Eu conto tudo a ele. Da hora que esbarrei com Theo, até a hora que ele disse a frase que partiu algo em mim e eu fiquei sozinha, tendo uma crise de ansiedade. Coisa que eu mesmo causei.
— Desculpe... — Sebastian repete. — Disse que ia ficar a noite toda com você, mas a deixei... Desculpe.
— Não tem porquê se desculpar. Eu causei tudo isso. — Não vou ficar surpresa se Theo não quiser mais olhar na minha cara.
— Ele também foi um idiota. Sei que ainda está pensando no que ele disse, mas tenho certeza que foi da boca pra fora. — Sebastian está fazendo círculos preguiçosos em meu braço.
— Por que você entrou naquela briga? — mudo de assunto. Não tem como ele saber, não viu a mágoa nos olhos de Theodore.
— Como eu disse, vi vocês dois e... — Ele não termina a frase. Inclino o rosto para encará-lo.
— E o quê?
— Fiquei com ciúmes. — ele Suspira. Volto a olhar para frente, murmurando um "Ah". — Bebi para não imaginar o que poderiam estar fazendo e quando vi, já estava brigando com aquele cara.
— Preciso dizer que foi idiota? — pergunto e ele ri, me arrepio de novo.
— Não... Tenho consciência dos meus atos. — Ele beija meu pescoço, me tirando um sorriso. — Estou perdoado?
— Por ser um idiota? Você já não era assim antes? — pergunto rindo e Sebastian me faz cócegas. — Tá bom, tá bom! Eu perdoo.
Ele para e eu recupero o fôlego. Não falamos mais nada, apenas observando o escuro, o carro e ouvindo nossas respirações. Mas uma coisa ainda está pairando em minha mente e eu quebro o silêncio.
— Quando está comigo... você se sente usado? — falo tão baixo que não sei se ele ouve, pois fica em silêncio por tanto tempo que acho que não.
— Não — mas de repente ele responde.
— Hum...? — Sim, eu já estava dormindo.
— A resposta é não.
— Ah... — Acabo bocejando, quase não lembrando da pergunta que fiz a ele.
Em minutos, adormeço no colo de Sebastian, mas posso jurar que o ouvi dizer antes da escuridão total tomar meus sentidos:
— Espero que não seja tarde demais quando perceber...
~•~
Eu nunca tinha dormido em um carro antes. Já cochilei em viagens, mas nunca dormi uma noite inteira. Na verdade, estou surpresa por ter conseguido dormir uma noite inteira.
Depois de fazer o reconhecimento de onde eu estou e porque estou aqui, me afasto do corpo que me esquentou a noite toda. Sebastian parece um anjinho dormindo. O cabelo está loiro por conta da luz do sol entrando pela janela e apesar dos machucados, ele continua lindo.
Seus olhos se abrem.
— Imagino que deve estar com uma dor nas costas horrível — presumo, observando a careta que ele faz ao se sentar direito.
— Achei que não falasse ao acordar. — Sua voz está rouca, mas ele dá um meio sorriso. Aposto que não é o sol da manhã que esquenta meu corpo.
— Estou com fome. — Suspiro, encarando minha mão. O pacote de ervilhas não está mais congelado e é mais um peso na minha mão.
Sebastian pega a maleta de primeiros socorros e tira uma tesoura pequena de dentro. Eu certamente não vi isso ontem. Ele corta a fita adesiva, tirando junto com o pacote de ervilhas.
Abro e fecho minha mão. Ainda está dolorida, mas melhor.
— O que vamos fazer agora? — Sebastian pergunta, me encarando.
— Comer. Estou com fome, então vou deixar você em casa e depois...
— Não estou falando disso... Estou falando de nós dois. — Nós.
Existe um nós. Eu já tive um nós com Theo e não acabou muito bem. Não, acabou terrivelmente mal. Eu o magoei, eu estraguei tudo... Do mesmo jeito que Theo não merecia, Sebastian não merece ter o coração partido por mim, caso a gente se envolva profundamente.
Não sei se posso suportar magoar mais alguém.
— Sebastian... — começo, mas paro quando ele segura minha mão. A mão boa ou eu teria gritado de dor.
— Sei o que está passando por essa cabecinha — Ele entrelaça nossos dedos. — Não vou esperar nada de você, além daquilo que quiser me dar, está bem? Apenas me diga se é isso que quer...
— Eu quero você. — e como da primeira vez, as palavras causam o mesmo efeito nele. Com a luz do sol, vejo perfeitamente quando suas pupilas dilatam.
Deito no banco do carro quando ele vem para cima de mim, me beijando, mas de forma suave, provavelmente por conta do lábio machucado.
— Retiro o que eu disse sobre os dez dias — Sebastian sussurra contra meus lábios. — Eu também quero você, Madelaine.
~•~
Último capítulo de hj!
Depois da tempestade vem sempre a calmaria, né?
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2bjs môres ♥
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