Capítulo 25
Gwen Gallagher
Abro os olhos lentamente e vejo Tessa dormindo na minha frente, ela está com a mão na minha e aperta com força enquanto dorme. Olho para nossas mãos e sorrio lentamente percebendo que ela está preocupada comigo, ela realmente está preocupada comigo.
Me mexo na cama e sento lentamente, minha cabeça ainda dói e me sinto meio tonta, mas levanto e vou até o banheiro para lavar meu rosto e escovar os dentes, não consigo pensar muito enquanto faço nada disso.
Saio do banheiro e vou até a cozinha, fico surpresa quando vejo Mattias fazendo o café da manhã e Peter comendo o cereal de forma rápida. Sua blusa está suja de terra e ele está rindo enquanto Mattias fala algo.
-Gwen.- Mattias sorri.- Fiz uma salada de fruta pra você, tinha todas. Espero que não se importe.
-Não.- balanço a cabeça.- Obrigada, Mattias.
-Está melhor?- pergunta enquanto pego a tigela e a colher.
-Sim, acho que dormir ajudou.- sento.- Tessa estava lá desde quando?
-Ela passou a noite.- Mattias explica sorrindo.- Assim que ela acordar, começamos a conversar.
-Acho que não quero conversar.- murmuro.
-Temos que falar sobre você aqui.- explica.- Não tem segurança nenhuma.
-Eu tenho uma arma.- aponto.
-As balas podem acabar, eles podem invadir silenciosamente....- Peter começa e o encaro.- Você sozinha estará muito ameaçada.
-O que descobriram de Joseph?- o ignoro e olho para Mattias.- Alguns coisa?
-Todas as casas dele que tinham no pendrive, ele não está usando. Sabe que vamos usar isso.- Mattias explica.- Então ele é um fantasma, não sabemos se ele está aqui para fazer isso pessoalmente ou se mandou alguém fazer.
-Quantos meses faltam?- pergunto baixo.
-Ele achou você há seis meses atrás.- Peter lembra.- Faltam três meses.
-Você estar aqui vai ser burrice.- Mattias mexe as mãos.- Quando esses três meses acabarem, você não pode estar sozinha.
-Eu vou começar a procurar um apartamento.- falo e os olhos dele brilham.
-Sério?- parece aliviado.
-Sim, mas não vou me mudar agora.- afasto os cabelos.- Só vou começar a procurar.
-Isso já é o bastante.- Mattias está feliz.- Tessa vai ficar feliz em saber disso.
-Ok.- me mexo na cadeira e encaro a comida. Não quero comer.- Eu preciso...
-Coma.- Peter fala e Mattias olha para ele.- Ele fez isso para você, não seja mal agradecida.- fala sem jeito.
Sei que essa última frase foi totalmente de improviso, ele não esperava ter falado isso em voz alta. Então começo a comer e o gosto é estranho na minha boca, geralmente não como muito de manhã e isso faz minha barriga doer.
Continuo comendo e Mattias se distrai para fazer o café de Tessa, ergo os olhos para Peter e ele mexe a cabeça pedindo desculpas sem som, sorrio fraco e volto a comer de novo.
Se eles estão tão preocupados, eu vou procurar algum lugar para ficar depois que acabar esses três meses. Mas não posso garantir nada, não estou pronta para largar esse lugar, ainda mais por que a lembrança de Blue só está por aqui, não posso deixar a lembrança dele aqui.
✯
Peter Todd
Observo pela janela Gwen e Tessa conversando, Tessa pediu para que Gwen mostrasse a estufa onde trabalha e as duas agora estão paradas no gramado enquanto Gwen aponta para algo ao falar calma.
Mattias chega ao meu lado e logo abaixo a cabeça para voltar a lavar a louça do almoço. Me descontrolei um pouco hoje, quase que obrigava Gwen a comer, mas acho que todos obrigariam pela forma como ela estava.
Gwen parece mais magra do que antes, não tem lembrado de comer muito. Achei que ela só não queria comer enquanto estávamos juntos para não passar a impressão errada, mas depois percebi que é por que ela não come.
Então fiz ela comer no café da manhã e de novo no almoço, fui um pouco rígido na frente de Tessa e Mattias, mas não podia deixar que eles desconfiassem de nada que estávamos fazendo.
Logo depois começo a pensar no que fizemos esses últimos meses, percebo que um sorriso calmo toma meus lábios e não consigo parar de pensar nas carícias de Gwen, bem antes de eu dormir depois do sexo.
Eram lentas e provocativas, mas de um jeito que me fazia querer ir para o lado dela e afundar meu rosto naqueles cabelos macios e cheirosos. Acho que nunca senti isso por nenhuma garota antes, era irônico que eu sentisse justo por Gwen...
-Você foi um pouco duro com ela.- Mattias murmura.
-Adoro ser duro com as pessoas.- explico.
-Que interessante. Por que comigo e com Tessa, você parece um bebê.- ele fala enquanto seca as louças.
-Sai pra lá, Mattias, se você quer um bebê, faz com a Tessa.- falo e ele ri.
-Tenho que ir bem devagar com ela.- ele ergue o olhar para Tessa.
-Mas o anel...
-Eu o comprei. Está guardado em um cofre.- informa.- Vou pedir em dois meses, como falei.
-Por que em dois meses?- fico curioso.
-Para dar tempo de ela esquecer a conversa do casamento.- fala óbvio.- E você?
-O que tem eu?- dou outro prato para ele.
-Não vai arranjar alguém? Casar? Ter filhos?- começa a perguntar.
-A única diferença entre Tessa e eu, é que ela conseguiu arrumar alguém para perder os medos.- o encaro.- Eu, não.
-Isso porque você não se esforça.- ele respira fundo.- Nunca quis morar em uma casa de subúrbio de classe alta que sempre vê? Nunca quis acordar e ter sua esposa ao lado? Então descer para fazer ou tomar o café e seu filho estar lá...
-Cara.- o encaro.- Ainda bem que eu não sou Tessa. Como vai convencer ela a ter quinze filhos?
-Eu não quero quinze filhos.- ele ri.- Dois está bom. Talvez, três.
-Boa sorte.- rio.
-Você não quer?- ele volta a perguntar.
-Não sou muito fã de bebês/crianças/qualquer outra coisa que seja uma miniatura de ser humano.- faço careta.- Me dão medo.
-Medo?- ele ri.
-Sim.- assinto.- Eles vem justamente para acabar com a sua vida, tirar seu sono e não deixar você transar nunca mais. Está pronto para isso, amigo?
-Existem babás e parentes, sabiam?- pergunta.
-É, mas você ainda tem que dar o exemplo.- desligo a torneira.- Acho que é assustador poder ter uma cópia de você. Não quero ter uma cópia de mim por aí, vai ser problema demais.
-Sabe que você vai ser padrinho do meu futuro filho, né?- pergunta e o encaro.- Mas dizendo essas porcarias...
-Ah, mas o seu filho vai ser diferente.- sorrio.- Vai ser uma cópia de você, se der sorte.
-Eu quero uma...
-Mattias.- Tessa entra com Gwen.- Eu preciso ir na cidade. Na farmácia.
-Ah, seu remédio acabou.- ele lembra e ela assente.- Eu vou com você.
-Tem certeza?- vejo o olhar que ela dá para mim e para Gwen. Como se fossemos nos matar.
-Sim, tudo vai ficar bem.- ele me encara.
-Claro, eu sou bem responsável.- pisco.
-Eu vou deitar um pouco.- Gwen explica.- Minha cabeça tá me matando.
-Ok.- Tessa a observa preocupada.- Quer algo da cidade?
-Não.- ela fala doce e entra no quarto.
-Pode trazer alguma coisa da padaria?- pergunto.- Tipo uns doces, bolinhos...
-Quantos?- ela pega o casaco.
-Trinta.- informo e ela me encara.- Tenho que comer muito por causa do metabolismo.
-Tá bom.- ela revira os olhos e Mattias pega o casaco também.
-Juízo, Peter.- ele abre a porta.
-Pode deixar.- mexo as mãos.
Eles saem e ouço o som do carro, então respiro fundo e vou ouvindo eles se distanciarem até não ouvir mais nada. Rapidamente vou até o quarto de Gwen e ela está sentada na cama, com a cabeça baixa e os cabelos cobrindo seu rosto.
-Ei...
Ela ergue a cabeça e vejo que está chorando muito, então me agacho na sua frente e seguro seu rosto de forma tranquila. Gwen soluça e limpo suas lágrimas enquanto a abraço com força, ela apenas se encolhe dentro do meu abraço.
-Ele está em um lugar melhor.- falo.
-Ele foi torturado.- ela fala rouca.
-Imagine ele em um céu cheio de gatos.- acaricio seus cabelos.- Tem que ter muita ração para eles se alimentarem.- começo.- E muito rato para eles brincarem.- ela ri baixo e sorrio.- Blue deve estar julgando os outros gatos e mantendo três metros de distância de qualquer um.
Ela ri mais alto e ergue o rosto, então sorrio ao nos olharmos novamente e meus dedos limpam suas lágrimas. Os olhos verdes claros me observam e Gwen se inclina para beijar minha bochecha.
-Você pode não achar.- sussurra.- Mas você é um homem bom, Peter Todd.
Fico surpreso com o que ela fala e meu choque é tanto que minhas mãos soltam seu rosto, mas Gwen segura uma das minhas mãos e beija a palma para depois a ponta do seu nariz tocar na pele sensível.
-Você é um homem bom, Peter.- ela sorri para mim.
-Não tão bom a ponto de merecer você.- sussurro.
-Eu não sou nenhum anjo.- ela ri.
-Sim.- balanço a cabeça.- Sim, você é. Porque toda vez que estou com você, parece que eu estou no céu.- seguro seu rosto com uma mão.- Já fiz muita merda e não mereço isso.
-Quem nunca fez merda?- franze as sobrancelhas.- Eu fazia o tempo todo...
-Você era vítima, Gwen.- percebo.- Foi vítima da sua mãe. Foi vítima de vários daqueles....- travo o maxilar.- Se eu pudesse, caçaria todos os homens que tocaram, abusaram e usaram você.
-Peter...
-Mas eu sempre fiz as coisas por que queria.- continuo.- Eu fiz tanta coisa....
-Aqui não tem julgamentos.- ela sussurra.- Você é bom. Vejo no seu olhar que é bom, vejo na firma como me trata e como sempre me faz sorrir.
-Você é....- sorrio.- Você é diferente.
Ela sorri e me ergo para sentar ao lado dela, então Gwen deita com a cabeça no meu colo e começo a acariciar seus cabelos de forma calma. Ficaria o dia todo apenas acariciando aqueles cabelos, ficaria o dia todo apenas vendo o quanto ela era forte.
Só queria ficar o dia todo assim.
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