Capítulo 10
Gwen Gallagher
Sento nas escadas que dão para o quintal gramado da casa e observo atentamente enquanto aperto a caneca com chá de hortelã na minha mão. Não consigo pensar direito, Peter fez o que prometeu que iria fazer.
Não consigo pensar direito.
Afasto meus braços do colo quando Blue quer subir e se enrosca para deitar com a cabeça na mesma direção que eu. Sinto um vento bom passar por mim e fico pensando em tudo que aconteceu.
Fico pensando em ontem a noite, e que estava dolorida, minhas pernas não ficavam fechadas sem que doesse um pouco. Também não queria lembrar dos ruídos que Peter fazia, do jeito como ele me apertava quando estocava.
Depois penso que eu tenho um prazo para achar esse pendrive, que eu não faço a menor ideia de onde está. Não sei o que fazer, nunca trabalhei bem sobre pressão, não consigo pensar direito.
Acho que posso falar com Tessa, acho que ela pode ser a única em quem posso confiar de verdade. Talvez, se for lá e fingir que é algo sobre negócios, Joseph não perceba nada por nenhum outro meio.
-Vamos, Blue.- deixo ele no chão e me levanto.- Não deveria sair muito de casa. Mas acho que preciso dessa vez.
Ele me observa enquanto caminhamos e fecho a porta de correr, vou até meu quarto e deixo o chá em cima da mesinha enquanto vou até o closet. Pego uma calça jeans e um suéter molinho acinzentado.
Amarro meus cabelos em um coque e coloco os sapatos. Encho a comida de Blue e começo a mexer no telefone para pedir um táxi. Preciso falar com Tessa antes que algo aconteça, acho que isso é o certo, Tessa precisa saber disso.
Ela vai saber o que fazer.
✯
Peter Todd
Abro a geladeira e pego uma cerveja, Tessa e Mattias estão fazendo o jantar. Ou melhor, Tessa está tomando um pouco de vinho enquanto Mattias prepara uma macarronada.
Sento ao lado dela e sorrio quando deita a cabeça em meu ombro, passo o braço pelas costas da cadeira e dou um gole na cerveja que acabei de pegar. Mattias sorri quando nos vê e parece bem feliz.
-Eu não tô atrapalhando, né?- pergunto.
-Não.- Tessa fala calma.- Quer dizer, você se convidou para o jantar, mas não tá atrapalhando.
-Ainda bem, por que eu não ia sair nem se estivesse.- sorrio.
-É, imaginamos.- Mattias assente.
-E a festa de Natal?- pergunto.
-Gwen já contratou a organizadora.- Tessa explica.- Gostei muito das ideias dela.
-Significa que vão ter uma orquestra tocando músicas natalinas?- pergunto.
-Ótima ideia.- Tessa empurra meu ombro.
Sorrio com raiva e a campainha toca, olho para a porta e Tessa levanta deixando o vinho na mesa. Então ela vai até a porta e abre para Gwen aparecer, sento mais ereto na cadeira e nossos olhos se encontram.
Começo a lembrar do que fizemos ontem e passo a mão pelos cabelos enquanto vejo Gwen entrar. Tessa parece ficar preocupada e pergunta várias coisas para Gwen.
Ela veio falar de mim. Quase certeza.
-Gwen?- Mattias fica em alerta.
-Desculpa atrapalhar.- ela engole em seco e vejo os chupões em seu pescoço.
Mexo a mão nos cabelos e Gwen me observa, então percebe que estou falando dos chupões e solta os cabelos antes que Tessa veja alguma coisa. Ela senta no sofá e Mattias vai até as duas.
-O que aconteceu?- ele pergunta.
-É que...- ela mexe a cabeça e passa a mão pela testa.- Joseph falou comigo.
-Joseph?- Tessa arregala os olhos.- O nosso tio?
-É.- assente.- Ele veio falar comigo e...
-Quando?- pergunto e Gwen me encara.
-Ontem de manhã.- a voz dela fica rouca e aperto minhas mãos.- Foi totalmente de surpresa. Ele me abordou e não tinha ninguém...
-É por isso que eu falei para ficar com os seguranças.- Tessa passa a mão pelos cabelos.- Acho que está na hora de voltar para a cidade...
-Não.- Gwen balança a cabeça.- Ele me ameaçou, falou que se eu não pegasse o pendrive ou avisasse a vocês, ele ia matar Rose. E depois, Mattias.
-Então não vamos deixar ele saber que sabemos.- Mattias cruza os braços.- Vamos agir normalmente.
-Mas e o pendrive? E Rose?- Gwen parece agoniada.- Joseph pode voltar a me procurar.
-Por isso que queremos que volte para a cidade.- Tessa mexe as mãos.- O pendrive está seguro e Rose também vai ficar assim que pegarmos mais seguranças. Ninguém vai se machucar, mas você precisa voltar...
-Eu não vou voltar Tessa.- Gwen parece cansada.- Eu vim avisar para que você resolvesse isso.
-Ele só quer o pendrive?- Mattias pergunta e olho para Gwen.- Ele só quer o pendrive, Gwen?
-É, é, só o pendrive.- ela assente.
-O pendrive está escondido, Rose e Mattias estão seguros, não tem nada para se preocupar além de você.- Tessa explica.- Se não quer voltar para a cidade, então vamos ter que colocar seguranças para vigiar o perímetro da sua casa.
-Não, não.- balança a cabeça.
-Puta que pariu, Gwen, deixa de idiotice!- me levanto.- Você quer ficar lá naquela casa? Quer dar abertura para qualquer um entrar?
-Eu vim avisar.- ela levanta e me encara.- Agora não é mais meu problema. Tenho nove meses para dar esse pendrive a ele ou vai machucar Mattias e Rose. Mas se vocês dizem que os dois estão seguros, eu confio em vocês. Agora, eu vou embora.
-É tarde, não quer ficar?- Mattias franze as sobrancelhas para Tessa.
-É, é melhor você ficar.- Tessa concorda.
-Não, eu quero voltar para minha casa.- ela afasta uma mecha do rosto.- Tem certeza que vocês dão conta?
-Sim. Assim que soubermos de um jeito de pegar ele, vamos avisar você.- Tessa assente.- Vou falar com Albert e ver se ele pensa em alguma coisa.
-Ok.- assente.- Eu vou embora agora.- ela me encara.
Travo o maxilar quando ela sai e Mattias começa a conversar com Tessa. Os dois começam a conversar e estão tão concentrados que não me vêem sair do apartamento deles.
-Gwen.- chamo baixo e ela entra no elevador.- Gwen...
-Me deixa, Peter.- ela fala quando o elevador começa a fechar.
-Ei.- coloco a mão entre as portas e ele abre de novo.- Por que me falou aquilo sobre meu irmão ontem?
Ela fica calada e sorrio com raiva.
-Joseph quis que você se aproximasse de mim para ver onde estava o pendrive, não?- me aproximo.- Você seria baixa nesse nível?
-Peter...
-Transou comigo por isso também?- sorrio.- Estava me usando?
-Está se sentindo usado, Peter?- ela levanta as sobrancelhas.
-Não me venha com....
-Não me venha você!- ela grita e me empurra contra a parede.- Eu passei por umas merdas que você nem imagina, Peter! Eu tenho direito de ficar com medo e de tentar resolver as coisas do meu jeito!- ela agarra a gola da minha camisa.- Vai se foder você! Vai se foder!
Observo as lágrimas dela e então suas bochechas estão vermelhas, Gwen de afasta e eu engulo em seco vendo ela passar as mãos trêmulas pelo rosto. Não sei o que falar para ela nesse exato momento, parece que as palavras sumiram.
-Eu não sou culpada pela morte do seu irmão. Eu não sou culpada por você ter a merda de vida que tem.- ela funga.- Eu não sou culpada pelas coisas que você passou. Eu não sou culpada, Peter. Eu me sinto bem naquele lugar, não faça graça quando você não entende.
-Desculpa.- minha voz sai rouca e nos encaramos.- Eu...eu tenho sido...eu fui um filho da puta com você.
-Foi.- ela assente.- Foi e eu nunca mais quero ver você.
O elevador abre e, ela vai embora.
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