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Lembranças de ontem: Parte 3


-Pare de me dar respostas pela metade, caralho! Fala logo oque aconteceu e para de acabar com o resto da pouca paciência que me resta. - Falo em um tom gélido ao olhar em Deus olhos e eu quero saber o motivo de sua inquietação.

- Houve um imprevisto. Um rapaz nos viu eliminando o Spike. Mas já estou resolvendo.

- Como você pôde deixar isso acontecer? - Pergunto tentando controlar o meu ódio o meu impulso de esquartejá-lo e joge o ses pedaços para os leões comerem.

É inadmissível um erro de principiante desse nível.

- Eu não deixei acontecer nada simplesmente aconteceu. - Fala virando para olhar para mim.

- Voc sabe que nesse nosso muni não pode haver erros e muito menos testemunhas. Você quer me foder. É isso? - Dou um soco na mesa.

- Não, Guillaume.

- Como é que você sendo um homem bem treinados e sendo um homem de total confiança meu, deixa essa porra acontecer? - Exijo olhando para ele com toda a minha fúria.

- Não consegui ver o oito dele.

- E você me dá essa resposta neste tom calmo. A minha vontade é de te matar, putain. E se esse rapaz estiver indo agora mesmo nos denúnciar em alguma delegacia por assassinato. Ou até mesmo estiver falando para mais alguém do que viu. - Volto o meu olhar para a janela.

Travon me conta que foi atrás do rapaz e que ele deve ter entrado em alguma loja e que ficou um bom tempo o procurando mas não o encontrou.

- A situação fugiu do meu controle, mas tenho certeza de que ele não nos denunciará. - Termina de falar passando a mão emnseu cabelo demonstrando um pouco do seu nervosismo.

- Como você pode garantir que lê não irá parar na primeira delegacia que ver pela frente? E nem pense em me enganar porque sinceramente, Travon, não suporta mentiras e sabe bem disso.

O meu mundo é um lugar perigoso e para sobreviver, tive que me tornar uma pessoa pior. Camuflei a minha irá e dor, deixo só transparecer a minha serenidade. Mas a minha verdadeira face animal está escondida e só deixo transparecer para quem realmente merece.

Nasci no submundo e aprendi que posso quebrar várias regras para fazê-las ficar ao meu favor. Todos nós temos os nosso demônios e eu tenho o meu todos as noites e dias que me visitam constantemente.
Demonstrar o seu medo acaba se tornando o seu ponto de ruptura.

Spike Cornélia era um bom soldado por muito tempo até qe decidiu trair a família. Não foi fácil encontrá-lo. Ameaçar a sua família foi o último recurso que usei contra ele, a família é sempre um ponto fraco de um homem e eu tinha certeza que ele acabaria cometendo um erro.

A sua traição o levou a ruína e a da sua família.

Ele cavou a sua própria cova. A sua sentença. Não importava mais se a família dele iia sobreviver, a única coisa que importava é que ele seria pego.

- Já temos um infiltrado na polícia, se o rapaz aparecer para nos delatar serei avisado.

- Esse serviço era para ter saído perfeito e não com um erro primário como esse. - Falo furioso dando um soco na minha mesa.

- Até amanhã lhe atualizarei sobre o rapaz.

- Se tivesse feito o seu trabalho direito não estaríamos nessa posição na expectativa da testemunha ser encontrada.

- Tenho noção do erro que cometi.

- Resolva logo esse problema. Não admito que ocorra mais alguma falha.

- Estará resolvido. Agora me diga, meu amigo. Devo continuar rastreando o Lorenzo de Angelis?

Cresce a minha raiva só de ouvir o nome desse infeliz, que foi o mandante da morte da minha mulher e filhos, que ainda vive, mas se depender de mim não sobrará um De Angelis vivo nesta terra.

Não conseguirei ter paz até acabar com a vida desse maldito e de toda a sua corja. Consegui obter algumas pistas, mas todas não levaram a lugar nenhum.

- Entenda de uma vez por todas só irá parar de procurá-lo quando o encontrar e o trouxer para mim, Travon.

- Entendi, mas...

Fomos interrompidos por uma batida na porta, em seguida falo:

- Pode entrar.

- Com licença, senhor Guillaume, os exames da paciente já ficaram prontos.

- Não se preocupe já estou terminando em lhe chamo.

- Tudo bem. - Responde e sai.

- Travon e o cúmplice do Spike o encontrou?

- Ela já se encontra no local indicado por você. Agora irei intensificar o rastreamento do rapaz. - Avisa indo em direção a porta.

- Quero ser informado de cada passo. A noite passarei lá.- Aviso vestindo o meu jaleco que estava na minha cadeira.

- O manterei informado. - Diz saindo da sala.

Quando já estava a pouco centímetros da porta o meu celular toca e vejo que é Édouard.

- Frère. - Falo o atendendo.

- Tenho algo que é do seu interesse.

- E o que seria? Algum problema?

- O Cesar anda estorquindo, deputados, juízes, ficando com uma parte das nossas drogas está fazendo muita merda usando o nosso nome. Estou disposto a meter uma bala na cabeca dele. Você quer falar com ele?

- Pode fazer o serviço.

- Estarei voltando amanhã. O nosso frère está melhorando e o médico tem expectativa de que ele acorde em breve. Irei executar o servico amanhã e partirei.

- Que notícia boa. Finalmente irei me livrar de você carrapato. Conseguiu antecipar a entrega da mercadoria?

- A noite lhe mostro quem é o carrapato. Amanhã Del Vecchio garantiu a chegada.

Victor Del Vecchio comanda a máfia mais podre de toda a Turquia, ele faz o contrabando em qualquer horário do dia já que tem polícia e muitos poderosos em suas mãos.

- Em breve tomaremos o poder da mão dele. E a rota do tráfico será nossa. O Alêxy já está cuidando de tudo. - O meu irmão diz contente.

- Teremos duas cabeças servidas em duas bandejas.

- Por falar em cabeça o Hugô obteve uma informação com um dos nossos hackers.

- Ele tem alguma pista dele?

- Não dele, mas sim do filho dele. O filho dele se chama Lucca de Angelis e foi visto pela última vez à sete anos atrás em Madri, mas ninguém tem notícias dele novamente.

- Essa informação não me ajuda em nada.

- Podemos investigar mais a fundo esse desaparecimento dele. Pode nos levar ao que você quer.

- Encontrando esse Lucca, ele se tornaria a minha presa e eu estaria pronto para destroça-lo como um animal faminto.

- A noite nos vemos tenho que resolver algumas coisas aqui. Até logo.

- Até.

Abro a porta da sala e dou de cara com a minha secretária em sua mesa. Vou ao seu encontro.

- Pode me mostrar o exame agora.

Laboratório:

K: 4,9mmol/L (3,5-5)
Uréia: 9mg/dL (7-20)
Creatina: 0,7mg/dL (0,6-1,1)
PCR: 122mg/L (0-10)
PH: 7, a 0 (7,35-7,45)
PCO²: 38mmHg (35-45)
PO²: 85mmHg (80-100)
Bicarbonato: 20mmol/L (18-22)

Término de avaliar os exames da paciente e vejo que o pH dela está baixo.

- Doutor precisamos corrigir o pH dela? - A residente pergunta.

- Não, é provavelmente uma acidose pós-convulsiva temporária e se eu tratar isso agora ela provavelmente terá uma alcalose de rebote depois. Ao invés disso, realizaremos uma gasometria em algumas horas. Pode ir agora.

- Tudo bem, doutor. - Diz saindo da minha sala.

Volto para o quarto da paciente e encontro o pai e uma senhora que deve ser a mãe dela.

- Doutor essa é a minha mulher Elisandra.

- Prazer em conhecê-la senhora Elisandra, sou Guillaume o médico da sua filha.

- Saiu o resultado do exame doutor? - A mãe pergunta.

- Sim, só deu uma alteração pequena no pH, mas nada tão preocupante, irei fazer uma gasometria e logo irá resolver. Agora irei rexaminála.

- Tudo bem, doutor quando ela terá alta?

- Logo, logo.

Enquanto reexaminava ela notei a presença de muitas manchas pequenas e que não somem, em seu abdômen e pernas. O corpo dela está quente ao toque e com muita sudorese, apesar de ser uma tarde fria.

Chego a conclusão que ela pode estar com uma septicemia meningocócica.

Toco a sua nuca e ela está com rigidez. Saio do quarto e peço uma hemocultura e início antibioticoterapia empírica, pesso com urgência.

A enfermeira sai para colher sangue para cultura. Deu positivo e início uma cefalosporina e vancomicina. Também início uma antiviral empírico.

Os sinais vitais dela estão estáveis e chamo os pais para fora do quarto e explico o que ela tem e que ficará em um quarto isolado.

- Ficamos gratos doutor por cuidar da nossa filha. - Diz com um sorriso, mas com a cara de preocupação.

- É contagioso doutor? - A mãe pergunta preocupada.

- Sim, há o risco de quem esteve próximo a ela possa desenvolver a infecção, sendo assim terão que começar a quimioprofilaxia e imunoprofilaxia.

Agradecem e entram no quarto da filha. Estava voltando para a minha sala quando dois residentes estão passando por mim conversando.

- Pelo jeito a noite foi boa. - Lisandra fala. - Não precisa nem me contar os detalhes para saber o que aconteceu na noite de ontem. - Ela dá um sorriso malicioso.

- Realmente foi uma noite ótima, mas à noite de Lucca pelo que percebi foi bem produtiva também.

Estagnei no corredor quando ouço o nome Lucca, não pode ser o mesmo Lucca que fodi ontem no meio da festa, o mesmo que em uma volta e meia toma conta dos meus pensamentos. Será que é o mesmo?

- Não acredito quem foi a garota sortuda que ficou com ele?

- Ele não disse nada de ontem para hoje, mas irei descobrir. Então, quer dizer que você tem uma paixonite por meu amigo?

- Claro que não, só acho ele uma pessoa legal. Vocês usaram preservativos? Tem que se cuidar se não quiserem pegar uma doença ou ter um filho.

- Lisandra, nós sabemos nos cuidar muito bem e sabemos dos riscos.

- Acho bom que tenham usado, porque não quero ser titia logo cedo.

- Caramba eu usei, está bem...

Antes que terminassem de falar os pagers começam a bipar e eu acabo saindo do meu transe e nós saímos em direção a sala de emergência.

Quando chego na sala de emergência estão os enfermeiros e os residentes cuidando de vários feridos que estão chegando com lesões e queimaduras. Olho para a porta vejo um rapaz entrando na maca com boa parte do seu corpo queimado, me apróximo dele e levo-o para uma sala. Pego o meu estetoscópio e tento escutar as batidas do seu coração. Um interno ia passando o chamo sem olhá-lo direito e já vou mandando ele administrar a medicação.

- Ele precisa de 3ml/g de morfina agora. - Peço sem olhá-lo.

Checo a sua pulsação, coloco dois dedos em seu pescoço e o paciente abre os olhos e neles há uma grande agonia e dor. De repente ele começa a puxar pela respiração e se mexe na maca.

- Os pulmões dele estão entrando em colapso iremos intubalo agora. - Olho para frente para ver se o iresidente está prestando atenção em mim e finalmente vejo quem está me ajudando. Não acredito que é ele e vejo que o mesmo está tão surpreso quanto eu. Desvio o meu olhar do dele e pego o laringoscópio, visualizo a laringe e introduzo o tubo endotraqueal em sua traquéia para ajudá-lo a respirar.

- Vamos levá-lo para a sala de cirugia. Mande preparar a sala. Lucca sai para preparar a sala e ainda não consigo acreditar que nos encontramos novamente.

Saio para a sala de cirúrgia, quando chego faço a limpeza das mãos coloco a máscara e entro na sala onde já se encontra a equipe preparada para começarmos a cirúrgia e o Lucca ao lado do paciente.

- Vamos passá-lo para a maca de cirúrgia, agora.

Quatro enfermeiros o passam para a maca e o Lucca já ia saindo do centro cirúrgico quando o chamo.

- Residente aonde pensa que vai?

- Estou voltando para a emergência.

- Não irá voltar para lá e sim me auxiliar nessa cirúrgia.

- Tem certeza, doutor.

- Vamos, venha logo.

- Tudo bem.

Nesse meio tempo o anestesista geral já tinha aplicado a anestesia.

- Me passe o bisturi. - Falo tirando o tubo da traquéia do paciente.

Quando tiro o tubo ele começa a jorrar sangue pela boca e dificulta ainda mais a sua respiração e podendo sufocar como o seu próprio sangue. Lucca me passa o bisturi e faço uma incisão entre o terceiro e o quarto anel tranquila para não atingir as cordas vocais o sangue começa a jorrar coloco uma cânula de traqueostomia e conector ao aparelho de ventilação onde na ponta da cânula tem um balão que é insuflado para que o ar injetado pelo aparelho siga o seu trajeto até o pulmao. Assim, ele volta a respirar normalmente.

- Lâmina catorze, por favor. - Falo estendendo a minha mão para o instrumentista de materiais cirúrgicos.

Faço uma pequena incisão na costela para fazer com que os líquidos não cheguem no pulmão. Pego o dreno, enfio cuidadosamente na incisão e começa a drenar todo o líquido que estava chegando nos pulmões e o paciente começa a respirar mais tranquilo.

- Lucca suture ele.

- Tem certeza?

- Se o básico você não consegue fazer é melhor desistir de ser médico imbecil. Por acaso você não consegue suturar um paciente?

- Consigo, sim.

- Então, venha suturá-lo e não faça me arrepender por te dar essa oportunidade.

- Não irá ficar arrependido.

Fico olhando-o suturar o paciente e a cada movimento que ele fazia imaginava o seu toque em mim.

- Terminei doutor, Guillaume.

- Leve-o para o seu quarto e trabalhe em sua técnica de sutura não tem nenhum sentido estético.  Ah, e antes que eu esqueça melhore na rapidez está muito lento.

Ele tenta disfarçar a decepção por eu ter lo repreendido desta forma.

- Não me venha com a desculpa do nervosismo.

- Entendi, doutor.

Olho diretamente em seus olhos e ele então sorrir timidamente e sai com o paciente na maca.

Saio do centro cirúrgico em direção a minha sala entro pego o meu terno, carteira e chaves e saio da minha sala em direção as escadas indo para a recepção do hospital e logo vejo o meu irmão de longe e na mesma hora ele me vê e abre um sorriso.

- Está parecendo a nossa mãe que nos esperava na porta do colégio.

- Se estou fazendo esse papel é para que o meu irmão não fuja do seu compromisso de hoje.

- Desde quando fujo dos meus compromissos.

- Mas da diversão sim.

- Vamos, logo. Mas antes iremos em um outro lugar. - Falo entre os dentes.

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