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São Martinho

O Santo padroeiro dos bêbados


     Esta descrição é baseada na narrativa #2112 do Arquivo Português de Lendas (APL 2112).


     Creio que vocês conhecem São Martinho. Também acredito que sabem qual foi a ação mais célebre deste Santo em vida. E deduzo ainda que sabem que se comemora um dia em Novembro em honra dele e dessa boa ação. Esse dia celebra-se a 11 de Novembro, data em que São Martinho foi enterrado em Tours, uma cidade francesa, em 397 (depois de Cristo). Essa altura coincide com a época do ano em que termina a faina agrícola. Por isso é que é se comemora o Dia de São Martinho com castanhas assadas e agua-pé (bebida com baixo teor de álcool que se prepara deitando água no pé ou bagaço das uvas após estas serem espremidas para lhes retirar o sumo), produtos obtidos nos últimos trabalhos agrícolas anuais. Aliás, a festa em homenagem a este Santo é conhecida como a celebração do vinho novo. Porém, sabiam que São Martinho de Tours é o patrono dos bêbados? Sim, são os próprios amigos da pinga que o consideram o seu Santo padroeiro! Oxalá este Santo, o primeiro a receber culto oficial da Igreja sem ter sido mártir (pessoa viva que é perseguida e/ou morta porque não abandona as suas crenças), não fique sobrecarregado por ter mais um grupo de pessoas sob a sua alçada protetora – ele já é o padroeiro dos curtidores, dos alfaiates, dos peleiros, dos soldados, dos cavaleiros, dos restauradores, dos produtores de vinho e também dos mendigos! Há uma lenda portuguesa, curiosamente passada fora de Portugal, que explica porque é que os bêbados o veem como seu Santo protetor.

     Em 383, era Martinho bispo de Tours quando foi solicitar fundos a Magno Máximo, também chamado Maximiano e Maximino, imperador naquela altura – Tours fazia parte do Império Romano –, para a construção de um convento. Foi o bispo muito bem recebido pelo imperador, que o sentou na sua mesa com a corte dele. Não sei se essa refeição foi um almoço, um jantar ou outra coisa, e desconheço o que se comeu nela; mas que foi servido vinho, ai isso foi! E num banquete de um imperador romano, devia ter sido servido vinho com fartura!

     Ora, antigamente, bebia-se o vinho em vasos próprios. E foi um vaso de vinho que Martinho trouxe de presente a Magno Máximo. Quando os que estavam à mesa começaram a encher os seus vasos de falerno – não sei se o falerno neste caso era ao vinho de uma cidade italiana chamada Falerno ou um vinho bom de outro sítio –, o imperador encheu de vinho o vaso que tinha recebido, e mandou-o entregar ao bispo, conhecido apreciador desse tipo de bebida. Foi o que bastou para que houvesse muitos brindes e grandes bebedeiras naquele banquete!

     O vinho tem um significado possivelmente presente nesta história: o sangue de Cristo. Foi o sangue de Jesus derramado na cruz quando Ele morreu para nos salvar do pecado original, após ter dado a conhecer a Palavra de Deus. Talvez a oferta de vinho de Magno Máximo a Martinho de Tours, ainda para mais no vaso que este lhe ofereceu, significasse que o imperador estava disposto a colaborar, pelo menos financeiramente, para a manutenção e propagação da fé cristã.

     O que é certo é que esta cena com vinho e bebedores de vinho é a razão pela qual há quem chame «martinhadas» às bebedeiras! E se calhar também é por isso que há o seguinte ditado: «No Dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho»!



Fonte da imagem: COMUNIDADE PAROQUIAL DE S. MARTINHO DE AVIDOS (site)

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