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Nossa Senhora

A soberana divina de Portugal


     Esta descrição é baseada na narrativa #3381 do Arquivo Português de Lendas (APL 3381).


     Já houve em Portugal Rainhas que eram rostos corpóreos a quem o povo pedia muitas vezes auxílio – a Rainha Santa Isabel foi o mais célebre exemplo (ver descrição das Rainhas). Mas a soberana suprema, acima de qualquer rainha deste mundo por direito divino, que vela pelo nosso país é, sem dúvida, Nossa Senhora. Este é um dos nomes pelos quais os católicos chamam Maria, Mãe de Deus; também é chamada Virgem Maria, Maria Santíssima e Santíssima Virgem (por ter permanecido virgem durante toda a sua vida terrena). É chamada Senhora devido à Igreja Católica demonstrar confiança e respeito pela mulher nazarena que deu à luz Jesus Cristo, Filho de Deus. Ela assume diferentes formas e designações por este país fora. E é a essas formas que o povo recorre nas suas aflições tal como um filho recorre a uma mãe. Até porque é mãe de todos nós segundo a doutrina cristã.

     E é uma mãe muito misericordiosa com quem está mesmo arrependido no fundo. Foi o caso de um criminoso natural de Ponte de Lima que se escondera num matagal espesso para fugir às autoridades. Tanto perdão pediu a Deus e tanta proteção de Nossa Senhora invocou que esta apareceu-lhe numa lapa (grande pedra ou laje que ressai de um rochedo e forma debaixo de si um abrigo) perto da Gavieira, no concelho de Arcos de Valdevez. Foi nessa lapa que se construiu uma ermida dedicada a Nossa Senhora das Neves ou da Peneda em memória dessa aparição. Agora resta saber se as autoridades terrenas foram igualmente tão misericordiosas com o criminoso (e também que crimes cometeu)!

     Mas esta história também tem outra versão, mais elaborada. No dia 8 de Agosto de 1220, uma jovem pastora guiava o seu rebanho de cabras por entre uns penedos perto da Gavieira, na Serra da Peneda, quando Nossa Senhora, transfigurada em pomba – um símbolo da pureza que Maria de Nazaré sempre teve –, esvoaçou à volta dela numa lapa e disse-lhe que queria ter ali um templo. Quando a rapariga voltou para casa com o seu rebanho à tarde, contou aos seus pais o sucedido, mas eles não acreditaram nela. No dia seguinte, estava a pastora a chegar à lapa onde encontrou Nossa Senhora quando viu lá uma imagem de Maria, que lhe disse:

     - Já que não acreditaram em ti, minha filha, vai ao lugar de Rouças e diz aos moradores que tragam aqui uma mulher que está entrevada há dezoito anos chamada Domingas Gregória.

     A rapariga obedeceu aquela ordem. Ficando a saber o que se passava, trouxeram a Domingas, que deixou de estar entrevada, isto é, paralítica, assim que viu a imagem. Resolveram então construir uma capela dedicada a Nossa Senhora em memória desse milagre. Mas como aquele local era muito escarpado, fizeram a capela num sítio de mais fácil acesso a 400 m da lapa, junto de uma ribeira. E depois colocaram a imagem no altar da capela. Porém, no dia a seguir, a imagem não estava lá; foi encontrada na lapa. Voltou-se a pôr a imagem no altar; e esta foi encontrada na lapa de novo! Essa cena tantas vezes se repetiu até que, finalmente, decidiu-se erigir uma capela na lapa, que se tornou a capela principal da referida ermida, construída mais tarde.

     Essa não foi a única vez que Nossa Senhora demonstrou ser uma mãe exigente, que insiste em que as suas imagens fiquem onde aparecem – se for aí que quer um templo erigido, então é aí!



Fonte da imagem: Nossa Senhora dos Milagres (artigo da Wikipédia)

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