CAPITULO UM
Ranna Lyrius caminhava pelos corredores do grande palácio de gelo, as asas batiam de tão ansiosa que estava, mesmo tentando manter a calma a jovem sabia o que estava por vir, e havia adiado esse momento pelo máximo de tempo que pode. As paredes de vidro ao seu redor tinham ganhado um tom rosado e vermelho já que o pôr do sol se erguia no horizonte numa mistura de cores bela demais para um momento tão ruim.
— Vamos lá, vamos lá. – Ela murmurava suspirando baixinho como um mantra para si mesma. — Você consegue, é só dizer sim. Não pode ser tão ruim, não é?
O vestido que usava era refinado demais, estranho demais, pesado demais, se comparado a armadura azul que constumava usar. A renda de minúsculas asas cobriam seus braços até os pulsos, um segundo tecido imaculadamente branco que cobria seus seios e sua barriga também era coberto pela renda que ia até o alto do pescoço, apartir da cintura o vestido descia em finos babados até o chão de gelo rosado, e todas as dezenas de babados eram finalizados com fios dourados perfeitos.
Ela sentia-se sufocada com tanta perfeição, sufocada com o que faria. Os cabelos, brancos como a neve que caia fora do palácio, desciam numa cascata cacheada do coque fixado no alto da sua cabeça, pequenos ramos floridos pareciam brotar de sua cabeça. As criadas haviam feito mesmo um bom trabalho, ela quase se sentia uma princesa, mas sabia seu lugar e ele não era num palácio, nunca seria.
— Ande logo Ranna! – Um dos guardas chamou de onde estava próximo a porta, cerrando os dentes com impaciência. Se o jovem homem supreendeu-se em ver a aparência dela, nada disse, apenas abriu uma das grandes portas de gelo pesadas enquanto seu companheiro de vigia abria a outra. Todos sabiam o que aconteceria e o quanto Ranna odiava isso.
Ela caminhou para além das portas entrando no grande salão de festa, e o som das portas se fechando pareceram selar seu destino. O Grande Rei sentava-se em seu trono, o olhar caíndo no salão abaixo de seus pés, a postura rígida, os olhos frios e a expressão de quem nunca aceitaria um não, faziam um certo medo brotar dentro dela. Um grande medo. Ela não queria isso, e poderia passar dias ou semanas tentando evitar mas uma hora aconteceria.
Quando a muito tempo atrás, decidiu que seria a melhor guerreira do reino, a mais poderosa, não imaginou o que deveria fazer quando o tipo errado de prestígio surgisse, se fosse outro homem ela negaria, se tivesse para onde ir ela negaria, mas agora não tinha mais opções. Nenhuma. Estava empacada naquele mesmo lugar, os olhos fixos nas pessoas que dançavam a sua frente e acima dela, fileiras e mais fileiras de mesas com comidas e bebidas rodeavam o imenso salão, ela sentia-se perdida, acuada em meio aquelas pessoas.
Sentiu seu poder borbulhando, e com o controle de ferro que trabalhou tão durante para conseguir ao longo dos anos, abafou aquele rugido.
Ranna quase riu de si mesma, não temia enfrentar um exército inimigo, mas em uma festa que era supostamente para ela não conseguia mover-se, pois isso lhe causava um tormento tão profundo que nem mesmo ela entendia. Respirou fundo soltando um suspiro trêmulo, enquanto via seu general pousar suavemente a poucos metros de onde ela estava. Bateu as asas num ritmo lento, para acalmar o coração, e o aperto logo abaixo do peito que esticava-se e rodava inqueto, observando o homem se aproximar.
— Nunca imaginei vê-la sem sua armadura Ranna, nunca imaginei como você ficaria com um salto alto também, mas pelo visto fizeram um trabalho bem completo em você não é? – O homem sorriu divertido com o desconforto de sua discípula, e ela revirou os olhos pela falta de compaixão dele. — Que tal uma dança minha Senhora?
Ranna olhou para aquela mão estendida com olhos assassinos e um bico que denuciavam sua irritação.
Ele sabia que ela não gostava de dançar, sabia que ela odiava o que estava prestes a acontecer e mesmo assim estava disposto a irrita-la ainda mais. A mão continuava estendida em sua direção e um sorriso irritante estava estampado no belo rosto do general. O homem era bonito e Ranna adimitia isso, tinha olhos de um verde profundo emoldurados por grandes cílios negros pareciam brilhar em um desafio silencioso, com uma proposta silenciosa, a boca farta e os dentes brancos, os cabelos negros como a noite caíam pela testa e o pescoço em pequenas ondas, suas roupas bem cortadas era vermelhas com detalhes dourados uma gravata borboleta dava um charme a mais, não que ele precisasse na opinião dela, mas estava realmente muito belo.
Ela pensou em recusar aquela mão, mas um rápido olhar para cima revelou os olhos do Rei e do Ministro Real sobre ela. Sua magia puxou e rodopiou numa demanda silenciosa, seus instintos ficaram quase desesperados. Ela sentia medo sim, porque encarar o Rei era muito pior que enfrentar um exército e viver com ele com toda certeza seria o fim para tudo aquilo o que ela ainda ousava sonhar... O submundo não era um lar tão ruim se comparado a isso.
— Apenas. Uma. Dança. – Ela murmurou pausadamente. Os dentes trincados de medo e raiva, trazer a tona seu lado negro era melhor do que se mostrar fraca.
Ele segurou sua mão sem mais cerimônias e bateu seu par de asas suavemente o suficiente para flutuar. Ele tinha asas achatadas e vermelhas eram tão finas que até pareciam apenas um tercido transparente. Não era a primeira vez que ela se perguntava como aquilo poderia segura-los no ar, como podiam encarar ventos furiosos e não quebrar. Ranna não sentia-se segura usando-as mas não podia parecer fraca. Jamais, ela nunca deixaria que se sentissem superiores a ela por uma fraqueza idiota assim. Então não tinha opções, a não ser confiar nelas e pedir aos deuses, qualquer um que estivesse disposto a ouvir, para que as deixassem ainda mais resistentes.
Suas próprias asas eram um pouco arredondadas e pontiagudas, por algum motivo suas asas tinham as bordas pretas e o centro de um roxo profundo - as cores feericas -, algumas pessoas costumavam brincar dizendo que até as asas dela nasceram para humilhar os outros dois Reinos. E ela prontamente ignorava todo e qualquer comentário inútil como aquele.
— Você está linda... – O general comentou quando estavam no ar, rodopiando lentamente cada vez mais alto no salão.
— E você está me distraindo. — ela interrompeu. — Acha que não percebi que ele não está no salão.
A risadinha amarga que ele soltou falou muito mais do que qualquer tentativa de argumento. No mesmo instante, as portas se abriram com um estrondo que deixou os convidados silenciosos.
Os olhos de Ranna seguiram cada passo que o príncipe deu, seus ombros perfeitamente alinhados, suas roupas imaculadas, a expressão tão dura que qualquer súdito desviaria o olhar. Ele era um poço de calmaria calculada, mas seus olhos refletiam uma ira selvagem.
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