7 - A verdade dói
Passaram-se alguns dias no castelo, Lory e a Rainha tomavam chá juntas todos os dias no fim da tarde, por muitas vezes Héctor as acompanhava, mas seu pai sempre que via o repreendia, dizia a ele que as mulheres tomavam chá juntas para poderem conversar.
Boa parte do tempo a Rainha falava de Héctor, ao menos toda vez que ele não estava por perto, quando estava, conversavam sobre qualquer outra coisa.
A princesa era muito curiosa, perguntou a Rainha sobre a vida dela depois da separação dos dois reinos e sobre antes, sobre quando estava no reino de Drimália:
— Se não for um incômodo, você poderia me contar? Eu queria saber como o Reino de Triwland era quando meu avô era vivo, meu pai não fala muito nele.
— Claro que posso minha querida, mas não há muito a se dizer. Seu avô era um ótimo rei e um exímio general, nunca perdeu uma batalha. Infelizmente se foi cedo, acredito que se ele estivesse aqui hoje jamais deixaria o reino ser divido assim, foi a unica solução que ele encontrou na época pra evitar uma guerra civil.
— Ele sempre pensou primeiro no povo...
— Ele valorizava muito a família, mas ficou muito deprimido com o falecimento da rainha.
— Parece que não é o melhor assunto para conversarmos, de repente parece ter ficado difícil respirar. Me conte de quando você ainda era uma princesa em Drimália. — pediu Lory, com os pensamentos distantes.
— Vou te contar de quando obriguei meu pai a me arrumar esse casamento.
— Você quis casar com o meu tio?
— Sim! Eu era uma menina que gostava de aprontar muito, pra todo lugar que eu ia meu pai mandava uns três guardas comigo, mas eu sempre dava meu jeito de fugir.
— Acho que adoraria fazer isso também, mas essa é a primeira vez que sai de Triwland do Norte.
— Você ainda tem tempo para aprontar bastante. Eu era muito jovem e imatura na época, um dia fomos visitar o Grande Reino de Triwland, como era chamado antes de ser dividido, meu pai ordenou que oito guardas não tirassem os olhos de mim, mas eu fui ao banheiro e fiz uma criada do seu avô trocar de roupa comigo, ela estava tremendo de medo de tudo dar errado e claro que tinha que dar errado. Eu sai e fui para os estábulos pegar um cavalo para passear, quando eu estava saindo seu tio chegou, estava usando uma armadura de guerra dourada, parecia que ele era um Deus da Guerra, todo poderoso.
— Papai sempre dizia que ele era um ótimo guerreiro.
— E é. Mas seu tio nem olhou pra mim, naquele momento eu estava vestida de criada também, quem prestaria atenção.
— Acredito que qualquer um que esteja com o coração livre, você é linda.
— Obrigada querida. Digo o mesmo. Naquele dia seu tio teve que me procurar, quando meu pai descobriu que eu desapareci.
— Ele deve ter odiado, minha mãe disse que o tio Storm gostava só de sangue.
— Ele realmente não deve ter gostado, mas seu tio gosta de muitas outras coisas. Naquele dia seu pai estava cuidando de um assunto sobre o fornecimento de grãos e seu avô e meu pai ficaram na sala do trono apenas esperando que eu aparecesse.
— Papai sempre ficou trabalhando o tempo todo.
— Isso não é necessariamente um defeito.
— Mas ele acaba passando pouco tempo comigo e com a mamãe.
— Esse é o infortúnio dos reis, ter tempo para o povo e não ter tempo para si. Você não deve se chatear por algo assim.
— Mas não é tão fácil assim.
— Você vai se acostumar e entender.
— Espero que sim tia. Mas continue me contando a sua história.
— Bom, seu tio soube que eu era a criada que estava nos estábulos, aquela serva que eu mandei tirar a roupa contou tudo ao seu avô e ao meu pai para que não levasse culpa por nada. Eu estava passeando em uma pequena vila que tinha próxima ao castelo, então alguns homens começaram a me seguir, eu pensei, "meu pai descobriu e esses homens vão me levar de volta", eu já tinha desistido, mas não eram homens do rei, eram bandidos, eu só percebi quando já estava cercada que algo ruim poderia acontecer comigo.
— Nossa tia, que perigo.
— Realmente foi perigoso, mas seu tio chegou, ele matou todos aqueles homens e me trouxe de volta, eu implorei pra ele não contar pro meu pai o que quase aconteceu comigo, eu estava com medo dos homens e estava com medo do meu castigo por isso, seu tio não contou, ele me fez prometer que nunca mais sairia desprotegida.
— Jamais imaginei meu tio sendo gentil.
— Isso porque você não o conhece. Ele foi muito gentil, mesmo não tendo nem um pingo de desejo por mim na época.
— Eu duvido, quem não teria desejo por você? Somente um tolo.
— Considere seu tio um tolo então. ‐ sorriu — Naquele dia eu decidi que me casaria com ele e atormentei meu pai durante quatro anos para que ele fizesse o acordo com o seu avô.
—Você parece gostar bastante do meu tio.
— Claro que gosto. Ele é meu marido e pai do meu único filho.
— Que pena que ele não foi um bom irmão pro meu pai.
— Meu marido é muito ciumento, hoje em dia ele está arrependido.
— De tudo? Até com o que fez com Gisela?
— Principalmente do que fez com Gisela, ele amava aquela mulher. — Hanni não sorri mais após Lory mencionar Gisela e o clima ficou estranho.
— Mãe. Princesa. Interrompo? — Héctor chegou ao jardim e notou o clima levemente tenso.
— Que isso filho, você é sempre bem-vindo a me fazer companhia. — mencionou Hanni, já sorrindo novamente, esquecendo totalmente do assunto anterior.
— Dessa vez minha mãe, vim raptar a Princesa Lory, temos alguns soldados que querem um sparing.
— Contra quem meu filho? — perguntou com a testa franzida.
— Com a princesa é claro.
— Como assim? — Hanni perguntou confusa.
— Minha prima é uma guerreira minha mãe, você tem que ver ela em uma batalha, é de ficar com o queixo no chão.
A rainha Hanni encarou Lory, procurando algum sinal de que as palavras proferidas por Héctor fossem apenas brincadeira, mas não encontrou, o que a deixou pasma.
— Eu não vou precisar ser salva quando for passear tia. — mencionou fazendo Héctor ficar confuso e a rainha sorrir com a menção de sua travessura.
— Espero que saiba se proteger muito bem então, não quero que nada aconteça com você, o campo de batalha é muito perigoso para mulheres, se acontece algo com uma, não é só a morte que a espera. — falou com preocupação.
— Entendo sua preocupação Tia, prometo que irei me cuidar, agora vou indo, não posso deixar os homens zombarem de mim, se eu não for, dirão que sou fraca.
— Entendo. Pode ir. — a rainha assentiu, mesmo não querendo.
— Então vamos princesa? Quero ver você derrotar todos os que ousarem te desafiar. — comentou animado.
— Você está tão confiante assim?
— Se você perder eu arrancarei meus dedos. Um por um, com uma faca de cozinha. — falou demonstrando sua confiança nas habilidades de Lory.
— Se forem muito fracos, devo perder de propósito? — demonstrou dúvida.
— Princesa, tenha compaixão de seu primo. — comentou indignado.
— Foi você que quis deixar tudo interessante.
— Você acha isso interessante? Bom, então, se você perder, prometo te consolar e não te deixar sozinha em nenhum momento enquanto tiver tempo livre.
— Com toda certeza eu terei que ganhar, você não é a melhor companhia do mundo sabia? — comentou desdenhando dele.
— Agora estou deprimido. — falou ainda mais indignado que antes.
— Desculpa priminho, eu sei que a verdade dói. — disse com um sorriso maligno nos lábios, deixando Héctor sem reação.
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Nota da Autora:
O que vocês acham das conversas entre nossos queridinhos, vulgo Héctor e Lory?
Provocações e provocações. ♡
Vote! ☆
Beijos!
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