Capítulo 43: A Última Luta
Herik
Sangue de dragão era decididamente nojento, só para constar.
Jonathan insistiu em usar uma de suas Técnicas de Manipulação para lavar o sangue de mim antes que ele acabasse vomitando. Não fui contra. Tentávamos pensar em um jeito de achar Sophia já que ela não respondia ao Fio de Voz. Estou ficando preocupado.
--- Pergunta: como vamos achar a Sophia no meio dessa guerra? --- Jonathan perguntou movimentado os braços, numa espécie de aquecimento exagerado.
--- Se eu soubesse já teria te falado. --- Respondi procurando minhas adagas nas botas, acho que as perdi no meio da luta com o dragão --- Não pode achar os pensamentos dela?
--- Como assim? --- O moreno franziu as sobrancelhas. Fiquei de pé.
--- Você poderia usar seus poderes para achar os pensamentos dela e descobrir onde ela está... --- Expliquei --- Acho que consigo levar nós dois até ela, ou trazê-la aqui para irmos atrás de Mervus.
--- Eu não sei se consigo... --- Jonathan fez uma pausa, franzindo as sobrancelhas --- Mas vou tentar.
Dei um sorriso de canto e ele fechou os olhos. Espero que isso funcione e espero que Sophia esteja bem, nós deveríamos estar em nossa melhor forma para lutar contra Mervus, mas graças a traição de Formalhaut, ou Megan, não importa, tivemos que anular a estratégia, o que nos fez ter que lutar e vou dizer que as lutas não me deixaram exatamente bem, a coisa está ficando feia para o nosso lado.
--- Não tenho certeza... --- John começou, ainda de olhos fechados --- Mas acho que encontrei ela...tem umas montanhas há quase um quilômetro daqui e...ela está lá com mais alguém.
--- Estão lutando? --- Perguntei chegando mais perto dele.
--- Não, mas estavam... --- Ele franziu as sobrancelhas e abriu os olhos --- Só que não um com o outro, não entendi muito bem, tem um corpo lá no chão e Sophia tá um pouco machucada. --- Falou com expressão preocupada.
--- Então vamos logo, pode ser um aliado com ela, devem estar próximos de algum Esquadrão... --- Respondi, pelo menos eu espero que seja um aliado --- Vou nos levar para lá, está mais ou menos perto de onde Mervus está pelo que disse.
Jonathan assentiu, ele não me parecia bem, talvez tenha sido muito esforço para ele, e ainda temos uma última luta para vencer. A luta decisiva. A que vai traçar o futuro de todos nesse campo de batalha, melhor eu parar de pensar nisso ou vou enlouquecer! Coloquei a mão no ombro de John e ele passou a imagem de onde Sophia estava para a minha mente, não sabia que ele podia fazer isso.
Visualizei a encosta perto de uma montanha onde ela estava e no segundo seguinte o cheiro forte de poeira, sangue e algo ligeiramente cítrico, magia, chegou ao meu nariz.
Com certeza houve uma luta e tanto aqui. Procurei Sophia com os olhos e logo a achei, ela não estava sozinha, havia um Filho Das Estrelas com ela. Filho Das Estrelas! Sophia estava sentada no chão, com cortes pelo rosto.
Jonathan atacou o Filho Das Estrelas tão rápido que meus olhos não poderam acompanhar, e logo ele já estava jogado ao chão junto com uma poça de água. Por que não parecia que ele e Sophia lutavam?
--- Jonathan! O quê você fez?! --- Sophia exclamou indo ajudar o Filho Das Estrelas a levantar, pera ela fez o quê?
--- Salvei você? --- Jonathan franziu as sobrancelhas, incrédulo --- Por que está o ajudando? --- O moreno andou até ela, fiz o mesmo.
--- Que significa isso? --- Arqueei a sobrancelha. Não estou entendendo nada.
--- Vocês dois são uns idiotas! Custava esperar antes de sair atacando os outros desse jeito?! --- A loira estava nervosa, ela ajudou o Filho Das Estrelas a ficar de pé, encarei ela incrédulo --- Você está bem? --- Perguntou a ele.
--- Estou, não foi um ataque tão forte. --- Ele respondeu. Franzi as sobrancelhas.
Ele me parecia familiar, mas de onde eu o conhecia...
--- Está me chamando de fraco? --- Jonathan cruzou os braços --- Será que dá pra explicar? E o quê, em nome de Deus, é aquele corpo ali? --- Ele apontou com o queixo para um corpo perto da montanha, em uma jaula de grades cinzas.
--- Megan. Lutamos contra ela. --- O Filho Das Estrelas respondeu.
--- Espera, lutamos? --- Encarei ele confuso, esses olhos, o modo dele falar, o jeito que Sophia o trata, o Selo Celestial em sua mão...o Selo Celestial em sua mão? --- Sirius? --- Arrisquei.
--- Olá, Herik! --- Ele sorriu, o queixo de Jonathan quase caiu enquanto ele descruzava os braços --- Não estou mais preso no livro e...ao que parece sou um Guardião. --- Ele ergueu a mão direita, olhei quase boquiaberto para ele.
Sirius era o elemento que faltava. Sirius era o Ar.
--- Não acredito... --- Jonathan riu --- Quem diria em? --- O moreno foi até ele --- Sinto muito pela água! --- Se desculpou batendo com a mão no ombro de Sirius.
--- Não tem problema... --- Sirius sorriu meio encabulado. Ele ainda parecia preso num livro para mim.
--- Que bom que temos mais para a briga. --- Falei com um sorriso --- Bem vindo aos Guardiões! --- Apertei a mão dele, Sirius sorriu.
--- Acredito que nossa luta não demorará a acontecer... --- Ele começou --- Já acharam Mervus?
--- Sim, tenho as coordenadas dele. --- Respondi --- As coisas estão mais ou menos estáveis para o nosso lado, só que quanto mais rápido formos, mais rápido acabando com isso.
--- Concordo. --- Disse Sophia limpando o sangue seco de sua bochecha --- Mas temos uma questão, Sirius pode ser um Guardião, mas ele ainda não manifestou seus poderes, como ele vai lutar ao nosso lado? --- Ela franziu as sobrancelhas.
--- Acha que consegue lutar? --- Perguntei --- Você acabou de sair se um livro, seu corpo aguenta isso? Uma luta contra Mervus.
--- Eu, querendo ou não, sou um Filho Das Estrelas, não preciso dos poderes de Guardião para lutar, as habilidades da minha espécie vão me auxiliar. --- Ele garantiu.
--- Se você tá falando... --- Jonathan deu de ombros --- Deveríamos criar uma estratégia para atacar, Mervus está com poderes novos, e esses bichinhos que ele mandou já foram susto suficiente. --- O moreno passou a mão na nuca.
--- Não quero outra surpresa daquela... --- Murmurei respirando fundo, o cheiro de sangue de dragão ainda parecia está impregnado em meu nariz --- Sabemos onde ele está, e não podemos esperar mais para atacar, vamos ter que ir agora. Ele pode ter seguidores fazendo sua guarda, então devemos ter cuidado, ele não pode fugir. --- Analisei.
--- Mervus é um tanto orgulhoso, ele deve pensar que tem grande vantagem, acredito que ele anseia por uma luta com vocês. --- Sirius disse.
--- Ele não sabe que você saiu do livro... --- Sophia contou --- Isso pode ser uma carta surpresa, não pode? Sirius pode ser nosso auxílio, um elemento surpresa!
--- Acha que funciona? --- John me perguntou, o moreno estava abaixado arrumando as botas.
--- Talvez...mas eles podem sentir o Sirius com seus novos poderes, eu acho, veremos se Sirius consegue lidar com os seguidores para que a gente possa chegar a Mervus, o que acha? --- Me virei para Sirius.
--- O quê estiver ao meu alcance, eu farei.
--- Só tem um problema: nenhum de nós é muito bom em Técnicas de Selamento, e eu particularmente não quero matar os seguidores que estão de guarda. --- Sophia falou, a loira tirou as proteções dos ombros, estavam arranhadas e rachadas.
--- Eu posso selar eles, Herik e Jonathan poderiam trazê-los até mim e então eu os selaria. --- Sirius sugeriu --- Acredito que dará mais certo.
--- Me parece bom... --- Concordei. Se nos livrarmos dos seguidores sem lutar vai ser melhor ainda --- Como vamos nos dividir para ir até ele?
--- Você pode teletransportar nós dois ate um certo ponto, não muito longe nem muito perto de onde Mervus está... --- John começou --- Então Sirius leva Sophia e nos encontra lá, nós dois vamos levar os seguidores que estiverem lá até eles para serem selados. --- Sugeriu.
--- Ótima ideia! Acha que sua velocidade está cem por cento? --- Perguntei a Sirius, eu sentia as dores das outras lutas por meu corpo, mas não eram tão intensas quanto pensei.
--- Não estou em minha melhor forma, talvez tão rápido quanto um vampiro... --- Sirius respondeu lentamente --- Mas conseguirei levar nós dois tranquilamente.
Após decidirmos como faríamos exatamente, nós partimos, teletransportei a John e a mim até uma distância segura de onde Fídia disse que Mervus estava, e pouco depois Sophia chegou montada nas costas de Sirius.
Estávamos ao sul da Brecha, e só havia uma montanha aqui, não era muito grande, mas as outras pareciam pequenos morros. Ouvi um barulho vindo da montanha e fumaça subiu nos topo dela.
John e eu tínhamos cinco segundos para tirar todos os seguidores da montanha e deixa-los com Sophia e Sirius, que cuidará de selar as Corrents Magics deles.
Respirei fundo e segurei o ombro de Jonathan. Logo estávamos na montanha, pedras pontudas por toda parte, nos escondemos atrás de uma delas e logo avistei um grupo de quatro seguidores vestidos de preto.
Mervus estava no meio deles, sentado ao lado de uma espada, meditando. Olhei para Jonathan e ele se concentrou. Vi o corpo dos quatro seguidores ficarem imóveis, John já os controlava. Respirei fundo e comecei. Me teletransportei para junto do grupo e segurei dois seguidores pelos braços e os levei comigo, deixei eles com Sophia e Sirius e voltei a montanha, levei os outros dois até eles e antes de sair com Jonathan fiz paredes de terra ao redor de Mervus.
Elas poderiam não adiantar muita coisa, mas ele precisava saber que logo voltariamos.
Sirius selava o último seguidor de Mervus quando voltamos, levei Sophia e Jonathan para o pé da montanha e voltei para buscar Sirius após ele ter prendido os Filhos Das Estrelas selados em gaiolas. Quando nos juntamos aos outros, Mervus se aproximava da beira da montanha, ele fincou a espada na terra e nos encarou.
--- Acham que eu sou o vilão... --- Ele começou em voz alta --- Mas o quê crianças como vocês sabem sobre a coisa certa a se fazer? --- Ele perguntou nos encarando de cima das pedras pontudas.
--- Provavelmente mais do que você! --- Sophia rebateu, percebi que ela estava criando mentalmente uma barreira ao redor dela e da gente, era muito parecido com vidro, e precisava ter uma visão muito boa pata ver.
--- Vocês acabaram de ingressar nesse mundo maligno da magia...tudo o quê vocês afirmam saber ainda é pouco comparado a verdade! --- Falou alto sem alterar sua expressão.
--- Já que você garante que sabe tanto, e, supostamente está a mais tempo nesse mundo que você julga maligno, explique o que você considera a coisa certa a se fazer! --- Exclamei franzindo as sobrancelhas --- Deve ter um motivo para todo esse ódio.
--- As vezes o ódio não precisa de um motivo para se agarrar ao coração de alguém...eu não criei esse ódio porquê algo me aconteceu, o meu ódio cresceu ao ver em que esse mundo se tornou, por culpa das suas Flores tão amadas! --- Contou olhando para além das montanhas.
--- O quê quer dizer com isso? --- Jonathan perguntou, ele parecia aflito --- Essas Flores nas quais você põe a culpa foram as mesmas que você tentou roubar!
--- Esse foi o motivo pelo qual eu as roubei. É óbvio. Eu não queria poder, queria as Flores destruídas. --- O olhar cínico, gélido e cinzento de Mervus se voltou para nós.
Por um momento achei que não tinha escutado direto, Sophia ofegou, Jonathan abriu a boca incrédulo, dei alguns passos pra trás e encarei o chão, analisando as palavras recém proferidas, olhei de canto para Sirius, ele parecia ter sido atingido por um raio tamanha sua surpresa, parece que nem como espião essas idéias chegaram aos seus ouvidos.
--- Qual o problema com as Flores Celestiais? Qual o seu problema com Alvorada? --- Perguntei levantando a cabeça para encara-lo.
--- Elas são uma doença. Pregando um fanatismo e uma adoração doentia a algo que nunca será alcançado pelos Provincianos, dando falsas esperanças a almas inocentes e julgando com incompetência a vida de cada um. --- Ele respondeu levando a mão a espada presa no chão e a tirando da terra --- Por conta disso, tanto as Flores, quanto Alvorada e qualquer um ligado a elas, incluindo vocês quatro, devem morrer sem hesitação. Não merecem viver.
--- E quem é você para decidir isso?! --- Sirius finalmente se manifestou dando um passo a frente --- Falaste das Flores, de nós e de Alvorada, mas está a agir de maneira pior! A morte é algo ao qual todos compartilhamos, mas não cabe a alguém decidir até qual dia outra pessoa vai viver!
Mervus levantou a sobrancelha. Havia reconhecido Sirius, tenho certeza.
--- Você ainda fala de mais! --- Mervus exclamou e no segundo seguinte sua espada já havia lançado uma grande quantidade de magia prateada.
Percebi que para sustentar e manter sua barreira mais forte, Sophia rapidamente ergueu as mãos e com um pouco de trabalho absorveu a magia aumentando a resistência de sua barreira.
--- Acho que a conversa acabou... --- Jonathan falou fechando as mãos em punhos.
--- Ah, você acha é? --- Arqueei a sobrancelha --- Vamos subir, lutamos lá em cima. --- Avisei.
--- Leve eles dois com você. --- Sirius disse levantando as mangas da blusa de manga comprida que usava --- Eu vou escalar.
--- Tem certeza? --- Perguntei olhando para o topo da montanha, estava monitorado Mervus, mas ele apenas nos encarava.
--- Tenho. --- Sirius afirmou.
Uma lança apareceu nas mãos do novo Escolhido, Sirius bateu a lança contra o joelho, a dividindo em duas partes, que ele logo cravou na montanha, começando uma escalada até o topo, numa velocidade espantosa. Ele realmente não precisa dos poderes de um Guardião.
Segurei Sophia e John pelo braço e no segundo seguinte estávamos no topo da montanha, atrás de Mervus que se virou para nos ver. Ele tinha um sorriso debochado no rosto e parecia muito estranho com aquelas veias negras na cabeça careca. Ele lançou uma magia estranha contra nós, mas Sophia a repeliu e contra atacou com fogo e fumaça.
Sirius apareceu por trás dele, e usou magia para prender os pés de Mervus, Jonathan tentou acertar o Filho Das Estrelas e ele esquivou, Sirius recebeu um ataque no peito e cuspiu sangue, usei meu teletransporte para chegar perto dele e consegui tirar a espada das mãos dele, mas ganhei um corte na lateral do corpo.
Sophia acertou Mervus com fogo, ele repeliu o ataque que acertou a perna da loira, e eu rachei o chão abaixo de seus pés, ele perdeu o equilíbrio por poucos segundos e me atacou com agulhas escuras, desviei de algumas, mas acabei com um corte profundo no braço e outro no rosto.
Enquanto eu tentava parar o sangramento no braço, Sirius usou chicotes de magia para segurar os braços de Mervus, e Jonathan o acertou no estômago com um força tão grande que estragou parte do tecido escuro da roupa dele, Mervus acertou Jonathan com um chute e o moreno foi ao chão cuspindo sangue.
Sirius o atacou, mas Mervus mal teve um arranhão e o jogou contra as pedras, antes que ele podesse atingir a ponta de alguma pedra eu levantei um parede de terra que o segurou, quando Sirius escorregou para o chão Sophia já atacava Mervus outra vez.
Joguei a parede de terra em Mervus e ela se quebrou contra o corpo dele, Mervus tinha poucos machucados, ao contrário de nós. Sophia o imobilizou e conseguiu lhe causar alguns ferimentos. Jonathan atacou Mervus com água, mas ele a repeliu e voltou a atacar Sophia e Jonathan. Seus ataques tinham uma potência estranha, e os danos pareciam ser mais internos em nossos corpos.
Encarei a grande quantidade de água no chão e apoiei a mão sobre a montanha transformando a terra em lama e prendendo Mervus pelos pés.
Sophia, que estava caída no chão, bateu os punhos contra a lama e fogo percorreu a terra molhada até Mervus, as chamas se fundiram com a lama, e essa se tornou lava, Mervus tentou mover os braços e Jonathan os prendeu com chicotes de água, o moreno parecia estar na mente de Mervus, já que o nosso inimigo tinha constantes espasmos e seu corpo parecia travado.
Me concentrei e afundei as mãos na terra, a lama ficou mais sólida e subiu mais alguns centímetros, as chamas de Sophia pareciam mais quentes. Mervus gritou de ódio. A lama fervente subia por seu corpo, e havia mais que lama e lava, havia nossa magia também.
Sirius, que estava muitos metros atrás de mim, começou uma corrida até Mervus, saltando por cima da lama e do fogo, Sirius criou uma adaga, passou por cima da cabeça de Mervus e lhe cortou a garganta, o sangue espirrou e Sirius caiu ajoelhado atrás de Mervus que se engasgava com o próprio sangue.
Os chicotes de Jonathan se desfizeram e o moreno caiu inconsciente. Sirius também caiu.
Fiz a lama subir e cobrir o rosto de Mervus, mas vi seus olhos perderem o foco e a pouca luz que tinham. Sophia fez as chamas queimarem a lama e tirando as mãos da terra lamacenta a loira desmaiou, soltei minhas mãos da terra e tudo escureceu.
Não vi mais nada.
***
Quando recobrei os sentidos estava em um lugar parcialmente iluminado, deitado numa cama que me pareceu ser uma das muitas da Enfermaria, uma cortina branca estava ao redor da cama e não me deixava ver o que, ou melhor, quem mais estava aqui.
Tentei me sentar mas foi uma péssima idéia, meu corpo doeu como se meus ossos estivessem quebrando. Ofeguei e me encostei nos travesseiros outra vez. Vi que tanto minhas mãos, quanto minha cabeça, estavam enfaixadas e todo o sangue e a sujeira tinham sumindo.
Fechei os olhos. Eu estava tão cansado.
Ouvi passos vacilantes se aproximando e a cortina foi puxada. Sophia abriu um sorriso ao me ver, os cabelos loiros estavam soltos e um pouco bagunçados, vestia uma camisola branca, tinha alguns hematomas no rosto e um dos braços enfaixado.
--- Que bom que você está bem! --- A loira se jogou sobre mim para me dar um abraço --- Fiquei tão preocupada com você e os meninos! --- Ela me apertou.
--- Fico feliz que você está bem, fiquei muito preocupado também... --- Abracei ela com um sorriso, pelo visto eu não era o único nesse quarto.
--- Eu achei... --- Ela soluçou --- Achei que fossemos... --- A loira me apertou com mais força.
--- Ei, calma. --- Afaguei seus cabelos --- Estamos bem agora, e você está me sufocando... --- Reclamei, minhas costelas não estavam gostando do abraço, Sophia me soltou enquanto se desculpava --- Olha, loira, já passou, estamos vivos e estamos bem, não completamente recuperados, mas bem. Poderia te sido pior e não foi, saímos vivos, apesar das perdas... --- Falei, eu ainda não sabia quantas mortes tivemos do nosso lado, mas esperava que não fossem muitas --- Estamos aqui, isso que importa. --- Sorri.
Sophia limpou as lágrimas e me deu um sorriso de canto, ela não parecia bem, e não era só preocupação que refletia em seus olhos azuis, era algo mais, alguma coisa sombria que ameaçava se instalar dentro dela. Segurei sua mão.
--- Vai ficar tudo bem... --- Sussurrei. Talvez eu não acreditasse em minhas palavras e, talvez Sophia não acreditasse também, mas eu precisava falar algo á ela, algo para confortar seu coração.
--- Espero que sim... --- Suas palavras foram verdadeiras, disso eu tinha certeza.
***
Ficamos na Enfermaria até o início da tarde do dia seguinte. Após a queda de Mervus os seus seguidores perderam os poderes sombrios que conseguiram, e a Província do Céu ajudou a Província da Terra a derrotar e prender todos os fugitivos e os dragões também.
Tudo se resolveu e todos já apelidavam o confronto de Revolta dos Condenados, eu gostei do nome.
A bruxa Ariela fora a responsável por cuidar de nós, e fez um ótimo trabalho, suas poções estranhas fizeram efeito e logo os danos foram tratados, apesar de que as dores físicas podiam continuar por mais alguns dias. Nenhum de nós recebeu visitas, Ariela não deixou, só o Dirigente Iarcy veio nos ver de manhã bem cedo e contou tudo que aconteceu a nós, Jonathan e Sirius também estavam nesse quarto.
Sophia reclamou por horas do cabelo e da camisola, acho que reclamar era uma distração para ela, um jeito de não pensar em tudo que aconteceu.
--- Ainda não acredito que você é um Guardião! --- Jonathan disse, pela milésima vez, a Sirius.
Estávamos a caminho dos quartos e o movimento nos corredores não incluía alunos, todos foram mandados para seus Continentes, Ariela contou, enquanto me obrigava a tomar uma sopa tenebrosa, que os alunos tinha 60 dias de férias antes de começar um novo período de estudos, no caso 600 dias estudando.
--- Também estou surpreso... --- Sirius disse encolhendo os ombros, ele era um pouco mais alto que Jonathan e eu --- Acho que Alvorada deve respostas a nós quatro.
--- Acha que ele sabia, Sirius? --- Sophia perguntou ficando ao lado de Jonathan.
--- Acho que foi por isso que ele me deixou no livro, uma tentativa de me salvar por ser um Escolhido...ou algo do gênero. --- Ele respondeu --- Não tenho muita certeza.
--- Você não se lembra de nada? --- Perguntei --- Sobre seu Selo, ou um sonho como o nosso? --- Sirius negou.
--- Não acho que ele já tenha tido seu sonho, com a gente ele apareceu depois dos poderes, quando o Selo já estava em nós, então o sonho do Sirius, se ele tiver um, vai ser nos próximos dias. --- Sophia analisou.
--- Faz sentido... --- Comentei --- Acha que ele não vai ter um sonho? --- Perguntei.
--- Ah, é uma possiblidade, não foi Alvorada que nos mandou o sonho, seja lá quem nos mandou pode não fazer o mesmo com o Sirius. --- Ela deu de ombros --- Achei que o sonho alertava sobre Mervus, então se ele já foi derrotado...talvez Sirius não sonhe com nada.
--- Analisando assim... --- Sirius ponderou --- Talvez eu não venha a ter nenhum sonho, meus poderes ainda não apareceram, mas meu Selo sim... --- Ele levantou a mão mostrando o Selo --- Acho que o Elemento Ar não vai me visitar. --- Ele sorriu.
--- Ah graças a Deus! --- Ouvi alguém exclamar --- Vocês estão bem! --- Jasper apareceu no corredor, Raquel e Rafael logo atrás dele que sorria abertamente.
Não evitei o sorriso, os outros também sorriam, Rafael foi o primeiro a chegar até a gente, e nos envolveu em um "abraço em grupo" particularmente apertado, Jasper fez o mesmo e deu as boas vindas a Sirius, Raquel parecia querer nos bater mas abraçou todos nós entre reclamações sobre "parecer que somos feitos de papel", e que "ela mesmo sendo humana só saiu com um tornozelo quebrado e algumas costelas fraturadas" e "nós ficamos quase um dia inteiro dormindo".
--- Onde estão os outros? --- John perguntou --- Estão todos bem? Acho que Richard deve um sorvete a Kayla por eu sair vivo. --- Ele sorriu.
Notei algo estranho nas expressões deles, o sorriso de Rafael sumiu e Jasper pareceu desconcertado. O quê tinha acontecido? Sirius também percebeu e me lançou um olhar preocupado.
--- O quê houve? --- Sophia perguntou --- O quê vocês não querem nos contar? --- Ela levou a mão ao peito. Alguém tinha morrido...mas quem?
--- É que... --- Rafael olhou pro chão --- Lá na luta, a Kayla acabou...e-ela... --- O ruivo limpou os cantos dos olhos --- Ela acabou morrendo lá na Brecha...
--- Quê? --- Jonathan franziu as sobrancelhas.
Abri a boca. Meu Deus, a Kayla...eu nem consigo acreditar. Senti algo triste e frio crescendo em mim, um aperto no peito, não acredito que ela morreu...morreu lutando por nós. Sophia começou a chorar e Rafael também, ele era mais sentimental que Raquel, mas a ruiva também tinha os olhos marejados.
--- Quem mais...mais alguém morreu? --- Perguntei.
--- Da comitiva só ela, houveram baixas no exercício daqui, mas ninguém que a gente tenham conhecido. --- Jasper respondeu e respirou fundo --- Tem muitos feridos ainda, a maioria ferimentos leves, passei na Enfermaria mas aquela Ariela não me deixou ver vocês.
--- Ela não deixou ninguém entrar lá, só o Dirigente foi nos atualizar sobre o fim da batalha... --- John respondeu baixinho --- Sinto muito pela Kayla...como a Julia está?
--- Nada bem, ela já partiu, assim como boa parte da comitiva, tinham que avisar para o resto da nossa família. --- Raquel respondeu cruzando os braços --- Só nós três e Ezra ficamos aqui, ele está na Enfermaria ainda, por isso não foi, o resto partiu hoje de manhã com um metamorfo disfarçado de Megan.
--- Disfarçado de Megan? --- Franzi as sobrancelhas.
--- O Concelho ficou de explicar. --- A ruiva deu de ombros --- Inclusive, temos uma reunião com os dois Concelho daqui a pouco.
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