Capítulo 4: O Despertar Dos Poderes Adormecidos
Sophia
--- Onde a senhorita pensa que vai?
Parei ao pé da escada torcendo a boca, estava na esperança de conseguir fugir do sermão da minha mãe, mas acho que não tem jeito. Do hospital até em casa ela não falou nada, mas agora vou ter que escutar poucas e boas.
--- Mãe, eu já disse: Eu não tentei me matar, não ingeri nenhuma droga! Estávamos fazendo um trabalho da escola!--- Repeti me virando para ela. Minha mãe tirava o casaco e tinha as sobrancelhas franzidas.
--- Vocês não tinham cadernos, nem lápis, nem nada! Apenas um livro estranho! --- Ela rebateu após colocar o casaco em cima de uma cadeira --- Não tinha como estarem fazendo um trabalho!
--- Mas estávamos! O quê mais poderíamos estar fazendo? Um pacto com satan?--- Perguntei, se bem que foi quase isso mesmo que fizemos--- Eu já disse o que aconteceu, se vai acreditar ou não já não é comigo! --- Exclamei.
--- Abaixe o tom para falar comigo, não foi essa a educação que eu te dei! Eu espero mesmo que você esteja falando a verdade! --- Minha mãe desfez o coque e me encarou --- Eu não quero saber mais de você no parque com gente estranha!
--- Okay então, mas não aja como se eu estivesse fazendo isso sempre! Eu quase nunca saio de casa! Sempre fui a filha perfeitinha que você sempre quiz! --- Exclamei nervosa.
--- E as suas saídas com a Megan? Por acaso você não saia com ela? Ficava presa em casa? --- Desafiou.
--- Saía sim, mas apenas com ela, sabe muito bem que ela é a única amiga que eu tenho! --- Exclamei me virando e começando a subir as escadas --- O quê aconteceu no parque foi apenas um possível início de amizade, não aja como se fosse algo que mudaria para sempre minha vida!
Não esperei minha mãe dizer nada e subi para o meu quarto, como eu estava de blusa de manga comprida minha marca estava escondida, ninguém tinha visto ela ainda. Me joguei na cama e suspirei ouvindo a porta do quarto da minha mãe bater. Senti meu celular vibrar e o procurei nos bolsos da calça, quando achei ele percebi que era a Megan quem estava me ligando.
--- Oi, amiga... --- Falei atendendo.
--- QUE HISTÓRIA É ESSA DE VOCÊ FICAR DESMAIANDO NO PARQUE?! EM SENHORITA VALENTAINY?! --- Tive que afastar o celular da orelha, quase fiquei surda!
--- Primeiro fica calma e fala baixo, ainda não fiquei surda. --- Pedi --- Segundo não de um chilique como minha mãe, eu estou bem, terceiro a senhorita não devia estar em aula? --- Perguntei, quando recebemos alta não daria mais tempo de ir à escola, não estou reclamando.
--- Tudo bem, tudo bem... --- Ouvi minha amiga respirar fundo --- Estou calma, sim eu estou na escola, estamos no intervalo, e não, não vou dar um chilique, mas você tem que me contar o que aconteceu exatamente naquele parque!--- Exclamou.
Suspirei, eu não poderia contar para a Megan sobre o que aconteceu, os meninos não iriam gostar, Herik teria um infarto se soubesse que eu falei alguma coisa, e eu nem sei o que aconteceu direito, escutei a porta do quarto da minha mãe abrir e ouvi ela descendo as escadas.
--- Eu fui terminar um trabalho de história com os meninos lá, então Herik, um aluno novo da nossa escola passou mal, desmaiou, fui tentar ajudar ele mas cai e bati a cabeça... acho que aconteceu o mesmo com o outro rapaz, o Jonathan, ou ele passou mal também... --- Menti.
--- Ah...certo, acredito em você, isso foi teeeenso, pena que eu não estava lá! Teria sido INCRÍVEL! Já pensou?! A agonia de ver alguém desmaiado! O desespero! --- Ela falou gritando, essa era uma característica dela --- Quando forem fazer outro trabalho ME CHAMEM! EU... --- Ouvi alguém resmungar perto da Megan --- Eu sei senhora McCartney...eu sei...tudo bem! Tudo bem, eu vou para sala...! Já disse que vou...certo...tchau senhora McCartney.... --- Esperei ela voltar a falar comigo com um sorriso --- Amiga voltei, aquela velha me achou aqui usando o celular então já viu! --- Posso jurar que ela estava sorrindo.
--- Eu bem sei como ela é! --- Sorri --- Vai lá amiga, volta para a aula, senão seu pai te expulsa! --- Sorri outra vez --- Tudo bem amiga...tchau.
Deixei meu celular de lado e suspirei. Eu estava sozinha, outra vez, era normal eu ficar sozinha em casa, mas eu sempre chamava a Meg para ficar aqui comigo. Fechei os olhos e senti um choque forte passar por meu corpo, abri os olhos e me sentei, ofegante, minhas mãos tremiam, me sentia estranha.
Eu não tinha sido uma criança muito normal, eu sempre tive visões estranhas, elas aumentaram depois que meu pai, Leonardo, morreu num acidente, foi a pior fase da minha vida, eu comecei a fazer aulas de arco e flecha depois disso, foi quando conheci a Megan e nos tornamos amigas, ela me ajudou muito e somos inseparáveis desde então. Minhas visões tinham ficado mais frequentes nos últimos anos, nunca contei a minha mãe ou a Heitor nem mesmo a Meg sabe, sempre achei que seria julgada, Megan e eu sempre nos divertimos juntas, eu fugia da realidade assustadora das visões quando estava com ela.
Levantei a manga comprida da minha camisa e observei o Selo Celestial, seria complicado esconder ele, não sei como vou fazer isso, talvez uma faixa, ou maquiagem...
Senti uma coisa estranha, minha cabeça doeu, as coisas giraram, e quando percebi eu já tinha pegado o celular e estava ligando para Jonathan, me levantei e após o celular tocar duas vezes, ele atendeu.
--- Oi, Sophia, aconteceu alguma coisa? --- Perguntou a voz do moreno, do outro lado da linha.
--- Não sei exatamente...estou me sentindo diferente, esse Selo fez alguma coisa no meu corpo...você não está sentindo nada?
--- Para falar a verdade minha cabeça está estourando desde que cheguei em casa... --- Ele falou meio que sussurrando --- Não sei o que é mas também estou diferente, só não sei como vou fazer para sair de casa, minha mãe está me vigiando.
--- Nem me fale eu... --- Interrompi minha fala ao sentir uma tortura muito forte, quase soltei o celular.
--- Sophia? Sophia? O que aconteceu? --- Ouvi Jonathan perguntar alarmado --- Está me ouvindo?
--- Estou...fiquei tonta... --- Murmurei me sentando na cama.
--- Onde você mora mesmo? --- Perguntou.
--- Perto do Centro...na...R-rua White Houses... --- Murmurei em resposta.
--- Certo eu...eu vou aí, tudo bem? --- Perguntou e eu murmurei um "sim" --- Acho que vou ligar para o Herik...eu não vou demorar a chegar aí, tenha cuidado.
Desliguei o celular e reuni as forças que tinha para descer ao andar de baixo, mesmo correndo o risco de cair escada abaixo e quebrar o pescoço. Quando cheguei a sala fiquei tonta de novo, não sei se vou ficar acordada até o meninos chegarem, decidi destrancar a porta e voltei para o sofá.
--- Vamos lá...respire fundo...--- Falei a mim mesma sentindo choques outra vez, senti o Selo Celestial queimar e quando o encarei vi que ele brilhava em um azul forte --- Ah não...
Senti meus olhos mudarem, como se estivessem brilhando, olhei para a porta e vi Jonathan entrar junto com Herik, tudo parecia em câmera lenta, respirei fundo e quando olhei para Jonathan os olhos dele também brilhavam.
--- Sophia?--- Herik me chamou, o loiro se ajoelhou no chão a minha frente.
Escutei um grito abafado e quando olhei vi Jonathan de joelhos, no chão atrás de Herik, com as mãos na cabeça, arregalei os olhos e vi que os lindos olhos verdes de Herik começaram a brilhar. Estiquei a mão na direção de Jonathan, queria ajudar ele, mas para minha surpresa o vaso de porcelana, que estava com as rosas vermelhas da minha mãe numa mesa ao lado de Jonathan, saiu voando e bateu contra a parede se quebrando, contive a exclamação de surpresa quando senti Herik apertar minha mão e em seguida desaparecer num estampido.
Cai no chão no mesmo momento em que Herik reapareceu ao pé da escada, sentado e surpreso, Jonathan parecia o mais lúcido de nós três, tentei respirar fundo e senti o sofá atrás de mim se mexer, Herik sumiu outra vez, senti minha mente ficar pesada e pouco depois a poltrona branca que ficava perto da porta caiu com um estrondo no chão. Herik reapareceu perto da porta e Jonathan se aproximou dele segurando em cada lado da cabeça dele com uma mão, um tempo depois Jonathan o soltou e caiu desmaiado no chão, enquanto Herik ficou ofegante e se levantou depressa.
--- Herik... --- Sussurrei sentindo que não demoraria para eu quebrar outra coisa. Ele correu até mim e me ajudou a levantar, estávamos tremendo --- Obrigada, agora...temos que ajudar o Jonathan! --- Falei respirando fundo.
Ele assentiu e com dificuldade nós dois chegamos até Jonathan e o colocamos no sofá, ele não era tão pesado e para ser sincera Herik praticamente o carregou sozinho.
--- Isso foi...a coisa mais...estranha que já aconteceu...comigo! --- Herik exclamou ofegante se sentando no chão assim como eu --- Aquilo foi você? --- Ele perguntou apontando para a poltrona caída e o vaso quebrado.
--- Ao que parece, foi sim... --- Sussurrei respirando fundo --- Você...você se teletransportou...foi... hum...incrível? --- Eu estava incerta sobre o que falar sobre isso.
--- Não se eu usaria essa palavra... --- Sussurou de volta --- O Jonathan fez uma coisa estranha...ele...era como se ele estivesse dentro da minha cabeça, literalmente, me controlando, foi muito estranho.
--- Ele controlou você?! --- Encarei Jonathan desacordado no sofá, ele se mexeu --- Isso tudo foi coisa do livro, você...você trouxe ele?--- Perguntei.
--- Ah... --- Herik parou pensando, parecia confuso --- Trouxe sim. --- Ele se levantou e foi até perto da poltrona caída, Herik se baixou e pegou uma mochila preta --- Tinha até me esquecido disso... --- Murmurou tirando o livro de dentro da mochila.
--- Como vamos fazer para ele conversar com a gente? --- Perguntei quando ele se sentou ao meu lado outra vez.
--- Chama ele aí, não sei, ele deve escutar.--- Herik falou me entregando o livro--- Não gosto disso, é muito estranho! Livros não deveriam fazer o que ele faz!--- Herik deixou a mochila de lado e me encarou sério --- E adolescentes não deveriam desaparecer e reaparecer, derrubar e quebrar coisas com a mente ou controlar os atos dos outros! --- Exclamou --- E foi o que nós três fizemos!
--- Eu sei! Mas fala baixo! Ninguém pode ouvir isso, eu também não acho normal, mas você sabe de uma coisa? Eu não posso fazer nada para mudar isso! --- Rebati cansada.
--- Eu sei! E a questão é justamente essa, não sabemos como reverter seja lá o que aconteceu, e, pensa, se nós achamos estranho o que os outros vão achar? --- Perguntou parecendo desesperado.
--- Eu...eu não sei tá legal? Não sei o que fazer, não sei como agir! Eu só... ah! --- Respirei fundo sentindo meus olhos arderem --- Eu só quero entender o que está acontecendo e você também quer, não quer? --- Perguntei. Herik mordeu o lábio inferior e assentiu --- Ele pode ter respostas...
Eu abri o livro em uma página qualquer que estivesse em branco, percebi frases escritas nas outras páginas, coisas como: "Fico muito feliz por isso" ," Vocês estão indo muito bem no treinamento" e "Queria poder ajudar mais". Imagino que ele já tenha conversado com outras pessoas antes de nós. Não precisei chamar ou pedir uma resposta para o livro ele se comunicou antes.
"O quê aconteceu? Ouvi todo um estardalhaço, vocês estão bem? Estão machucados? Aconteceu algo de estranho com vocês?"
--- Que tal eu ter me teletransportado? Parece estranho o suficiente para você? --- Herik perguntou franzindo as sobrancelhas.
"Vocês manifestaram poderes?"
--- Você sabia disso? --- Perguntei histérica --- Aconteceram coisas estranhas, cada um de nós fez uma coisa estranha... --- Contei.
--- Não foi só uma coisa estranha, você, Jonathan e eu manifestamos poderes, foi isso eu sinto que foi, até ele está confessando isso! Esse! --- Ele apontou para o Selo em seu pulso --- Esse Selo fez isso!
"Não é culpa do Selo, se antes eu tinha dúvidas agora eu tenho certeza de que vocês são os novos Guardiões, essa magia, esses poderes já estavam em vocês antes, não foi o Selo Celestial que fez isso, ele apenas estímulou vocês de alguma forma, ligou vocês aos seus poderes."
--- Está dizendo que isso aconteceria de qualquer jeito? Mais cedo ou mais tarde esses poderes iriam aparecer? --- Perguntei mordendo o lábio inferior.
"Naturalmente, foi uma sorte muito grande vocês terem me achado juntos, podemos chamar isso de sorte ou de destino. "
--- Ou de Sr Hopkins... --- Herik murmurou --- Isso não faz muito sentido, somos humanos, humanos normais não tem poderes, foi esse Selo, não tem como já termos nascido com esses poderes!
"Por acaso vocês nunca manifestaram nada de estranho? Algo anormal nunca aconteceu com vocês? Sempre foram crianças normais dentro dos padrões do seu mundo?"
Fiquei em silencio após as perguntas dele. Não. A resposta era não, eu não fui uma crianças normal. Mas como eu posso contar isso? Aqui na frente de estranhos? Nunca contei isso nem para as pessoas mais próximas a mim. Esse livro com toda certeza sabe fazer alguém se calar. Nem sei o que pensar, minha cabeça já estava girando quando ouvi uma voz responder:
--- Eu não era normal.
Me virei espantada ao ouvir Jonathan falar, ele se sentou colocando uma mão na lateral da cabeça e fazendo uma careta, parecia se esforçar para ficar acordado.
--- Desde pequeno tive visões estranhas, uma pessoa machucada e alguém fazendo; não sei uma macumba, perto do corpo. --- Confessou o moreno --- Eu sabia que isso não era normal, mas poderes? Isso nunca passou pela minha cabeça...
Encarei o chão e ouvi Herik suspirar ao meu lado, Jonathan escorregou do sofá para o chão e ficou ao meu lado, reunido toda a coragem que eu tinha comecei a falar.
--- Eu também tinha visões, aparentemente a mesma coisa que Jonathan via eu também via e quando achamos você, senti um choque estranho... --- Confessei e continuei após um tempo em silêncio --- Quando esbarrei em você, Jonathan, eu senti um choque também e foi a mesma coisa com você, Herik.
--- Eu...eu não acredito que vou fazer isso mas, acreditem não aconteceu só com vocês... --- Herik começou --- Eu também senti os choques e eu também sempre tive visões, e agora, nós três vamos ter que dar um jeito nisso! --- Ele apontou para o Selo em seu pulso --- Despertamos nossos poderes e ninguém pode saber disso.
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