Capítulo 26: O Concelho Da Terra! Uma Ajuda Provinciana
Sophia
Manter a calma nunca foi muito o meu forte, e esse Concelho do Céu também não ajudou em nada. Como eles podem ser tão cegos?! Após deixarmos Centralis seguimos rumo a Província da Terra, espero que as coisas sejam diferentes por lá.
--- Acha que vai ficar tudo bem? --- Jonathan me perguntou, o grifo dele ia ao lado do meu --- Que vamos conseguir ajuda?
--- Eu espero que sim, mas... --- Soltei um suspiro --- Só esperando para ver, não acho que eles sejam tão cegos como os Membros do Concelho do Céu, mas, não da pra garantir que vão querer nos ajudar.
--- É, nisso você tem razão...olha à Ilha Do Concelho lá! --- Ele apontou para o pedaço de terra ao centro daquele monte de água azul cristalina --- Já gostei bem mais daqui! --- Ele sorriu. Acabei sorrindo também.
Um certo tempo depois, pudemos ter uma melhor visão da Ilha, ela era bem grande, uma suntuosa construção estava disposta ao centro dela, uma floresta expessa cobria boa parte do terreno, haviam outros prédios menores, pelo menos três, perto da floresta. Pousamos em uma área aberta onde haviam alguns guardas, me surpreendi ao ver que eram centauros.
--- Lisandro! Estávamos esperando por vocês, O Primeiro Guardião nos informou sobre sua visita, Eclan vai leva-los até o Concelho. --- Um centauro se aproximou de nós, enquanto um outro despachava os grifos. Ele acenou e um rapaz se aproximou.
--- Certo. A audiência já está marcada? --- Lisandro perguntou. O rapaz que havia se aproximando tinha a pele muito pálida e cabelos negros, provavelmente um vampiro, e vestia roupas pretas.
--- Não sabíamos quando chegariam, o Concelho só estava esperando meu aviso para se prepararem. --- O centauro explicou, sua parte cavalo era coberta de pelos negros, já sua parte humana era protegida por uma armadura prateada --- Melhor seguirem pelo caminho menos movimentado até a Sala Do Concelho, os estudantes aqui são um bando de nsoblisdis*.
--- Eles são jovens. --- Lisandro argumentou levemente --- O quê foi passado a vocês? Sabem quem são eles? --- Perguntou cauteloso.
--- Só sabemos o necessário. --- O centauro respondeu e Lisandro assentiu. Saímos em direção a grande construção nas cores branco, bege, marrom e dourado, o Prédio do Concelho, tinha vários andares e grandes janelas de vidro.
--- Venham por aqui. --- O tal Eclan disse nos guiando, nossas mochilas foram entregues a um guarda que entrou por outra porta no Prédio, Raquel tinha pego Sirius e agora o carregava em uma espécie de bolsa feita de couro.
Entramos por uma porta na lateral esquerda a entrada do Prédio, subimos uma longa escada em caracol por pelo menos cinco longos minutos, acho que estávamos subindo por alguma torre, um atalho acredito, chegamos ao fim da escada e o vampiro abriu uma porta de madeira escura que revelou um salão espaçoso, com altas paredes e várias janelas, além de três lustres pendurados no teto espelhado.
--- A Sala Do Concelho fica depois do corredor, não precisam ficar nervosos, nossos Regentes são os melhores e o Dirigente não fica atrás. --- Eclan se virou com um leve sorriso ao qual eu retribui timidamente.
--- Eclan! Adeo etiam! Hospites nostri sunt? --- (TRADUÇÃO: Eclan! Até quem fim de achei! Esses são nossos convidados?) Uma jovem de cabelos negros e curtos se aproximou, usava um longo vestido verde escuro e tinha olhos claros.
--- Arry! Quam inpulsa! Visum est et mihi quia sustinui te! --- (TRADUÇÃO: Arry! Que susto! São eles sim e você deveria ter me esperado lá embaixo!) Eclan disse sério.
--- Et incipit! --- (TRADUÇÃO: Nem começa!) Ela contornou ele e fez uma leve reverência a nós --- Eu sou a responsável pelas vestimentas de vocês. Sou Arry, uma huldra. --- Ela sorriu --- Sigam-me. Eclan você também. --- Ela virou as costas e percebi um rabo igual ao de uma vaca saindo do fim de suas costas.
Vi que o vampiro revirou os olhos, mas, a seguiu assim como nós. Arry nos levou até uma sala onde trocamos de roupas. Seguimos com Eclan pelos corredores luxuosos até um par de portas negras protegidas por duas mulheres de olhos amarelos e cabelos pretos cortados extremamente curtos. A porta foi aberta e dessa vez todos nós entramos.
--- Acho que esqueci como se anda... --- Ouvi Jonathan murmurar pra Rafael, que deu um sorriso pequeno ao moreno.
A Sala era enorme e tinha uma mesa ampla, de madeira branca polida, uma grande janela de vidro com dobradiças de prata iluminava o local e acima da mesa um grande lustre de cristais estava suspenso, pelos cantos da sala haviam mesas com livros, bandejas e flores.
--- Jovens de Erde, sou Iarce Starling o Dirigente do Concelho da Terra. --- A figura na ponta da mesa falou, era um gigante de gelo, sua pele era azul e seus cabelos brancos, tinha olhos vermelhos e redondos --- Anseio para escutar o que vocês têm para me dizer. Lisandro, é muito bom ver você. --- Ele comprimentou o Emissário com um aceno de cabeça.
--- Digo o mesmo, Dirigente. --- Ele disse enquanto nos sentávamos, Raquel pois a bolsa sobre o colo, combinamos com Sirius que ele só participaria das coisas quando fosse seguro.
--- Sou Amália Lancaster, Primeira Regente de Abizes. --- A mulher sentada ao lado esquerdo do Dirigente começou, ela tinha os longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo, seus olhos eram de um castanho escuro intenso --- Pelo que nos foi informado, três de vocês foram Escolhidos para os próximos Guardiões. Quem são esses três?
--- Jonathan Stanford, esse ao meu lado... --- Herik começou ficando de pé e apontando para John --- Sophia Valentainy, essa senhorita aqui... --- Apontou para mim --- E eu, Herik Blaike. --- Jonathan e eu fizemos um cumprimento com a cabeça e Herik se sentou.
--- Vocês são bastantes jovens...mas isso é bom! --- O homem ao lado da Regente Lancaster começou com um sorriso, deixando uma presa a mostra --- Arim Wandorne, Segundo Regente de Abizes, o que os futuros Guardiões esperam dessa reunião? O que estão sabendo sobre Mervus, O Traidor?
--- Nós esperamos conseguir ajuda, Regente. --- Falei tentando acalmar minha respiração --- Ainda não tivemos a oportunidade de nos encontrar com Alvorada, mas Lisandro o Emissário dele, nos informou sobre a fuga e o perigo que isso representa. --- Fiz uma pausa --- Herik e eu fomos atacados por Filhos Das Estrelas, e como praticamente todos os Filhos Das Estrelas estavam presos, esses que nos atacaram estavam, muito provavelmente, a mando de Mervus, O Traidor.
--- Mas isso é horrível! Como tiveram coragem de atacar duas crianças? Nós temos que tomar providências! --- A jovem, ao lado do Regente Arim, exclamou, ela tinha olhos de um verde intenso, os longos e ondulados cabelos castanho claro estavam soltos --- Eu sou Nayla Flora, Segunda Regente de Seawall. O quê aconteceu com esses Filhos Das Estrelas? --- Ela perguntou.
--- Bem, como não tinhamos escolha... eles foram mortos por nós dois, e Lisandro também nos ajudou com isso. --- Herik explicou --- Foi ele quem se livrou dos corpos, como estávamos em Erde não podíamos deixar que alguém achasse os corpos.
--- Vocês agiram bem, embora, assim como Arim disse, vocês sejam jovens, posso ver que são fortes, o que não é normal para alguém da sua Dimensão, não sei o motivo dos Celestiais terem escolhido humanos para serem Guardiões, mas...admito que eles escolheram bem. --- A palavra foi passada para o outro lado da mesa, esse Regente parecia ser um centauro --- Auror Negriri, Primeiro Regente de Seawall. --- Se apresentou.
--- Se Mervus, O Traidor, atacou vocês, nada o impede de nos atacar, vocês querem lutar contra ele, estou certo? --- O Dirigente perguntou.
--- Dirigente, acredite, eu gostaria muito de poder impedir uma guerra ou qualquer tipo de briga ou confusão, mas, pelo que Mervus já fez e está fazendo, eu acredito que lutar vai ser nossa única opção. --- Jonathan respondeu --- Só que não podemos fazer isso sozinhos.
--- E foi por isso que vocês vieram até aqui, eu imagino. Querem que nossos exércitos se juntem a vocês nessa luta contra o mal, certo? --- A mulher ao lado de Auror perguntou. Ela tinha orelhas pontudas e cabelos castanhos escuro muito lisos que estavam trançados, uma elfa ao que parece --- Sou Aliciana Parker a Primeira Regente de Götter, e gostaria muito de ouvir o que vocês têm a falar.
Engoli em seco nervosa, eu nunca fui boa com palavras em momentos difíceis, os Willians Fox eram quem tomavam a palavra por nós, mas, estando aqui acho que não seria bom deixarmos eles falando tudo por nós, se vamos ser os próximos Guardiões temos que mostrar que estamos prontos.
--- Sem dúvida alguma nós vamos precisar de um exército se quisermos lutar e vencer, e nós queremos, sei que não deve ser fácil dar cem por cento de confiança a uma comitiva vinda de outra Dimensão, como é o nosso caso, mas, tudo que envolve o nosso futuro, envolve o futuro de vocês também. --- Herik começou --- O quê Mervus faz, afeta todo mundo.
--- Tudo que fazemos tem uma consequência. --- O último na fila do Regente Auror começou, ele parecia ser um elfo também, longos cabelos loiros, olhos verdes e pele pálida, um gato pra ser sincera --- Rominik Aron, Segundo Regente de Götter. Vocês precisam entender que, se entrarem em um campo de batalha, todas as vidas lá serão sua responsabilidade, eles vão estar lá por vocês, então tudo cairá em seus ombros, entendem?
--- Sim. --- Falei respirando fundo --- Mas, Regente Aron, eu estou, assim como tenho certeza de que meus amigos também estão, disposta a aguentar o peso de qualquer consequência se for para garantir que Mervus nunca mais volte a ser um problema. --- O encarei séria.
--- Acho que ele se tornou uma página que todos desejam virar. --- Jasper disse --- Esses jovens querem vira-la para vocês.
--- Essa é uma questão a ser pensada, eu admito que vocês possuem coragem, mas só isso não basta. --- O Dirigente começou --- Eu lutaria ao lado de vocês. Mas, não posso obrigar meu povo a fazer isso.
--- O quê o Dirigente quer dizer? --- Herik perguntou arqueando a sobrancelha. Era tão estranho não ouvir os outros nessa conversa, ser apenas nós cuidando das coisas.
--- Quero dizer que vocês terão que convencer os soldados a lutarem.
--- Fazer o quê?! --- Jonathan exclamou alto --- Quer dizer... --- Ele limpou a garganta --- Como o Dirigente espera que façamos isso? --- Ele perguntou lentamente.
--- Um dia, assim eu espero, vocês se tornarão Guardiões, vão precisar do apoio do povo, então acho que seria bom começar a ganha-lo o quanto antes. --- O Dirigente explicou com um meio sorriso.
--- Tenho uma ideia de como vocês podem fazer isso. --- A Regente Lancaster avisou --- Sugiro que visitem os três Continentes dessa Província, falem com o povo de cada um dos Continentes e os convença de lutar. O meu apoio vocês já possuem. Mervus é uma ameaça, então vamos elimina-lo.
--- Posso garantir que Seawall vai recebê-los muito bem! --- A Regente Nayla Flora sorriu e algumas flores surgiram em sua cabeça --- Eu estou ao lado de vocês, se quiserem lutar, eu também lutarei!
--- Eu não fugiria de uma luta. --- O Segundo Regente Arim sorriu debochado e sua presa apareceu outra vez --- E tenho certeza de que o povo do meu Continente também não.
--- Acho que esse será o único jeito... --- Comentei - Bem acho que todos concordamos em ir. --- Falei e os outros assentiram --- Quando partimos?
***
--- Você vai abrir um buraco no chão se não parar de andar de um lado pro outro assim! --- Herik reclamou com Jonathan que não parava quieto. Estávamos esperando Eclan vir nos buscar para nos levar aos nossos quartos, já que só partiriamos amanhã de manhã --- Isso não vai trazer nosso guia de volta.
--- Desculpe a demora! --- Eclan pois a cabeça pra dentro da sala com um sorriso constrangido, Herik abriu a boca e a fechou de novo, enquanto John parava de andar com um sorriso convencido --- Vou leva-los aos seus quartos para que possam se preparar para o jantar, ordens do Dirigente.
--- Claro. --- Jasper assentiu e começamos a sair da sala.
Devo dizer que esse vestido longo não está me agradando, a cor amarelo claro quase branco era linda, mas não sou a maior fã de vestidos assim
--- Escutem, quando começarmos a ir de Continente em Continente, eu espero que vocês controlem a língua. --- Jasper disse com um sorriso contido.
--- Até parece que você não os conhece, Jasper! --- Lucille disse enquanto atravessavamos um longo corredor --- Eles são impulsivos, são jovens...
--- Mas sabem as responsabilidades que têm... --- Ezra interveio se aproximando da esposa --- Não é como se fossem crianças, Lucille. --- Ele sorriu e Lucille arqueou a sobrancelha.
Lisandro estava em reunião com o Concelho, falando sobre alguma ordem de Alvorada que não poderíamos saber, ainda.
--- Nós não somos tão imprudentes assim... somos? --- Jonathan me perguntou num sussurro. Sorri sussurrando de volta.
--- Talvez um pouquinho... --- Ele sorriu, éramos os últimos da fila, junto com Megan e Herik. Quando já estávamos perto das escadas que nos levaria ao que eu imagino que seja o terceiro andar, já que esse parece ser o quarto, percebi Herik se encostar em uma das paredes com a respiração ofegante --- Herik! O quê foi?
--- An? --- Jonathan se virou com as sobrancelhas franzidas. Herik tinha uma das mãos na cabeça e era amparado por Megan --- Ei, cara, o que foi? --- Ele se aproximou de Herik assim como eu e os outros.
--- Eu...ah... --- Ele apoiou as costas na parede e fechou os olhos --- Eu tive uma... uma visão... --- Sussurrou. O encarei espantada. Há tempos não tínhamos visões, as minhas assim como as dos meninos, haviam parado quando ganhamos os poderes--- E... era algo importante...tipo muito mesmo...
--- Eclan... --- Me virei para o vampiro que encarava Herik com as sobrancelhas finas franzidas --- Tem algum lugar aqui onde poderíamos conversar a sós com o Herik? --- Perguntei.
--- O lugar mais próximo em que poderiam entrar é a Biblioteca... --- Ele respondeu assumindo uma postura séria --- Eu acredito que seja melhor que vocês vão em menor número, nossa responsável pela Biblioteca não gosta de muita gente entrando lá, vou levar os outros aos seus quartos.
--- Onde fica a Biblioteca? Pode me explicar o caminho? --- Jonathan perguntou, Herik ainda tinha os olhos fechados.
--- Voltem por esse mesmo caminho, o primeiro corredor a direita leva a Ala Fire, a maior porta lá é a da Biblioteca, é uma porta dupla de madeira branca. --- Explicou --- Eu não estou autourizado a deixar que vocês andem sozinhos, mas vou abrir uma exceção.
--- Obrigada. --- Agradeci --- Raquel, Rafael, Meg, vocês vem, né?! --- Encarei eles que assentiram, Lucille, Ezra, Evie, Alvin e Richard, assim como Adam já começavam a descer as escadas.
--- Eu vou para o quarto... --- Kayla disse com um sorriso --- Acho que isso é assunto só pra vocês, melhoras. --- Ela sorriu e junto com Júlia virou as costas. Jasper nos encarou, quando eu abri a boca para falar, ele foi mais rápido.
--- É claro que eu vou. Eu treinei vocês, os pirralhos não vão se livrar de mim tão fácil, okay?! --- Ele disse com um meio sorriso debochado começando a andar, Eclan seguiu os outros escada abaixo e nos retiramos fazendo o caminho de volta --- Estou surpreso pelo modo como vocês lidaram com o Concelho, vocês foram ótimos e... --- Ele começou com um sorriso.
--- Nossa, você não sabe o quanto eu fico feliz em saber disso...maaas, eu espero que você faça seus elogios depois... --- Herik resmungou respirando pela boca --- Eu não estou muito bem agora...
--- Ah é...desculpe Herik. --- Jasper coçou a nuca, seus cabelos estavam presos em um pequeno coque, chegamos a Ala Fire depressa, e não demoramos a achar a porta --- Nós deveríamos nos anunciar?
--- Anunciar pra quem? Pra parede? Ou pra porta? --- Raquel cruzou os braços, revirando os olhos --- Podemos simplesmente entrar aí, explicamos quando já estivermos lá dentro.
A ruiva deu alguns passos a frente, o longo vestido vermelho colado no corpo não a impediu de abrir as portas com força às escancarando. Meu Deus...um dia Raquel ainda vai matar a gente.
--- É sério? --- Rafael perguntou com um sorriso nos lábios, Raquel deu de ombros se virando para nós e ajeitando a bolsa de couro com Sirius dentro --- Eu não acredito que somos irmãos. --- Ele disse com falsa indignação recebendo olhares nada convencidos.
--- Eu que não acredito que são meus sobrinhos... --- Jasper murmurou passando pelas portas com a gente logo atrás --- Bonum nocte nos autem non vis tibi molestum, sed convivae sunt, et opus habere colloquium... --- (TRADUÇÃO: Boa noite! Não queríamos incomodar, mas, somos visitantes e precisamos ter uma conversa...) Ele anunciou.
Jasper era muito bom no latim, mas, foi interrompido pelo piu alto que ecoou pelo local. Parei abruptamente na porta com os olhos arregalados, uma grande coruja da neve, com penas tão brancas quanto uma nuvem, veio voando de algum lugar e ficou pairando a frente de Jasper, o encarando com seus olhos amarelos. Percebi que no local haviam muitas prateleiras entupidas de livros, além de um segundo patamar também cheio de estantes lotadas de livros.
--- Tio Jas...acho que você irritou a coruja com seu péssimo latim... --- Rafael começou falando entre dentes com os olhos vidrados na coruja --- Pede desculpa pra ela...
--- Não vou pedir desculpa pra uma coruja... --- Ele disse num tom baixo --- Meu latim é ótimo, fique você saben... --- Ele foi interrompido pelo estrondoso grito da coruja que avançou na cabeça dele --- AÍ! AÍ! Para com isso!
--- A coruja não concorda com você... --- Raquel disse sorrindo. Ouvi o barulho de algo caindo e alguém apareceu no patamar acima de nós, era uma garota, tinha longos cabelos roxos e os olhos azuis arregalados.
--- Madame Vector! A se-senhora não pode atacar os visitantes! --- A garota desceu as escadas em caracol correndo e com dificuldades --- Madame Atila não vai gostar! --- Ela parou ofegante a nossa frente.
--- Faz essa coisa parar! --- Jasper pediu protegendo o rosto com os braços. Nós, que ainda estávamos parados na porta, entramos no local espaçoso com cuidado pra não virar o novo alvo da coruja.
--- Ela não me obedece! Eu não mando nela! --- A jovem falou tentando afastar a coruja de Jasper. Não pensei muito bem e quando percebi já tinha erguido as mãos e jogado a coruja em uma prateleira --- Você pode ensinar a fazer isso? --- Ela perguntou com um sorriso nos lábios.
--- O...quê? --- Perguntei sem entender.
--- Mas será que ninguém aqui é normal?! --- Jasper perguntou analisando os pequenos cortes que sangravam em seus dedos e mãos, coitado.
--- Não se trata uma dama dessa maneira! --- Ouvi uma voz feminina e autoritária exclamar, procurei quem podesse estar falando, mas só vi a coruja parada no chão com as asas fechadas --- Da próxima vez eu vou mirar nos seus olhos! --- Era a coruja quem estava falando...
--- Madame, não se deve atacar as pessoas assim...que há com ele? --- A jovem perguntou apontando para Herik que estava pálido --- Está igualzinho a Madame Atila quando ela tem uma visão. --- Comentou, fisicamente ela parecia ter uns dezoito, dezenove anos.
--- Bem...nós viemos aqui justamente porque ele não estava bem, só não estávamos esperando ser recebidos a bicadas... --- Rafael foi quem respondeu.
--- Será que você pode deixar a gente conversar aqui? Nós viemos ter uma audiência com o Concelho, que acabou a pouco. --- Megan começou --- Eclan nos disse que poderíamos ter uma conversa a sós aqui.
--- Ah claro! Eclan! Bem eu não vejo problemas, melhor fazer um curativo nas mãos do irrita coruja ali, e você precisa de uma poção garoto! --- A garota de cabelos roxos disse de modo rápido --- Ah, sou Lia Denavin!
--- Prazer. Sophia Valentainy. --- Falei e fui seguida pelos outros nas apresentações --- Herik como está sentindo? --- Perguntei enquanto a Lia andava até a coruja, quer dizer, Madame Vector.
--- Estou melhorando, as visões não costumavam ser assim, senti alguma coisa muito estranha, algo sombrio... --- Ele contou franzindo as sobrancelhas.
--- Sombrio como? --- Raquel perguntou arqueando a sobrancelha e segurando a bolsa com a mão direita. Herik abriu a boca para responder, mas foi interrompido.
--- Vocês podem subir para o patamar lá em cima! --- Lia disse em voz alta nos chamando a atenção --- Vou tentar acalmar Madame Vector aqui... --- Ela sorriu recebendo uma bicada da coruja --- Ai! Como a Madame está temperamental!
--- Vamos subir. Rápido. --- Jasper disse tomando a frente em direção a escada em caracol sendo seguido por nós e o primeiro a chegar no patamar repleto de estantes --- Herik, melhor você se sentar e então contar o que viu. --- Falou apontando para uma poltrona cor vermelho sangue, que não combinava com o resto da decoração.
--- Assim que chegamos perto das escadas eu senti meu Selo queimar... --- Herik começou se sentando --- Então quando fechei os olhos vi algo, ou melhor, alguém subindo em uma pedra...eu acho, pareceu uma pedra, um lugar pedregoso, era escuro, tinha uma forma redonda estranha...estava tudo borrado...mas eu senti, senti que era alguém maligno, algo ruim, quase como uma peste.
--- Isso é bem estranho considerando que não temos tido visões desde que recebemos os poderes...existe alguma chance delas estarem ligadas com os nossos sonhos? --- Questionei cruzando os braços.
--- Os sonhos estavam ligados aos poderes de vocês, e como as visões sempre aconteceram antes de receberem seus poderes, devem estar ligadas a eles também... --- Jasper respondeu --- Talvez esse contato tão repentino com magia tenha desregulado vocês...
--- Não somos uma máquina! --- Jonathan protestou. Raquel revirou os olhos e tirou Sirius de dentro da bolsa, já estava sentindo falta de conversar com ele.
--- Eu sei, foi modo de dizer, saiu sem querer, enfim, vocês devem se preparar, podem ter outras visões, certo Sophia? Jonathan? --- Jasper arqueou a sobrancelha.
--- Certo. Vamos ficar atentos. --- Falei e John concordou --- Como estão suas mãos? --- Perguntei segurando o riso.
--- Não vou dizer que estão bem...mas não está tão ruim... --- Ele disse observando seus cortes. Vi que Sirius brilhou e Raquel o abriu.
--- O quê ele disse? --- Rafa perguntou curioso. Raquel analisou a página mais uma vez e então começou a ler.
--- "Eu espero que você fique bem Herik, como Jasper disse, Sophia e Jonathan precisam ficar alertas, estar aqui, em um lugar onde a magia está tão presente pode deixar seus poderes confusos e descontrolados". --- A ruiva fez uma pausa.
--- Como assim descontrolados, Sirius? --- Perguntei descruzando os braços, agora estou nervosa, como vamos lutar com os poderes descontrolados?!
--- "Seus poderes podem ficar mais intensos, isso pode ajudar na batalha, mas, pode atrapalhar vocês também, então, enquanto estivermos indo de Continente em Continente, não vamos treinar vocês, faremos isso depois". --- Raquel terminou a leitura com um suspiro.
--- Bom, pelo menos da pra controlar com treinos, certo?! --- Meg sorriu --- Não é taaão ruim assim, isso quer dizer que vocês vão estar mais fortes! É uma vantagem! --- Exclamou.
--- É...pode ser uma vantagem, se aprendermos a deixar os poderes sobre controle, Megan. --- Herik disse.
Lia chegou ao patamar com uma caixinha de madeira verde nos braços e um curativo em um dos dedos e outro no rosto. Raquel fechou Sirius e o guardou rapidamente.
--- Desculpe pelo inconveniente... --- A bruxa se desculpou --- Madame Vector é a mais temperamental, Madame Atila costuma ser gentil, mas, ela não esta de serviço pelas próximas semanas. --- Explicou abrindo a caixinha de madeira --- Aqui, você toma isso. --- Ela tirou uma vidrinho comprido de lá de dentro com algum líquido verde --- É pra melhorar sua palidez.
Ela começou a andar até Herik, mas esbarrou em uma mesinha de canto e derrubou todos os livros que tinham lá e até a própria mesa. Ela sorriu envergonhada e afastou os livros com o pé.
--- E o quê seria isso? --- Herik perguntou apontando para o vidro --- E por que isso é verde? --- Ele franziu as sobrancelhas. Acho que alguém não gosta de tomar remédios.
--- Isso é uma poção para mal estar, são apenas ervas com um pouco da magia de Madame Atila, é tire queda! --- Ela sorriu e pois o vidro na mão de Herik que encarou o líquido como se fosse um bicho --- Pode tomar, você não vai morrer...eu acho.
--- Acha? Como assim acha? --- Ele perguntou, mas ela o ignorou indo até Jasper, que sentou em uma cadeira enquanto ela passava uma pomada em seus cortes --- Que falta de certeza é essa?
--- Toma isso logo, Herik. Nem deve ser tão ruim assim, que drama. --- John disse com um sorriso contido.
--- Então você pode tomar por mim. --- Ele rebateu tirando a tampa do vidro e o cheirando --- Que coisinha mais viscosa... --- Reclamou antes de virar o líquido na boca de uma vez só --- Tem gosto de...menta? --- Ele franziu as sobrancelhas, limpando o canto da boca com o dorso da mão.
--- Como se sente? A menta está parando seus batimentos cardíacos? --- Meg perguntou sorrindo.
--- Nossa isso é tão engraçado. --- Herik fez uma expressão de deboche e tampou o vidro outra vez --- Os venenos por aqui costumam ter gosto de menta? --- Perguntou para Lia enquanto ela pegava o frasco vazio e o guardava.
--- Eu nunca provei veneno, então, não sei. Pode ser que sim. --- Ela disse casualmente e Herik arregalou os olhos, acabamos soltando risadas com a cara dele.
Depois de cuidar dos ferimentos de Jasper e conversar mais um pouco, Lia se voluntariou para nos levar até a Ala dos Visitantes, onde ficavam os quartos, já que, nós não sabíamos onde ficava, a noite já tinha banhado a Província, percebi que a Ndarje deixava o céu ainda mais lindo.
--- Esse é seu quarto, Lady Sophia. --- Lia sorriu parando frente a uma porta branca, Jonathan e Raquel haviam acabado de entrar em seus quartos, eu era a última --- Essa é a Ala para visitantes, então, os quartos são padrão, o jantar costuma ser as 20:000 horas, no horário dos humanos, acho...enfim! Eu tenho que ir, não posso me atrasar! --- Ela começou a se distanciar.
--- Obrigada pela ajuda, Lia! --- Agradeci acenando para ela que se virou para acenar e acabou derrubando uma estátua de um lobo tocando violino --- Cuidado nas escadas... --- Avisei temendo que ela achasse um jeito de quebrar o pescoço na descida.
Abri as portas do quarto e me impressionei com o tamanho, uma grande janela estava disposta na parede contrária a da porta, e ao lado dela tinha um grande espelho, de um lado havia uma porta, suponho que seja o banheiro, e uma penteadeira, do outro lado uma cama de dossel e um grande guarda roupa, minha mochila estava em cima da cama.
Fechei a porta e entrei no quarto indo direto ao gurda roupa. Quando abri as portas da peça de madeira me deparei com várias roupas lindas, vestidos longos e curtos, calças, capas e sobretudos, botas, saltos e sapatilhas ocupavam toda o guarda roupa de madeira branca.
--- Entendi o que você quis dizer com "vão ter tudo que precisam no Concelho", Lisandro... --- Sussurrei para mim mesma.
Após tomar um banho não muito demorado, escolhi um vestido curto, até os joelhos de mangas longas e na cor cinza, pequenos brilhos enfeitavam as barras nas mangas e na cintura, deixei os cabelos soltos e escolhi um salto baixo, também cinza, e após o calçar me olhei no grande espelho perto da janela. Eu estava tão diferente...
--- Ei! Está aí? --- Ouvi alguém me chamando junto com batidas fortes na porta --- Sou eu, Raquel. --- Andei a passos rápidos até a porta antes que a ruiva decidisse derruba-la e a abri --- Vim te chamar pro jantar. Ele vai nos mostrar o caminho.
A ruiva apontou para alguma coisa na direção do chão, então olhei, havia um anão parado perto da ruiva, ele era transparente, como se fosse feito de vidro e tinha um sorriso singelo nos lábios. Raquel vestia um top curto branco, sem mangas, com gola até o pescoço e uma saia vermelha longa, os cabelos ruivos amarrados em um rabo de cavalo.
--- Que coisinha fofa! --- Falei sorrindo para o anão, fechei a porta atrás de mim --- Ele é um guarda? Ou um funcionário do Concelho? Ele fala?
--- Claro que ele fala. --- Raquel revirou os olhos --- Mas apenas latim, e os guardas são funcionários do Concelho tá?! Cuidado com o anão... --- Ela avisou enquanto começavamos a andar --- Ele pode quebrar.
--- Quê?! --- Exclamei me afastando dele que ia a frente mostrando o caminho.
--- Eles são frágeis, cuidado com eles, mandaram os tampinhas virem nos buscar para o jantar e dividiram duplas, acabei com você. --- A ruiva explicou --- Está anciosa para amanhã?
--- Eu diria apavorada! É tudo tão estranho, não sei se me acostumo a isso, sempre me imaginei vindo aqui mais velha, não com dezesseis anos e o John nem tem dezesseis ainda... --- Falei --- Acha que vamos ter o apoio dos Continentes? Sem eles não poderemos lutar!
--- Primeiro: respira, vai fritar seu sistema operacional assim. --- Ela disse e começamos a descer uma escada --- Ficar nervosa não vai resolver nada se quer saber, treinamos vocês para ter cabeça fria, as coisas não são fáceis, ninguém disse que seria, então te aquieta e dê o seu melhor para convencer esse povo a morrer por vocês! --- Raquel sorriu.
--- Isso teria sido muito fofo se não fosse a parte de convencer eles a morrer por nós, não quero que ninguém morra! --- Exclamei.
--- A morte é a única certeza que temos, mesmo assim, ainda é a coisa mais incerta que temos em comum. Não podemos decidir as coisas pelos outros, se eles forem lutar, eles vão com a certeza de que podem não voltar, foi isso que o Regente Aron quis dizer, so vai estar lá quem quiser estar. --- Ela deu de ombros.
--- Acho que você está certa... --- Comentei observando o andar engraçado do anão a nossa frente.
--- Claro que estou certa! Não fica muito preocupada com isso, o que tiver de ser....será! --- Ela sorriu e acabei sorrindo também.
O quê será que nos espera nos Continentes Provincianos?
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DICIONÁRIO PROVINCIANO
Nsoblisdis: Bagunçeiros(Arruaceiros, Marotos, Desobedientes)
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