Capítulo 2: Encontro Com Estranhos, Um Livro Falante
Herik
Uma névoa escura e densa pairava sobre um corpo deitado no chão, alguém se aproximou do corpo e se ajoelhou, um portal foi criado e a névoa se tornou mais densa ao ponto de não se poder enxergar nada.
--- Herik! Pegue logo suas coisas! --- Ouvi a voz do meu pai gritar do andar de baixo e abri os olhos, essas visões já faziam parte da minha vida.
Eu estava me mudando, iria sair da cidade onde passei minha vida inteira, tudo por causa de uma promoção no emprego do meu pai. Ah, meu pai, Alexandre Blaike. Não posso dizer que ele é um exemplo de pai amoroso, as vezes discutimos, e meu irmão, Alex, não ajuda em nada. Alex é mais velho que eu e já está na faculdade.
Após levar algumas caixas para o andar de baixo, me despedi da casa onde passei minha infância inteira, meu pai, Alex e eu entramos no carro e partimos para a cidade vizinha. Whistis Vill.
Não vou dizer que eu gostei dessa ideia de mudar de cidade, eu não gostei, mas minha reles opinião não mudaria muita coisa. Eu teria que começar uma nova vida em uma nova cidade, e em uma nova escola. Não que fazer só um desses já não fosse difícil o suficiente!
O primeiro dia de aula foi bem estranho, e olha que ele nem acabou ainda, primeiramente: todos me olharam torto e estranho por ser o aluno novo, aí depois uma garota loira com um mecha AZUL no cabelo entra na sala e me dá um choque apenas com os olhos, aí vem um carinha metido à hippie e sinto outro choque, para completar sou obrigado a fazer um trabalho com os dois e de quebra achamos um livro enterrado. Ótimo!
Descobrir que minha nova escola é um cemitério de livros não era bem o que eu estava esperando para o meu primeiro dia de aula aqui, nem ficar sentindo choques, que bela maneira de começar o ano letivo, Herik, parabéns. Quando estava perto da hora marcada eu sai de casa, estava morando em um apartamento perto do Centro, essa parte não era tão ruim. Não consegui evitar que as perguntas me assombrassem por todo caminho.
Por que raios esse livro estava enterrado? Por que eu estou envolvido nisso? Por que resolvi ler ele também? O que esse livro tem que me faz sair da realidade? Eu já o vi antes?
Não achei resposta para nenhuma dessas perguntas.
Chegando ao parque logo achei uma cabeleira loira, ela estava sentada em um dos bancos de madeira, coloquei as mãos nos bolsos da calça jeans e andei até ela. Aí, como era mesmo o nome dela? Carla...? Não! Sara...? Hum, não. Sônia...sooooo... Sophia! Isso Sophia!
--- Você demorou.
Me assustei quando ela falou isso, eu estava andando atrás do banco onde ela estava sentada, não tinha como ela me ver. Garota estranha, claro, como se eu fosse normal.
--- Quê? --- Perguntei dando a volta no banco e parando a frente dela, com as sobrancelhas franzidas.
--- Eu...ah...--- Ela arregalou os olhos levemente --- Escutei seu passos...você não anda com nenhum um pouco de cautela. --- Murmurou, arqueei a sobrancelha e me sentei.
--- Okay, então só estamos nós dois aqui, e sem sinal do Jonathan? Se eu estou atrasado imagina ele. --- Falei e ela assentiu.
--- Ele ficou com o livro, não da para fazer nada sem ele, e o livro...ele...ele era diferente, você não achou? --- Me perguntou.
--- Normal com certeza ele não era, estava enterrado. Mas, ele tinha algo diferente, os símbolos, a capa, as páginas, era como se... --- Hesitei em falar.
--- ...como se já tivesse visto tudo antes?
Me assustei ao ouvir uma voz perto de nós, olhei pro lado e Jonathan estava parado lá com uma mochila nas costas, ele sorriu.
--- Acho que todos sentimos a mesma coisa! --- Falou se sentando ao lado de Sophia que concordou com a cabeça.
--- A única coisa que eu senti foi que estava dentro de um filme de terror cheio de macumba. --- Falei cruzando os braços.
--- Você é bem do contra, não é? As coisas nem sempre estão ligadas a macumba ou, sei lá, feitiçaria! --- Jonathan falou abrindo a mochila --- Seja lá o que estiver escrito nesse livro, não deve passar de ficção.
Ele pegou o livro e deixou a mochila no chão, revirei os olhos e encarei o livro que o moreno colocou sobre o colo, eu não sei o que estava esperando desse livro, mas não era uma coisa boa, já estava me preparando para algo ruim, sentia algo ruim.
--- Você vai ler tudo que está aí? --- Sophia perguntou se inclinando para ver melhor o livro --- É muita coisa e nós nem sabemos o que queremos encontrar.
--- Acho que não teria outro jeito de saber sobre o que o livro fala, sei lá é só procurar algo estranho...mas espero que não tenha nada de estranho aqui! --- Jonathan falou começando a folhear o livro.
As páginas estavam meio amareladas, a letra era bonita e pareciam estar em outra língua em certas partes, haviam desenhos nas páginas, armas e outras coisas, como potes e ervas. Jonathan parou em uma página que também me chamou a atenção. Havia o desenho de duas flores nela, eram parecidas com flores de lótus, elas estavam entrelaçadas e havia um texto escrito em nossa língua.
--- Parece uma lenda. --- Jonathan falou ajeitando os óculos no rosto.
--- Parece mais um relato... --- Sophia discordou --- Que tal você ler? --- Sugeriu.
--- Okay então. --- Ele assentiu e ajeitou o livro nas mãos.
Não havia praticamente ninguém no parque, a não ser um casal que estava afastado e um grupinho de crianças que brincavam com um cachorro peludo. Jonathan respirou fundo e começou a ler, ele lia muito bem e logo me prendi as palavras escritas lá.
--- "Se um lugar viver em paz por muito tempo, pode saber que quando o caos vier, ele será devastador. No tão glorioso mundo mágico, chamado Orbis Caelesti, o terror veio por meio de duas flores. As Flores Celestiais deveriam ter sido algo bom, porém mudaram tudo e todos em Orbis Caelesti. Mesmo tendo um Guardião, elas não ficaram seguras e após uma revolta feita pelos Filhos Das Estrelas o terror se espalhou pelas Províncias, ninguém estava seguro, após diversas batalhas sangrentas o líder deles, Mervus, O Traidor, foi finalmente encurralado e preso junto com sua corja de seguidores. Para que a paz podesse ser restaurada as Flores Celestiais foram escondidas junto com Alvorada, seu protetor. Porém um mal que não foi cortado pode muito facilmente voltar a florescer, as Províncias não estão seguras tampouco os Provincianos ou as Flores Celestiais. Sozinho, Alvorada não vai conseguir proteger as Flores quando elas estiverem novamente ameaçadas, será preciso mais Guardiões. Guardiões que chegarão em breve."
Quando Jonathan terminou de ler eu franzi as sobrancelhas sentindo algo estranho, como se eu já tivesse ouvido isso antes, não sei como mas, eu já conhecia essa história antes de Jonathan começar a ler ela.
--- Isso foi...estranho! --- Sophia murmurou mordendo o lábio --- Essa história me pareceu mais do que uma história, pareceu algo que aconteceu de verdade, algo que...que foi eternizado nesse pedaço de papel. --- Ela encarou o livro e depois olhou para frente observando as árvores.
--- Pior que eu concordo com você! --- Jonathan exclamou --- Isso aqui foi bem mais que uma lenda foi mesmo um relato, só não sei feito por quem...
--- Por um maluco muito provavelmente! --- Falei cruzando os braços --- Essa lenda ou relato, seja lá o que diabos vocês acham que é, só pode ser uma pegadinha de alguém ou sei lá, um livro de macumba mesmo!
Lá no fundo, talvez eu tivesse acreditado no que estava escrito, mas era tão estranho e não aceitável que eu preferia negar que tinha acreditado. Sophia me encarou séria, os olhos azuis decididos.
--- Se você não acredita que isso realmente aconteceu o quê ainda está fazendo aqui? Vá embora se não quer acreditar, não precisa ficar. --- Falou pegando o livro das mãos de Jonathan.
--- Finalmente alguém falou uma coisa sensata, o melhor que eu poderia fazer é ir embora mesmo, eu nem deveria ter vindo para começar! --- Exclamei me levantando.
--- Então vá embora para terminar! --- Sophia falou e notei um deboche em sua voz.
Encarei os dois, Jonathan não falava nada, olhava de um para o outro em silêncio, então quando eu ia me virar para sair o livro brilhou, não foi coisa da minha cabeça, ele estava brilhando nas mãos de Sophia.
--- Mas o quê é isso? --- Questionei assustado Sophia tacou o livro no chão com os olhos arregalados e Jonathan se levantou, as páginas do livro começarem a passar sozinhas.
Sabia que era macumba!
O livro parou em uma página em branco, letras começaram a ser escritas sozinhas, finas e inclinadas, Sophia se levantou e olhou em volta, o parque parecia estar vazio a não ser por nós três. A seguinte frase foi escrita no livro.
"Não posso deixar que você vá embora, eu preciso dos três, vocês tem que aprender a trabalhar como um só, e não separadamente."
Reprimi a vontade de gritar e dei um passo para trás, Sophia fez o mesmo batendo no banco e acabou sentando de novo, segundos se passaram em silêncio, então para minha surpresa Jonathan se afastou de mim e pegou o livro.
--- Cara, não faz isso não! --- Pedi olhando do moreno para o livro.
--- Jonathan, você...tem certeza do que está fazendo? --- Sophia perguntou receosa.
--- Não, mas não podemos deixar ele no chão... --- Respondeu se sentando no banco, continuei em pé e ele me encarou --- Se eu fosse você me sentaria, você ouviu, ele não vai te deixar sair. --- Falou e suspirei indo me sentar também.
"A teimosia pode custar muito à vocês, a partir de agora vocês tem muitas coisas com que se preocupar, não temos espaço para rebeldia."
Me assustei ao ver as palavras serem escritas por uma mão invisível outra vez, tomado por um coragem que não sei de onde veio, perguntei.
--- Que quer dizer? Quem é você para começar? --- Encarei a página e esperei a resposta ser escrita e logo ela foi.
"Quem eu sou ou fui já não importa mais, a questão é que vocês três tem algo muito forte correndo por suas veias, se eu estiver certo, vocês não são iguais aos outros adolescentes desse lugar."
Como ele poderia saber que eu não era totalmente normal? Desde que eu me lembre tenho visões estranhas, pressentimentos, parece ser sempre a mesma coisa, porém de ângulos e momentos diferentes.
--- Como assim não somos iguais aos outros adolescentes desse lugar? --- Jonathan perguntou franzindo as sobrancelhas --- Que quer dizer? Isso é alguma brincadeira?
"Não estou brincando, vocês tem algo especial, há magia correndo por suas veias, soube disso no momento em que me acharam, como conseguirem abrir aquele lugar?"
--- Não acha que vamos ficar aqui lhe explicando acha? Você é um livro, um livro que fala, o que quer tanto saber? E que história é essa de magia? --- Perguntei falando rápido de mais.
"Primeiro peço que vocês fiquem calmos, magia existe, vocês ouviram o relato daquela página, eu preciso saber se tem alguém ou algo atrás de mim e só vocês podem em responder."
--- Por que alguém estaria atrás de você? --- Sophia perguntou parecendo interessada.
"Digamos que, talvez, eu seja importante, mas vocês também são, não sinto nada assim a Eras."
--- Eras? Quer mesmo que acreditemos em magia? --- Questionei desconfiado --- Como um livro pode fazer isso aí...?
"Eu não sou apenas um livro meu jovem, vou além disso, e magia existe sim, existe um outro mundo, onde a magia é algo tão normal quanto andar ou respirar."
--- E como é que nós temos ligação com esse tal mundo? --- Jonathan perguntou --- Ninguém é normal, posso dizer que eu não fui uma criança muito normal, mas magia?
"Acreditem, se eu estiver certo, vocês tem tanta ligação com aquele lugar quanto eu, em que ano estamos? "
--- Em 2010, por que? --- Questionei.
"Digamos que eu estava enterrado à quarenta anos, e desde que vim para esse mundo não sentia nenhum indício de magia, até vocês aparecerem."
--- Mas eu sempre estudei naquela escola, você sabe que estava enterrado numa escola? --- Sophia perguntou.
"Não, não sabia não, só me lembro vagamente de ter sido colocado em algo escuro e depois um silêncio, por muito tempo, um silêncio profundo."
--- Isso é impossível! Você estava enterrado numa escola, mesmo a biblioteca não seria tão silenciosa. --- Constatei franzindo as sobrancelhas.
"Acho que é nessa parte que a magia entra, o local onde eu estava tinha um bloqueador, era como se eu não estivesse lá, seres mágicos poderiam não me sentir e eu não ouvia o que acontecia."
--- Eu já fui muitas vezes a biblioteca com a Megan, sempre íamos juntas e nunca vimos nada de estranho! --- Sophia contou --- Magia não existe.. não pode existir...
"Acreditem magia existe, sou prova disso e vocês também, eu sinto algo celestial correndo em suas veias, isso só pode significar que vocês, vocês três, são os novos Guardiões das Flores Celestiais."
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