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Parte I Prólogo: O Eclipse de Sangue

A luz pálida que vinha do sol clareava a Província da Terra durante o solstício do Dia da Glória, uma data especial marcada pelo Eclipse de Sangue, uma homenagem que os governadores supremos de Orbis Caelesti, mundo mágico da Dimensão Magicae, o Sol e a Lua faziam para os mortos em batalha, todas as batalhas, de todas as Eras.

Semanas e mais semanas haviam se passado desde a Revolta dos Condenados, e lentamente as coisas voltavam ao normal em ambas as Províncias. Os Concelhos da Terra e do Céu firmaram uma aliança de paz, e seus exércitos passaram a lutar e a treinar juntos, a dor e o luto pelos mortos na Revolta passava aos poucos e as aulas dos jovens Provincianos haviam voltado.

Alguns Provincianos, de ambas as Províncias, não concordavam completamente com a aliança, havia ressentimento guardado por várias Eras, e uma reunião não ia apagar os dias sangrentos que viveram. Não ia apagar o que um fez ao outro.

Por todos os Continentes da Província da Terra e por todas as Áreas da Província do Céu, a esperança e a ansiedade pelo eclipse estava estampada nos rostos dos Provincianos.

Os Concelhos decidiram comemorar a data juntos, e ambos estavam na Ilha do Concelho da Terra. Uma comprida mesa de madeira estava posta em frente ao Prédio do Concelho, com todos os lugares já ocupados, e grupos de Provincianos se espalharam por todo local.

--- Parece que os treinos tem dado muito resultado... --- Alvorada comentou para o Dirigente do Concelho do Céu, Aquemar --- Já vejo uma melhora na relação entre as Províncias.

--- Certamente que estão! Esperei muito tempo para algo assim acontecer, fiz o que pude, sabe disso, mas após aquela guerra civil entre as bruxas de gelo e nossa Província, ficou muito difícil promover a paz... --- O Filho Dos Raios disse, o rosto redondo e os olhos dourados brilhavam na luz solar --- Acho que devia ter tentado mais!

--- Você fez o que pode, Dirigente. --- Alvorada sorriu --- Era destino dos Escolhidos unir as Províncias, isso é indiscutível!

--- Concordo, eles tem talento, e ainda me sinto severamente envergonhado de não ter percebido o encanto sobre o qual nos encontrávamos, e por negar ajuda a eles. --- Aquemar suspirou, recusou o vinho que o Regente Arim, de Abizes, lhe ofereceu e continuou --- Mas se agora ao menos podemos ajudar de algum modo, devemos isso ao senhor!

--- Só fiz meu trabalho. --- Alvorada respondeu com um sorriso.

--- Estão sabendo da nova? --- O Regente Arim Wandorne, um vampiro muito bem humorado, se ajeitou na cadeira ao lado de Aquemar --- Ouvi dizer que um grupo de ladrões fugiram para as Áreas Restritas e que estão dando trabalho.

--- Não há uma guarda nessas áreas? --- O Regente Ésimo questionou levantando a sobrancelha, ele, que estava ao lado de Arim, era muito pálido, cabelos brancos e longos, olhos lilases e frios --- O quê houve com a segurança que colocaram lá?

--- A segurança nas Áreas Restritas é tão eficaz quanto a da sua amada Sul Lumina, porém, todos em nosso continente são poderosos, até mesmo os ladrões. --- O Regente Arim rebateu, com um sorriso irônico.

--- Uma pena que com as autoridades não seja assim. --- O Regente Ésimo pegou uma taça com vinho, os olhos frios não refletiram o sorriso que mostrou --- Que as coisas melhorem por lá! --- Ele ergueu a taça e se pois a aproveitar o vinho.

O Regente Arim revirou os olhos.

O mais distante possível da mesa das autoridades, estava um grupo com cinco jovens, sentados sobre a sombra de uma árvore de folhagem azul e não muito atentos ao início do eclipse.

As duas garotas faziam uma queda de braço, enquanto dois, dos três garotos, conversavam sobre os acontecimentos das últimas semanas.

--- Ora, que bobagem! Qual o problema dos Escolhidos serem humanos? --- O alto rapaz moreno, de cabelos negros com pontas azuis que brilhavam a luz, questionou.

--- Não disse que era um problema. Só disse que acho estranho. --- O outro deu de ombros, pele pálida, magro, cabelos raspados, e olhos brancos mais sombrios do que deveriam --- O quê acha do assunto, Lisandro?

--- Acho que vocês deviam cuidar das suas vidas. --- O rapaz de cabelos brancos revirou os olhos --- Que importa que sejam humanos ou não?

--- Importa que eles serão os próximos Guardiões. Mas, se Mestre Alvorada acha que eles são tão bons e que conseguem, que seja. Não me importo. --- O rapaz pálido deu de ombros.

--- Ahá! Ganhei! --- Uma das garotas comemorou, tinha a pele muito branca, os cabelos platinados e longos, olhos dourados calorosos --- Boa sorte na próxima, Charmy!

--- Não fique tão animada, isso foi sorte, Amyanara, na próxima eu ganho, garanto! --- Charmy era morena, cabelos azulados e curtos, na altura do queixo, os olhos brancos --- Já não era para essa coisa ter começado? --- Perguntou ao pegar uma garrafa de vinho do chão.

--- Para uma Emissária você está muito apressada! Não aprendeu a ter paciência? --- O moreno sorriu revirando os olhos.

--- Faltei a essa aula, sinto muito. --- Charmy abriu a garrafa e bebeu uma boa quantidade do vinho, direto do gargalo --- Acredito que você tenha perdido a aula sobre como cuidar da própria vida, Aksel? --- Zombou fechando a garrafa.

--- Quem faltou essa foi a Amyanara! --- O moreno rebateu, Amyanara lhe fez um gesto obsceno --- Parabéns pela educação! --- Zombou.

O grupo parou sua discussão quando a luz brilhante do sol sumiu, a Lua rapidamente encobriu o astro rei e uma claridade avermelhada banhou o lugar. Todos do grupo embaixo da árvore eram Emissários de Alvorada, o Primeiro Guardião, que também estava no local, o grupo fazia sua guarda, mesmo que ele não precisava de uma e realizava trabalhos para ele.

Em um determinado momento do Eclipse, pouco antes da lua começar a se afastar, o brilho se intensificou, um clarão irrompeu dos astros e um raio vermelho desceu dos céus, seguindo com velocidade até o Continente Abizes, o continente Sobrenatural, um dos três da Província da Terra.

Choque tomou os Provincianos e quando o raio atingiu a montanha Oxter, no centro do Continente, um barulho ensurdecedor ecoou por quilômetros.

Uma cratera se abriu na montanha, a Base Militar do continente sofreu vários danos, pedras explodiram para todos os lados e árvores foram arrancadas.

Observando a cratera, numa distancia segura para que não fosse visto, um certo encapuzado se apoiava numa árvore, quando alguém saiu da cratera, o encapuzados sumiu, como se nunca tivesse estado lá.

Uma mulher saiu da cratera sem dificuldade, o longo vestido preto era colado no corpo, marcando bem suas curvas, uma fenda lateral no tecido deixava a pena direta a mostra. Os cabelos muito negros caiam como cascatas pelos ombros e costas, algumas madeixas eram vermelhas.

Com um suspiro profundo, a mulher levantou o rosto para olhar em volta, o eclipse havia acabado. A boca fina e bem desenhada se abriu num sorriso de dentes perfeitos, e seus olhos encararam o Sol e a Lua que já haviam se separado.

Seus olhos cor de sangue.

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