I
E se eu te contasse que uma vez, há muito tempo atrás um dragão se apaixonou por uma Estrela, você acreditaria? E se esse dragão, que é na verdade um deus, a amasse tanto a ponto de criar um planeta para presenteá–la, acharia absurdo? Bom, não é um absurdo totalmente, porque muitos dizem ser real e de ter sido essa a história da criação do nosso planeta, algo semelhante ao Deus que os humanos cultivavam na época que viviam na Terra, e a forma que o mundo foi criado. Eu particularmente gosto bem mais dessa historia, e acabei me lembrando dela ao olhar para um vitral presente no salão em que o baile está ocorrendo, e sinceramente, ao lembrar dessa história, me faz desejar ter um amor tão bonito e avassalador como o deles, um amor que pode criar mundos somente para terem onde se encontrar, sem que as outras Estrelas atrapalhassem.
Mas eu estou bem longe de viver uma história de amor, principalmente uma como aquela, a minha história tá mais para um drama, ou uma tragédia, escolha o gênero que preferir, quanto a mim? Bom, vou tentar não ser morta por todos esses olhares. Eles não parecem gostar da minha presença nesse momento. Afinal, não é todo dia que uma garota aparece do nada dizendo ser a reencarnação de uma rainha com a promessa de mudar todo o mundo e tudo o que eles têm vivido até agora.
Bom, pelo menos é o que Eros está prometendo a eles, desde que eu comecei a descer as escadas.
É um misto de sentimentos que eu posso ver no rosto de todos: confusão, raiva, aceitação, e até mesmo alguns neutros – provavelmente tentando não deixar transparecer seus sentimentos e dúvidas.
Terminei de descer as escadas, Eros estava com uma mão nas costas e a outra estendida na minha direção. Parei no patamar da escada, protelei, encarando sua mão estendida e depois encarei Skye, que me encarava me dizendo com olhares para não fazer isso, mas por agora, infelizmente eu não tenho muitas opções.
Meus olhos se voltaram para Eros, que franzia levemente o cenho pra mim, demonstrando seu descontentamento, soltei o ar – que nem percebi que havia prendido – e dei mais um passo, estendendo minha mão para pegar a dele. Nós nos encaramos por um momento, antes dele se virar para o "público" que está totalmente silencioso.
Algo dentro de mim começou a se alegrar com o pensamento de que eles não aceitariam tudo o que Eros havia dito, a farsa acabaria e eu poderia voltar a minha vida normal... quer dizer, o quanto normal a vida de um Guardião pode ser, mas então todos fizeram o que eu nunca esperei ver ser dirigida a mim.
Eles se curvaram.
E ainda bem que o fizeram, porque senão iam ver minha completa cara de taxo, surpresa com tudo isso.
Eros deu um leve aperto na minha mão, pisquei algumas vezes tentando voltar ao "normal", ao mesmo tempo em que me concentrava em não cair com aqueles sapatos ao descer o último lance de escadas junto a Eros.
Último degrau, as pessoas começam a se levantar uma após a outra, e depois de poucos segundos uma leve melodia começa a ser tocada pelos instrumentos de corda. Algumas pessoas começaram a se aproximar de nós, outras se voltaram para seus grupos para conversarem baixo entre si, e tinha até aqueles que pareciam querer se aproximar de nós, mas o primeiro a ter coragem de falar conosco foi o herdeiro da Casa de Lion.
Ele me parece ligeiramente mais alto desde que o vi a última vez, seus cabelos estão cuidadosamente penteados para trás deixando livre os seus olhos dourados e afiados como o de um felino livres, sem qualquer impedimento de seus fios ruivos. Leonard – se não me engano – abriu um sorriso cortês, para nós, antes de fazer uma mesura.
_Sei que já estão na Capital há alguns dias, mas devo–lhes dizer formalmente: Bem Vindos ao castelo Duran! Estamos honrados em recebê–los na nossa humilde morada. E como manda a tradição, nossos corações pertencem a vocês, majestades – ele se curvou levemente dessa vez, com a mão sobre o coração, e a menina e o rapaz ruivos que o acompanhava fizeram o mesmo.
Eros curvou levemente a cabeça em reconhecimento ao gesto.
_Deixe–me apresentá–los, Victoria – ele se virou pra mim com um pequeno sorriso – Esse é o novo líder da Casa de Lion, Leonard Williams, e os gêmeos Levi e Lyssa – havia algum sentimento escondido ali quando ele pronunciou o nome do rapaz mais novo, eu só não sei distingui se era um sentimento bom ou um ruim.
Tentei esconder a surpresa. Quer dizer que ele já assumiu a Casa Lion? Isso muda muita coisa, politicamente falando.
Leonard avançou em passos elegantes e calmos e delicadamente pegou a minha mão livre, deixando um beijo nas costas da mesma.
_É um prazer conhecê–la, milady.
_Igualmente – respondi meio hesitante, torcendo para que ele não percebesse o nervosismo presente em minha voz.
Leonard se virou para Eros e começou a conversar algo em voz baixa com ele, não me dando oportunidade de entender o que eles estavam falando, mas antes que eu pensasse muito nisso, os gêmeos Williams se aproximaram de mim com sorrisos gentis em seus rostos. Levi fez uma reverência com uma mão sobre o coração e Lyssa segurando no vestido delicadamente, e eles nesse momento me pareciam vindos direto de um conto de fadas e esse pensamento me fez abrir um sorriso pra eles.
_É um prazer conhecê–la, majestade – eles disseram juntos. Eu achei fofo, mas eles devem ter quase a mesma idade que eu, talvez um pouco mais novos, então era um sentimento conflitante.
Levi, assim como o irmão mais velho estava com seus cabelos ruivos penteados para trás elegantemente, eu os achei bastante parecidos, somente a barba de Leo e seu rosto mais maduro revelava que ele era mais velho. Lyssa, ao contrário de seus irmãos que parecem tão sérios, exibia um sorriso gentil no rosto e seus lindos cachos ruivos caíam com suavidade no seu pescoço emoldurando seu rosto de porcelana, mas mesmo assim eu não podia me deixar levar facilmente por sua aparência fofa já que as mulheres da Casa de Lion têm a fama de serem bem ardilosas e sedutoras quando precisam.
_Igualmente. Mas não precisa me chamar de majestade, não sou uma afinal das contas e isso é bem estranho – eles pareciam surpresos pelo meu comentário e trocaram um olhar antes de se voltarem pra mim, mesmo Levi que parece ser um pouco mais reservado deixou transparecer a sua surpresa – Podem me chamar de Tori, como todo mundo.
_Não acho que devemos – Levi se apressou em dizer – Leo não ficaria nada contente – segredou–me, diminuindo o tom de voz.
Lancei um olhar para Eros e Leo que conversavam bem ao nosso lado, mas que não prestavam atenção em nada que fazíamos. Me virei para os gêmeos novamente e lhes lancei uma piscada.
_Vai ser nosso segredo – eles se olharam novamente parecendo meio indecisos antes de Lyssa dar de ombros, e junto com seu irmão abrir um sorriso cúmplice e se voltarem pra mim assentindo discretamente.
_Ótimo, já estava pensando que esse baile ia ser um completo tédio – comentei como quem não quer nada, fazendo–os dar uma leve risada, ainda meio hesitantes na minha frente.
_O que está acontecendo? – questionou Eros. Parece que chamamos a atenção dele e do Lion mais velho ao nos darmos bem.
Dei de ombros – Eles só me lembraram duns amigos gêmeos que eu tenho.
Que nesse exato momento posso ver um deles se escondendo atrás de uma pilastra, perto de onde Skye esta. Quase balancei a cabeça em descrença na direção da mesma, que me olhava com um sorriso nos lábios. Não sei por que me surpreendo com Ally ainda.
Eros não me pareceu satisfeito com a resposta, mas decidiu não prolongar muito o assunto, então ele se despediu dos Williams e começou a percorrer o salão, fazendo com que eu segurasse em seu braço ao andarmos. Algumas famílias nos cumprimentaram de longe, lançando olhares afiados para nós ao passarmos, tenho quase certeza que esses são os que não acreditam nessa história e são contras ao que Eros quer fazer, seja lá o que for. Fomos parados por algumas outras famílias que conseguiram reunir coragem pra falar conosco, e aparentemente os que apoiam e acreditam nele, e eu fiquei boiando ao seu lado enquanto ele conversa sobre coisas que eu não fazia ideia do que eram, até escutar ele falando sobre uma tal de "limpa" que me chamou a atenção. Não sei exatamente o que ele estava falando, mas envolvia algum tipo de teste sanguíneo e alguma nave, tudo muito esquisito. Vou ter que descobrir mais a respeito, já que aparentemente não vou ter nada pra fazer por aqui.
O que diabos ele está tramando em conjunto a esses Lordes?
Embora esse não fosse o tipo de diversão que me atrai, a suave musica que era tocada e espalhada pelo salão, juntamente com uma linda voz de algum cantor soprano me fez ficar distraída por um momento. Absorvi a musica, quase fechando os olhos para apreciá-la, mas meus olhos se prenderam nos casais que se arriscavam a dançar e que giravam em perfeita sincronia pelo salão. Até me parece familiar.
Meus olhos foram atraídos para sombras que se moviam rapidamente lá fora, desviando dos casais que dançavam, e antes que eu processasse isso a grande janela do salão se quebrou em mil pedaços e o caos se espalhou no salão.
Que sensação de dejá vu.
A música se interrompe de súbito, os dançarinos pararam, e gritos desesperados soaram, Eros me colocou atrás dele para me proteger dos cacos de vidro, os braços firmes ao meu redor me segurando, o que eu acharia fofo se ele não estivesse me ameaçando.
As pessoas começaram a correr de um lado pro outro gritando, ou simplesmente se abaixavam ou tentavam se esconder do que quer que seja a ameaça. Os vultos negros se moviam no meio deles com graça, agilidade e leveza. Levei um tempo para entender quem e o que eram, mas quando um deles de cabelo prateado parou na nossa frente pronto pra atacar Eros, eu vi.
Elfos.
Há tantos deles se movendo pelo salão em meio à confusão, combatendo os Guardiões que protegem o castelo e que estão prontos pra morrer defendendo–o, mais alguns Lordes que estão acostumados a lutar e não tem medo de o fazer, – como é o caso de muitas das mulheres e suas crianças presentes no salão que nesse momento, estão correndo gritando e desesperadas sem nenhum rumo – a maioria eu consegui distingui-los como os da Casa de Taurus, por serem os mais fortes – fisicamente – e definitivamente, maiores que qualquer outro Lorde presente.
O elfo desconhecido está lutando com ferocidade contra Eros, que com a face serena, parecia não estar fazendo o mínimo esforço. Minha cabeça está uma confusão, com tudo acontecendo rápido demais para que assimilasse, então não pensei direito ao agir quando vi que o elfo agora caído a sua frente enquanto o albino levantava a espada bem a cima da sua cabeça, pronto pra dar o golpe final.
E então eu entrei na frente dele, sem nada pra me defender, nenhuma arma ou escudo. Eu só fechei os olhos e esperei o golpe final, quando ele não veio, abri-os lentamente, tendo os frios e calculistas olhos bicolores fixados em mim, a espada a milímetros do meu pescoço. Não ousei nem mesmo respirar, enquanto ele me observava atentamente. Quase tive a certeza que se ele não precisasse de mim, ele teria me matado ali mesmo de tanta raiva que se encontrava.
Pelo menos, é isso que seus olhos me mostravam.
Ele abaixou a espada lentamente sem tirar os olhos de mim, só ai me permiti respirar novamente, feliz por ele não ter decapitado aquele elfo e eu ali mesmo em um momento de fúria, e por sentir que o elfo não estava mais atrás de mim.
_O que está fazendo? – inquiriu–me com a voz baixa.
_Não vou deixar que mate ninguém – minha voz saiu como num sussurro, fico surpresa é por ela ter saído, porque sob esse olhar dele sinto que a qualquer momento vou desabar. – Você disse que não ia matar mais ninguém.
_Há controvérsias, eu disse que seus amigos estariam a salvo – um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
_E se eu dissesse que todos os elfos são meus amigos? – sorri triunfante ao vê–lo perder o sorriso aos poucos – Vai quebrar sua promessa tão fácil assim?
_Não me teste.
_Digo o mesmo.
Nos encaramos por longos segundos – talvez minutos – enquanto uma mini guerra se instalava a nossa volta. Eros suspirou e abriu a boca pra falar algo, mas foi impedido quando cinco guerreiros elficos o cercaram e começaram a lutar contra ele, ao mesmo tempo em que eu sentia meu braço ser puxado e começar a ser arrastada pra longe deles. Me debati sem saber quem estava me segurando até que ele se virou pra mim e eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
_Arathorn?
Ele abriu um sorriso de canto e curvou levemente a cabeça – Ao seu serviço, princesa.
_O que esta fazendo aqui? O que todos vocês estão fazendo aqui? – questionei, minha voz ficando um pouco mais aguda.
_Viemos tirá–la daqui – respondeu como se fosse óbvio – Não podemos deixá–lo ter tudo que quer. – ele lançou um olhar raivoso na direção que Eros estava antes de começar a me arrastar de novo.
Mil pensamentos invadiram a minha mente. Eu não posso ir. Não posso deixar que ele me arraste assim. Eros vai matar a todos se eu for, não duvido nem por um momento que ele o fará quando perceber que eu fugi. Ele não mencionou meus pais, mas também não duvido que ele vá atrás deles também, em um momento de fúria. E Serenity que está presa em algum lugar desse castelo? Provavelmente com mais alguns infelizes Guardiões que não conseguiram escapar naquela noite do ataque e que se recusaram a ficar do lado deles, do lado dessa guerra que está prestes a começar. E Skye que havia sido capturada antes? Sera que Ally conseguiu soltá-la ou foi pega também? E os outros? Onde eles estão? Será que estão bem?
Não. Não posso fazer isso em quanto tanta gente está em perigo e outras eu nem mesmo sei se estão bem, que dirá vivas no meio de toda essa cofusão.
_Não... Espera. Ai que droga! Da pra me escutar? – comecei a debater e reclamar ao continuar sendo puxada, sendo totalmente ignorada pelo príncipe dos elfos. Desespero começou a tomar conta de mim, e lutei pra controlar minha respiração.
A minha sorte é que eu não consigo me movimentar direito com esse vestido enorme – que eu definitivamente não usaria por opção – o que atrasava a caminhada dele, me dando oportunidade de tentar fazê–lo me escutar.
O que não tá dando muito certo.
Em um gesto desesperado comecei a invocar a minha magia, e logo esquentei minha mão com meu fogo até ser um incomodo para Arathorn e ele me soltar, se virando surpreso na minha direção.
_Não posso ir – minhas palavras soaram duras ao serem pronunciadas, mas ninguém pode me culpar devido ao que eu estou passando nas últimas horas.
_Me dê um bom motivo – ele cruzou os braços na frente do peito enorme – Se for por causa da sua amiga loira que eles haviam capturado, a sua outra amiga já a soltou e ambas estão lutando também, e meus homens vão tirá–las daqui assim que eu der o sinal que está segura.
Menos duas.
Neguei com a cabeça mesmo assim. – Você não entende, ele está com a minha tia e muitos outros Guardiões como refém, não posso abandoná–los assim. Se eu for, ele vai matar todo mundo em vingança.
_Pode não ser verdade – retrucou, fechando mais ainda o semblante.
_Não posso arriscar. Não posso brincar com a vida das pessoas desse jeito. –respirei fundo antes de continuar – Além que ele está planejando algo muito grande, e ficando aqui eu posso descobrir e tentar impedir.
_Vai sacrificar–se por outros? – indagou sério, embora seu tom de voz não fosse acusador e sim curioso.
Parei por breves segundos, não havia pensado dessa maneira, mas sim. Eu faria isso sem hesitar, da mesma forma que outros fariam por mim. E não posso deixar que ele machuque ninguém por minha causa. Mesmo que eu ainda ache tudo isso uma loucura sem tamanho e que no final vai se provar um grande e terrível engano.
Acenei firme e decidida, os lábios apertados em uma fina linha.
_Se for preciso.
Ele concordou lentamente, parecendo aceitar a minha decisão ao mesmo tempo em que quer me agarrar, jogar pelo ombro e me tirar daqui à força. Diferentes sentimentos são refletidos em seu rosto e seus olhos, nesses poucos segundos. Mas felizmente pra mim, porque eu não ia ter como lutar contra ele e impedi–lo de fazer isso se ele quisesse realmente me tirar daqui, ele pareceu concordar comigo.
_Espero que não se arrependa de sua decisão – sentenciou por fim – E se mudar de ideia, estaremos sempre por perto, prontos para tirá–la daqui, basta nos chamar.
_Como?
Ele vasculhou seus bolsos e pegou um apito esculpido no formato da cabeça de um dragão e me entregou, assentiu uma vez e então assobiou de tal forma que repercutiu por todo o salão. As lutas pararam por segundos, surpresos pelo súbito som, antes dos elfos baterem em retirada juntamente com seu líder – Arathorn – tão rápido quanto quando chegaram, e quase suspirei aliviada ao ver Ally e Skye sendo carregadas por elfos e tiradas daqui. Pelo menos elas estão fora de perigo. Agora só falta Serenity e todo o resto. Tenho a sensação que vai ser bem mais difícil.
Contive mais um suspiro – parece que é o que eu mais faço agora – ao ver Eros correr até mim, com a mesma expressão calma de antes, embora seus olhos faiscassem com uma emoção contida.
Bom, espero ter feito à escolha certa ao ficar.
***
Primeiro cap postado com sucesso. Nem demorei tanto tempo assim para organizar tudo o que eu queria fazer. kkkkk
Conflitos fiscos e mentais. Lutas e decisões tomadas. Como será daqui pra frente? Espero que me acompanhem nesse ultimo livro e no cap final da trilogia, da historia da Tori e de Andromeda. E por fim, espero que gostem ^^
Quero agradecer também há Sheila_M_Alves por ter me ajudado tanto no processo de criação, e por todos os xingos que me deu quando eu tava com preguiça. Obg!
Ps.: Eu criei um instagram para postar banners, aesthetics e demais imagens de Vigilantes do Anoitecer, então se interessarem sigam lá: vigilantesdoanoitecer.
Bjss e até o próximo cap!
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