Outubro, dia 15

Para a semana fazes anos. Já estás tão crescida. Ainda me lembro do primeiro dia em que te vi. Eras tão pequenina, com uns grandes olhos castanhos, umas faces muito rosadas na tua pele clara e umas mãos minúsculas. Gostavas de ter atenção. Gostavas quando a mãe te pegava ao colo e brincava contigo. Gostavas de te esticar no berço e tentar apanhar os meus dedos que ficavam mesmo por cima de ti. 

Fui eu que escolhi o teu nome. Queria que tivesses um nome de uma princesa. Eu também era novinho na altura, mas ainda me lembro de muita coisa. Mais até do que devia. Aquilo por que passámos... ninguém devia ter de passar. Ninguém devia ser abandonado como nós fomos. Mas agora estamos bem. Eu prometi nunca te abandonar, e é o que vou fazer. 

O John e a Martha querem fazer-te uma festa, mas andas demasiado ocupada com a dança para conseguires concordar com eles em alguma coisa. Eu sei que isso a ti não te interessa, mas eles insistem. Querem mesmo dar-te uma festa de aniversário, mas uma que seja perfeita. Uma da qual te recordes. Mas sei que isso a ti te é indiferente. Tu só queres a companhia das pessoas certas, as tuas músicas favoritas a tocar no jardim e o teu bolo favorito. Ah... como tu adoras comer o teu bolo de aniversário! Se fosse por ti, mais ninguém o comia.

Eles vão dar-te umas sapatilhas novas para dançares. Apesar de não o pedires, eles sabem perfeitamente que estás a precisar de umas novas. Tem sido difícil manter o teu presente em segredo, porque quando sabes que há gato, não nos largas até descobrires. Mas acho que desta vez o não vais encontrar antes do tempo, como em tantos outros anos fizeste. Pelo menos estamos os três a esforçar-nos para que assim seja!

Já eu, vou juntar o dinheiro que ainda me sobrou do emprego de verão no restaurante japonês para te comprar aquele vestido florido que passaste semanas a namorar. Sabes, aquele que está exposto na montra da loja da rua principal, onde trabalha a mãe da tua amiga de cabelos pintados. É capaz de ser um bocado caro para mim, especialmente agora que os horários e os projectos extras da faculdade me impedem de trabalhar. Mas se me faltar dinheiro, peço emprestado ao John e à Martha e compenso quando arranjar um emprego para os fins de semana. Ou mesmo no verão. Sei que eles não têm problemas em ceder-me algum dinheiro, porque eles também têm prazer em fazer-te feliz, tal como eu.

Com Amor, 

Sammy

[editado: Dez 2024]