1.6 | Água
Estamos no shopping agora. Eu basicamente fui arrastado para cá por Helena e Sarah, senão teria passado o dia inteiro dormindo. Elas disseram que era inaceitável não aproveitar uma tarde de folga de aula. Bom, elas só se esqueceram de que pessoas aproveitam seus tempos livres de formas diferentes.
– Então, o que você acha? Azul ou amarelo? – pergunta Helena, segurando dois vestidos diferentes em suas mãos, estamos em uma loja de roupas.
– Por que você está, sequer, comprando estas roupas hoje? Não é como se tivéssemos algum evento importante para ir... – respondo desinteressado.
– Bom, você não tem nenhum evento importante para ir! Eu sou Helena Heart, querido, eu sempre tenho eventos importantes para atender. – Ela devolve o vestido azul e fica com o amarelo, colocando-o em frente ao seu corpo e se olhando no espelho. Ela definitivamente deveria se chamar "Irritante Heart".
– Eu gosto do amarelo, parceira, ele é mais fechamento! – diz Sarah. As duas começam a falar sobre moda feminina, me fazendo questionar o porquê de eu estar aqui. Se apenas entendesse um pouco sobre o assunto, mas não me interesso por moda feminina. Sinto que sou a vela aqui...
Enquanto olho algumas roupas, tentando fazer o tempo passar mais rápido, ouço o som de toque de celular vindo de perto de Helena e Sarah.
– É o seu, Sarah – diz Helena.
– Oh, verdade! Me deixe ver... – Sarah tira seu celular do bolso e o atende. – Diga, Mano Verde!
– Mano Verde...? – pergunto confuso.
– É como ela chama o Caio às vezes. Você sabe, Caio "Green" – responde Helena. Bom, eu não sabia que o sobrenome dele era Green, mas acho que faz sentido.
– Como assim hospital?! – pergunta ela confusa. Helena e eu nos entreolhamos, sem entender o que está acontecendo. Estou começando a achar que rolou algo sério. – Está bem, certo... Estaremos a caminho logo.
– O que aconteceu? – pergunta Helena, ao ver Sarah desligar e guardar seu celular.
– Caio estava nas montanhas, quando viu alguns caras tentando sequestrar Hansel. Ele lutou contra eles, mas Hansel se machucou e está no hospital – responde Sarah em tom sério, algo não natural dela.
– O quê?! – Helena guarda o vestido que estava em suas mãos, surpresa. – Como foi tudo isso?!
– Eu não sei, mas estou indo ao hospital em que eles estão agora mesmo – responde Sarah. – Vocês vêm comigo?
– Eu estou! – diz Helena sem hesitar. – Enji?
As duas olham para mim, esperando resposta. Não posso dizer que não estou surpreso com tudo isso, talvez até preocupado, mas não acho que minha presença lá seja o mais adequado. Mas, parando para considerar que Caio é meu amigo, deixando Hansel um pouco de lado, eu deveria estar lá.
– Sim, estou... – respondo inseguro.
Nós três deixamos o shopping e partimos em direção ao hospital do Centro, onde Caio deu sua localização. Não deixo de pensar, em um momento sequer, em que cenário os dois estavam para se meter numa confusão destas, o que realmente aconteceu lá. Assim que chegamos, somos obrigados a esperar na recepção. Nenhum enfermeiro quer nos deixar ver Caio ou Hansel. Aparentemente, Hansel está desacordado e Caio pegou alguns pontos no braço direito, de uma bala que o acertou de raspão, está sendo interrogado por policiais, para saberem o que aconteceu.
Eu não sei como me sentir em relação a toda a situação. Parte de mim deseja que os dois estejam bem, que tudo isso passe logo e fique para trás. Mas parte de mim também só não queria estar envolvida. Não gosto de hospitais, não gosto deste ambiente, me traz calafrios; não sei dizer por que, mas a grande sensação de desconforto em mim não vai embora.
Nós acabamos passando mais de 1h na recepção, esperando alguma notícia sobre o caso. Até que alguns policiais passam pelo corredor, conversando com uma enfermeira. Os três de nós nos levantamos dos bancos para saber se podemos ter alguma notícia.
– Com licença, enfermeira! – Helena se dirige a ela. – Há alguma notícia sobre Caio Green ou Hansel Johnson?
– Oh, vocês devem ser os amigos que Caio mencionou que viriam! – diz ela a nós, após dispensar o policial. – Caio está bem, estará liberado para ir para casa em alguns minutos.
Por um momento, me sinto aliviado, acho que ele não terá nenhum problema por ter usado seus poderes em público, afinal, foi questão de emergência.
– E quanto ao Hansel? – pergunta Sarah.
– Bom... – A enfermeira hesita em responder. – Não tenho permissão para compartilhar qualquer informação sobre esse paciente com pessoas que não sejam da família.
Helena e Sarah suspiram, aborrecidas. consigo entender sua frustação. Mesmo que não me dê bem com ele, não o desejo qualquer mal. Também quero saber como está.
– Eu sou colega de quarto dele, será que isso não conta? – pergunto, me aproximando. As duas olham com surpresa para mim, não esperavam que eu dissesse isso.
– Eu sinto muito, apenas família de sangue... – responde a enfermeira. Nós três suspiramos em desânimo, enquanto a moça se afasta de nós, voltando aos seus afazeres.
– Não dava para usar seu poder nela, Hel? – pergunta Sarah a Helena.
– Você acha que eu não tentei?! Ela está com inibidores! – responde ela aborrecida. – Todos os enfermeiros daqui usam inibidores, não consigo ouvir um pensamento!
Bom, eu diria que faz sentido, telepatas não perigosos quando se trata de roubar informações confidenciais, todo cuidado é pouco contra eles.
Nós voltamos para os bancos, desanimados, e esperamos por Caio. Quando ele finalmente aparece do corredor de quartos de paciente, Sarah se levanta num pulo para abraçá-lo.
– Aí! – Caio reclama, sentindo dor. Ele está com um suporte para seu braço em volta de seu pescoço. – Devagar aí!
– Foi mal! Força do hábito... – diz Sarah, se afastando cuidadosamente dele.
– Agora que você está bem, nos diga, que droga que aconteceu na montanha?! – pergunta Helena irritada. – Como que eu te deixo inteiro na aula e horas depois você me aparece com pontos no braço?!
– Desculpa, mamãe... – diz Caio, achando graça da situação, mas Helena não parece estar no humor para brincadeiras. – Bom, é uma história um pouco longa, acho melhor contar a vocês quando chegarmos na S.E. Quero sair logo deste lugar.
– Certo... Também concordo, não aguento mais este cheiro de hospital... – diz Helena, se pegando sua bolsa do banco.
Nós todos deixamos o hospital e partimos de volta para a universidade. Mesmo que não seja da minha conta, não consigo para de pensar no Hansel. E não ter qualquer informação sobre seu caso está me deixando muito desconfortável. Não sei como reagiria se algo ruim acontecesse com ele. Bom, o máximo que posso fazer é acreditar nos médicos...
24/02/2022
Se sinto despertar aos poucos, mas com uma enorme dor de cabeça e um zumbido no ouvido.
– O dispositivo foi danificado... – Ouço uma voz distante dizer, não consigo reconhecê-la. Não consigo me levar a abrir os olhos, ainda estão pesados, muito pesados...
– E quanto ao Hansel? – Ouço outra voz, uma grave. Essa eu reconheço, reconheceria seu tom frio em qualquer lugar. É meu pai. Não me lembro do que aconteceu, meus pensamentos estão uma bagunça.
– Deve acordar logo... Teve sorte de estar chovendo, a água curou boa parte de seu ferimento – a outra voz responde. Água? Me forço a abrir os olhos, chamando a atenção de meu pai e de uma enfermeira perto dele. Os dois se aproximam. – Oh, olha só quem finalmente acordou!
– Pai? – Olho em volta, confuso. Estou num quarto de hospital, a visão da janela na parede mostra que é noite lá fora.
– Olá, meu filho – diz ele calmamente. Posso sentir preocupação em seu tom, mas sua expressão é serena. – Como está se sentindo?
– Confuso... – respondo, fechando meus olhos, a luz da sala está fazendo-os doer um pouco. – O que aconteceu comigo?
Ouço o som da porta do quarto se abrindo e fechando, bem como passos distantes; alguém saiu da sala.
– Você foi atacado em uma das trilhas da montanha – responde ele, ainda está aqui. Estou me lembrando aos poucos. Um pano foi colocado na minha cabeça, então a dor em meu ombro, algo afiado.
– Por quem...? – pergunto. Estou me sentindo em conflito, sei que não tenho amigos, mas não imaginava que alguém poderia querer me fazer mal daquele jeito.
– Bom... Eu não tenho certeza, mas a polícia acredita que esteja ligado a alguns casos de protestos de humanos comuns contra seres-éter – responde meu pai, me fazendo abrir os olhos. Eu o encaro confuso.
– Grupos de protesto?! – pergunto sem entender o que ele quer dizer.
– Você sabe que a Ilha Cristal é um dos poucos países no mundo a ter mais seres-éter do que humanos comuns, é um dos motivos da S.E. existir, em primeiro lugar. – Ele começa a explicar. – Os protestantes alegam que não há igualdade entre os dois tipos, pois para eles, seres-éter são privilegiados em diversas áreas trabalhistas da sociedade, por contribuírem com seus poderes. Então, eles querem por um fim na universidade. Querem que as individualidades sejam dons para serem usados no dia a dia, em vez de requerimentos para conseguir certos empregos.
– Mas o que isso tem a ver comigo especificamente? – pergunto, ainda sem conseguir fazer uma conexão.
– Como diretor da S.E., a polícia acredita que eu seja um alvo para os protestantes, mais especificamente os que fazem terrorismo – responde ele. – E como você é meu filho e futuro diretor, é um alvo ainda maior.
Encosto minha cabeça no travesseiro da maca no qual estou deitado, olhando para o teto. Parte de mim teme pelo que pode acontecer, graças a essa nova descoberta, mas outra parte está brava, furiosa. Porque este é só mais um peso posto sobre mim de uma responsabilidade que nunca tive a chance de recusar. Estou bravo por ter que lidar com pessoas que acreditam que violência seja a única forma de solucionar um problema. Estou bravo por estar no meio de uma bagunça que não deveria ser minha. O que vou fazer agora?
Mexo um pouco meus ombros e percebo que o meu esquerdo não está doendo. Abaixo um pouco a gola da minha camisa de hospital para olhar, mas não há qualquer ferimento, apenas uma singela cicatriz.
– Os médicos usaram água para curar meu corte? – pergunto a meu pai. Ele não me responde por alguns segundos, me fazendo questioná-lo com o olhar. Ele não está preocupado, mas vejo hesitação. – O quê...?
– Os médicos não usaram água para curar seu corte, você usou.
26/02/2022
Faz dois dias desde o que aconteceu na montanha. Voltei para casa assim que saí do hospital, meu pai me deu a ordem de só voltar à S.E. na próxima segunda-feira. Fiquei sabendo melhor do que aconteceu, Caio voltou para perguntar algo de mim e acabou vendo toda a ação do sequestro. Ele usou seus poderes para me salvar, mas acabou levando um tiro de raspão no braço direito. Ainda nem tive a chance de agradecê-lo pelo que fez, não pude voltar à universidade ainda.
Uma vez que a polícia me determinou como alvo principal dos protestantes contra os seres-éter, não tenho permissão para andar pela cidade sozinho, sou obrigado a estar com dois guarda-costas no mínimo. Mas é claro que não iria me deixar passar por tanto constrangimento, andar com guarda-costas ao meu lado só me traria ainda mais atenção. Coloquei um casaco com capuz e óculos escuros e resolvi sair de casa, precisava sair.
Só de passaram dois dias, mas não foram os dias mais fáceis. "Os médicos não usaram água para curar seu corte, você usou", a fala de meu pai ressoa em minha mente, me fazendo lembrar sobre sua revelação. De acordo com ele, eu sou um ser da água. É a única explicação para que minha ferida tivesse sido curada pela água da chuva; é uma reação comum dos seres da água terem feridas curadas automaticamente quando entram em contato com o líquido. E foi exatamente o que aconteceu comigo.
Mas eu precisava ver por conta própria, precisava ter certeza, por isso vim aonde estou agora: o ferro-velho. Fica numa região um pouco mais afastada da movimentação da cidade, costumava fugir para cá quando tinha quinze anos. É o lugar perfeito para treinar individualidades, coisa boa é que ninguém vem por aqui.
Me aproximo de um pequeno córrego que fica próximo à floresta que certa metade do ferro-velho e o observo atentamente, vendo o movimento contínuo da água. É atraente, como se me chamasse a usá-la. Afasto meus pés uns dos outros e estico a minha mão direita em direção ao córrego. Agora é a hora...
Sinto a energia movendo em meu corpo e se alojar em minha mão, enquanto uma bolha de água graciosamente flutua do córrego em minha direção. Meu coração acelera, se enchendo de espanto, me fazendo dar dois passos para trás e deixar a bolha de água cair no chão. É verdade! No final, eu sou mesmo um ser da água! Meu poder esteve sempre aqui! Mas, por que despertou só agora?
Estendo minha mão ao córrego mais uma vez, puxando uma outra bolha de água. Desta vez, sem medo, mas animado; é como se tivesse acabado de ganhar um brinquedo novo, me sinto como se tivesse cinco anos. A bolha fica parada sobre minha mão, flutuando elegantemente, prendendo minha visão em si. Faço alguns movimentos, transformando a bolha em um pequeno tentáculo, movendo ao meu redor, como se fosse a coisa mais divertida que já fiz. E honestamente, é, sim, a coisa mais divertida que já fiz. Não sei o que me impedia de manipular água antes, mas agora que consigo, é extremamente fácil, quase natural. Mas está na hora de tentar algo mais interessante...
Puxo a bolha de água para minha mão e a atiro com força contra uma garrafa de vidro que vejo em cima do capô de um carro velho. Assim que a água atinge a garrafa, o vidro explode e voa para várias direções. Eu já vi algumas pessoas fazendo coisas do tipo na internet, me pergunto quão longe posso ir.
Puxo mais três bolhas de água do córrego e as faço circular ao meu redor. Posso senti-las se movendo, as três, mesmo que não esteja as vendo. Atiro as três de uma única vez em uma cômoda velha, fazendo-a cair no chão por causa do impacto; dependendo da velocidade, água consegue ser bem forte.
Decido ir mais além desta vez. Puxo para mim um tentáculo inteiro de água do córrego, tornando-o em um anel, que circula ao meu redor. Enquanto o anel se move, atiro dele pequenas bolhas de água em vários objetos do ferro-velho, testando quão boa é a minha mira. Por mais incrível que seja para mim, não erro nenhuma vez. Movimentos como este são complicados para iniciantes, mas por algum motivo, consigo executá-lo sem muito esforço, só preciso manter o controle da quantidade de água que tenho junto a mim.
A última rajada de água que lanço parte em dois um pedaço fino de metal que estava encravado no chão. Me aproximo dele curioso, observando o corte. Toco meu dedo no local exato que a água bateu e percebo que está frio, como se tivesse congelado. Me afasto, incrédulo do que acabei de fazer. Não sei descrever como me sinto agora, é como se uma gigantesca variedade de possibilidades tivesse se aberto. Este poder que sinto dentro de mim, a quintessência correndo em meu corpo, é inexplicável.
Olho para o céu, percebendo que uma grande nuvem passa sobre o ferro-velho, trazendo sombra. Ela me dá ideias à cabeça, ideias que não consigo controlar. Pela primeira vez em minha vida, não consigo controlar meus pensamentos, estão correndo soltos. Deixo escapar um sorriso de prazer, estendendo minhas mãos ao céu. A nuvem descende do alto em minha direção como se fosse um tornado, me deixando maravilhado com a cena. Eu queria torná-la em chuva, mas isso é muito mais bonito. Assim que a nuvem me atinge, meu arredor se torna uma linda névoa branca, fria e aconchegante. O vento produzido pelo movimento da nuvem sopra contra meu corpo, me fazendo arrepiar. Fecho meus olhos, em êxtase. Por um momento, é como se tivesse descoberto quem sou...
Faço um forte movimento com os braços, espalhando a nuvem por todo o ferro-velho, fazendo-a se dissipar. Tudo é encoberto por gelo, vindo da água da nuvem. É a linda visão de uma arte que acabei de fazer sem intenção. Estou genuinamente feliz. Me sinto invencível, como se nada mais pudesse cruzar meu caminho.
Decido, então, sair do ferro-velho e ir dar uma visita à S.E., tenho algo para resolver lá. A caminhada é de alguns minutos, ela não fica muito longe do ferro-velho. Alguns alunos se surpreendem ao me ver andando pelas ruas do campus da universidade, por não terem me visto durante o restante da semana inteira. Não posso culpá-los pela surpresa, mas não dou a mínima, não há nada que eles possam dizer ou fazer que vá me tirar do bom-humor que estou sentindo.
Enquanto me aproximo dos blocos de dormitórios, vejo Caio indo em direção ao bloco D; era justamente ele quem queria encontrar.
– Caio! – Eu o chamo. Ele se surpreende ao ouvir minha voz, mas assim que me vê, vem apressado em minha direção.
– Hansel?! – pergunta ele, sem parecer acreditar que sou eu. – Você está... bem?!
Balanço minha cabeça, confirmando.
– Suponho que devo isso a você, não é? – digo com um leve sorriso no rosto. – Queria ter agradecido antes, mas não tive a chance. Então, obrigado.
– Não... Não me agradeça! – diz ele, balançando as mãos. – Eu fiz o que devia fazer, não poderia deixar qualquer pessoa numa situação daquelas.
– Talvez... – digo, virando um pouco a cabeça para o lado. – Mas quero agradecer mesmo assim. Se não estivesse lá, quem sabe onde eu estaria agora...
– Bom, vamos deixar tudo para trás – diz ele. – Aproveitando que você está aqui, não quer se juntar com a galera no salão do bloco D? Nós vamos jogar alguns jogos de cartas. Sarah, Helena e Enji vão estar lá!
– Hm, não sei se Enji iria aproveitar muito minha companhia... – Passo minha mão sobre meu cabelo, relembrando minha relação com ele.
– Bobagem! Se ele disser alguma coisa, eu o jogo pela janela, que tal? – diz. Acabo deixando escapar uma risada, imaginando Enji voando para fora. Me sinto um pouco confortável com esse grupo, talvez um pouco de interação não seja ruim.
– Tudo bem, eu me junto a vocês.
– Ótimo!
Nós dois seguimos para o bloco D. Não sei o que esperar disso, ou como irão reagir ao me ver de volta depois de dois dias. Não vou mentir, estou um pouco nervoso, mas tudo o que aconteceu hoje no ferro-velho só me faz querer arriscar mais, sair da zona de conforto. E um passo para isso é me abrir a outras pessoas. Seja o que o destino quiser...
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