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6

-Isa, você não pode criar uma carroça para nós?

-Você vai se transformar em cavalo e nos puxar?

-O Arod puxa.

-Não temos estrada, seria mais lento do que andar.

Marina fez um beicinho.

-Vira um bicho pequeno e fica no ombro de alguém.

-Não gosto muito.

-Você é uma metamorfa, se transformar em animais faz parte de você.

-Ser baixinha também faz parte de você e você não gosta.

Ela tinha um ponto.

-Não gosto de me transformar em bichos pequenos, sinto que vou ser esmagada.

Isso tinha cara de trauma, mas não ia perguntar.

-Então cala a boca e anda.

-Não estava falando com você, enfeite de jardim.

-Arod, você pode carregar a Marina?

-Por que eu deveria? Ela não é pequena como você, vai ser desconfortável.

-Por que hoje todos resolveram falar sobre altura? Se é assim não tem jeito, você vai precisar andar.

Ela me encarou com olhinhos pidões. Eu sabia o que ela queria, mas não estava com muita paciência no momento.

Enquanto andávamos, Marina continuou me observando. Por fim desisti.

-Não ou te segurar nem tomar conta de você, arrume outra pessoa.

Marina deu um pulinho e se virou para os outros. Era impressionante como ela podia mudar de expressões com tanta facilidade.

A primeira vista parecia uma jovem séria, seus cabelos prateados presos em um coque e sua postura elegante a tornariam confiável. Foi surpreendente quando descobri que por trás da faixada austera existia uma garota rabugenta e fuxiqueira.

-Eu faço.

-Não entendo como a Wanin consegue ser tão gentil, deve ser parte do seu instinto de curandeira.

-Você vai fazer um feitiço complexo só para ela não precisar andar, acho que a gentil é você.

-Vai levar dois segundos, Armando. A Wanin que vai vigiar para que ela não bata em uma árvore.

Caminhei até a ruiva, que já amarrava uma corda no pulso, a ligando a Marina.

-Óh princesa eterna toda poderosa, nos abençoe através de sua força infinita.

-Você é detestável.

-Não seja assim, Rosinha. Foi um elogio, você é muito impressionante. É verdade que alguns elfos oram para vocês?

-Só os idiotas, existem apenas duas deusas. Só porque não morremos não significa que somos semideuses.

-Mas todos acham que são os preferidos _ falou Marina.

-Acham?

Todos estavam me olhando, as vezes sentia que me consideravam uma erudita.

-Claro que sim, vocês são difíceis de matar, não morrem de causas naturais, não adoecem. Alguns dizem que vocês nem precisam comer.

-Não precisamos.

Dessa vez vi os olhos de todos se arregalarem, inclusive os de Desislav.

-O quê?

Lancei uma magia de flutuação na garota preguiçosa e a observei subir. Marina se sentou no ar dois metros acima do chão, assim se tornaria mais fácil de controlar.

-Não é confortável, mas não morremos de fome. Quando somos crianças passamos alguns anos sem comer, para aprender a lidar com nossos instintos. Como meu pai fazia parte do exército do rei, ele foi mais rígido com isso, eu e meus irmãos ficamos uma década passando fome.

Eles pareciam horrorizados. Provavelmente parece terrível para aqueles que são obrigados a comer para se manterem vivos.

-Então como vocês morrem?

-Que pergunta rude, Cirdan. Está planejando me matar?

-Tenho certeza que não conseguiria.

-Verdade. Depende, cada eterno morre de maneiras diferentes. Não existe uma regra. Alguns morrem sufocados, outros não precisam de ar. Fogo também não é garantido. A forma mais certa é a decapitado, mas até isso pode falhar. Há casos de eternos que existem desde o começo do mundo e a única maneira de serem mortos é se uma das deusas apagar sua existência. Mas eles são raros e pouco ativos.

-Você conhece algum?

-Não, e só sei da existência de três.

Voltamos a caminhar, com Marina amarrada ao braço de Wanin como um balão. A cena era completamente ridícula, então decidi ignorar.

-Quantos dias mais para chegar a próxima cidade?_ perguntou Wanin a Marina.

-Da última vez que eu farejei seriam mais ou menos dois dias de caminhada.

-Não vejo a hora de dormir em uma cama.

-Você pensa pequeno, ruiva. Não vejo a hora de tomar uma cerveja.

-Deve estar extremamente caro.

-Calma wanin, eu banco para todos nós.

-Quem você vai roubar agora, Cirdan? _ perguntei ao ladrão.

-O primeiro que eu conseguir.

Bufei, detestava a ideia dos roubos de Cirdan, mas precisava confessar que eles muitas vezes sustentaram o grupo, por isso não me metia.

Continuamos a conversa sobre o que cada um queria na cidade, até ouvir um grito desesperado. Marina tinha sido carregada por um enorme pássaro e arrastava Wanin com ela.

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