10
Abri a porta e Arod veio atrás de mim, mesmo com apenas duas pessoas no quarto o espaço diminuía muito quando se tratava de Teco. Sentei na cama e indiquei que ele me acompanhasse, já que era o único local disponível.
-Então, sobre o que você quer conversar?
-Nada específico. Eu só sinto que em cinco anos andando juntos, nós dois conversamos pouco.
-Acho que é a mesma coisa que com os outros.
-Você fala bem mais com o Cirdan.
-Ele é a pessoa que qualquer um de nós fala mais. Você pode puxar assunto a qualquer momento.
-Bem, estou fazendo isso agora.
Arod coçou a parte de trás da cabeça enquanto olhava para o lado.
-Eu acho que só queria saber mais de você.
-Não falo tanto assim de mim.
-Por isso mesmo.
-Mas você é assim também. Então por que não começa?
-O que quer saber de mim?
Dei de ombros. Na verdade eu não queria saber nada, me sentia desconfortável com informações retiradas assim.
-Acho que eu deveria ter bebido mais antes de vir para cá.
Olhei para o homem enorme que bagunçava o próprio cabelo, para mim ele já parecia bêbado.
-Sabe que eu e o Armando temos oito anos de diferença né?
-Sim.
-Para mim foi muito difícil sair da tribo. Tinha meus amigos, minha família. Não consegui entender muito bem a morte do meu pai, para mim ele era o guerreiro mais forte do mundo. Na época não entendi, mas minha mãe sofria muito preconceito por não ser de Akadia.
Balancei a cabeça concordando. Em Cristália, apesar de não haver segregação ativa, os mortais, principalmente aqueles que vivem menos que anões, são ignorados.
-Quando fui para a vila da minha mãe, aos sete anos, fui menos aceito que na tribo, pelo menos a princípio. Crianças podem ser cruéis e eu era muito diferente da outras. Alto, desengonçado, sempre pareci mais velho. Então minha mãe engravidou do ferreiro e precisou se casar às pressas.
Quando fiz as contas percebi que a diferença entre o luto e a gravidez era de apenas alguns meses.
-Depois ela me contou que não tinha um caso com ele. Um dia ela se embebedou no bar da cidade, porque a pessoa que ela amava tinha morrido em uma guerra que ela tinha pedido para ele não participar, porque ainda estava ferido da anterior. Como estava machucado, meu pai não precisava ter ido, foi porque achou que precisava recuperar a honra do ferimento anterior. Ela estava com raiva, triste, sozinha e tudo isso. Meu padrasto já tinha se apaixonado por ela e quando também estava bêbado tomou coragem, e em um erro de uma noite Arod foi feito. Por incrível que pareça o casamento deles é um sucesso. Rhianon fez questão de tratar a minha mãe como uma rainha para que ela se apaixonasse por ele.
-Pelo menos eles estão felizes. Você tem raiva da sua mãe por isso?
-Não, todos cometemos erros, ainda mais bêbados. Meu pai foi teimoso, apesar de entenderem a posição dele, nem a tribo o obrigou a participar da guerra. Minha mãe que nem é uma akadiana não conseguiria entender. Além disso, meu irmão só nasceu pelo "erro" dela. Gosto do meu padrasto e não fico chateado com nenhum dos meus pais, sou bem resolvido com isso.
Conseguia entender o pai dele, os eternos se tornaram um povo bélico desde o governo do penúltimo rei. Hoje em dia existe um ditado comum em Cristália, o problema dos eternos são os próprios eternos.
-Apesar de tudo, minha mãe achava que precisávamos ter contato com nossas origens, então passávamos três meses do ano na cidade natal dos nossos pais, com os parentes paternos. Mas as vezes penso que essa era apenas uma desculpa para tirar férias dos pirralhos por um tempo.
Aquilo me fez rir, realmente a maternidade é uma tarefa difícil.
-Mas apesar dos possíveis motivos ocultos, isso foi muito bom para nós dois. Eu aprendi a lutar, já que não tinha nenhum professor em nossa aldeia minúscula e Arod pôde aprender toda a cultura da sua raça e melhores técnicas para forja. Meu padrasto era medíocre em comparação aos outros anões, por isso foi para uma vila humana.
-Uma solução bem inteligente.
Arod deu um sorriso sarcástico.
-Ele podia ter se aprimorado, tinha só 50 anos quando conheceu minha mãe. Tinha mais 450 até o fim dos seus dias. Acho que escolheu o caminho mais cômodo.
-Mas qual o problema com isso? Encontrou o amor da vida dele, criou uma família, é feliz, ajuda uma vila minúscula a se desenvolver, já que qualquer coisa feita por anões é bem cobiçada. Não vejo nenhum problema nisso.
-Nunca tinha parado para pensar assim. Viver mais realmente traz mais experiência.
-Eu não sou velha.
-Não quis dizer isso, você sabe que é uma linda jovem adulta. Em comparação de raças é mais nova do que eu.
Arod colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Isso me deixou ligeiramente desconfortável. Quem sempre tinha contato físico era Cirdan, era uma parte natural dele. Arod não era assim.
Ele se aproximou de mim e passou o dedo entre meus fios, com calma, devagar. Então levantou uma parte até seu rosto e cheirou.
-Eu gosto muito do seu cheiro.
Ele enrolou a mecha que segurava em seu dedo, sua pele apenas um pouco mais clara que a minha em contraste com o rosa do meu cabelo. Porém a penumbra do quarto diminuía a diferença.
Arod colocou seu braço ao meu redor e me puxou para perto. Então, a mão que segurava meu cabelo deslizou por meu rosto. Senti os calos do uso diário da espada arranhando minha pele.
-Você é tão linda. Te achei linda desde a primeira vez que te vi. Sua voz é encantadora. Você parece meu doce preferido.
Dei uma risadinha e acabei ficando vermelha.
-Tão, tão linda.
Sua boca chegou perto da minha, lentamente, me dando espaço para recusar. Só que eu não queria, fazia tanto tempo, eu não sabia onde ninguém estava, além disso era só uma noite.
Deixei que nossas bocas se encostassem e retribuí o beijo. Enrolei meus braços em seu pescoço e ele se abaixou para que fosse mais fácil para mim.
Arod me deitou no colchão e ficou por cima de mim. Continuamos nos beijando, em alguns momentos com mais intensidade que outros, mas perdi a noção do tempo.
Quando ele tentou subir as mãos por baixo da minha blusa preta curta, percebi que estava com as pernas enroladas em sua cintura. Então me desembaracei de seu corpo e o empurrei.
O homem gruniu e tentou me convencer deslizando os beijos pelo meu pescoço, quase funcionou, mas era muito para mim no momento. Por fora não parecia, mas tinha muito mais força que ele. Então o tirei com facilidade de cima de mim.
-Acho que está na minha hora de dormir. Você se importa de voltar para seu quarto?
Arod parecia sentir uma mistura de felicidade e desapontamento, além do desejo óbvio. Pelo volume em suas calças parecia que ele era proporcional a sua altura. Talvez um dia.
-Boa noite, Isa. Até amanhã.
Levantei para deixá-lo na porta e antes de fechá-la ele me deu um último beijo. Entretanto, quando estava empurrando a madeira, vi Cirdan parado com os olhos arregalados no corredor.
-Boa noite, Cirdan. Até amanhã vocês dois.
Ele voltou cedo, será que eu e Arod ficamos juntos tempo demais? Espero que ele seja maduro o suficiente para levar a situação como Desi e Wanin, se isso voltasse a se repetir.
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