Cap.1
- Manu, por favor! Nós só vamos comemorar e pronto. - Sarah diz.
- Sarah, você sabe que eu não gosto de sair pra esses lugares. - ela revira os olhos.
- Só vamos à uma boate, o que tem de mais? - ela cruza os braços.
- Música alta, bebida, gente se encostando um no outro... eu não gosto disso.
- É só essa noite! Não é todo dia que meu chefe resolve me promover. Não sou como você que sabe falar cinco línguas e vive de bunda pra cima esperando seu chefe te mandar algum livro para você traduzir. E outra: o que de errado pode acontecer?
- Você ficar bêbada e eu ter que te carregar até em casa. E eu não vivo de bunda pra cima esperando meu chefe me mandar algum livro pra traduzir. Meu trabalho é importante e é graças a ele que você lê livros. - cruzo os braços.
- Eu não leio. E eu prometo que não vai precisar me levar para casa.
- Eu não sei, Sarah.
- Por favor, Manu! A gente nunca sai pra essas coisas. Eu queria ser feliz por pelo menos uma noite!
- Tá, vamos. - ela sorri - Mas que fique claro que eu não vou dançar ou conversar com mais ninguém naquele lugar.
- Sim, tudo bem. - ela olha para o relógio no pulso - Meu horário de almoço acabou, preciso ir agora. - Sarah me abraça - Obrigada, Manu. Você não vai se arrepender dessa noite.
- Espero. - ela vai embora.
Saio do restaurante onde estávamos e começo a andar. Passo em frente à um tumulto do outro lado da rua. Algumas meninas com cartazes e gritando em frente à um hotel. Elas parecem bem eufóricas e animadas. Continuo andando e ignoro o tumulto. Alguns minutos depois, chego em casa. Abro meu guarda-roupa e começo a procurar um roupa adequada para a noite. Pego um vestido preto colado até a cima do joelho. Pego um salto também preto e separo tudo em um canto. Fico a tarde toda assistindo filme até Sarah me ligar.
- Já está se arrumando?
- Não.
- O que está esperando para começar então?
- Sarah...
- Nem vem com gracinha pra cima de mim.
- Eu vou me arrumar.
- Ótimo! Nos vemos no portão da sua casa. - ela desliga.
Tomo banho e visto a roupa que havia separado. Passo uma maquiagem escura e deixo o cabelo preso. Desço até o portão da minha casa e vejo Sarah encostada no em seu carro.
- Até que enfim.
- Não enche, Sarah. Estou indo para aquela boate contra a minha vontade.
- Manu, eu pretendo comemorar a minha promoção, e como minha amiga você deveria ir comigo.
- Sou sua amiga, não uma empregada pra obedecer suas ordens. - cruzo os braços.
- Se não quiser ir, então não vá. - ela me encara - Vai me deixar sozinha naquele lugar, sem ninguém pra conversar, abandonada por alguém que não quis comemorar comigo...
- Que drama, Sarah! - ela faz bico - Tudo bem, sua dramática. Eu vou com você. - sorri.
- Vamos então. - entramos no carro.
Ela liga o rádio e começa a tocar várias músicas. Sarah cantava todas enquanto se remechia no banco do carro.
- Ouvi dizer que a boate vai estar lotada hoje. - diz sem tirar os olhos da estrada.
- E por que estamos indo?
- Vamos conseguir entrar fácil.
- O que quer dizer com isso?
- Tenho meus contatos, Manu. - ela pisca.
Chegamos na boate e realmente estava lotada. Havia uma fila enorme até a entrada.
- E aí, como vamos entrar? - pergunto.
- Espera. - Sarah vai até o segurança da boate e diz algo em seu ouvido. Ele sorri e ela vem em minha direção - Vamos entrar?
- Como você conseguiu?
- O dono dessa boate é filho do meu chefe. Nos conhecemos e viramos amigos. É o que posso te dizer. Agora, vamos! - ela pega meu pulso e entramos.
Várias pessoas bebiam e dançaram conforme a música. Havia uma leve neblina misturada às luzes coloridas. Sarah continuou me puxando até o bar.
- Vamos fazer o seguinte: se você beber uma eu pago.
- Eu não quero, Sarah. Alguém tem que ficar sóbria aqui.
- Eu não vou beber muito. - ela pede uma bebida ao barman - Vou beber o suficiente para podermos ir em segurança pra casa.
- Eu não vou beber. - cruzo os braços.
- Beba uma. - ela pede outra bebida - Toma, bebe. - me estende o copo de vodka.
- É sério isso? - ela assente - Vou beber só uma. - pego o copo de sua mão e começo a beber.
- Ótimo. - nos sentamos nas cadeiras do bar - Oh, Maycon está ali! - Ela aponta para um homem moreno longe de nós.
- Quem? - pergunto.
- Maycon, o filho do meu chefe. Tenho que ir falar com ele. - ela se levanta e vai até o homem.
No fundo eu já sabia que isso iria acontecer. Sarah vai encontrar alguns amigos aqui e vai me deixar sozinha. Começo a olhar para algumas pessoas na pista de dança. Muitos já estão bêbados e outros já não aguentam mais ficar em pé. Há também pessoas como eu, que só vieram para tomar conta de alguém. Um homem de roupas pretas se senta ao meu lado e começa a fazer gestos para o barman, mas o mesmo não entende nada.
- Com licença... - chamo o homem gótico ao meu lado - Algum problema? - ele me encara.
O homem é muito branco, e asiático. O barman me encara.
- Ele está há horas aqui. Começa a apontar para algumas bebidas e eu apenas dou. Ele está pagando mesmo. - ele dá de ombros.
Se eu tiver a sorte desse homem ser coreano, posso tentar falar com ele. Tive que aprender a falar quatro línguas para trabalhar. Hoje em dia eu trabalho em uma tradutora de livros. Os livros vêm de todas as partes do mundo e são mandadas aos tradutores. Eu sei falar francês, inglês, coreano e espanhol, e português é claro.
- Você me entende? - pergunto em coreano.
- Você sabe falar coreano? - ele pergunta com a voz um pouco embargada.
- Sei sim. Precisa de alguma ajuda?
- Eu quero beber. - o homem deita a cabeça na bancada.
- O que quer beber?
- Qualquer coisa. - peço vodka ao barman e o mesmo dá sem hesitar.
- Toma. - ele levanta a cabeça, pega o copo e toma tudo de uma vez - Ei! Calma.
- Quero mais. - coloca o copo na bancada e fica o encarando.
- Você quer entrar em coma alcoólico? - ele dá de ombros.
- Tanto faz.
- Você tá bem? - me encara.
- Por que quer saber? - ele arqueia uma sobrancelha.
- Pra você estar bebendo assim...
- Não tem motivo algum. Eu só quero beber, não posso?
- Claro que pode. A vida é sua mesmo. - dou de ombros.
Que idiota. Termino de beber todo líquido do copo e peço outro. O homem só observa enquanto continuo bebendo.
- Depois fala de mim.
- O que você está falando?
- Você está bebendo muito também.
- Você se importa?
- Nem um pouco. - ele nega.
- Então pare de cuidar da minha vida e vá cuidar da sua. - peço outro copo.
- Diz a pessoa que queria saber porque eu estava bebendo.
- Seu idiota! Vá atormentar outra pessoa.
- Você já está ficando bêbada. - ele gargalha.
- Diz a pessoa que já está bêbado.
- Não estou bêbado. Não muito. - faz sinal para o barman trazer mais um copo de bebida.
- Qual seu nome? - ele me encara.
- Por que quer saber? - gargalho.
- Curiosidade. Mas se não quiser dizer...
- Não quero. - dou de ombros.
Ficamos em silêncio. Minha cabeça estava girando um pouco. Procurei Sarah com os olhos e não consegui acha-la. Havia tanta gente na boate que eu parecia estar vendo duplicado, ou era simplesmente o efeito do álcool. Minha visão vai ficando turva e depois... bom, depois eu já não me lembro de mais nada.
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