
Capítulo 3
Observei Harry. Ele ficou em silêncio o tempo todo, sobrancelhas franzidas e mordendo os lábios. Percebi que eu estava assim também, e suando de nervosismo. Já não basta ser sequestrada por um psicopata maníaco, tenho que estar ao lado de Harry! O que eu faço?
— O que vamos fazer agora? — Pergunta a garota ruiva, acho que o nome dela é Irma e ela é da Irlanda.
— Não sei, acho que devemos tentar dormir, ou descansar... porque ele disse que amanhã de manhã vamos ser treinados, então... — Kyle responde.
Todos concordam com a cabeça e se levantam para ir, mas não consigo sair do meu lugar, parece que estou congelada e minha cabeça dói.
Ajeito uma mecha do meu cabelo loiro atrás da orelha, tentando organizar as ideias e lembrar que fui raptada e que provavelmente serei morta, mas... não consigo. Não seja esquisita, não seja esquisita, repito para mim mesma enquanto movo meus pés e paro na frente dele. Está usando uma camisa cinza básica, e quero ir até ele e sentar no seu colo. Há milhares de possíveis frases passando pela minha cabeça. Harry vai sorrir e me puxar para um abraço e me beijar. Meu primeiro beijo real com ele.
— Oi — é tudo que consigo falar na verdade, olhando fixamente para ele.
Parece que cada nervo do meu corpo está gritando, e tenho vontade de fugir e correr para muito longe agora.
Harry não se apressa em levantar a cabeça e olhar para mim.
— Oi — ele responde, enfim me olhando diretamente e pousando as mãos no colo.
Tem alguma coisa por trás do seu olhar que não consigo decifrar e que nunca vi antes. Tem uma formalidade nele. Mas ele é tão familiar que é quase assustador. Esse não é um rosto que copiei da internet e colei na minha mente. Esse é o homem que conheço e amo. O meu cara. Ele é meu e eu sou...
— Você precisa de alguma coisa? — Harry inclina a cabeça para o lado.
Engulo em seco.
— Você... você se lembra de mim? — Enfim pergunto.
E, enquanto procuro em seu rosto algum sinal de reconhecimento, algo como o que eu pensei ter visto no seu olhar quando apareci do corredor aqui na sala, a sensação é de que meu coração afundou até o estômago, e as laterais do estômago estão se dobrando em torno dele.
É neste momento que Cornélia, a garota morena de cabelo liso comprido e preto, se inclina sobre Harry e o beija no rosto.
— Olá Harry, sou Cornélia — ela olha para mim. — E quem é você?
Quem é você?
Quero gritar. Sinto as lágrimas se formando em meus olhos novamente, e estou fazendo todo o possível para mantê-las ali. Olho para Harry e, por um momento, seu olhar exibe um pequeno sinal de compaixão, que é substituído rapidamente pela mesma expressão calma.
— É Grace, não é? — Ele pergunta.
A garota-irritante ainda está pairando sobre ele, seu belo rosto próximo ao dele.
É Grace, não é?
— É — consigo falar.
— Vocês se conhecem? — Cornélia pergunta.
Nem Harry nem eu falamos. Não aguento olhar para ela tão próxima dele assim e ver que ele não fez nada para afastá-la, então encaro o chão, esperando pela resposta dele. E, quando ela vem, só fecho os meus olhos por completo.
— Nós não nos conhecemos — ele diz calmamente.
Meu cérebro sabe que é completamente idiota me sentir rejeitada por alguém que não tenho certeza se conheço, mas meu coração não parece ter captado a mensagem ainda.
Saio do meu torpor e balanço a cabeça, entendendo. Viro-me para o corredor, tentando voltar para aquele quarto que estava antes, que deve ser o meu de agora em diante. Ele me segue pelo corredor. Quando chego à porta do quarto que provavelmente é o meu, Harry para em frente da porta do outro lado, me olha mais uma vez, e, com um aceno, entra no seu quarto, que agora sei que é em frente ao meu.
Paro com as costas na porta fechada do meu quarto, escorregando até sentar no chão. Ofegante. Tremendo de medo e ansiedade.
Deparei-me com a personificação dos meus sonhos!
Lembrei-me de tudo o que um dia pedi em oração para Deus, cada detalhe, cada característica... me assustei. Por anos imaginei como seria esse momento, essa pessoa, e, ele apareceu... do nada, mudando tudo. A empolgação tomou conta, mas lá no fundo uma tristeza, um sentimento de que não poderia acontecer comigo. Como se eu não merecesse; ele poderia ser o que imaginei, mas não poderia ser para mim e sim para outra. Vi diante de mim tudo o que eu sempre sonhei e pedi em oração e agora não me sinto merecedora de receber o meu próprio sonho? Por que me sinto assim? Diminuo-me e anulo tudo o que eu tenho de bom; por que eu não me sinto boa o suficiente para o que eu mesma sonhei?
Paralisei. Chorei.
Ajoelhei, chorei muito, e aos poucos as coisas foram se encaixando dentro de mim. Me acalmei. Entendi. Renunciei todos aqueles pensamentos de fracasso. Fraca, insegura, amedrontada... essa não sou eu!
Há uma batalha interna dentro de mim. Não sei onde estou e porque estou sendo mantida aqui. Fiquei mais preocupada e ansiosa com o homem dos meus sonhos do que com aquele psicopata. Meu coração parece estar dominando meu corpo, e minha mente está perdendo essa batalha.
Resolvo conhecer melhor meu quarto, para tentar pensar em outra coisa que não seja a situação em que estou agora. Vejo roupas do meu tamanho, são uniformes pretos, e tudo o que irei precisar para ficar muito tempo por aqui. Mas não consigo me concentrar, meu coração parece que vai sair pela garganta. Tranco a porta e caio na cama, coloco minha cabeça no colchão, choro e tento silenciar meus soluços colocando a boca no travesseiro.
Por favor, me digam o que pensam da história até agora! E não esqueçam de votar!
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