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IDEAIS NO ATEÍSMO



A diferença mais óbvia entre a religião e o ateísmo é que uma acredita em alguma divindade e a outra não. Porém, apesar de não estar errada, essa é uma diferenciação muito rasa entre a religião e o ateísmo. Nesse capitulo mostraremos essas diferenças. Ao mesmo tempo mostraremos como o ateísmo tenta lidar com as questões que as religiões têm domínio em responder. Questões, como a moral, a vida, a morte, a existência, o universo, de onde viemos, para onde vamos, entre outras.

Geralmente as respostas das religiões sempre evolvem uma providencia e desejos divinos, espiritual, que transcenda a existência material. Os ateus também pensam muito a respeito desses questionamentos, pensar que tais questionamentos deve apenas pertencer à religião é, em minha opinião, um equivoco. Contudo no ateísmo não existe uma razão ou resposta divina para estes questionamentos, as respostas a esses questionamentos vem de outras fontes, como por exemplo, a ciência.

Vários filósofos, pensadores e cientistas ateus têm trabalhado nas respostas desses questionamentos. Até mesmos ateus, que não fazem parte de alguma área de estudo, tem buscado essas resposta. Mas diferente das religiões, onde cada uma fornece uma resposta absoluta para essas questões, o dogmatismo, não existe esse absolutismo dentro do ateísmo. Essa é uma das diferenças do ateísmo com as religiões. O ateísmo não tem uma filosofia única e está aberto a todas as filosofias, mas isso é algo bom e ruim ao mesmo tempo. É bom, pois não estagna o conhecimento, como muitas religiões acabam fazendo. Ruim, pois por não ter uma filosofia comum, facilita que certas ideologias, que podemos dizer destrutivas, sejam assimiladas e seguidas. Como veremos a seguir.

No ateísmo não existe uma doutrina, pois não existem crenças ou mitos, o que existe são estudos e pesquisas, que são mutáveis e também podem ser questionadas, com o avanço das próprias pesquisas e estudos. Não existem ritos ou cerimonias no ateísmo, pois um símbolo ou ação tem um valor muito relativo entre os ateus. Com relação a ética e a moral, esse é um tópico que discutirem mais a frente, o que posso dizer no momento é que existe uma ética no ateísmo, mas é individual. Também no ateísmo há falta de lideres carismáticos, o que tem em abundancia nas religiões. Existem, de fato, certos pensadores que podem ser admirados por um ateu ou grupo de ateus, mas os mesmos pensadores podem ser repudiados por outros ateus. Um exemplo é Richard Dawkins, que apesar de possuir certo carisma pelos ateus e um grupo de fãs, existem muitos ateus que são indiferentes a ele, ou o criticam e até mesmo o odeiam.

Levando em conta os critérios apresentados para ser uma religião, vendo que o ateísmo não possui nenhum desses critérios, podemos dizer que o ateísmo não é uma religião.

· A ética e a moral no ateísmo

Há um conceito, uma ideia, alimentada pelas religiões, que as pessoas fora da fé, ou de qualquer fé, são pessoas execráveis, devassas, vis, sem qualquer conceito de certo ou errado. Mas essa é uma visão dos ateus e do ateísmo, criada por Platão, que criticava e sugeria punições para os ateus. Minois (2014) explica que Platão via os ateus como pessoas imorais, grosseiras e vulgares, uma ameaça ao Estado ateniense. Essa visão de imoralidade no ateísmo por Platão acabou por ser difundida e expropriada pela fé cristã na Idade Média, aumentando ainda mais a associação de imoralidade com o ateísmo. Apesar da genialidade de Platão, isso é uma associação equivocada, os exemplos a baixo provam isso.

Certa vez, lembro-me de ter visto uma noticia referente a uma mulher evangélica ter entrado em um batizado católico, onde essa mulher quebrou varias imagens de santos na frente de todos. Apesar da noticia mostrar um óbvio desrespeito entre religiões, o que me chamou a atenção não foi a noticia em sim, mas os diversos comentários de ateus a respeito do tema.

Muitos ateus consideraram essa atitude desrespeitosa e desnecessária, um exemplo do fanatismo religioso. Outros até fizeram algumas piadas infames nos comentários. Uns acharam que a mulher deveria ter sido punida, mesmo tendo pedido desculpas no fim da reportagem. Alguns até incitaram para que a mulher continuasse a quebrar mais coisas, assim os católicos e os evangélicos se destruiriam e deixariam de existir. Um leque de opiniões diferentes de ateus para ateus.

Em contraste com essa notícia, vi recentemente em minhas redes sociais um relato de um ateu brasileiro, que ajudou um grupo de nigerianos, que não eram ateus. Segundo o relato, os nigerianos estavam cansados, sem comer e não receberam nenhuma ajuda desde que chegaram ao país, a empresa de voo também não estava disposta a ajudá-los. O ateu que publicou esse relato se dispôs a ajuda-los, os nigerianos comentaram que até mesmo entre os cristãos é raro esse tipo de atitude. Além de solucionar o problema com o voo, ele ainda os convidou a ficarem na casa dele até a data do voo. Garantindo abrigo e comida aos nigerianos, até a sua partida, além de fazer três novas amizades.

A maioria dos comentários mostravam apoio, parabenizando a atitude do ateu, até mesmo os religiosos parabenizavam o gesto. Não encontrei nenhum comentário maldoso ou vexatório sobre o ocorrido.

Um fato que é também importante comentar é o fato de que as prisões ao redor do mundo possuem mais religiosos como presos do que ateus. Não quero que, com esse fato, denegrir a imagem da religião. Apenas quero mostrar o fato de que uma pessoa ser religiosa não implica necessariamente em ser uma pessoa boa ou ética. O motivo, penso eu, seja devido a crença no perdão divino. Esse perdão divino se baseia na seguinte lógica: mesmo que tenha feito os piores pecados, os piores crimes, se pedir perdão e cumprir uma penitencia, será perdoado. Com essa ideia o individuo inicia seus crimes, podem até sentir alguma culpa, mas pensam que Deus entende seus motivos, e os perdoará se pedir perdão. Esse tipo de ideia retira a sensação de responsabilidade que o individuo tem sobre seus atos, jogando a responsabilidade para Deus ou o diabo. Um fenômeno parecido que foi encontrado nos experimentos de Staley Milgram (1933 – 1984).

O experimento de Milgram consistia no seguinte:

Os voluntários foram recrutados para um experimento de laboratório. Os participantes foram 40 homens, com idades entre 20 e 50 anos, cujos postos de trabalho variava entre não qualificados a profissionais. Eles foram pagos US$ 4,50. No início do experimento, eles foram apresentados para outro participante, que na verdade era um cúmplice do experimentador (Milgram). Eles sorteavam quais papéis exercerem (o de aluno ou o de professor), embora o cúmplice acabava sempre sendo o aluno. Havia também um "pesquisador" vestido com um jaleco cinza, interpretado por um ator. Duas salas do Laboratório de Interação na Universidade de Yale foram usados - um para o aluno (com uma cadeira elétrica) e outro para o professor e pesquisador com um gerador de choque elétrico. O "aprendiz" (o cúmplice) foi amarrado a uma cadeira com eletrodos. Depois que ele tivesse aprendido uma lista de pares de palavras que lhes foram dadas para aprender, o "professor" testá-lo-ia, falando o nome de uma palavra e pedindo para o aluno lembrar qual era seu par de uma lista de quatro possíveis escolhas.

O professor (o voluntário) é instruído a administrar um choque elétrico cada vez que o aluno erra, aumentando o nível de choque a cada vez. Havia 30 chaves no gerador de choque, que variava de 15 volts (ligeiro choque) a 450 (choque grave). O aluno errava a resposta propositalmente na maioria das vezes, e, em cada vez, o professor deu-lhe um choque elétrico. Quando o professor se recusava a administrar um choque, o experimentador (o ator) lhe repetia uma série de frases de estímulo para garantir que eles continuassem. Havia quatro frases, e se a primeira frase de estímulo não fosse seguida, o experimentador lia a segunda frase, e assim por diante.

Estímulo 1: Por favor, continue.

Estímulo 2: O experimento requer que você continue.

Estímulo 3: É absolutamente essencial que você continue.

Estímulo 4: Você não tem outra escolha a não ser continuar.

Caso o participante se negasse a fazê-lo depois da quarta frase, o experimento era interrompido. Caso contrário, o experimento só era interrompido ao chegar na voltagem mais alta. Ao final do experimento, Milgram era chamado na sala como um auxiliar do "pesquisador" para fazer algumas perguntas ao professor (participante), como o porque de ter continuado mesmo quando escutava os gritos de dor do outro ou quando o outro não emitia mais nenhum ruído ou respondia as questões.

O resultado do experimento mostrou que as pessoas, por mais éticas e morais que sejam, diante de uma figura de autoridade, podem cometer os atos mais brutais, principalmente se tal figura assumir a responsabilidade dos atos. Isso mostra que qualquer ato imoral pode ser cometido por qualquer pessoal, desde que uma figura de autoridade prometa garantir que a pessoa não terá responsabilidade disso.

Tendo entendido o conceito de tomada de responsabilidade, podemos entender porque não existem tantos presos ateus, com relação aos religiosos. O motivo é que não existe uma figura de autoridade que irá assumir a responsabilidade ou perdoar seus erros. Se um ateu comete crimes se deve ao fato de uma extrema perda de sentido e razão de viver em sociedade. Não vê sentido em seguir leis, não vê sentido em se preocupar com outro, não vê sentido em viver em sociedade. Um distanciamento social que leva o ateu a cometer crimes, mas é raro isso acontecer, para isso a pessoa teria que ter desenvolvido transtornos de personalidade esquizoides e antissociais.

Os relatos servem para mostrar que, a ideia que os religiosos nutrem, na qual apenas pessoas com "Deus no coração" são capazes de boas ações, é no mínimo equivocada. Vimos um exemplo de uma religiosa cometendo um ato execrável, que gerou comentários diversos entre ateus. Ao mesmo tempo, vimos uma ação altruísta, podemos dizer que é até nobre, de um ateu com estranhos em dificuldade.

É fato que existem pesquisas que apontam que os ateus são mais morais que muitos religiosos, mas isso não quer dizer que ateus sejam exclusivamente pessoas boas, existem ateus que cometeram atos horríveis, até crimes contra a humanidade. Um exemplo é Josef Stalin, que cometeram atos perversos que podem ser equiparados aos de Adolf Hitler, um cristão. Então podemos dizer que tanto pessoas religiosas e ateias são capazes de boas ações, assim de como más ações, como todo ser humano.

Por que o altruísmo nos ateus se eles não possuem religião? Segundo Maslow e sua pirâmide motivacional, o ultimo andar da pirâmide é quando o individuo busca a autotranscedência, isto é, as pessoas buscam uma forma de ajudar os outros a chegarem ao sucesso ou de se conectarem a algo maior. Nos religiosos observo geralmente o sentimento de querer estar conectado a algo maior, assim como o de quererem fazer as outras pessoas também se conectarem a esse algo maior. Nos ateus, percebi mais o sentimento de ajudar o próximo, fornecendo apoio ou lutando em causas sociais.

Richard Dawkins considera a moral e a ética como um subproduto da evolução. É mais vantajoso, evolutivamente falando, que os indivíduos de uma espécie se ajudem, como forma de preservação da espécie, do que atrapalharem uns aos outros. Porém, esse conceito apesar de parecer altruísta ele não é. Os indivíduos dos grupos ajudam o membro do grupo, esperando que futuramente os membros do grupo também o ajudem. Se não ajudam ocorrem as brigas entre os membros do grupo, até a expulsão do individuo, que se recusou a ajudar, pelos membros do grupo.

Na verdade não existe uma única explicação sobre a origem da moral e da ética humana. Existem várias pesquisas, cada uma delas apontam explicações diferentes. Mas todas elas apontam que a religião não é a base da ética e da moral. Como disse , um lama tibetano: Se alguém precisa de religião para ser bom, a pessoa não é boa, é um cão adestrado. Isso quer dizer que a pessoa que é boa, que faz o que é ético e moral apenas quando outro está vendo, ou para evitar uma punição, ou para ganhar uma recompensa, não é boa de fato, apenas que mostrar para os outros que é bom. Mas quem no mundo não é assim? Nesse sentido, podemos dizer que os ateus são muito mais morais que os religiosos, pois os ateus não esperam recompensas divinas ou temem punições divinas. Eles fazem o que é certo porque é o certo a ser feito, segundo é claro o ponto de vista deles.

Isso não quer dizer que ateus sejam impedidos de cometer crimes, como vimos anteriormente. A maioria dos crimes cometidos por religiosos são geralmente feitos no desespero, acreditando que não existe alternativa se não o crime, acreditando que Deus lhe perdoara de seus pecados. Quando um ateu comente um crime, este ateu é indiferente ao outro, não percebe ou não pensa que exista uma razão para ajudar o próximo, para ser bom com o próximo, se não apenas um contrato social imposto pela sociedade. Traços de uma personalidade sociopática. Isso não quer dizer que todo sociopata é um ateu, ou todo ateu é um sociopata em potencial, até porque existem muitos sociopatas religiosos. Apenas quero dizer que ateus podem cometer crimes, e geralmente esses ateus que cometem crimes são sociopatas, que mesmo que tivessem uma religião cometeriam crimes, já que o certo errado deles é inexistente.

Mas qual é o certo e o errado absoluto? Existe uma moral universal? Não existe o certo e o errado absoluto, até mesmo dentro das religiões, pois isso varia de cultura para cultura. Até agora não foi encontrado uma moral absoluta. A moral e a ética dentro do ateísmo também não é absoluta, é relativa entre os ateus, isso é um dos critérios que faz o ateísmo não ser uma religião. Também não cabe a eu dizer o que é certo ou errado, cada um deve achar por si mesmo o seu certo e errado, sua ética e sua moral. Para mim, querer fazer o bem para os outros e não apenas para si mesmo, já é algo que melhore a sociedade, mesmo que um pouco.

Se a diferença da ética e moral ateia para a ética e moral religiosa? Vejo que a ética e a moral ateia se baseia mais na razão e em conceitos positivistas, sem impor a moral deles como moral absoluta a ser seguida, uma moral e ética bastante mutável. Os religiosos, por sua vez, têm uma moral e ética baseada nas tradições e rituais de sua fé, e impõem como uma moral absoluta a ser seguida, uma moral e ética imutável. Essa é a marca maior da diferença entre a ética moral religiosa da ética e moral ateia.

· Justiça

Agora que terminamos de falar sobre a ética e a moral, vamos falar sobre a justiça, nesse caso o conceito de justiça dentro do ateísmo. Em nosso mundo coisas ruins acontecem com gente boa, e coisas boas acontecem com gente ruim. Nosso mundo tem muita injustiça. Uma realidade comum para muitos, sejam ateus ou religiosos.

Para os religiosos existe uma esperança, há esperança de que Deus venha e puna de alguma forma os maus algum dia e recompense os bons algum dia, nessa vida ou na próxima. Para muitos ateus não existe essa esperança, não existe carma ou punição divina. Não existem recompensas por ser bom ou por ser ruim, tão pouco punições por ser ruim ou bom. O mundo, o universo, é imparcial a tudo ao que acontece.

Como os ateus conseguem suportar esse mundo tão pouco acolhedor? Como lidar com uma realidade tão indiferente com os outros? Existem duas opções. Ou nós aceitamos essa indiferença com a injustiça, que não existe justiça divina no mundo, e temos que aceitar isso. Ou tentamos mudar essa realidade, tentamos por nós mesmo diminuir essas injustiças no nosso mundo, mesmo que um pouco. Podemos dizer que isso é uma verdadeira compaixão com o próximo.

Essa compaixão ateia é bem diferente da religiosa. Toda fé diz que é uma obrigação do devoto ter compaixão com o próximo. Se você está sendo obrigado a fazer algo não é verdadeiro, apenas está tendo algum interesse. No ateísmo, como foi explicado não existe tal obrigação, não existe obrigação nenhuma. Mesmo assim, muitos ateus, sem nenhuma obrigação, apresentam grandes atos de compaixão com o próximo, seja os menos favorecidos ou os que foram vitimas de algum desastre.

Mas é claro que existe um ganho, reduzir o sentimento de insatisfação, de desespero, de tristeza para com a realidade, tentando fazer o mundo um lugar mais tolerável para eles. Bem diferente da motivação dos religiosos, que é ganhar o paraíso divino pelas boas ações.

Que grande ironia. A real compaixão que muitos religiosos pregam sendo encontrada nos ateus. Isso mostra que religião alguma define caráter ou bondade no individuo.

· Vida e morte

Provavelmente os leitores mais religiosos devem estar se perguntando: Como os ateus lidam com a morte? O que é a vida para os ateus? Tentarei agora responder essas duas perguntas, mas não prometo ter uma resposta conclusiva, uma vez que são dois temas bastante complexo. Tão complexo que nem mesmo as religiões, que obviamente possuíam vastas ideias e teorias sobre o assunto, não conseguem responder totalmente.

Inicialmente devemos entender esse medo da morte. Freud dizia que nós não tememos a morte em si, mas sim o que pode representar a morte. Ele considerava o abandono, a castração, vários conflitos não resolvidos, ou de outra forma o medo da morte pode ser o resultado de um sentimento de culpa.

Gostaria de adicionar algo a mais. Esse algo a mais foi explorado por Ingmar Bergman, um ateu, em seu filme "O Sétimo Selo". O medo do desconhecido que a morte traz.

Eu mesmo já me deparei com esse tal medo. Após ler sobre a Aposta de Pascal em "Deus um Delírio" de Richard Dawkins. Pascal propunha que devemos aceitar que Deus existe, pois se não existe nada nos acontece, acreditando ou não, mas se existir e o negarmos, nós poderemos ter um terrível destino. Confesso que essa ideia me assustou, mas não ao ponto de me fazer entrar na religião ou em acreditar em Deus. Comecei a me questionar do por que eu estar com medo. Após reflexão pessoal, me indaguei se estava com medo da certeza que me esperava, ou da duvida em não saber o que me espera. Estava com medo de não saber o que me esperar depois da morte.

A maioria das religiões trata a morte e o morrer como uma forma de transição, uma mudança. Um momento em que os indivíduos conseguem uma nova existência ou uma existência superior à terrena. Já a vida, para muitas religiões, é vista como um preparo para a próxima vida que terá depois da morte, ou que existe para cumprir uma missão incumbida por uma força superior, seja algum deus ou alguma vida passada. Mas vejo isso, da mesma forma que Freud, como uma forma de tentar tornar o medo da morte mais brando, pois se cria uma hipótese para entendê-la, para tirar a duvida que existe na morte. Posso até considerar esse medo da morte uma força motriz para a manutenção da religião, porem não é a única.

Mas os ateus não tem essa visão da morte e da vida. Para muitos ateus é um fim, que devemos aceitar. Por conta disso, devemos valorizar muita mais a nossa vida, pois é a única que temos certeza de existir. É claro, muitos ateus podem apresentar uma visão diferente da vida e da morte em relação a outros ateus, uma vez que não existe um dogma, uma regra fundamental, dentro do ateísmo, que explique e diga o que é a morte e o que a vida. Tão pouco em como lidar com ambos.

Esse é um ponto bastante divergente do ateísmo e das religiões. Nas religiões há uma grande valorização do pós-vida, do além, do depois da morte. Já no ateísmo, há uma grande valorização da vida, no agora, aproveitar o breve momento em que estamos vivos. Já apresentei em capitulo anterior a razão desta diferença, além de uma breve apresentação da teoria de Freud sobre a angústia existencial da vida e da morte, e na crença da imortalidade garantida pelas religiões, como forma de superação dessas angústias.

Nos seus textos sobre a história do ateísmo, Minois comenta que tanto os ateus quanto os religiosos, ao longo da história, travaram uma guerra para mostrar a posição terrorista da posição adversária. Minois mostra que os religiosos insistiam em mostrar que os ateus morriam em desespero, fadados à desgraça, pelo seu orgulho por não aceitar a fé, afirmando que muitos ateus se convertiam no ultimo instante. Entretanto, assim como hoje, esses relatos de conversões nos leitos de morte podem ser mentiras, para forçar, a meu ver, um esforço pífio, para converter ateus. Para os religiosos, segundo Minois, o ateu deve "morrer no arrependimento ou no horror, sem perspectiva". Não duvido que ainda hoje os religiosos tenham essa visão da morte dos ateus.

Um exemplo recente é o caso da morte de Stephen Hawking, famoso cientista e ateu convicto. Em meio as mensagem na internet de lamento e perda de uma grande mente, de uma grande pessoa, houve, e ainda há, uma enxurrada de mensagens de religiosos zombando, humilhando, ameaçando. Mensagens cheias com ódio e desprezo, comemorando a morte de mais um ateu jogado no inferno. Acho que não devo salientar como isso só aumenta as rixas e preconceitos entre ateus e religiosos.

Da mesma forma, não duvido que muitos ateus adorariam, após suas mortes, que os religiosos os desprezassem da mesma forma. Para eles seria até uma vitória, mostrando a hipocrisia e o terrorismo que os religiosos e as religiões fazem.

Ainda a respeito da morte, Minois afirma que os ateus, ao longo da historia enfrentaram a morte com indiferença e firmeza. Para os ateus, a morte não tem nada de temível. Mesmo que eles não temam a morte, isso não quer dizer que os ateus não valorizem a vida. Eu percebo que muitos ateus valorizam mais a vida terrena, do que os religiosos, que valorizam mais a próxima vida. O motivo disso é que as religiões prometem uma "certeza" de que a outra vida, algo baseado na fé. Já os ateus não tem uma certeza que exista outra vida depois da morte. A única certeza para eles, no momento, é que exista apenas essa vida, por isso devemos valorizar mais do que qualquer outra vida.

Contudo, apesar dessa valorização maior do mundo terreno pelos ateus, o número de suicídios, como mostra Dalgalarrondo, é cometido pelas pessoas sem religião. Isso não quer dizer que pessoas religiosas não cometam suicídio, os fanáticos islâmicos que realizam ataques suicidas são um exemplo de suicídio dentro de uma religião, com a esperança de conseguir o paraíso. Outro tipo de motivo de suicídio entre os religiosos é de provação da fé, principalmente entre os cristãos. Mas podemos considerar um suicídio acidental. Um caso famoso é o de um pastor de um culto cristão nos EUA, que acreditava ser abençoado por Deus, para provar isso ele fazia cultos segurando uma cobra venenosa nas mãos. No final, esse pastor morreu devido a picada de uma cobra venenosa, em um de seus cultos. Tem também o suicídio depressivo, onde o individuo se mata por não se ver como um escolhido por Deus ou por se sentir abandonado por Deus.

Não penso que o ateísmo em si leve ao suicídio. De fato, existe um índice maior de suicídios e casos de depressão dentro do ateísmo, mas não o vejo como gerador, ou melhor, o causador disso. Apesar da Suécia, o país mais ateu do mundo, ter uma taxa de suicídios elevada, não quer dizer que o ateísmo leve ao suicídio. Uma vez que a Dinamarca, o segundo país mais ateu, é considerado o país mais feliz do mundo, segundo alguns dados, com as mais baixas taxas de suicídio do mundo.

Mas se a vida é sofrida para todos, incluindo para os ateus, por que não são todos os ateus que cometem suicídio? Para os religiosos eles não se matam por medo do pecado envolvendo o suicídio, ou que existe um propósito divino escondido que se revelara no final da vida. Mas para os ateus ele criam seu próprio propósito de vida. Eles veem que ainda devem fazer algo pelo bem da humanidade, para ajudar a humanidade se desenvolver. Ou tenham ainda algum objetivo que querem completar antes de morrerem, ou querem ver esse objetivo ser realizado. Ou por qualquer outro motivo que pensem que a vida valha a pena ser vivida, diferente dos que foram citados.

Para os ateus o individuo é seu próprio Deus, que deve decidir como viver, pelo que viver, pelo que morrer e até decidir como e quando morrer.

· Existência

As religiões e os religiosos buscam um sentido para as coisas, para tudo e todos. Para muitos teólogos e religiosos, a existência só teria significado se existisse Deus, sem Deus a existência não tem sentido ou significado. Isso não é bem verdade, os ser humanos já dava um significado para a vida e para a existência antes do surgimento das divindades, povos no extremo oriente deram um sentido a existência sem necessidade de deuses, até mesmo tribos isoladas ateias fizeram isso, e os ateus fazem isso hoje e sempre fizeram. Com esse pensamento surgi uma pergunta: Qual sentido o ateu e o ateísmo buscam para tudo e para todos?

Este é um ponto filosófico bastante interessante para os religiosos: a existência. Por que existimos ou por que tudo existe? Qual o sentido de existir? Essa é uma questão que todas as religiões conseguem responder facilmente, porém, não da para dizer se estão certas ou erradas. Pude identificar três respostas comuns entre todas as religiões: Estamos aqui para cumprir uma missão colocada por Deus; Estamos aqui para provar ou não se somos dignos para transcender um próximo estágio de vida; Estamos aqui para decidirmos ou não se vamos lutar ao lado de Deus contra o inimigo.

De fato, são respostas que dão certo consolo para a questão existencial, mas como disse antes, não há como saber se estão certas ou erradas. Agora mesmo imagino que muitos leitores religiosos devem estar se perguntado: Como os ateus veem a questão da existência?

Para muitos ateus não existe uma razão especial para o ser humano existir. Para muitos ateus, somos o fruto de um arranjo aleatório de moléculas, que conseguiu, ao longo de milhares de anos, evoluir e se tornar a forma de vida complexa que vemos hoje. A visão que a ciência, atualmente, dá sobre as nossas origens. Uma visão bem menos romântica do que as religiões, e bastante fria e vazia existencialmente. Um exemplo de niilismo, que pode ser insuportável para muitas pessoas.

Isso não quer dizer que para os ateus a vida não tem significância, ela tem importância, como foi mostrado. Mas para outros ateus não. Esse niilismo ateu nos dá duas respostas para a questão existencial, as quais cada um pode escolher qual é a certa: A vida, o existir, pode representar nada e o que quisermos.

· Espiritualidade e misticismo no ateísmo

Da mesma forma que as religiões possuem um dualismo filosófico, existe um dualismo ateu. Contudo este dualismo é diferente do dualismo religioso. O dualismo religioso consiste em separar o sagrado do profano. Já o dualismo ateu é mais cientifico, busca separar o místico e religioso do cientifico. Isso é recorrente na história do ateísmo, que começou com os ditos libertinos pelas religiões, nos séculos XVI e XVII.

Existe certa diferença entre misticismo e espiritualidade, mas é muito sutil, tanto que em certos momentos a espiritualidade e os misticismos podem ser usados como sinônimos. Se fosse resumir, de uma forma bem rebuscada, a diferença entre espiritualidade e misticismo, diria que a espiritualidade é a crença em uma existência além da material, por sua vez o misticismo seria a crença em um poder não explicável e a utilização desse poder.

Parece estranho que espiritualidade ou misticismo possa existir entre ateus. Quando escutamos o termo "espiritualidade" logo nos vem à mente algum tipo de religião, seita ou culto. De fato toda a religião possui uma espiritualidade, isso é inegável, contudo não são todas as formas de espiritualidade que estão dentro de alguma religião, alias existem algumas visões espirituais que não possuem qualquer divindade. Dalgalarrondo também concorda que existem formas de espiritualidade e misticismo desprovidos de qualquer tipo de divindade ou dogma.

Ao voltarmos na historia da humanidade, quando o homem era tribal e primitivo, percebemos que as tribos não possuíam um conceito de divindade ainda, mas tinha uma espiritualidade. Minois explica que a espiritualidade dessas tribos primitivas consistia que o individuo estava, de alguma forma, conectado com o universo, a natureza e os espirito dos ancestrais que morreram. Mas não havia uma divindade regulando e controlando tudo, era uma espiritualidade ateia.

Vemos esse tipo de espiritualidade e misticismo ateu na China, o conceito de Zen, Tao e até mesmo o próprio budismo. Também foi encontrado algo similar em tribos isoladas, que realizam rituais para a natureza e ancestrais, não para deuses. Essas tribos acreditam no conceito de alma, espirito e magias. Contudo não acreditam em divindades ou em uma divindade.

Alias, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, houve um crescimento do estudo e realização de rituais espirituais e místicos, considerados pagãos pela Igreja Católica, uma moda na aristocracia e burguesia europeia desse período. Estudos como alquimia, astrologia, ocultismo entre outros eram realizados por vários nobres, ricos e até cientistas. Newton, um dos maiores cientistas que já existiu, responsável por grandes contribuições pra a física e matemática, era um alquimista, que realizava vários experimentos alquímicos em seu laboratório.

De certa forma esses grupos que acreditavam num espiritual e místico não divino, contribuíram para o enfraquecimento das religiões tradicionais, o desenvolvimento da ciência e o crescimento do ateísmo. Não um ateísmo materialista, mas sim um ateísmo mais espiritualista, o ateísmo que acredita no imaterial e tenta de alguma forma provar e explicar esse imaterial com a ciência.

O motivo pelos quais muitos associação o ateísmo ao materialismo se deve ao ele estreito que o ateus tem com a ciência, que é muitas vezes materialista. Muitos ateus são materialistas, entretanto, como vimos, os ateus podem ser espiritualistas, podem acreditar ou tentar explicar esse imaterial, tentar trazer o imaterial para o mundo material. Esse imaterial varia, podendo ser reencarnação, fantasmas, poder do pensamento positivo, habilidades psíquicas, vida pós a morte, a busca por Atlântida, até mesmo alienígenas e teorias da conspiração podem fazer parte desse quesito.

Portando eu digo que ter espiritualidade ou não é independente de se acreditar em Deus ou não, ou de estar em uma religião ou não. Apesar dos ateus terem uma maior predisposição a negar a espiritualidade, devido ao materialismo cientifico, não há uma regra no ateísmo que diga que um ateu deva ou não acreditar no espiritual ou místico. Ainda mais, essa falta de regras e organização que faz o ateísmo não ser considerado uma religião. 

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