ATEÍSMO NO COTIDIANO
Dedico este capítulo a mostrar o cotidiano de um ateu. A muitas duvidas por parte dos religiosos sobre os comportamentos dos ateus, da mesma forma a muitos boatos espalhados sobre a vida dos ateus. Gostaria desmistificar esses boatos. É bem provável que ateus ou religiosos, que tenham bastante contato com ateus, não fiquem surpresos com o que será apresentado, mesmo assim, será interessante a leitura sobre o assunto, de que forma o mundo vê o ateísmo.
Um dos boatos que já vou desmistificar aqui, e um dos meus favoritos, pois me tira varias rizadas, é o fato dos ateus se organizarem para fazerem orgias sexuais. Não posso falar por todos os ateus, mas nunca fui convidado para nenhuma orgia dessas, nem conheço ateus que façam. Mas confesso que adoraria participar de uma. Esse tema e a origem desse boato irão ser abordados mais adiante.
Outro tema que gostaria de abordar nesse capitulo é de como o ateísmo é retrato. Como ele é apresentado para as pessoas nos jornais, cinema, televisão, nas diversas formas de mídia em geral. Da mesma forma, como a transmissão dessas imagens pode prejudicar ou beneficiar a imagem dos ateus para as pessoas religiosas, assim como se ela transmite uma real imagem do que realmente é o ateísmo, ou apenas uma ficção que reforça a discriminação e o preconceito em torno dos ateus.
Por fim trazer uma reflexão sobre a relação entre o ateísmo e arte. É possível os ateus criarem trabalhos tão grandiosos de arte, equivalentes a obras primas como a "Ultima Ceia" de Da Vinci ou a "Capela Cistina" de Michelangelo? Ou o apreço a razão e a ciência dos ateus podem acabar com o conceito de arte?
· Ateísmo na cultura popular
Já foi mencionado que pode se ver um grande crescimento do ateísmo, além de um crescimento do interesse sobre o ateísmo. Esse crescimento não está apenas refletido no aumento da população dos ateus, ou dos artigos e noticias sobre o tema, também é visto esse crescimento na cultura popular. Mais precisamente em filmes, séries, desenhos, quadrinhos, até em programas infantis.
Um exemplo de programa infantil vem da refilmagem da novela "Carrossel", exibida pelo SBT entre os anos de 2012 e 2013, o personagem Mario Ayala, um dos alunos da professora Helena. O personagem é basicamente retratado como o mau aluno da escola, revoltado e antissocial. Seu ateísmo só foi mostrado em um único capitulo. No capitulo em questão ele foi alvo de provocações dos colegas por não acreditar em Deus, seus professores o defenderam dizendo aos colegas que ele tinha toda a liberdade de acreditar ou não. Mas o episódio em si mostra mais o ateísmo como uma revolta do menino, com uma conotação mais negativa, como o ateísmo mal e o cristianismo bom.
Outra novela que abordou o tema do ateísmo foi a novela "Babilônia", exibida pela Rede Globo no ano de 2015. Um dos personagens, o jovem Rafael fala a família de sua namorada que é ateu, o rapaz é expulso a força da casa pelo pai da namorada, e é proibido de voltar ou ver a filha novamente. A novela abordou varias vezes o tema do ateísmo. O personagem era mostrado como um jovem gentil, estudioso e atencioso, mas ateu. Muitas vezes a novela mostrou o preconceito que os ateus sofrem em relação com os religiosos, da mesma forma, mostrou que é possível um relacionamento entre uma religiosa e um ateu.
Nos quadrinhos, a Marvel tem como ateus o Homem de Ferro, o Homem-Aranha, Senhor Fantástico, são alguns exemplos. Já na DC, temos como heróis ateus o Batman e a Mulher-Gavião como exemplos. Mas também existem muitos vilões ateus nas duas editoras. Doutor Octopus e Apocalipse da Marvel. Na DC, temos o Coringa e o Lex Luthor como exemplo de vilões ateus.
Raramente veremos o ateísmo sendo discutido em desenhos animados infantis, da mesma forma que raramente veremos religiões sendo discutidas em desenhos animados infantis. Vejo isso tanto como um reflexo da manutenção da laicidade do Estado, como uma forma desses animadores evitarem polêmicas a cerca de suas obras para o publico infantil. Contudo, em animações mais adultas, tanto o ateísmo e as religiões são bastante explorados. "Os Simpsons", "South Park", "Family Guy", "Futurama", "Rick e Morty" e muitas outras animações japonesas exploram bastante o tema religião e ateísmo. Todas fazendo criticas ao ateísmo e a religião, através de sátiras e um humor inteligente. Temperance (Bones) Brennan, a antropóloga e legista da série Bonnes, é outro bom exemplo de personagem ateu, que vê as religiões como uma forma de tradição cultural de uma civilização, não como um fato ou uma verdade.
Existem também, além das séries, várias obras cinematográficas que retratam o ateísmo ou abordam o questionamento das religiões. "O Sétimo Selo", "O Nome da Rosa", a "Bussola de Ouro", são exemplos de filmes que abordam o questionamento das religiões, mas não falam do ateísmo em si. Filmes que abordam o ateísmo em si, são ainda poucos e recentes, entre eles coloco os filmes "Tentação", que fala sobre um ateu que está para se suicidar para evitar que sua funcionaria não seja morta pelo marido ciumento, que tenta ser impedido por um policial cristão. Outro filme é "Deus não está morto", que é uma critica ao ateísmo, feita por religiosos, mostrando os ateus como sendo pessoas descontentes ou desapontadas com as religiões.
De fato o ateísmo está aparecendo bastante em varias mídias, isso é bom mais ao mesmo tempo ruim para os ateus. É bom no sentido que está mostrando que existe o ateísmo, que existe outra opção além das religiões. Porém mostra ateus com muitos defeitos de personalidade, dando a impressão, para os religiosos, que todos os ateus têm esses defeitos. Esses personagens podem dar a entender que os ateus são amargurados com a vida como o Dr. House, ou depressivos como o Batman, libertinos como o Homem de Ferro, frigidos como o Sheldon ou indiferentes com tudo e todos como o Rick. Até mesmo psicóticos e criminosos, como o Coringa ou Lex Luthor.
Isso não é uma visão totalmente errônea, muitas pesquisas apontam que ateus tem uma tendência a serem mais depressivos que religioso. Valorizarem mais a razão que os sentimentos. Também o ateísmo possui uma forte relação com o niilismo, levando muitos ateus a uma indiferença com tudo e todos. Ateus também apresentam comportamentos mais libertinos que muitos religiosos, tanto com relação às drogas quanto com relação ao sexo. Contudo, não são todos os ateus que fazem isso, ou que podem fazer isso, e a mídia não da muito enfoque, ou nenhum, nisso. A maioria dos ateus não faz criticas a isso, pois a maioria se identifica com esses personagens, alguns até chegam a imitar suas idiossincrasias.
A mídia destacar os vícios e defeitos de personalidade do ateísmo não é algo novo, tão pouco deva ser encarado como surpresa, pois é algo esperado e não devemos culpa-los por isso. Uma vez que a maioria do publico dessas mídias é religioso, publico religioso este que gosta de ver os ateus com seus vícios destacados. A mídia, para não perder audiência, tem que dar o que seu publico gosta. E a maioria das pessoas religiosas gosta de ver os ateus como pessoas problemáticas, mal humoradas, depressivas, libertinas, frias e/ou indiferentes, já que é o passado histórico da relação entre ateus e religiosos, as religiões verem o ateísmo de forma negativa. Passado este que continua a se repetir, mas com o tempo tem ficado menos abrasivo.
· Sexo e sexualidade
Acredito que a essa altura de meu livro sexo e sexualidade seja talvez o tema menos polêmico a ser apresentado. Ainda assim falar sobre sexo e sexualidade não deixa de ser polêmico, porém é menos polêmico que sobre religião.
O sexo como é visto muda conforme muda a religião. Os egípcios antigos consideravam o sexo como um ritual religioso, ritual este que era incentivado e praticado todas as manhãs, pois para eles o mundo surgiu da relação sexual de seus deuses. No hinduísmo o sexo também é incentivado, é visto, em alguns grupos, como uma forma de meditação, e o prazer como um dos quatro objetivos que o ser humano tem na vida. Tanto é que, para os hindus, o Kama-Sutra não é visto apenas como um livro para melhorar o desempenho sexual, pode ser considerado como um livro sagrado, apesar dos debates a respeito disso.
Já em outras religiões, o sexo é visto como uma forma de reprodução apenas, e o prazer sexual um ato pecaminoso. No cristianismo, por muito tempo, considerou o prazer sexual como um pecado, a luxúria. Algumas linhas cristãs ainda consideram perder a virgindade, antes do casamento como, um tipo de pecado. Até o ritual do batismo, pode ser visto não apenas como um ritual para admissão de ser cristão, mas uma forma de limpar a criança do pecado de sua concepção, o sexo.
Nos islamismo o sexo já é visto como um pecado pior, em alguns grupos mais radicais, o prazer deve acontecer apenas para o homem, nunca para a mulher. Tanto que existe em alguns grupos mulçumanos mais fanáticos, o ato de mutilação genital feminina. Um procedimento grotesco, do qual não irei tratar aqui.
Tudo isso é para mostrar a grande importância que as religiões fazem sobre o sexo, umas consideram divino, desenvolvendo formas de melhorá-lo. Outras consideram um pecado, chegando a mutilar mulheres para evita-lo.
Para os ateus, o sexo não possui essa importância gigantesca que as religiões dão. O sexo para, os ateus, é visto como uma forma de se reproduzir e ter prazer. Não existe uma forma certa de se fazer, não existe uma forma errada de se fazer. Porem, muito ateus, concordam que estupro, pedofilia e incesto, são errados e vistos como crimes.
Questões como homossexualidade e inicio da idade para se começar uma vida sexual são discutidas entre os ateus, não existe um consenso. De toda forma, não são muitos os ateus que afirmam que o homossexualismo é errado. Existem ateus que acham que a homossexualidade é errada, os motivos de ser errado variam, mas nenhum é relacionado ao conceito de pecado.
Sobre o quesito fetiches sexuais não existe muitas divergências entre grupos, apenas opções pessoais sobre ser desagradável alguns fetiches ou não. Ateus têm tantos fetiches sexuais quanto os religiosos, a diferença que os ateus são mais abertos em explorá-los.
De uma forma geral, os ateus, no que diz respeito ao sexo, são mais liberais que os religiosos. Para os religiosos, as perguntas sobre o sexo são se "podem fazer". As perguntas sobre sexo dos ateus são em sua maioria "como fazer".
Esse tipo de liberdade sexual que os ateus possuem gerou certos equívocos e enganos por parte de muitas comunidades religiosas. Uma delas é a de que ateus se reúnem toda semana para fazer orgias, algumas envolvendo animais, homossexualismo e drogas.
Afirmações desse tipo são muitas vezes invenções de lideres religiosos, com o propósito de arrebatar fieis. Essas afirmações se baseiam numa crença errada, como acredito que tenha mostrado, que os ateus por serem ateus não tem um senso de moral.
De fato muitos ateus adorariam participar de orgias, mas não fazem. São bem raros os casos de orgias, em muitas delas membros de alguma religião participam e até organizam. Orgias desse tipo são geralmente realizadas por membros da indústria do sexo, ou ricos extravagantes. Não são todos os ateus que fazem parte desses círculos extravagantes. Alias, não são todas as pessoas que fazem parte desses grupos de ricos e famosos. Acredito que as orgias estejam mais relacionadas ao status social do que propriamente a fé da pessoa, quanto maior o poder aquisitivo de alguém, maior a possibilidade de fazer tais extravagancias.
Todas as pessoas no mundo têm uma vida sexual e seus fetiches. Para ateus, sua vida sexual é mais ativa, que a dos religiosos, mas não são todos que conseguem falar com naturalidade. Muitos ateus tem vergonhar de falar de seus hábitos sexuais, porém, de fato, essa vergonha é menos intensa que a dos religiosos. A vergonha é um sentimento natural em todos os seres humanos. Acreditar que os ateus não possuem vergonha apenas por serem ateus é uma afirmação no mínimo errônea. A vergonha pode ser entendida quando expomos algo de nosso particular, que não queríamos mostrar, para o mundo, com medo de sermos rejeitados, julgados ou humilhados. E a maioria das sociedades tem uma tendência a rejeitar, julgar e humilhar o que é diferente. Isso pode incluir alguns ateus.
· Ateísmo e a arte
As religiões em si tem um papel de trazer sentido a um mundo sem sentido, trazer poesia ao mundo, pode até se dizer arte. Mas nessa lógica de trazer poesia e sentido ao mundo, devemos refletir sobre outra questão: O ateísmo pode gerar a mesma poesia, mesmo sentido que as religiões produzem? Acredito que não o mesmo sentido, porém produzem algum sentido.
Durante toda historia da humanidade a fé e as crenças sempre inspiraram os mais belos trabalhos de arte. Obras como a "Ultima Ceia" de Da Vinci, a "Divina Comédia" de Dante, as esculturas de Aleijadinho. Todas obras dignas de apreciação, de historia e de beleza. Não são muitos os religiosos que não apreciem ou sintam um arrebatamento por essas obras. Mas não é pelo fato de serem obras inspiradas pela fé que ateus também não as admirem.
Os religiosos admiram muitas dessas obras sacras, alguns pela beleza, outros pelo enaltecimento da fé. Tanto é que muitas obras na renascença foram encomendas pela igreja com o propósito de arrebatar fieis, com o impacto que arte poderia trazer nas pessoas. Os ateus admiram essas obras mais por sua beleza, pela estética e pela mensagem que o artista tentava passar, seja ela uma mensagem religiosa ou não. Os ateus admiram a arte pela arte.
Também podemos ver muitos religiosos que ficam admirados com trabalhos de artistas ateus, Picasso, Van Gogh, Monet, Khalo, Bacon. Todos eles e outros criaram obras dignas de museus, que fazem admirar pessoas no mundo todo, sejam elas ateias ou religiosas. Esses artistas simplesmente quiserem expressar seu mundo, a natureza, como a viam e o como a sentiam. Eles queriam compartilhar seus sentimentos e sua visão com o mundo, ao mesmo tempo chocar e admirar as pessoas.
Confesso aqui que talvez não tenha explorado adequadamente esse tema, pelo fato de não ser um entendido de arte. Penso que ateus podem criar trabalhos tão inspiradores, se não mais, que de muitos religiosos. Na literatura, musica, cinema, artes plásticas, encontraremos vários trabalhos inspirados em coisas não divinas, até mesmo inspirado na própria ciência e em cientistas.
Explicar o que é arte é muito relativo. Para mim, o objetivo da arte échocar e admirar, não apenas pela beleza, mas sim pelo fato que ela choca,espanta ou traz admiração. Mas com toda certeza a arte está além das crenças enão crenças.
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