O desespero tomou conta de Estela. Aquela notícia abalou toda a sua estrutura, seu ser estava sem chão, sem forças nem ao menos para se mover.

Como a vida é interessante queridos leitores, se pararmos para pensar, veremos como o ser humano é frágil, e somente nas horas de grande dificuldade é que conseguimos enxergar o quanto somos pequenos.

Por que temos dificuldades em perceber as fragilidades que ainda carregamos? Por que preferimos ser reconhecidos apenas por nossas qualidades e virtudes? A superação de conflitos íntimos e o crescimento pessoal são coisas que conseguimos conquistar totalmente sozinhos?

A verdade, queridos leitores, é que nós, seres humanos, em sua grande maioria, apresentamos certa dificuldade em perceber a fragilidade moral, emocional e intelectual que ainda carregamos, somente enxergando-as na pessoa do próximo. Muitas vezes, não percebemos em nós mesmos, pela nossa grandeza de ego, pela vaidade, pelo orgulho que enche nossos corações. São os outros, então, que possuem comportamentos inadequados, pensamentos negativos, emoções desequilibradas, medos e limitações. Será que realmente somos livres desses fatores?

Infelizmente não! Todos possuímos medos, anseios, limitações. Não há dúvida de que a vida é um roteiro repleto de intensos desafios e de muitas dificuldades. Aliás, nisso é que estão realmente as grandes oportunidades que nos impulsionam e nos fazem crescer.

Vivendo tranquilamente, sem quaisquer preocupações, temos nossa vida acomodada e, por consequência, a estagnação neutraliza os nossos sonhos de prosperidade. Dificuldades e desafios são propostas de evolução. Mais como é difícil entender isso, não é mesmo?

Quando caímos se torna difícil levantar, mas superar os problemas significa movimentar iniciativas, boa vontade, ideal e determinação, abrindo novas perspectivas de sucessos e conquistas.

Os obstáculos que surgem em nosso caminho, não são para impedir nossos passos, são desafios para serem superados. Cada vez que conseguimos vencer uma dificuldade, saímos dela mais fortalecidos e mais confiantes.

Antes de darmos continuidade a nossa narração, nos voltando para a angústia e desespero de Estela, gostaria de dizer, assim como se pudesse diria a ela, que não devemos nos deixar, jamais, desestimular em circunstância alguma, pois Deus confia em nosso poder de vencer os impedimentos e vencer-se a si mesmo.

Retornando aquela cena de angustia e desespero, Estela encontra-se imóvel, as cenas do primeiro encontro com Paulo, o primeiro beijo, as dificuldades já vencidas, aquele eu te amo dito na ligação. O celular cai no chão, o barulho ecoa na sala, tudo parecia vazio, inclusive Estela naquele momento.

Estela permanece inerte, e como se a ficha caísse, ela também cai de joelhos sobre o piso gelado, tão gelado quanto o suor que transpirava de suas mãos. Com os olhos transbordando em lágrimas, olha para cima, pedindo força e orientação a Deus.

Permaneceu em prece por alguns minutos, sentimentos de misericórdia sobrevinham de seu coração.

“- Por que isso está acontecendo comigo? Justo comigo que acredito ser uma pessoa boa, humilde! Meu esposo não merecia passar por isso. Será que ele está vivo? Como ele está nesse momento?”

Esses e muitos outros questionamentos pairavam sobre o ar. Estela não compreendia que todos estamos sujeitos às dificuldades que são próprias deste planeta, ainda constituído de provas e expiações.

“- Eu me sinto instável! O que é que tá acontecendo comigo? É como se eu sentisse meu coração se desestruturando, quebrando os mais pequeninos cacos que se restaram. o que vai ser de mim? Oh meu Deus, ajude-me!”

É minha querida e frágil Estela, a grande questão está em como iremos passar pela provação que nos visita. Com sabedoria, ou com reclamações e aborrecimentos? Com aprendizado ou não? Com serenidade, não obstante as agulhadas da dor? Ou revoltados, julgando Deus, um pai insano, que castiga seus filhos? Apesar de difícil, acreditem queridos leitores, com alegria e sabedoria é possível passar pela dor com mais confiança. Não é um caminho fácil! Todavia, no final deste caminho, destes tantos vales das sombras, encontraremos certamente o monte resplandecente onde a vitória nos espera.

Um pouco tonta, desestabilizada, com os nervos à flor da pele, Estela encontra forças para se levantar. Nunca tinha sido tão difícil até aquele momento se reerguer. Sem pensar duas vezes, pegou o casaco e saiu as pressas em direção ao Hospital Municipal da cidade.

- Enfermeiro, por favor enfermeiro, me deixe ver meu esposo!

- Senhora, por favor se acalme, por favor, sente-se, a senhora está pálida! Vou chamar um médico para te atender!

- Eu não quero que ninguém me atenda! Eu só quero ver o meu esposo, por favor!

- Por favor, se acalme senhora, sei que a situação é crítica, mas é preciso ter um pouco de paciência, por favor me entregue os documentos do seu esposo para eu consultar o banco de dados e poder te ajudar com informações.

Extremamente nervosa, derruba tudo que há em sua bolsa no chão.

-Deixe que te ajudo, sente-se, a senhora precisa se acalmar!

Pacientemente, e com demonstração de afeto a Estela que estava extremamente desconsolada, o enfermeiro recolhe todos os documentos.

- Aqui está moço, por favor, seja rápido, preciso de notícias do meu esposo!

- Como a Senhora se chama?

- Eu me chamo Estela, e você?

- Sou Ruan, farei o possível para te ajudar, por favor, tome um copo d’agua enquanto verifico no sistema. Voltarei o mais rápido possível!

Rapidamente Ruan verifica a situação de Paulo, voltando com informações para Estela.

- Olá senhora Estela!

- Pode me chamar somente de você, sem problema algum.

- Obrigado! O seu esposo, Paulo, ele está na UTI, mas a equipe médica está fazendo o possível para ajudá-lo. Não se angustie tanto antes de mais informações! Você deseja que eu entre em contato com algum familiar?

- Obrigada! Eu ligarei em breve para a minha mãe, pobrezinha não está sabendo de nada deste ocorrido.

- A nossa equipe médica é muito boa, o seu marido está em boas mãos.

- Eu sei que eles estão fazendo o máximo que podem, mas eu preciso vê-lo, falar com um médico, saber notícias! Quem é o médico de plantão?

- A doutora Aline.

- Graças a Deus, eu conheço ela, preciso vê-la! Nesta manhã foi ela quem me atendeu, por favor moço, chame-a pra mim, estou muito desesperada!

- Certo, farei o possível, mas sente-se, vou ver se consigo trazê-la até aqui.

Estela se senta, desamparada, com as mãos no rosto, querendo que tudo aquilo não passasse de um sonho, queria acordar daquele pesadelo.

“-Acorda Estela, isso é somente um pesadelo, nada disso está acontecendo!” – Repetia continuamente para si mesma, mas sem sucesso, aquilo realmente era real.

Perpassando o limiar da história, gostaria de apresentar a vocês, queridos leitores, o enfermeiro Ruan, novo personagem dessa nossa trama. Um homem carismático, simpático e brincalhão. Com apenas 25 anos, recém-formado em enfermagem e estagiário naquele hospital.

Ruan lutou muito conseguir terminar os estudos, seus pais moravam no interior, e desde muito cedo fora morar na cidade, afim de estudar e trabalhar para ajudar seus pais. Ruan não sabia, mas foi e seria um “personagem” de grande importância na vida de Estela e Paulo.

É certo queridos leitores, que a vida nos apresenta pessoas que se juntam a nós, para evoluir, se retratar, ou até mesmo nos ajudar a curar as dores do passado. As pessoas que entram em nossas vidas, sempre entram por alguma razão, algum propósito. Elas nos encontram ou nós as encontramos meio que sem querer, não há programação da hora em que encontraremos estas pessoas.

Assim, tudo o que podemos pensar é que existe um destino, em que cada um encontra aquilo que é importante para si mesmo. Ainda que a pessoa que entrou em nossa vida, aparentemente, não nos ofereça nada, mas ela não entrou por acaso, não está passando por nós apenas por passar.

O universo inteiro conspira para que as pessoas se encontrem e resgatem algo umas com as outras. Discutir o que cada um nos trará, não nos mostrará nada, e ainda nos fará perder tempo demais desperdiçando a oportunidade de conhecer a alma dessas pessoas.

Os fios do tempo mais uma vez se entrelaçam, e mais uma vez esses três personagens se encontram. O destino? A relação desses três seres? Somente o futuro dessas páginas nos mostrará.   

Voltando para nossa trama, Ruan olha fixamente para Estela, um olhar singelo. Se perguntava quem seria aquela moça que estava ali tão aflita, com a impressão de conhecê-la de algum lugar, saí à procura da médica. Pouco tempo depois retorna com Doutora Aline, que lhe dá um abraço afetuoso.

- Que bom te ver doutora, alguma notícia do meu esposo?

- Olá Estela, gostaria de rever você em uma situação mais agradável. Paulo sofreu um grave acidente de carro, e ao ser socorrido, procuramos em seus bolsos algo que pudesse identifica-lo, encontramos documentos pessoas e uma foto sua, me lembrei de você mais cedo, procurei em seu prontuário um número de contato e pedi para Ruan te ligar urgentemente.

- Agradecida Doutora, muito agradecida! Por favor, me diga algo sobre a situação de Paulo!

- As notícias não são boas Estela, o seu esposo teve muitos ferimentos, fraturas na cabeça, braços e pernas. Ele se encontra na UTI, ele teve traumatismo craniano e está em coma.

- Não! Isso não é possível!

As duas se abraçam, Estela não contém as lágrimas e a emoção daquele momento, desmaia inconsciente.

- Ruan, me ajude, vá buscar uma maca, temos que socorrê-la, Estela está grávida!