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᳝ ࣪ ❛ ͏ 𝙘𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 seis : pai orgulhoso ៹ ✧⠀

୨ᅠᅠ﹙ ato um ﹚blame it on the kidsᅠᅠ୧
 ࣪៹  𝄒 ˖   ࣪  𓂃 ۫  . - capítulo seis, pai orgulhoso ꜝꜞ ᳝ ࣪ᅠ  ៹ 💣   ✶    ۫

Astra sobressaltou-se ao som abrupto da porta se abrindo. O silêncio da casa foi quebrado por vozes altas, risos cansados e passos pesados. Ela piscou algumas vezes, confusa, enquanto tentava processar o que estava acontecendo.

Apesar disso, sentia-se bem, pela primeira vez em muito tempo, estava verdadeiramente descansada.

A mão de Astra, ainda envolta em faixas, descansava na cintura delicada de Powder. A menina de cabelos azulados dormia profundamente ao seu lado, os fios despenteados formando um caos bonito que só acentuava sua doçura. Os olhos fechados e o ritmo suave e constante da respiração dela criavam uma cena de paz rara naquele mundo. As mãos pequenas apertavam um macaquinho de pelúcia, como se fosse seu tesouro mais precioso.

Um sorriso leve e quase involuntário surgiu nos lábios de Astra, suavizando seu semblante geralmente endurecido pela desconfiança. A visão daquela garota adormecida, tão vulnerável e serena, tocou algo profundo dentro dela. Inclinando-se, ela passou os dedos delicadamente pelo rosto de Powder, afastando algumas mechas rebeldes que teimavam em cair sobre suas bochechas rosadas.

Por um breve momento, Astra permitiu-se imaginar um mundo onde cenas como aquela poderiam ser mais frequentes, onde proteger Powder não fosse uma tarefa de vida ou morte. Mas o som de passos descendo as escadas tirou-a do devaneio. Seu corpo enrijeceu instintivamente. Era óbvio que Violet e os outros haviam voltado, e Astra sabia que não seria bem recebida por eles.

Com um suspiro quase inaudível, ela moveu-se com a leveza de um felino. Escorregou para fora da cama sem que o colchão sequer protestasse com o peso. Pegou as botas surradas de forma apressada e jogou o casaco úmido sobre os ombros, sem se importar com o desconforto do tecido frio contra a pele. Antes de sair, voltou-se uma última vez para Powder, hesitando.

Inclinando-se com cuidado, pressionou um beijo suave na testa da garota. Era um gesto pequeno, mas carregado de uma ternura que Astra raramente permitia que viessem à tona. Depois disso, ela deslizou para fora pela escotilha, fechando-a atrás de si com cuidado para não fazer barulho.

O ar matinal era quente e úmido, e o chão áspero sob seus pés era um lembrete de que estava de volta às ruas. Astra moveu-se com habilidade pelos becos, os dedos roçando as paredes enquanto seguia um caminho conhecido. Mesmo na penumbra, seus passos eram seguros.

Quando finalmente chegou à porta de sua casa, foi recebida de forma nada acolhedora. A porta foi aberta com um movimento brusco, revelando Sevika. O sorriso ladino e sarcástico da mulher fez Astra revirar os olhos antes mesmo que qualquer palavra fosse dita.

━━━ Aí está você. ━━━ Sevika cruzou os braços, inclinando-se casualmente no batente da porta enquanto homens passavam por ela, carregando caixas e sacos. ━━━ Voltando da "namoradinha"?

━━━ Ela tem onze anos, criatura. ━━━ retrucou Astra, estreitando os olhos e cruzando os braços. ━━━ E não enche o meu saco. Eu tô' com fome.

Sevika riu de forma debochada, mas deu um passo para o lado para deixá-la entrar.

━━━ Ok, valentona. Seu pai está te esperando pro café.

Mesmo com todo o sarcasmo e o incômodo de lidar com Sevika, o pensamento de uma refeição quente era suficiente para mantê-la quieta, por enquanto.

Astra se limitou a bufar, desviando de Sevika enquanto entrava. O cheiro de café e pão preenchia o ambiente, o som de vozes no andar de cima ecoava pela casa, mas o ambiente principal estava quase vazio, exceto pelo vulto conhecido sentado à mesa.

Silco.

Ele não ergueu os olhos imediatamente, parecendo absorto em algo, talvez documentos ou anotações, enquanto uma xícara de café esfumaçava ao lado. Astra caminhou até a cozinha, os passos ligeiramente arrastados, e pegou um pedaço de pão antes de se aproximar da mesa. Não esperou ser convidada, jogou-se em uma das cadeiras, mordendo o pão com indiferença.

━━━ Você tem andado demais pelas ruas. ━━━ Silco finalmente quebrou o silêncio, a voz grave e controlada, mas carregando uma ponta de reprovação.

Astra arqueou uma sobrancelha, mastigando lentamente enquanto cruzava os braços sobre a mesa.

━━━ E desde quando isso é um problema? Achei que minha função fosse justamente conhecer as ruas. ━━━ retrucou, o tom desafiador. ━━━ Ou você só está preocupado que eu faça algo "inadequado"?

Silco estreitou os olhos, largando o que quer que estivesse lendo. Ele inclinou-se ligeiramente para frente, os dedos entrelaçando-se sobre a mesa.

━━━ Minha preocupação é que você não tenha um propósito claro. ━━━ ele disse, as palavras carregando um peso que fez Astra desviar o olhar por um instante. ━━━ Você está à deriva, Astra. E quando alguém está à deriva, tende a se afogar.

━━━ Se você quer me dar uma lição de moral, Silco, pode guardar o fôlego. Eu sei muito bem como nadar. ━━━ ela deu uma risada curta, sem humor, recostando-se na cadeira.

O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de uma tensão que parecia sempre existir entre eles. Astra terminou o pão em silêncio, os olhos vagando pela sala antes de se levantar abruptamente.

━━━ Se me der licença, vou dormir. ━━━ declarou, já se virando em direção às escadas. ━━━ Ou tentar, pelo menos.

━━━ Astra. ━━━ a voz de Silco a fez parar, sem se virar. ━━━ Não se esqueça de que, às vezes, nadar contra a corrente pode te levar a águas mais profundas.

Ela permaneceu parada por um momento, a mandíbula tensa, antes de dar de ombros.

━━━ Talvez seja exatamente o que eu quero. ━━━ murmurou, desaparecendo pelo corredor sem olhar para trás.

Astra subiu as escadas em passos pesados, o estalo da madeira sob seus pés ecoando mais do que ela gostaria. Ao entrar em seu quarto, fechou a porta com força, encostando-se contra ela enquanto soltava um longo suspiro. Suas mãos foram automaticamente ao rosto, esfregando-o com uma mistura de frustração e exaustão.

"À deriva", ele disse. Como se ela já não soubesse. Como se a própria existência dela não fosse um constante jogo de tentar encontrar equilíbrio em um mundo que insistia em puxá-la para baixo.

Jogando-se na cama com um baque, ela fitou o teto por alguns momentos, tentando desacelerar os pensamentos. As imagens de Powder dormindo serena ao seu lado começaram a invadir sua mente novamente, trazendo um contraste perturbador à sua turbulência interna. Havia algo tão simples e puro naquela cena que fazia Astra questionar se algum dia poderia ser parte de algo assim. Algo bom.

Ela fechou os olhos com força, tentando afastar os pensamentos antes que eles tomassem conta.

Astra abriu os olhos, encarando o teto como se ele fosse lhe dar alguma resposta. Talvez estivesse mesmo se afogando, mas se fosse o caso, ninguém parecia realmente disposto a puxá-la para a superfície. E, honestamente, ela nem sabia se queria. Talvez fosse mais fácil simplesmente ceder.

Mas então, o rosto de Powder surgiu em sua mente, com a expressão tranquila e o macaquinho apertado nos braços. Um peso estranho apertou seu peito, algo entre a culpa e a determinação.

Não posso me dar ao luxo de me afogar agora, pensou. Não enquanto ainda havia algo, ou alguém, que dependia dela, por menor que fosse.

Com esse pensamento em mente, Astra fechou os olhos novamente, tentando deixar que o sono a levasse. Não era exatamente paz, mas era o mais próximo que ela conseguiria.

[ . . . ]

O dia arrastava-se como qualquer outro em Zaun, marcado pela miséria e as ruínas. Astra, como de costume, não via a hora de escapar para a liberdade das ruas e encontrar com Powder. Mas quando finalmente alcançou a maçaneta da porta, sentiu uma presença atrás de si antes mesmo de ouvir a voz grave que a interrompeu.

━━━ Astra?

Ela congelou no mesmo instante, os dedos ainda roçando a maçaneta da porta. Reconheceu imediatamente o tom imperioso, a voz que não permitia objeções. Fechou os olhos por um segundo, sentindo a frustração subir por sua espinha, antes de virar-se lentamente para encará-lo.

━━━ Sim, pai? ━━━ respondeu, com um tom que mal disfarçava sua irritação.

Silco estava parado a alguns passos de distância, a figura esguia, com a postura calculadamente relaxada. O rosto mantinha a neutralidade de sempre, mas Astra sabia que ele era um homem difícil de enganar. E, mais uma vez, ele precisava dela.

Por um momento, nenhum dos dois disse nada. Astra cruzou os braços, um gesto defensivo e levemente desafiador, esperando que ele se explicasse. Silco inclinou ligeiramente a cabeça, analisando-a como fazia com todos ao seu redor.

━━━ Preciso de sua opinião para algo. ━━━ disse, sem rodeios, enquanto gesticulava para que ela o seguisse até a sala onde os mapas e diagramas dos limites de Zaun estavam espalhados sobre a mesa.

Astra suspirou, mas obedeceu. Lá, ele apontou para os detalhes de um roubo meticulosamente planejado no cais. Um alvo estratégico que exigia mais do que força bruta, pedia astúcia, discrição e, principalmente, alguém que soubesse agir como uma sombra.

Era um papel que Astra desempenhava com perfeição. Ela sabia como se infiltrar em lugares aparentemente impenetráveis, como observar os pontos fracos de uma construção e como desaparecer sem deixar rastro. E Silco, embora raramente elogiasse diretamente, confiava plenamente nas habilidades da garota.

━━━ O que você faria aqui? ━━━ ele apontou para um dos armazéns no mapa, deixando espaço para que ela falasse.

Astra inclinou-se sobre a mesa, os olhos ágeis analisando cada linha e marcação. Em minutos, começou a traçar rotas de fuga, indicando quais becos eram mais seguros e quais pontos altos permitiriam uma visão ampla sem serem detectados. Sua voz era firme, segura, carregada de convicção.

Os homens ao redor, normalmente indiferentes ou até mesmo cínicos, prestavam atenção em cada palavra. Talvez fosse o respeito velado que tinham por Silco, talvez o desejo de evitar erros. Ou talvez fosse a força natural que Astra projetava ao falar séria, sem piadas de humor duvidoso ou xingamentos sujos, como se estivesse no controle absoluto de qualquer situação que descrevesse.

━━━ E se encontrarmos resistência aqui? ━━━ perguntou um dos capangas, apontando para uma das rotas sugeridas.

━━━ Vocês não vão encontrar, se fizerem o que eu estou dizendo. ━━━ ela rebateu, sem paciência para objeções. ━━━ Mas, se acontecer, desviem por esse caminho alternativo na área leste.

Silco, parado um pouco afastado, assistia a tudo em silêncio. O leve sorriso que tocava seus lábios era quase imperceptível, mas estava lá. Ele observava Astra com olhos analíticos, captando cada movimento, cada gesto.

Por mais que tentasse se manter distante emocionalmente, era difícil não sentir orgulho da jovem que ele tinha acolhido. Havia algo poderoso em vê-la comandar a atenção de todos, em como ela transformava a sala com sua presença. Ela era um reflexo de sua própria ambição, moldada por um mundo implacável e transformada em algo que ele jamais imaginara, uma aliada indispensável. Uma filha.

Astra, por sua vez, sentia-se em seu elemento. O fato de Silco não a contestar, de apenas fazer sugestões que somavam ao que ela dizia, dava-lhe um senso de autoridade que era raro em sua vida. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se ouvida. Não como uma jovem qualquer, mas como alguém cuja opinião importava.

Quando os planos foram finalmente concluídos, o grupo começou a se dispersar. Um dos homens murmurou algo para Silco antes de sair, um comentário sobre como Astra tinha "jeito para liderar". Silco apenas acenou levemente com a cabeça, mas seus olhos se voltaram para Astra com uma intensidade que fez seu peito inflar de um orgulho que ele nunca admitiria em voz alta.

━━━ Bom trabalho. ━━━ ele disse, simplesmente, enquanto organizava os papéis na mesa.

Astra, que até então parecia impassível, sentiu uma onda de satisfação tomar conta de si. Não era comum ouvir algo assim de Silco, e isso tornava aquelas duas palavras ainda mais valiosas.

━━━ Obrigada. ━━━ ela sorriu timidamente, sentindo-se leve.

Definitivamente, aquele dia parecia incrível.

Silco permaneceu em silêncio, observando enquanto Astra se inclinava para recolher alguns papéis da mesa. Ele sabia que momentos como aquele eram raros para ambos, uma pausa breve no caos que os cercava.

Ela ainda era jovem, mas mostrava um potencial que ele raramente via, mesmo em seus aliados mais experientes. Era fascinante, e ao mesmo tempo um pouco assustador, assistir à transformação dela de uma garota solitária e desconfiada para uma líder em ascensão.

Enquanto ela revisava algumas anotações, Silco deixou-se relaxar, recostando-se na cadeira com os dedos cruzados diante do rosto. Ele estudava Astra com um olhar que misturava análise e admiração contida. Não era apenas o que ela dizia ou fazia que o impressionava, mas a chama indomável que brilhava por trás de seus olhos. A mesma chama que ele reconhecia em si mesmo.

━━━ Você entende o que isso significa, não é? ━━━ perguntou ele, sua voz calma cortando o silêncio. ━━━ A responsabilidade, a atenção que você está atraindo. Isso não é algo que se pode ignorar.

Astra ergueu os olhos das anotações, surpresa pela seriedade no tom dele. Mas, ao mesmo tempo, havia algo quase tranquilizador naquela conversa.

━━━ Eu sei. ━━━ respondeu ela, com firmeza na voz. ━━━ E não vou desperdiçar isso. Se estamos apostando tudo, vou fazer valer a pena.

Silco inclinou a cabeça levemente, como se estivesse avaliando a autenticidade das palavras dela. Havia uma franqueza na resposta de Astra que ele respeitava, mas também sabia que o peso da liderança não era algo que se pudesse compreender completamente até senti-lo nas costas.

━━━ Bom. Porque, Astra, no momento em que você vacilar, haverá dezenas prontos para tomarem seu lugar, ou para destruí-la. ━━━ ele se levantou, pegando sua bengala e caminhando até ela. ━━━ Mas, se continuar assim, ninguém ousará sequer tentar.

Ele parou ao lado dela, os olhos fixos nos dela por um momento que pareceu se estender mais do que o necessário. Então, com um gesto quase imperceptível, pousou a mão em seu ombro por um breve instante.

━━━ Continue nesse ritmo. Você está no caminho certo.

Astra o encarou, as pernas balançando acima do chão por sua altura baixa em relação às pernas da mesa.

Finalmente, ela quebrou o silêncio.

━━━ Quando eu era criança... ━━━ começou, a voz baixa e hesitante. ━━━ Eu costumava achar que as famílias eram como nos livros. Protetoras, calorosas. Mas... bem, acho que nunca foi assim para mim... Meu pai era... cruel. Não daquele jeito óbvio, sabe? Ele não gritava nem levantava a mão... muito. Mas as palavras... ━━━ ela fez uma pausa, engolindo em seco. ━━━ Elas doíam mais do que qualquer coisa. Ele sempre me dizia que eu era um peso, que nunca seria nada. Eu ainda consigo ouvir a voz dele às vezes, quando as coisas ficam ruins. E minha mãe... ela nunca fez nada. Ela só... ficava lá. Observava. Nunca me defendeu. Nunca tentou me proteger.

Astra respirou fundo, os ombros tensos enquanto continuava.

━━━ Eu lembro de noites em que me escondia no armário, com as mãos cobrindo os ouvidos, tentando não ouvir as brigas, os insultos... tentando desaparecer. E, por muito tempo, achei que era isso que eu merecia. Que eu não valia nada.

Silco permaneceu em silêncio, ouvindo com atenção. Ele sabia que palavras, às vezes, eram insuficientes. E Astra, por mais forte que fosse, carregava cicatrizes que ele jamais havia entendido completamente.

━━━ Mas você... ━━━ a voz dela vacilou pela primeira vez, e ela olhou para ele, os olhos brilhando com algo que poderia ser gratidão ou vulnerabilidade. ━━━ Você me mostrou que isso não é verdade.

Ela se levantou devagar, cruzando os braços contra o peito.

━━━ Você me ensinou que as palavras têm poder, mas que eu posso escolher quais delas vou deixar me definir. E... você nunca desistiu de mim. Mesmo quando eu cometi erros, quando eu deixei minha raiva me dominar. Você esteve lá. Como um pai deveria estar. ━━━ Astra desviou o olhar, como se envergonhada pela emoção em sua voz.

Silco ficou imóvel por alguns segundos, absorvendo o peso do que ela havia dito. Ele não era um homem de grandes gestos ou palavras reconfortantes, mas quando falou, sua voz estava carregada de uma intensidade incomum.

━━━ Você sempre foi mais forte do que pensa, Astra. Eu apenas mostrei a você o que já estava aí. ━━━ ele fez uma pausa, inclinando levemente a cabeça para vê-la. ━━━ E, independentemente do que os outros disseram ou fizeram, você é minha família agora. E eu não vou permitir que ninguém, nem mesmo você, duvide disso.

Astra sorriu, pequeno e tímido, mas genuíno. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que pertencia a algum lugar. Que era mais do que as palavras de um pai cruel e o silêncio de uma mãe ausente. Ela era Astra, forte, determinada, e talvez... amada.

Silco deixou um carinho no topo de sua cabeça, dando aquele sorriso mínimo que raramente deixava os outros verem. Havia algo que ele jamais poderia roubar ou comprar, e esse algo era Astra. Era o sentimento de pertencimento, completação, e até mesmo confiança que ele sentia por ela.

━━━ Agora, vá pegar seu violão, eu quero ouvir o que você aprendeu até agora. ━━━ ele pediu, se afastando para que não demonstrasse mais.

━━━ Não quero te humilhar com o meu talento, mas já que insiste... ━━━ ela ergueu as mãos convencida, se virando em pulinhos na direção do quarto.

Silco deixou escapar um riso curto e contido, balançando a cabeça diante da confiança exagerada de Astra. Ele observou enquanto ela sumia pelo corredor, seus passos saltitantes ecoando pelo ambiente.

Sentado novamente, ele ajeitou alguns papéis na mesa, mas sua mente estava longe. Não era comum para ele se perder em pensamentos, mas Astra tinha uma maneira única de quebrar sua armadura. Ele não tinha planejado ser um pai. Não de verdade. Mas ali estava ela, desafiando suas próprias expectativas e mostrando um lado dele que ele mal sabia existir.

Quando Astra voltou, carregando o violão de forma quase triunfante, o brilho em seus olhos era contagiante.

━━━ Prepare-se, porque essa performance vai te marcar, Silco. ━━━ ela anunciou, ajustando o violão e se sentando em um pequeno banquinho próximo à mesa.

━━━ Só não desafine muito, ou eu vou reconsiderar minha paciência. ━━━ ele respondeu, mas o tom brincalhão traía o comentário sério.

Ela riu, inclinando a cabeça como se dissesse 'aguarde e veja'. Com um breve ajuste nas cordas, começou a tocar. As notas eram hesitantes no início, mas logo ganharam fluidez. Sua música era simples, mas havia sinceridade em cada acorde.

Silco a observou em silêncio, o som preenchendo a sala. Ele não entendia muito de músicas juvenis, mas podia reconhecer o esforço e o coração que Astra colocava naquilo. Enquanto ela tocava, ele percebeu que, de todas as coisas que já havia conquistado, nada se comparava ao que tinha com ela.

Quando ela terminou, Astra olhou para ele, esperando por algum tipo de comentário.

━━━ Não foi terrível. ━━━ ele disse, cruzando os braços, mas havia algo em sua expressão, um lampejo de orgulho mal disfarçado.

━━━ Eu sabia que ia te impressionar. ━━━ ela respondeu com um sorriso, inclinando-se no banco e apoiando o queixo no braço do violão.

Por um breve momento, o mundo fora daquela sala parecia distante. E, pela primeira vez em muito tempo, ambos se permitiram sentir que ali, naquele pequeno instante, tudo estava exatamente como deveria estar.

Eram pai e filha, apesar das brigas, das contradições e das diferenças que os separavam. A guerra e a decadência humana haviam os unido de uma forma que nada mais poderia. Não era uma ligação comum, mas sim algo moldado pelo sofrimento, pelo sangue e pelas batalhas internas que ambos travavam.

Cada cicatriz que carregavam era como uma peça de um quebra-cabeça que só fazia sentido juntos. As marcas no corpo e na alma de um encontravam eco no outro, como se suas dores fossem complementares. Onde ele era rígido, ela era impulsiva. Onde ela buscava redenção, ele carregava culpa. Juntos, formavam uma unidade imperfeita, mas inquebrável.

Eles não precisavam de palavras para entender o peso que carregavam. Bastava um olhar, uma presença, um gesto. Entre os estilhaços da humanidade que os cercavam, haviam encontrado algo sólido, algo verdadeiro. Eram o porto seguro um do outro em meio ao caos.

Pai e filha. Uma relação forjada no fogo, resistente como aço, apesar de todas as tempestades que ainda viriam.

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