᳝ ࣪ ❛ ͏ 𝙘𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 dezesseis : como crianças traídas ៹ ✧⠀
୨ᅠᅠ﹙ ato dois ﹚let the world burnᅠᅠ୧
࣪៹ 𝄒 ˖ ࣪ 𓂃 ۫ . - capítulo dezesseis, como crianças traídas ꜝꜞ ᳝ ࣪ᅠ ៹ 💣 ✶ ۫
Quando se é criança, o mundo tem mais cor.
Mesmo em meio ao caos, à fome e à miséria, uma criança encontra motivos para rir, para sonhar. O concreto sujo vira um navio pirata. Gravetos se tornam espadas, e folhas secas transformam-se em tapetes mágicos que prometem levá-la para longe dali. Crianças têm essa habilidade cruel e bonita de transformar o que é insuportável em algo suportável.
Mesmo quando seus estômagos roncam, quando a boca seca se torna insuportável e o chão gelado é a única cama que conhecem, elas encontram uma faísca de magia na escuridão. É como se, por um breve momento, a miséria não pudesse alcançá-las.
Um pedaço de pano vira uma boneca. Os dedos dos pés se tornam anões em aventuras mágicas. Cada fragmento do que o mundo adulto descarta vira uma história, uma possibilidade. E é nesse mundo, nascido da dor e da imaginação, que a esperança não morre completamente.
Mesmo quando tudo parece perdido, quando o mundo vira as costas para elas, as crianças encontram refúgio. Elas não sabem ainda que o tempo rouba isso, que a dureza da vida adulta rasga o véu da magia e deixa tudo cinza.
Elas não sabem que, um dia, os gravetos voltam a ser apenas gravetos, o concreto é só um chão frio, e a fome e a dor se tornam impossíveis de ignorar. Mas enquanto são crianças, elas resistem.
Elas resistem brincando. Criando. Imaginando. Transformando. Porque, enquanto olharem o mundo com olhos brilhantes, enquanto conseguirem pintar cores onde não há nada, a esperança não parece tão distante.
Astra teve sorte, ou pelo menos era o que diziam.
Ela nunca precisou encarar a dura realidade que esmagava tantas crianças em Zaun. Nunca precisou correr pelas ruas escuras, com os pés descalços machucados, ou rezar para que a próxima esquina não fosse a última. Nunca precisou viver o terror de ser apenas mais uma entre as milhares que desapareciam no esquecimento, engolidas pelo caos.
Ela teve um lar. Teve comida. Teve Silco.
Mas o preço da sua sorte era outra forma de dor. Porque, enquanto outras crianças enfrentavam o mundo violento lá fora, Astra enfrentava a violência dentro de casa.
O pai que deveria amá-la foi o primeiro a roubar sua inocência. Não com as ruas implacáveis de Zaun, mas com o silêncio frio de um quarto escuro, as noites passadas no chão gelado, as janelas abertas deixando entrar o vento cortante. Foi o pai que a deixou fraca, dias sem comer, não por falta de comida, mas pelo prazer perverso de vê-la sucumbir ao próprio peso.
Ela nunca precisou lutar contra o mundo porque não tinha forças suficientes nem para lutar contra ele.
Zaun nunca roubou sua inocência. Não como fazia com as outras crianças. Não com violência explícita, não com os gritos das ruas ou o cheiro de fuligem e sangue. Foi dentro de casa, no espaço que deveria ser seguro, que Astra perdeu o que restava de si.
E, quando Silco apareceu, oferecendo calor, proteção e um amor estranho e feroz, Astra acreditou que finalmente estava salva. Que poderia respirar. Que, talvez, fosse possível deixar o passado enterrado. Mas os fantasmas nunca desapareceram completamente.
Porque a inocência roubada, seja pelas ruas ou pelas mãos de quem deveria protegê-la, nunca volta. Ela deixa cicatrizes invisíveis, marcas que não desaparecem.
E, mesmo com todo o calor que Silco lhe deu, mesmo com um teto sobre sua cabeça e comida na mesa, Astra ainda carregava o peso de uma infância que não foi vivida, de uma luta que nunca escolheu. Ela era o reflexo de Zaun. Não quebrada pelo mundo, mas moldada pela dor que ele inevitavelmente traz.
E quando Powder apareceu, foi como se o tempo roubado de Astra retornasse de uma só vez. As risadas ecoaram onde antes havia silêncio, e os momentos explosivos trouxeram uma luz inesperada para as sombras que Astra carregava.
Powder, com seu jeito desajeitado e criatividade frenética, transformava o mundo ao seu redor em algo mágico, caótico, mas irresistivelmente vivo. Cada ideia mirabolante dela, cada invenção que explodia no ar, parecia arrancar Astra de um lugar escuro. Como se a garota de cabelos azuis estivesse costurando, fio por fio, pedaços da infância que Astra nunca teve.
Elas corriam juntas, riam de piadas absurdas, competiam para ver quem fazia a maior confusão. Eram pequenos momentos que Astra sabia que não poderia recuperar sozinha. Momentos que Powder parecia criar como se fossem um presente, mesmo sem perceber.
Com Powder, Astra não precisava ser forte o tempo todo. Ela podia deixar as paredes que construiu ao redor de si caírem, pelo menos por um tempo. Porque, com Powder, era fácil acreditar que as coisas podiam ser mais leves. Mas também havia medo.
Porque, por trás do sorriso inocente de Powder, Astra via as sombras de Zaun, prontas para alcançá-la. E quando Jinx emergiu do caos, a onda de risadas foi substituída por tempestades, e Astra percebeu que talvez nunca pudesse salvar Powder daquilo que tanto temia.
Ainda assim, ela se agarrava à memória da garota que transformava qualquer objeto em uma brincadeira, qualquer dia em uma aventura. Porque, mesmo quando tudo parecia perdido, Astra ainda enxergava um fragmento de Powder em Jinx. E isso era suficiente para fazê-la continuar.
Jinx era o oposto feroz e selvagem de Powder. Onde Powder era delicada, com um brilho inocente e uma curiosidade ingênua, Jinx era caos puro, um turbilhão de destruição e impulsividade. Ela não seguia regras, não se importava com limites. Jinx era inconsequente, implacável, e, às vezes, assustadoramente imprevisível.
Mas, ainda assim, Jinx era tudo aquilo que Astra mais amava no mundo.
Porque, por baixo do caos e das explosões, Astra via fragmentos de Powder. Nos momentos em que Jinx ria de algo bobo, nos olhos que ainda brilhavam com uma centelha de criatividade, Astra enxergava a garota que ela costumava ser.
E era isso que tornava tudo tão doloroso.
Amar Jinx era como segurar uma faca pelo fio, cada vez que Astra tentava se aproximar, a dor era inevitável, mas ela não conseguia soltar. Era amar alguém tão quebrada quanto ela mesma, alguém que carregava o peso de suas próprias sombras e, ao mesmo tempo, era a luz que Astra não sabia que precisava.
Jinx era imprevisível, mas, de certa forma, era também a única coisa constante na vida de Astra. O único ponto de equilíbrio, mesmo que esse equilíbrio fosse instável, sempre prestes a ruir.
E, por mais que Jinx fosse um furacão que destruía tudo ao seu redor, Astra não conseguia imaginar um mundo sem ela. No fundo, amar Jinx era amar o caos, o fogo e a destruição, mas também era amar a verdade. A verdade de que, por mais difícil que fosse, Jinx era tudo o que Astra tinha. E isso era o suficiente.
━━━ Tem certeza que elas vão vir? ━━━ Astra murmurou, os punhos dela estavam tão cerrados contra o ferro gélido que os nós dos dedos estavam brancos.
━━━ É claro que vão. ━━━ Jinx respondeu, a voz carregada de uma confiança quase infantil.
Ela estava sentada na borda da viga, os braços agarrando os joelhos com força, como se não houvesse um abismo abaixo delas, como se a queda não significasse nada. O vento fazia os cabelos azuis de Jinx dançarem ao seu redor, mas ela não parecia notar.
O olhar dela estava fixo em algum ponto distante, vazio e irritado, como se encarasse algo que só ela podia ver.
Astra a observava de onde estava, sentindo um aperto no peito. Jinx, quando estava assim, parecia um vulcão prestes a explodir, a fúria borbulhando logo abaixo da superfície. Mas era o vazio nos olhos dela que mais incomodava Astra.
━━━ Para de encher meu saco. ━━━ Jinx revirou os olhos dramaticamente, mas não havia malícia no gesto. ━━━ Eu já falei, ela tá' do nosso lado. Agora me deixa pensar.
Astra franziu o cenho, confusa pela ação repentina, mas ignorou, sabia que deveriam ser as vozes que infernizavam a azulada.
━━━ Jinx... ━━━ começou Astra, a voz quase hesitante, mas Jinx não se moveu. ━━━ O que você está pensando?
Por um momento, houve apenas silêncio, o som do vento se misturando ao barulho distante de Zaun abaixo delas. Astra esperou, os olhos fixos em Jinx, tentando ler algo além da expressão vazia e irritada que dominava o rosto dela.
━━━ Que tudo isso é uma merda. ━━━ ela murmurou, ainda olhando para o nada.
Astra sentiu o peito apertar. Era um sentimento familiar, mas ouvi-lo sair da boca de Jinx fazia com que tudo parecesse pior. Jinx desviou o olhar, mordendo o lábio como se quisesse dizer algo, mas não conseguisse. E então, como um movimento impulsivo, ela estendeu a mão, puxando Astra para sentar ao seu lado na borda da viga.
━━━ A Sevika tinha razão. ━━━ a garota franziu o cenho, como nojo das próprias palavras. ━━━ Eca, não acredito que disse isso.
━━━ Razão sobre?
━━━ A minha irmã tá' com uma defensora.
Astra congelou por um momento, processando as palavras.
━━━ Violet tá'... com uma defensora? ━━━ murmurou, como se as palavras fossem difíceis de acreditar.
━━━ Uma defensora. Chatinha, pomposa... cara de quem nunca pisou na lama. Sevika viu as duas juntas. E eu também... ━━━ ela deu de ombros, mas havia algo no tom da sua voz que denunciava o desconforto. ━━━ Eu nem sei o que pensar disso. Talvez elas sejam... sei lá.
━━━ "Sei lá"? O que você quer dizer com isso?
Jinx bufou, irritada, soltando as pernas que antes mantinha abraçadas ao corpo. Agora, elas balançavam livremente sobre o abismo, os pés chutando o ar vazio como se pudessem atingir algo invisível. Ela puxou o binóculo flexível do bolso preso ao cinto e o posicionou diante dos olhos.
Ela observava o abismo abaixo, as luzes de Zaun piscando como vaga-lumes distantes no fundo da escuridão. De repente, com a agilidade de um animal selvagem, Jinx saltou para trás, ficando de pé em um único movimento fluido. Ela bateu palmas fracas, os sons ecoando na plataforma metálica. A risada que veio a seguir era alta, estridente e descontrolada, reverberando pelas estruturas ao redor como um grito de pura excitação.
━━━ Sabia que viriam! ━━ ela gritou, os olhos arregalados brilhando com uma mistura de insanidade e triunfo.
Astra arregalou os olhos, o coração disparando com o som da risada de Jinx ecoando pela ponte.
━━━ O que você está fazendo? ━━━ perguntou, alarmada, enquanto Jinx se inclinava perigosamente sobre a borda, o binóculo ainda preso às mãos.
Jinx girou sobre os calcanhares, ainda rindo, o som tão frenético quanto o brilho em seus olhos.
━━━ Observando o espetáculo, bobinha. ━━━ respondeu, a voz carregada de entusiasmo caótico. ━━━ Olha só, elas estão vindo!
Ela levantou o binóculo novamente, observando o movimento lá embaixo, onde luzes oscilavam na neblina. Ela parecia uma criança animada, completamente alheia à situação.
━━━ Você achou que eles iam ignorar uma oportunidade como essa? Tsc, tsc... subestimar a Jinx é um erro de amadores. ━━━ ela baixou o binóculo por um momento e deu um sorriso torto.
Quando retornou a olhar, seu semblante mudou. O sorriso maroto foi substituído por uma carranca de nojo e desprezo.
━━━ Cala a boca, porra! ━━━ ela resmungou ao vento, sacudindo a cabeça. ━━━ Foi só um abraço de despedida.
Jinx apertou os olhos contra o binóculo novamente, os dentes rangendo com irritação. Suas mãos tremiam ligeiramente, mas não de frio, era a raiva contida, a frustração fervilhando por baixo da superfície.
━━━ Um abraço de despedida, é? ━━━ ela murmurou para si mesma, ou talvez para as vozes, o tom carregado de sarcasmo. ━━━ Claro, porque abraços de despedida sempre terminam com olhares que duram... muito mais do que deveriam.
Ela largou o binóculo de repente, quase jogando-o contra o chão.
━━━ Idiota, idiota, idiota! ━━━ Jinx gritou para o vazio, suas mãos indo direto para o cabelo, puxando os fios azuis com força. ━━━ Isso é o que acontece quando você confia... Você viu, não viu? Viu como ela te trocou sem pensar duas vezes?
Astra ajustou o foco do binóculo, as lentes tremendo levemente em suas mãos observando a cena abaixo. Violet e a defensora estavam próximas, próximas demais para o gosto de Jinx. O abraço entre elas parecia... íntimo, carregado de algo que Astra sabia que Jinx interpretaria como traição.
Ao lado delas, um garoto de pele escura, com cabelos em dreads branco acinzentados, observava a interação com uma postura ríspida e atenta.
━━━ CALA A BOCA! ━━━ Jinx berrou, sua voz reverberando na noite escura. Ela chutou um pedaço de metal enferrujado que estava no chão, mandando-o voar para o lado. O barulho metálico ricocheteou, mas não abafou as vozes.
Respirando fundo, Jinx parou, os olhos fixos no horizonte. Seu corpo tremia, mas ela se forçou a se recompor, mesmo que por fora.
━━━ Foi só um abraço de despedida... ━━━ ela repetiu para si mesma, como se tentar acreditar nisso pudesse calar tudo o que gritava em sua mente.
Mas o nojo em seu semblante e o aperto em suas mãos traíam suas palavras.
━━━ Vai fazer isso? ━━ a voz de Astra soou baixa, quase casual. Ela manteve os olhos fixos no binóculo, a postura tensa apesar do tom aparentemente calmo.
━━━ Fazer o quê? ━━━ Jinx respondeu com irritação, virando-se para Astra com um movimento brusco. Em sua frustração, chutou outro pedaço de metal no chão, enviando-o voando até bater em uma pilha de sucata.
Astra não se moveu. Ela apenas continuou olhando pela lente do binóculo, os olhos fixados em algo distante.
━━━ Eles estão com a gema. ━━━ a esfera de energia azul pulsante, brilhando como um coração vivo dentro de um contêiner de proteção, estava claramente visível na pequena lente. O garoto de dreads estava com ela, andando ao lado de Violet. Astra acompanhava cada passo deles, observando o modo como o garoto segurava o objeto como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. ━━━ Com o garoto, no contêiner.
Por um instante, Jinx parou. Seus olhos arregalados, sempre inquietos, ficaram fixos no rosto de Astra.
━━━ Ekko. ━━━ o nome escapou de seus lábios num sussurro quase inaudível.
Astra baixou o binóculo lentamente, com movimentos cuidadosos, seus olhos se voltaram para Jinx, analisando a garota azulada, que agora parecia tão dividida quanto uma ponte à beira do colapso. Ela sabia o peso que aquele nome carregava. Sabia o que Ekko significava para Jinx, ou o que significava para Powder, mesmo que a própria garota jamais admitisse.
━━━ É ele? ━━━ Astra perguntou.
Jinx piscou, como se aquelas palavras tivessem desenterrado algo que ela preferia deixar esquecido. Ekko. O nome ecoava em sua mente, trazendo com ele um turbilhão de memórias, risadas inocentes, corridas entre os becos de Zaun, brincadeiras que transformavam ruínas em castelos. Eles eram livres, invencíveis, ou pelo menos assim parecia naqueles dias.
Mas junto com as boas lembranças vinham outras, mais amargas. O olhar desapontado de Ekko, a distância crescente, as escolhas que os separaram. Traições reais ou imaginadas, disputas silenciosas que culminaram em uma ruptura impossível de consertar.
Jinx deu alguns passos para trás, o sorriso que sempre adornava seu rosto oscilando entre a diversão descontrolada e algo mais sombrio.
━━━ Claro que é ele. ━━━ ela finalmente respondeu, a voz quase um sussurro, carregada de um tom que Astra não conseguiu decifrar completamente. Era raiva? Dor? Um misto dos dois?
Ela começou a andar de um lado para o outro, os dedos tamborilando contra o cinto em um gesto nervoso.
━━━ Ele tá' com a sua gema. ━━━ Astra comentou, seu tom intencionalmente neutro, como quem joga uma pedra em águas calmas para ver as ondulações.
Jinx parou abruptamente, sua cabeça se virando para Astra com uma expressão que misturava surpresa e indignação.
━━━ E o que você quer que eu faça, hein? ━━━ ela disparou, a voz subindo de tom. ━━━ Que eu vá lá e peça "por favor, me devolve"?
Astra cruzou os braços, inclinando ligeiramente a cabeça.
━━━ Sério? ━━━ ela retrucou, jogando o binóculo em direção a Jinx.
A azulada o pegou no ar com facilidade, mas o gesto abrupto pareceu pegar Jinx de surpresa, tirando-a momentaneamente da espiral de emoções descontroladas. Ela ergueu o binóculo, observando novamente o cenário à distância. Seus olhos captaram Ekko, ainda segurando o contêiner com a gema brilhando em seu interior. A visão parecia despertar algo nela, mas o sorriso que lentamente se formou em seus lábios era tudo, menos gentil.
Era um sorriso sádico, travesso, quase maníaco.
━━━ Vamos acabar com essa festinha puritana. ━━━ ela declarou, o tom carregado de entusiasmo caótico, como se estivesse prestes a transformar a situação em um espetáculo explosivo.
Astra observou a reação de Jinx com uma expressão indecifrável, mas no fundo sabia que aquela resposta era inevitável. Jinx não era alguém que lidava com sentimentos de maneira convencional. Para ela, dor, mágoa e raiva eram combustível. E, naquele momento, Jinx parecia pronta para queimar tudo ao redor.
━━━ Só não se mate, opcional obrigatório. ━━━ Astra advertiu, o tom seco, mas direto.
━━━ Relaxa, Ash. ━━━ Jinx respondeu, ajustando o binóculo em seu cinto e se virando para pegar suas armas improvisadas. ━━━ Eu sou perfeita nesse tipo de coisa.
Astra suspirou. Ela sabia que 'perfeita' significava explosões, caos e, provavelmente, algo fora de controle.
As duas desceram pelas vigas da ponte, movendo-se com cuidado para não alertar os guardas, suas silhuetas ocultas pelo nevoeiro que pairava pesado.
Quando chegaram a um ponto escondido sob uma estrutura metálica enferrujada, Jinx parou e abriu seu cinto improvisado, retirando um objeto que brilhava com cores vivas e familiares. Ela estendeu uma de suas criações para Astra, um fogolume bomba.
━━━ Reconhece? ━━━ Jinx murmurou com um sorriso travesso, seus olhos brilhando com uma mistura de orgulho e insanidade.
Astra segurou o fogolume com cuidado, sentindo o peso familiar da invenção. A pintura era um caos, vibrante, com as cores púrpura e azul que ambas escolheram durante uma das muitas madrugadas que passaram criando. Cada traço e detalhe eram inconfundíveis, sua marca registrada.
━━━ Claro que sim. ━━━ Astra respondeu com um pequeno sorriso, seus dedos já ajustando o gatilho como se fosse parte de um ritual conhecido.
Com um movimento sincronizado, Jinx e Astra começaram a preparar os outros fogolumes. Eles eram lindos, quase encantadores, mas tinha um poder destrutivo que ambas conheciam bem demais. Assim que o primeiro foi ativado, seu corpo metálico brilhou, as asas tremulando levemente antes de levantar voo.
Logo, um enxame de criaturas bombas foi liberado, suas asas brilhantes cintilando contra o nevoeiro enquanto voavam em direção à barricada. Era uma visão surreal, como se uma nuvem de criaturas mágicas estivesse descendo sobre o bloqueio que separava o lado baixo de Zaun de Piltover.
A primeira explosão cortou o ar da noite, um som ensurdecedor que reverberou por toda a ponte. Um brilho púrpura intenso iluminou o nevoeiro, seguido por tons vibrantes de fúcsia e azul, que dançavam como fogos de artifício. Os insetos restantes seguiram o exemplo, detonando um a um, cada explosão trazendo mais caos e cor ao escuro.
Astra observava tudo com atenção, o coração acelerado enquanto o brilho das explosões refletia em seus olhos. Ao seu lado, Jinx soltava uma risada estridente e selvagem, batendo palmas como uma criança diante de seu brinquedo favorito.
━━━ É tão lindo! ━━━ Jinx gritou, sua voz quase engolida pelo barulho das explosões. ━━━ Arte, Astra, isso é arte!
Seus olhos estavam fixos no espetáculo à sua frente, fascinados pelo jogo de cores e luzes que iluminava o céu escuro. Cada explosão parecia pintar o nevoeiro com tons de púrpura, fúcsia e azul, um caos de beleza avassaladora. Os fogolumes bombas, antes tão delicados em suas mãos, agora se transformavam em agentes de destruição, e, por mais que soubesse do impacto que causavam, Astra não conseguia desviar o olhar.
Seu coração batia acelerado, mas havia algo de hipnotizante naquele cenário. O céu iluminado, os fragmentos de metal reluzindo enquanto caíam, a mistura de caos e arte que ela e Jinx haviam criado juntas. Entretanto, o zumbido incessante em seus ouvidos, resultado do som estrondoso das explosões, trazia-a de volta à realidade.
Astra piscou lentamente, afastando-se do transe. Respirou fundo, sentindo o cheiro de pólvora e metal queimado, a lembrança tangível da destruição que estavam causando.
━━━ Vai ficar só olhando? ━━━ Jinx interrompeu, rindo descontroladamente enquanto pulava para trás. ━━━ Isso é só o começo, Astra. Temos muito mais para explodir.
Astra finalmente desviou o olhar para Jinx, observando a garota azulada em seu estado de puro êxtase. Ela apertou os punhos, sentindo a adrenalina correr por seu corpo. Os insetos haviam cumprido seu papel, mas ainda havia mais a fazer.
━━━ Vamos terminar isso. ━━━ Astra concluiu, o brilho das explosões refletindo em seus olhos enquanto ela retirava a arma de seu coldre.
Os passos de Jinx eram precisos, marcando um ritmo quase metódico enquanto suas botas batiam contra o metal da ponte. Era um contraste gritante com a explosão caótica que definia a garota. Cada movimento carregado como se aquele fosse o palco de uma performance que ela havia planejado meticulosamente.
Ao seu redor, a poeira levantada pelas explosões começava a se dissipar, revelando o cenário de devastação que haviam deixado para trás. A ponte agora parecia saída de um filme de guerra. Fragmentos de metal retorcido estavam espalhados por toda parte, guardas caídos jaziam como marionetes sem vida, e os murmúrios de dor dos sobreviventes ecoavam fracamente.
O cheiro no ar era inconfundível, sangue, pólvora e carne queimada se misturavam em uma combinação nauseante. Poças escuras de sangue refletiam o brilho das luzes, enquanto o som distante da cidade começava a preencher o vazio deixado pelas explosões.
Jinx parou por um momento, inclinando a cabeça para observar a cena com um sorriso que era quase infantil. Ela girou o tronco, os olhos dançando de um lado para o outro, absorvendo os detalhes com uma espécie de orgulho doentio.
━━━ Não é lindo? ━━━ Jinx disse, virando-se para Astra com uma expressão de satisfação pura. ━━━ É como... arte.
Astra caminhava logo atrás, mais silenciosa, mas com os olhos atentos. A devastação à sua frente não a afetava como deveria. Ela sentia algo profundo, mas não era culpa nem arrependimento.
Jinx se abaixou, os joelhos tocando o metal frio e manchado de sangue da ponte enquanto estendia a mão para o contêiner caído. A gema Hex dentro dele pulsava com uma luz azul intensa, o chão empoeirado ao redor estava coberto de destroços.
Ela segurou o contêiner com cuidado, quase como se estivesse tocando algo sagrado. Seus olhos arregalados refletiam a luz azul, e, por um momento, houve um silêncio estranho em sua expressão. Sua risada e seu frenesi desapareceram, dando lugar a algo mais... contemplativo.
━━━ Olha só você aqui, tão pequena e poderosa. ━━━ Jinx murmurou para a gema, inclinando a cabeça enquanto girava o contêiner nas mãos.
Astra aproximou-se em silêncio, observando Jinx com cautela. Havia algo diferente na maneira como a garota azulada olhava para a gema, quase como se estivesse conversando com um velho amigo.
Jinx observou à distância, seus olhos brilhando com uma mistura de dor e fúria contida. Lá estava Violet, sua irmã, a pessoa que antes representava tudo para ela. Agora, estava ajudando uma defensora de Piltover, o corpo inclinado enquanto puxava a mulher ferida para ajudá-la a se reerguer.
Cada movimento de Violet parecia um golpe para Jinx, uma traição que adornava seu rosto como uma máscara de desprezo. Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo, enquanto seus dedos tamborilavam contra a lateral de sua arma improvisada.
━━━ Vamos. ━━━ Astra chamou, sua voz baixa, tentando trazê-la de volta ao momento.
Jinx ergueu os olhos, seu sorriso retornando lentamente, mas com um toque de loucura em suas bordas. A garota girou sobre os calcanhares, estendendo os braços como uma apresentadora em um espetáculo grandioso.
━━━ Rentrons à la maison, ma dame. ━━━ vamos para casa, minha senhora. Jinx disse, inclinando-se em uma reverência exagerada e teatral, com um sorriso que oscilava entre o sarcasmo e a diversão pura.
Ela jogou o contêiner com a gema hex por sobre o ombro, ajustando a alça improvisada com cuidado. A luz azul pulsante escapava por pequenas fendas no metal, lançando sombras dançantes no rosto de Jinx enquanto ela se endireitava.
Astra ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto observava a cena.
━━━ Se é isso que você chama de casa... ━━━ Astra murmurou, um toque de ironia em sua voz.
No meio do caos, o som de passos rápidos e decididos ecoou pela ponte, interrompendo a marcha confiante de Jinx e Astra. As sombras do nevoeiro pareciam se contorcer antes de revelar uma figura que ambas reconheceram de imediato.
━━━ Jinx. ━━━ a voz dele soou firme, ressoando como um eco no escuro.
Jinx parou abruptamente, girando sobre os calcanhares. Por um momento, ela ficou em silêncio, como se aquele nome tivesse interrompido algo em sua mente. O sorriso largo que costumava dominar seu rosto desapareceu, sendo substituído por uma expressão mais sombria, mais perigosa.
━━━ Ekko. ━━━ ela finalmente balbuciou, arrastando o nome com um tom de zombaria. Um sorriso torto e venenoso começou a surgir em seus lábios. ━━━ Olha se não é o garoto salvador. O herói do povo. Sempre achando que pode salvar todo mundo.
Ekko não recuou. Ele permaneceu firme, os punhos cerrados com tanta força que seus dedos ficaram pálidos. Seus olhos, cheios de determinação, não deixavam Jinx, mas, por um breve momento, desviaram para Astra, como se quisesse medir a situação por completo.
O ar denso ao redor parecia quase palpável, pressionando contra os corpos como um peso invisível. Astra sentiu a tensão se intensificar, seus próprios batimentos ecoando em seus ouvidos. O zumbido da respiração ofegante no ar era quase ensurdecedor naquele silêncio carregado. Ela engoliu em seco, tentando não demonstrar o desconforto que crescia.
Então, Ekko deslizou a mão para o bolso e retirou um pequeno relógio de bolso. O objeto brilhou levemente sob a luz fraca, balançando suavemente em sua mão enquanto ele o segurava por uma corrente curta. O som do tic tac era baixo, quase inaudível, mas para Astra, parecia ressoar em sua mente.
Jinx estreitou os olhos ao notar o gesto, o sorriso sarcástico voltando por um instante. Ekko continuou balançando o relógio em um ritmo controlado, seus olhos fixos nela, mas agora havia algo mais em seu olhar, uma calma assustadora, como se estivesse vendo mais do que o momento presente.
O som do relógio parou abruptamente quando ele fechou o objeto com um clique seco. O movimento foi o suficiente para Astra dar um passo para trás, instintivamente levando a mão à cintura, onde sua adaga estava presa. Jinx, no entanto, riu alto, sua risada estridente ecoando na ponte.
Jinx sacou sua arma, girando-a nos dedos com destreza. O sorriso travesso voltou ao seu rosto, carregado de caos e desdém. O brilho pulsante da gema hex refletia em seus olhos, como se a energia do artefato alimentasse seu espírito destrutivo.
Ekko avançou, a pistola agora firme em uma das mãos enquanto o bastão girava na outra. Ele usava ambos com a mesma precisão mortal, cada movimento calculado como uma dança ensaiada.
Jinx, vendo a arma em sua mão, soltou uma gargalhada estridente, recuando alguns passos.
Ele disparou primeiro, o som seco da pistola cortando o ar. Jinx saltou para o lado, desviando com a agilidade de quem conhecia o perigo de perto. A bala ricocheteou no metal da ponte, mas Ekko já estava em movimento novamente, o bastão girando para bloquear qualquer ataque.
Jinx respondeu com um tiro de sua pistola, mas Ekko abaixou-se rapidamente, rolando para a lateral enquanto disparava mais duas vezes em sua direção. Uma das balas passou de raspão pela coxa dela, arrancando uma exclamação rápida.
Ekko não recuou, ele usava o bastão para desviar dos tiros que podia e se movia com fluidez, sua pistola respondendo com tiros precisos que mantinham Jinx sob pressão.
Astra avançou, sacando sua própria lâmina enquanto Ekko focava em Jinx. Ele percebeu o movimento no último segundo, virando-se e bloqueando o ataque de Astra com o bastão enquanto atirava um tiro rápido para afastá-la.
━━━ Você acha que lutar por ela vai te salvar? ━━━ Ekko disse, empurrando Astra para trás com um movimento forte do bastão enquanto seus olhos se moviam entre ela e Jinx.
O som das pistolas e do metal chocando ecoava pela ponte, o confronto se tornando cada vez mais intenso. Ekko equilibrava seus movimentos com maestria, a combinação da pistola e do bastão transformando-o em uma força implacável. Jinx, porém, era imprevisível como sempre, suas armas improvisadas e engenhocas explosivas mantendo Ekko constantemente em alerta.
A distância entre os dois foi fechada em segundos. Jinx disparou, mas Ekko rolou para o lado, desviando do tiro com facilidade, enquanto avançava com o bastão girando. O impacto do golpe dela no chão metálico enviou faíscas para o ar, mas ele já estava em movimento, rápido como o vento.
Astra lançou sua adaga com precisão, o som frio e cortante da lâmina assoviando pelo ar antes de acertar o braço de Ekko. Ele grunhiu de dor, recuando instintivamente, mas a lâmina, projetada para retornar, fez seu caminho de volta, cortando a coxa dele antes de Astra a recuperar. Por um instante, Ekko fraquejou, a dor pulsando em seus músculos, mas ele não parou.
Antes que pudesse se estabilizar completamente, Ekko girou o bastão com força e acertou um golpe devastador contra o rosto de Jinx. O impacto foi alto, o som ecoando pela ponte como uma pancada seca. Jinx cambaleou para trás, cuspindo sangue enquanto tentava recuperar os sentidos, sua risada habitual transformada em um grunhido de dor.
Seus olhos estavam fixos em Astra, sua expressão endurecida pela dor. Ele avançou, fechando a distância entre eles rapidamente, mesmo com o sangue escorrendo pelo corte em sua coxa. Astra tentou mais uma vez atacar, lançando a adaga novamente em um arco certeiro. Com reflexos afiados, ele capturou a lâmina no ar, o movimento tão rápido que a lâmina cortou os dedos de sua mão. Ele grunhiu, mas não hesitou.
Em um movimento fluido, ele redirecionou a adaga contra Astra, acertando-a na lateral do estômago. O impacto a fez dar um passo para trás, o sangue rapidamente manchando suas roupas.
Antes que Ekko pudesse se afastar, Astra reagiu com instinto puro, jogando seu peso para frente e acertando uma cabeçada contra o rosto dele. O impacto foi brutal, e Ekko tropeçou para trás, a dor na testa e no nariz latejando enquanto tentava se recompor.
Os três estavam exaustos, feridos, mas nenhum deles parecia disposto a ceder. Jinx, agora de pé novamente, segurava outra de suas engenhocas, enquanto Astra pressionava a mão contra o ferimento em seu estômago.
Ekko limpou o sangue que escorria de sua testa e olhou para as duas, a pistola girando em sua mão boa enquanto ajustava sua postura de combate. Astra, encostada em um pilar, tentava se recompor, o sangue escorrendo lentamente de seu ferimento. Ela respirava com dificuldade, observando enquanto Ekko e Jinx avançavam um contra o outro novamente, as pistolas deixadas de lado.
A luta agora era corpo a corpo, crua e violenta, um confronto de pura sobrevivência. Ekko atacava com precisão, cada golpe carregado de força e raiva reprimida, enquanto Jinx respondia com uma agilidade caótica, usando cotovelos e joelhos para tentar manter a vantagem. Mas Ekko estava ganhando terreno. Ele desferiu uma série de socos que acertaram Jinx em cheio, forçando-a a recuar, a cada golpe mais vulnerável.
Sem pensar, Astra se jogou para tentar ajudar Jinx, usando o que restava de sua força para interromper o avanço de Ekko. Mas, em um movimento brusco, Jinx a empurrou para longe, jogando-a contra a parede de aço da ponte. O impacto foi brutal, arrancando o ar dos pulmões de Astra, que caiu no chão com um gemido de dor.
Enquanto isso, Ekko conseguiu derrubar Jinx. Ele a segurou pelos ombros e a jogou contra o chão, o peso de seu corpo mantendo-a imobilizada. Seu punho se levantou, tremendo com a força acumulada, pronto para acertar o rosto dela.
Por um breve momento, porém, Ekko e Jinx se entreolharam, o tempo parecendo desacelerar. Os olhos de Ekko, cheios de raiva, de repente vacilaram. Um brilho de arrependimento surgiu, uma memória compartilhada passando entre eles. Seu punho parou no ar, tremendo, enquanto sua respiração ficava presa na garganta.
Jinx, atordoada e ensanguentada, não desviou o olhar. Ela o encarava, não com medo, mas com algo quase... resignado. Sua mão, contudo, se moveu com cautela, rolando um pequeno objeto colorido pelo chão.
O objeto parou ao lado de Ekko, seu design caótico e vibrante refletindo a essência de sua criadora. Ekko viu aquilo e arregalou os olhos, um grito preso em sua garganta. Ela desviou o olhar para Astra, seus olhos brilhavam com algo diferente, algo que Astra não conseguia interpretar completamente. Era ternura, misturada com uma despedida silenciosa.
Astra tentou reagir, tentou se levantar, mas seu corpo não obedeceu. A bomba explodiu.
O som foi ensurdecedor, a luz ofuscante. A ponte estremeceu com o impacto, pedaços de metal e concreto voando por todos os lados. O cheiro de pólvora e fumaça encheu o ar, cobrindo tudo em uma névoa espessa.
Astra sentiu o calor da explosão e foi jogada para trás novamente, sua cabeça girando enquanto tentava processar o que havia acontecido.
━━━ Jinx! ━━━ ela gritou, tossindo enquanto tentava se mover entre os destroços.
Mas a ponte agora estava silenciosa, exceto pelo som distante de metal rangendo e pelo eco de sua própria voz.
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