~ Capítulo 15 ~
Oi Oi gente!! Eu realmente ainda não me habituei com as postagens quarta e sábado... Mas vou me habituar! Não se preocupem que logo me ajusto! Mas se eu esquecer de postar quarta, se eu lembrar antes de sábado, eu posto, se não, eu posto dois capítulos no sábado para compensar...
Nos vemos lá embaixo!
OBS: Esse capítulo é enormeeeeee... JÁ VIRAM O SPOILER NÉ? KKKK
Eu era um idiota que tinha sido tragado pelos lábios daquela mulher e decidido passar por cima do meu ódio e coração ferido, esquecer momentaneamente o passado, só para salvá-la de um aniversário que certamente tinha sido feito para fazê-la ter problemas.
Ajudei Malena a escolher um vestido de meia manga laranja, muito bonito e mais comportado e coloquei um terno para tentar parecer um pouco mais homem e porque também combinaria com a minha cara de tédio, raiva e seriedade que certamente permearia o aniversário inteiro.
― Preparada Habibti? ― Perguntei ligando o carro. Ela estava linda e sorriu.
― Mais ou menos. Acho que já esqueci boa parte das dicas que você me deu. ― Eu assenti.
― Se achar que não sabe dar uma boa resposta ao ponto de não se ferrar nelas, basta que você aperte a minha mão e eu arrumarei uma forma de falar por você, amor. ― Disse pegando a mão dela em cima da perna dela e apertando seus dedos entre os meus para demonstrar que estava ali para o que ela precisasse. Malena acabou concordando e eu tirei a minha mão da dela para mexer na marcha para sair com o carro da garagem.
Não demoramos muito para chegar na festa de aniversário. Havia muitos carros estacionados perto e próximos e eu estacionei na primeira vaga que encontrei e ajudei Malena logo em seguida a sair do carro. Ela agradeceu e andamos.
Era muito estranho para mim saber que dali alguns minutos eu encontraria Hana de novo. Já fazia o que? Seis anos? Mais, talvez. Eu nunca mais a olhei, mesmo que a visse na rua, virava o rosto para o outro lado para não dar nem chances.
Quem nos recebeu, para meu desagrado, foi Hisur que logo fez questão de nos guiar para onde todos estavam.
― Hana! Eles chegaram! ― Ele disse andando na nossa frente enquanto íamos atrás. Malena me encarou para ter certeza de que eu não surtaria e sairia correndo naquele segundo, mas embora eu sentisse dor, não era mais tão forte ao ponto de não conseguir encarar dois ex-amigos.
Hana não havia mudado muito. Confesso que achei que a encontraria de hijab por ser o seu aniversário, mas eu não podia esquecer nunca do quão diferente da irmã Hana era. Ela não usava hijab. Estava com os cabelos levemente ondulados e grandes pelas costas e usava um vestido vermelho até o pé. Ela não parecia realmente acreditar que era eu que estava ali, na frente dela.
Eu também não conseguia acreditar que estava fazendo isso por Malena. Ela não poderia nem imaginar o nível do sacrifício que eu estava fazendo ali.
― É um prazer vê-la Malena. ― Disse Hana.
A única coisa que eu poderia falar que havia mudado em Hana é que ela não encarava mais ninguém nos olhos, o olhar baixo, quase que de medo enquanto encarava qualquer um presente. Para quem antes parecia poderosa e forte, agora mais parecia um cordeiro.
― Prazer é o meu. Meus parabéns, senhora Hana. ― Disse Malena estendendo uma pequena lembrança. Tínhamos comprado um par de brincos de ouro como presente de aniversário.
Hana fez questão de abrir o presente imediatamente e sorriu levemente agradecendo o presente. Hisur colocou a mão na cintura dela, a trazendo para mais perto dele e sorriu para mim e Malena parecendo perceber que seu plano de ver duas pessoas se matando não tinha dado lá tão certo.
― Vê que lindo casal eles fazem, Hana? ― Perguntou Hisur apontando para mim e Malena. Ainda de olhos baixos, Hana concordou.
Hisur decidiu nos liberar momentaneamente, mas eu tinha certeza de que tão logo ele pudesse, ele atacaria de novo. Me sentei com Malena em uma das mesas que estavam vazias e nós esperamos que todos os outros também se acomodassem e conversassem.
Na nossa mesa, um casal de idosos e outro casal mais jovem se sentou. A senhora idosa parecia ter sido colocada propositalmente ali, porque ela encarava Malena como se nunca tivesse visto alguém da pele dela por ali, o que era uma falácia. Mas ainda tinha coisa pior. A senhora queria atestar alguma coisa nos vendo como casal. Eu só não tinha sacado o que ainda.
― Vocês são um casal tão jovem e bonito. Trabalhas com o que, senhor? ― Perguntou a senhora.
― Sou chef auxiliar junto do meu irmão num restaurante.
― Aqui em Dubai mesmo? Não é muito caro de se manter?
― Somos bons no que fazemos. ― A senhora acabou concordando.
Depois de algum tempo, ela voltou a nos encher de perguntas:
― Já tem filhos? ― Malena arregalou os olhos antes mesmo que eu me manifestasse e eu precisei tentar consertar antes que a senhora achasse que a gente nunca teria filhos e deveria queimar no fogo do inferno.
― Por enquanto estamos nos dedicando a nossas tarefas pessoais. Minha esposa é atleta. ― E graças a Deus, ou não, Hisur chamou a atenção novamente para si. Pelo menos fez com que a senhora desfocasse um pouquinho só de nós para ouvir o homem.
― Queria, primeiramente, agradecer a todos os presentes por estarem prestigiando o aniversário da minha esposa. ― E dito isso houve uma salva de palmas dos presentes. Eu e Malena acompanhamos lentamente, mais encarando os presentes e tentando se misturar. Hisur abriu um largo sorriso antes de continuar: ― E agradecer por termos Rashid e Malena aqui presentes. ― Disse apontando para nós. Houve outro salvo de palmas com bem menos gente, já que ninguém ali nos conhecia direito e eu comecei a ficar alerta com a possibilidade de que fosse naquele momento que Hisur viesse a nos ferrar.
E não estava mais certo.
― Eles são um casal muito jovem, não se casaram não faz nem um mês, sabe? ― Continuou e os presentes nos saudaram com longos sorrisos de como era bonito ver um casal de passarinhos em plena lua de mel. Engoli em seco e encarei Malena de canto dos olhos, ela que parecia mais empertigada que um pássaro ao meu lado.
― Rashid é um grande amigo meu, sabe gente? ― Continuou Hisur já começando as mentiras deslavadas. ― E de uma coisa que eu me lembro muito bem era em como ele era um ótimo sommelier! Ele consegue, como o irmão, saber qual vinho é de qual safra e marca. ― E os presentes pareceram ficar realmente surpresos me encarando como se não acreditassem nisso. Engoli em seco e encarei Malena.
Eu tinha dito que estaria ali para salvá-la de qualquer pergunta que ela não soubesse responder. Mas quem na verdade estava encurralado era eu, porque eu não podia beber, já que meus trejeitos mudavam um pouco e Malena não conseguiria sobreviver nesse ninho de cobras por muito tempo, mas também não podia fazer desfeita sob o risco de parecer que não era lá tão amigo de Hisur como ele queria que os outros parecessem.
― Ele não vai beber. E você não deveria incentivá-lo a tal coisa. Não sei muito bem as exatas passagens, mas tenho certeza de que tem alguma parada sobre não poder beber no alcorão, não é mesmo senhor Hisur? Será um péssimo amigo assim e incentivará o seu amigo a beber, ainda que seja para se gabar, na frente de todos? ― Perguntou Malena, o que realmente acabou por me surpreender e eu a encarei estupefato sem palavras para como ela tinha conseguido sair perfeitamente daquela situação.
Hisur apertou um lábio sobre o outro tentando segurar a ira enquanto os presentes assentiam com a cabeça concordando com Malena e até mesmo elogiando-a por defender o marido contra o ato de pecar contra o que Mohammed dissera para não fazer.
― Você ouviu, amigo, eu não ouso ir contra a minha esposa. ― Disse destilando bastante ironia no amigo e fazendo Hisur dar um sorriso bem azedo concordando.
Pelo menos, fiz os presentes sorrirem.
Mas era óbvio que Hisur não desistiria. O que era para ser uma homenagem para a sua esposa, conforme a hora avançava e os mais velhos iam embora, passou a se demonstrar ser uma completa falta de caráter.
Hisur contratou mulheres de moral duvidosa para dançar ali na frente de diversos homens casados e era meio que nítido como Hana não concordava, tampouco gostava daquilo, mas nada falava continuando a comer em silêncio. Alguns homens riam enquanto viam as mulheres rebolando e eu encarei Malena decidido que era aquela a nossa deixa para ir embora.
Malena concordou com a cabeça e a gente se levantou quase que no mesmo segundo. Hisur também se levantou ao perceber que tínhamos nos levantado e decidiu agir novamente.
― Malena, Rashid! Não vão embora antes de dar a graça de vossas presenças e dançarem para a minha Hana! Vai Rashid, você era um exímio dançarino na juventude. Não é possível que parou! Sabia fazer qualquer mulher dançar! ― Malena me encarou arqueando uma sobrancelha como se não acreditasse.
Não, não, era outra coisa que ela estava tentando expressar, porque ela tinha me visto dançando no nosso casamento, devia imaginar que eu sabia dançar alguma coisa. Ou não. Vai saber.
― Minha esposa está cansada, já vamos embora. ― Tentei contornar a situação, mas Hisur era ardiloso.
― Qual! É só uma única dancinha! Por favor Malena! Pela minha esposa. Não é mesmo Hana?
Hana que nos encarava como se estivesse vendo um dragão na frente dela, assentiu como se precisasse fazer isso.
Malena acabou bufando.
― Vamos fazer o que ele quer logo e nos mandar daqui. Já cansei desse clima de gente chata. ― Murmurou Malena me fazendo rir baixinho.
― Só deixe que eu te guie então. Você confia? ― Perguntei baixinho. Malena me olhou nos olhos por longos segundos antes de finalmente assentir com a cabeça.
https://youtu.be/ytUZfddj95g
(Mais ou menos assim a dança entre os dois).
A Thousand Years começou a tocar como plano de fundo e eu e ela fomos até a pista de dança. Segurei o punho de Malena levemente a fazendo dar um breve rodopio antes de segurar sua mão novamente por apenas alguns segundos antes de soltá-la em uma mão apenas para abrir um pouco o outro braço e então voltar a segurá-la novamente para rodopiá-la. A dança fluía perfeitamente, porque Malena estava tão concentrada quanto eu, seguindo basicamente o que eu fazia e confiando em mim quando devia confiar.
Continuei rodopiando com ela antes de começar a andar numa espécie de valsa com ela pelo salão. Depositei a sua mão com cuidado na altura do meu pescoço e coloquei a mão na sua cintura enquanto a movimentava com cuidado olhando sempre em seus olhos. Rodopiei-a novamente e fiz como se a afastasse para depois rodopiá-la novamente para dentro dos meus braços. Com cuidado, fiz com que ela curvasse as costas um pouco antes de puxá-la novamente. Sem quebrar o contato visual, porque isso era muito importante para que ela continuasse confiando em mim naquela dança enquanto eu a movia como um verdadeiro cavaleiro devia fazer.
Andamos mais um pouco, rodopiamos novamente e eu a coloquei exatamente na lateral do meu corpo dobrando um pouco a perna enquanto fazia o movimento com o rosto virado para ela. Malena mantinha-se atenta e meus olhos hora ou outra acabavam sendo desviados para seus lindos lábios.
Voltamos a andar como numa valsa antes que eu segurasse uma das suas pernas elevando-a um pouco do chão enquanto rodopiava com ela levemente pelo ar. Da mesma forma cuidadosa que a tirei do chão, fiz questão de colocá-la nele novamente. No fim, para finalizar toda a coreografia rodopiei-a novamente para dentro dos meus braços e a curvei novamente para próximo do chão somente para esperar a música finalizar enquanto a encarava nos olhos sem conseguir me demover deles.
Voltei a puxá-la para cima para que não ficasse cem por cento torta, enquanto os aplausos se faziam ensurdecedores. Contudo, eu não conseguia era parar de encarar Malena como se estivesse dentro de um sonho onde só havia o rosto dela.
O tempo pareceu paralisar por longos segundos enquanto os meus olhos passavam por todo o rosto dela. Desde os olhos verdes e inebriantes que me encaravam como se ela soubesse todos os dramas do mundo, a sobrancelha levemente arqueada, o nariz esculpido e os lábios carnudos que davam um sorriso mínimo no canto deles. A pele dela, negra, naquele momento, parecia brilhar e se expandir por todo o ambiente, encontrando a minha alma e descobrindo o meu coração palpitando enlouquecidamente no peito.
E não era somente pelo esforço que a dança me pusera.
Quando ela reconheceu que a dança tinha finalmente acabado, me surpreendi quando ela abriu ainda mais o sorriso, murmurando:
― Até que a Beyoncé realmente está perdendo um dançarino como você. ― E eu acabei gargalhando bem surpreso, pouco me importando que as pessoas nos olhavam e aplaudiam, pouco importando que fôssemos focos de atenção total.
― Viu porque só algumas pessoas ficam sabendo desse meu segredo? ― Pisquei fazendo Malena revirar os olhos e nós dois decidirmos que isso significava que aquele era o nosso momento de partir.
Busquei a sua mão e beijei-lhe entre os dedos antes de movimentá-la para a saída. Hisur ainda tentou nos parar, mas não teve muito sucesso.
― Poxa, continuem mais um pouco... Gostaríamos de vê-los dançando mais um pouco. ― Era óbvio que era mentira.
― Preciso treinar amanhã. ― Disse Malena de forma categórica.
― Você ouviu. ― Disse seguindo com ela para fora.
Como sempre seguimos em silêncio para casa. Malena olhava para as ruas agora vazias da cidade parecendo pensativa. Estava tão resoluta em suas reflexões que me senti mal em tirá-la de tamanha meditação interior.
― Até que você não é uma pessoa ruim de conviver, viu, Ra? Acho que decidi hoje que podemos ser amigos. ― Sorri de canto de lábios.
― E porque você decidiu isso hoje? Charme de saber conduzir uma parceira na dança? ― Malena gargalhou de mim.
― Céus, não. Acho que... ― Ela demorou para responder e eu olhei de canto dos olhos percebendo que ela estava em uma luta interna para ver se me contava o que a atormentava ou não. Tentei fazê-la relaxar.
― Vai em frente, habibti. Pode me contar. ― Malena suspirou.
― Acho que senti um pouco de pena de você. ― Tentei não transparecer nervosismo, mas acabei apertando a minha mão com mais força no volante tentando focar no caminho a frente.
― Pena?
― É... Você não é uma pessoa má. Só tenta transparecer isso para os outros na tentativa escrota de não ser ferido mais uma vez. Eu conheço esse sentimento, sabe? É uma forma de se proteger do mundo, super válida, afinal. Por muito tempo eu me utilizei dela, antes de encontrar no judô uma forma de colocar essas sensações para fora e tentar entender que o problema de machucar não é algo que eu vá conseguir controlar fazendo isso, sabe? ― Não, eu não entendia e acho que ela nunca entenderia a minha situação. Porque por mais que ela tentasse me justificar com aquele discurso, nada se comparava ao que eu sofri.
― Continue. ― Foi o que me limitei a dizer enquanto sentia como se um bolo se apossasse da minha garganta.
― Você sempre poderá ser machucado. E o problema não está contigo, mas sim com a pessoa que precisa disso para viver, entende? Quem precisa machucar os outros para ser feliz, é ela a pessoa problemática. Você nunca vai estar errado em entregar tudo de si. Por que essas paradas de confiança e amor dependem disso.
― De aceitar que você vai se ferir?
― E ferir também. ― Pontuou Malena dando de ombros. Sorri de lado e abri o portão da garagem para entrar como tentativa de esconder o meu rosto dela.
― Eu não concordo com você. ― Disse lentamente enquanto voltava a me concentrar em estacionar. Malena fingiu que estava tudo bem eu discordar dela e perguntou cheia de dedos:
― Ah é? E porque você não concorda comigo? Aliás, de tudo o que eu disse, o que, exatamente, você não concorda?
Tentei formular uma frase com sentido e, para isso, tentei ganhar tempo estacionando o carro. Apenas quando eu desliguei o carro e pude olhar para o lado e ver que ela também me encarava nos olhos que decidi falar.
― A melhor forma de se proteger de ser ferido é não confiando em ninguém. Se para amar, há necessidade de confiança, eu prefiro não amar novamente. Eu não quero ser ferido por mais ninguém. Você não tem noção do que você está dizendo, porque não sabe o tamanho do meu sofrimento. ― E pode ter parecido uma mensagem carregada de sentimentos e raiva, mas era a pura verdade que escapava dos meus lábios.
Malena suspirou e parecia olhar a fundo da minha alma olhando para todos os pontos do meu rosto. Quando ela falou, percebi que tinha sido pego de surpresa por ela mais uma vez:
― Não é fácil confiar em alguém. Você acha que é? Ainda mais uma pessoa que meio que acabou se tornando o seu marido contra a sua vontade. Mas eu escolhi confiar em você, Rashid. ― Um tapa teria doído menos. Como um flash mental, eu me lembrava das minhas exatas palavras naquela noite mesmo para ela:
Você confia?
E Malena tinha escolhido confiar em mim. Havia permitido que eu a guiasse na pista de dança numa entrega de confiança total.
O que ficava ainda mais claro naquele segundo era que ela tinha decidido que estava tudo bem se eu estivesse disposto a machucá-la, porque ela estava aceitando uma amizade com espinhos, uma possível ferida, se acaso fosse a única coisa que eu pudesse dá-la.
Abri os meus lábios, mas acabei os fechando sem saber exatamente o que dizer. Meio torpe, continuei a encarando e graças a Alá, Malena voltou a falar quebrando o silêncio que eu não conseguia desfazer:
― Você permite que eu te ensina uma forma de se desfazer desse sentimento e aprenda a viver melhor com você mesmo e com os outros? Podemos confiar um no outro, não podemos? Não estou te pedindo para confiar novamente em quem te feriu, mas dar uma oportunidade para confiar em outra pessoa.
― Mesmo que essa pessoa possa me ferir. ― Malena deu um mini sorriso de lado.
― Mesmo que essa pessoa possa te ferir, ainda que não queira. ― Muito lentamente, acabei concordando com a cabeça.
O encanto de estar atraído magneticamente por Malena se desfez por alguns minutos enquanto Malena abria a porta do carro e saía indo apertar o botão do elevador.
― Lá em cima eu te mostro. ― Concordei com a cabeça colocando as mãos no bolso da calça social.
Meu coração batia descompassadamente no peito enquanto eu encarava Malena que parecia tranquila esperando o elevador. Ao entrarmos, o silêncio parecia uma presença reconfortante, preenchendo a minha ansiedade e nervosismo.
Abri o apartamento e Malena foi entrando tirando o salto alto e tentando se equilibrar ao mesmo tempo. Fechei a porta e me assustei quando assim que virei, Malena agarrou o meu blazer pela lapela segurando ali como se fosse me matar.
― Hã... Esse é o momento que eu sou ferido? Mas já Habibti? Mal comecei a confiar em você. ― Brinquei tentando aliviar o clima. Malena gargalhou e acabou me empurrando enquanto o fazia.
― Você sempre tem uma gracinha para falar e me fazer rir. ― Sorri ao ver que Malena ria.
― Bom, preciso de ótimas palavras antes da minha morte, não acha?
― E acha mesmo que vou te matar agora? ― Ela revirou os olhos.
E talvez por que ela não esperasse, tirei as mãos dela da minha lapela empurrando ela e mãos para a porta. Malena arregalou os olhos. E, bom, eu não consegui fazer outra coisa além de ficar olhando como que hipnoticamente atraído pelos lábios dela.
― Acho que se eu me defender, não morro, não é mesmo? ― E para minha surpresa, Malena tirou a mão dela que eu empresava na porta e colocou no meu cabelo puxando de forma que minha cabeça acabou se levantando.
― Lembra que eu disse que ia te ensinar como lidar com os seus sentimentos de medo de ser ferido? ― Ela disse e eu juro que tentei assentir, mas estava um pouquinho incapacitado. Então apenas aproximei o meu corpo do seu amassado na porta e tentei falar perto do ouvido dela:
― Eu acho que estou sendo ferido, sabe? ― Ela tentou segurar a vontade de rir.
― É mais ou menos a minha lição. ― Ela falou aproximando os lábios do meu ouvido. Senti o meu corpo arrepiar e tentei não ligar essa informação a mente, para acabar não dando amostras de pervertido novamente.
― Quando eu estou treinando judô, eu lembro que só vence quem tem capacidade de lidar com as feridas e com as dores dos treinamentos diários, das quedas, de ter que ser melhor do que a minha oponente para vencer. Rashid, entenda... ― E para a minha surpresa, mais uma vez, Malena fez um movimento estranho me tirando do equilíbrio nas pernas e, colocando a mão na minha lapela novamente, ela conseguiu me derrubar como um baque surdo no chão.
Só tive tempo também de processar a dor, porque aquilo doía para caramba as minhas costas. No segundo seguinte, Malena estava com os braços apoiados no meu ombro direito, olhando nos meus olhos e sorrindo felinamente:
― Ainda que você seja ferido, levante-se e continue. O jogo ainda não terminou. Você ainda pode vencer. Só é dada a possibilidade de vencer nos jogos e também na vida, a aquele que realmente não desiste e continua na luta da vida. Ferir faz parte, mas da mesma forma que eu confiei que você não me derrubaria em momento algum da dança, você precisa confiar em alguém. Precisa, por exemplo, confiar em mim. ― Revirei os olhos.
― A diferença, amor, é que eu realmente não te derrubei no chão em momento algum, mas acho que tivemos um nocaute aqui, você não acha? ― Disse empurrando ela e fazendo ela girar como um bolinho no tatame entre risadas antes que percebesse que eu estava com metade do meu corpo acima do dela.
Minha mente, obviamente, ficou completamente em branco nesse exato segundo.
Malena me encarava sem saber também como reagir. Os segundos se arrastavam. Eu jurava que o meu coração quase queria sair do peito, batendo enlouquecidamente no peito. Acho que o meu coração tinha entendido tudo errado sobre a questão de confiar. Respirei fundo e por um segundo decidi que deveria me afastar e não beijá-la, quando, caramba, a vontade era enorme. Tinha que me lembrar de que dali algum tempo a gente estaria separado.
― Rá? ― Ela sussurrou antes que eu começasse a me afastar. Meus olhos ainda continuavam sobre os dela, naquele magnetismo inexplicável.
― Hum? ― Foi o que consegui falar com a voz grave de desejo.
― Nós podemos fingir que isso nunca aconteceu?
― Isso o q ― E antes que eu terminasse de falar, fui surpreendido por Malena puxando o meu rosto entre as suas mãos e grudando as nossas bocas.
E acho que a sensação de como se diversos fogos de artifício estivessem explodindo dentro de mim fosse a metáfora mais perfeita naquele momento.
A sensação era de que eu só tivesse descoberto de que tinha parado de respirar naquele segundo que estava tendo contato com o ar necessário para respirar. Movimentei meus lábios sobre os dela absorvendo tudo o que eu podia e da forma como podia, afinal, de alguma forma, Malena não queria que esse beijo continuasse perdurando as nossas noites e talvez eu estivesse naquele segundo aprendendo que confiar também dizia respeito a entender e aceitar os anseios do outro.
Malena tinha gosto de tâmara, talvez porque ela tivesse se viciado na fruta. Não importava o motivo, a sensação era boa e eu queria continuar experimentando ainda mais. Movi minha língua para dentro da sua boca sentindo-a brincar também com a minha língua. Suas mãos se moveram pelo meu cabelo e pelo meu pescoço e eu movimentei minhas mãos pelo seu cabelo e então pela lateral do seu rosto, alcançando sua cintura e a puxando para descolá-la do chão apenas para aprofundar ainda mais o beijo.
Era incrível como eu me sentia um menino novamente, meu coração respondendo como se estivesse finalmente voltando a sorrir. Malena apertou-me sobre ela passando as mãos pela parte das costas da blusa, entrando com suas mãos e tocando a minha pele. A sensação de frio das mãos dela encostando no meu corpo quente parecia atiçar ainda mais a minha vontade de experimentar um pouco mais dela.
E eu continuei.
Mordisquei o seu lábio inferior apenas para descer num rastro quente de beijos pelo queixo, pelo pescoço até o espaço que havia entre os dois seios, com um decote discreto sendo puxado para baixo. Malena arfou e eu sorri sentindo as suas mãos arranhando as minhas costas.
Talvez nós dois não fôssemos normais, nos sentindo atraídos um pelo outro naquela briguinha imbecil de egos de dominância, naquele ferir e ser ferido que completava as nossas almas. Apertei um dos seios de Malena entre os meus dedos e lambi o começo do que parecia ser o começo de um sutiã antes de voltar a beijá-la novamente nos lábios.
Malena respirou fundo e, para a minha surpresa, desencostou os lábios dos meus em total desejo refletido nos olhos.
― Eu acho melhor pararmos aqui. Não quero que nos machuquemos. Vamos confiar um no outro. ― Voltei minha atenção para os seus lábios entreabertos e então para nossas peles coladas e suadas. E então tomei uma decisão totalmente baseada em idiotices.
― Você não precisa ter medo de que isso sirva como uma forma de nos unir. Eu nunca vou te amar, há outra no meu coração. ― E talvez eu tenha sido o mais idiota, impossível, porque eu não consegui nem processar a informação.
Quando percebi tinha recebido um tapa muito bem dado na cara.
― Saia de cima de mim, agora. Saia. ― Mas era óbvio que eu tinha que continuar confuso estranhando aquela reação para quem queria que eu esquecesse aquela noite como se fosse algo super de boas para mim.
― Não era o que você queria ouvir? Você não disse para fingir que isso não aconteceu? Não entendi o tapa. ― Disse saindo de cima dela em um pulo. Malena não ousou sequer me encarar.
― Saia do apartamento antes que eu te mate. SAIA! ― Ela gritou e para minha surpresa jogou um sapato na minha direção e eu desviei me abaixando o suficiente para o sapato passar por mim zunindo. Quando ela ousou pegar a minha linda televisão para jogar em cima de mim, eu realmente percebi que era melhor eu me demandar dali, mesmo que o apartamento fosse meu, antes que eu acabasse sofrendo um péssimo de um acidente horrível.
― Malena! Acalme-se, não se preocupe, eu vou fingir que essa noite nunca aconteceu, como você quer! ― E eu fechei a porta no exato segundo que outro sapato foi parar em cheio na porta.
Caramba, eu tinha tirado a mulher do sério.
O pior era tentar explicar isso sem parecer um idiota para o meu irmão. Por que infelizmente eu teria que descer e encontrá-lo no andar debaixo, já que eu precisava de um lugar para dormir.
Quando o meu irmão abriu a porta do apartamento para mim, tentei o meu melhor sorriso, mas Ham tinha cara de poucos amigos, ódio mortal, com o cabelo todo desgrenhado, os olhos ainda com olheiras profundas e cara de quem estava prestes a me matar pela hora que eu decidira o atormentar.
― Fui expulso do apartamento por Malena. ― Ham franziu o cenho.
― Como é? O que diabos você fez para que isso acontecesse, idiota? ― Ham tinha a mania de ser carinhoso e me dar ótimos apelidos quando estava nervoso.
― Ah, é uma longa história, Ham... ― Tentei desmerecer a história, até porque eu não sabia como contar aquela história sem parecer um idiota mesmo. Empurrei Ham e já fui entrando no apartamento. Ham suspirou.
― Só tem o sofá. A não ser que você queira dormir no berço com Abudi. ― Neguei com a cabeça.
― Não, não, valeu. ― Ham deu de ombros e ameaçou ir em direção ao seu quarto, mas acabou mudando de ideia no último segundo.
― Amanhã você precisa nos contar isso. ― Revirei os olhos.
― Antes eu tenho que entender o que aconteceu, você não acha? ― Ham me ignorou voltando para a cama.
Tirei o blazer que desgraçadamente ainda continha o cheiro de Malena e desabotoei alguns botões da blusa social deitando no sofá. Estava com um calor infernal saindo por todos os poros do meu corpo. Respirei fundo e tentei focar no que havia acontecido.
Precisava ao menos tentar entender.
Malena havia me puxado e me beijado. E eu correspondi porque além de não ser doido nem nada do tipo, estava realmente atraído e desejoso por Malena de uma maneira que era até ridículo de contá-la. Mas antes de me beijar, Malena tinha deixado bem claro de que aquela nossa cena deveria ser esquecida como se nunca tivesse acontecido.
E quando ela parou de me beijar decidindo que já tínhamos avançado o suficiente, só porque eu queria continuar avançando todas as bases possíveis e impossíveis com ela, afinal, não era como se eu estivesse cometendo pecado, estávamos realmente casados, caramba! Eu podia beijá-la e avançar até o fim das preliminares.
Bem, antes que a gente avançasse, eu tentei confortá-la dizendo que eu poderia realmente fingir que nada entre nós tinha acontecido e que a gente poderia até avançar bem mais do que os simplórios beijos que estávamos trocando porque, bem, afinal, não era como se eu tivesse entregando o meu coração para ela, não é mesmo? Ela deveria saber que eu nunca seria 100 por cento dela e de ninguém porque ainda havia outra ocupando espaço no meu coração.
Agora porque raios ela tinha decidido me tacar sapatos e até a minha televisão em cima de mim depois que eu falei isso, era um grande mistério para mim. Não era como se eu tivesse mentido. E acredito que era justamente o que ela queria ouvir, não? A não ser que eu tenha soado idiota falando isso ou ela realmente estivesse com raiva de alguma coisa que eu não entendia.
E de qualquer forma, provavelmente não entenderia aquilo tão cedo, porque não era como se eu pudesse dividir aquilo com o Sheikh. Se eu começasse a contar aquela história, ele ia querer que eu contasse o motivo pelo qual eu havia desistido de amar outra pessoa além de Yala e eu não estava realmente bem em reviver aquele passado desgraçado.
Era melhor não reviver certas coisas.
Como eu não queria dividir a minha intimidade com Ham, porque era meio óbvio que se eu contasse para ele que beijei Malena, ele passaria a informação para Pam e, por Deus, aquela mulher não sabia mentir e nem sabia esconder que sabia de alguma coisa. Assim sendo, ficaria praticamente na cara de Malena que o meu irmão e Pam por tabela estavam sabendo do nosso rolo todo e isso sim seria péssimo. Porque além do fato de eu não conseguir resolver essa situação, ainda teria complicado a nível um milhão, porque duvido que Malena me perdoaria se descobrisse que outras pessoas estavam sabendo da nossa intimidade que ela tinha falado que era para nós agirmos como se nada tivesse acontecido. Por isso, para não dividir nada com Ham, decidi fugir do apartamento dele antes mesmo de começar a primeira oração do dia e ele viesse em seguida com perguntas.
Mas daí entrando no meu apartamento de fininho, eu não conseguia me decidir se tinha que fazer papel de idiota, como se realmente não tivesse acontecido nada entre nós no dia anterior ou se começava me desculpando se realmente eu tivesse a magoado, por motivo que eu não sabia, demonstrando que eu lembrava obviamente de tudo o que havia acontecido na noite anterior.
Por Deus, como era difícil ser homem e ainda por cima entender uma mulher!
Felizmente, ou não, Malena não estava mais em casa. Aparentemente, tinha até mesmo acordado mais cedo para ir treinar. O que significava que eu teria ainda um grande dia pela frente para tentar me desculpar com Malena antes de encontrar o Sheikh e ter que resolver as coisas de forma bem vergonhosa na frente dele.
As duas opções eram terríveis.
Eita que agora sim que o Sheikh vai ter um trabalhão enooooorme para lidar com esse casal se formando que não sabe nem se entregarem direito, tampouco entender o misto de sentimentos que eles sentem... Concordam???
Vamos ver se o Sheikh consegue resolver essa situação tensa, hein?? haha
Mas e aí? Alguém esperava tanta coisa acontecendo nesse capítulo? rsrs
E a curiosidade sobre Rashid e a tal Yala aumenta ainda mais, não concordam? rsrs
Enfim! Começamos o ano com um capítulo! Desejo a todas um feliz 2021!
O que vocês estão achando?? Me contem de verdade <3
Bjinhoos
Diulia.
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