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03

TRÊS

Poção do amor

Gaspard estava atrasado.

Eles haviam combinado de se encontrar à meia-noite, depois que todos os alunos de Ever After High estivessem dormindo. Mas o relógio da biblioteca já marcava meia-noite e meia, e isso deixava Blondie inquieta. Seu olhar se movia nervosamente pela sala escura, iluminada apenas pela vela que segurava. Com a outra mão, ela enrolava um de seus cachos no dedo, soltava, e depois fazia o mesmo de novo, enquanto esperava.

E esperava.

Esperava.

Esperava.

De repente, uma onda de eletricidade percorreu seu corpo, lembrando-a do elo que a conectava a Gaspard. Ela olhou, animada e ansiosa, para a direção de onde a sensação vinha, vendo primeiro a sombra de Gaspard antes de sua figura alta aparecer pela porta.

— Por que ainda não começou? — Gaspard perguntou com um tom irritado, se aproximando dela.

— Estava esperando você. — ela respondeu, um sorriso se formando em seus lábios. — Combinamos à meia-noite, mas...

— Corta o drama, Blondie. — ele a interrompeu bruscamente. Foi só então que Blondie percebeu o tom grave e sombrio de Gaspard, o que fez os pelos de sua nuca se arrepiarem.

Ela procurou os olhos do rapaz, que brilhavam com uma intensidade que sugeria perigo e segredos. A expressão séria dele era quase assustadora, com os traços tensos e os lábios apertados em uma linha fina.

Ela sentiu uma mistura de medo e curiosidade.

De repente, um arrepio inesperado percorreu sua espinha, como um frio intenso cheio de raiva e pavor, apertando seu peito como se fosse uma mão gelada. Isso a pegou de surpresa e fez seus pelos se eriçarem. Mesmo assim, ela decidiu ignorar e focar em Gaspard.

— Aconteceu alguma coisa?

Ele deu um sorriso sarcástico.

— Não vejo por que isso te interessa. — ele provocou.

Ela deu um passo para trás, surpresa com a dureza em sua voz.

— Você está muito parecido com seus irmãos. — Blondie comentou, com uma mistura de acusação e curiosidade.

Ela nunca tinha conhecido a família dele, mas, pelos rumores, ele estava agindo de forma parecida, soltando palavras afiadas e olhares gélidos.

O frio nos olhos dele diminuiu um pouco, mas Blondie ainda estava em alerta. Gaspard percebeu isso, suspirou e olhou para ela.

— Droga, me desculpa. — ele disse.

Ela confiou nele e relaxou um pouco.

— O que aconteceu? — perguntou, inclinando a cabeça.

Ele balançou a cabeça três vezes. Ela percebeu e ficou satisfeita com isso. — Não é nada demais.

Dessa vez, ela não acreditou. Os olhos verdes dele pareciam vazios e perdidos, como se tentassem encontrar o caminho em meio a uma neblina.

— Parece que é importante sim. Está te afetando, dá pra ver.

Ele ficou surpreso e a olhou com mais atenção.

— Dá pra ver? Literalmente?

Ela se surpreendeu e riu, a risada escapando como se fosse um soluço. — Não, eu queria que fosse assim. Imagina que incrível seria ver seus pensamentos! Você não conseguiria esconder nada de mim. — brincou, sorrindo.

— Então você também não consegue sentir. — ele disse, quase para si mesmo, mas ela não deixou passar.

— Sentir você? — perguntou, e Gaspard assentiu. Blondie franziu a testa, ainda sorrindo. — Não, não consigo. Sentir como? E por que está perguntando isso?

— Não é nada, só um teste pra ver o quanto você se distrai antes de entender a situação. — ele sorriu de um jeito encantador, com um toque de malícia que deixou o ambiente mais leve. Ela riu de novo, mas dessa vez, mais contida. — Vamos começar então?

Ela assentiu e os dois caminharam juntos até as estantes.

Blondie notou que os passos de Gaspard eram rápidos e largos, bem diferentes dos dela, que acabou ficando um pouco para trás. Dava para sentir a tensão no corpo dele. Ela apressou o passo para acompanhá-lo e percebeu que estavam indo para as seções de magia e feitiçaria. Enquanto andava, lançava olhares discretos para ele, ansiosa para fazer perguntas.

O que tinha acontecido com ele?

Ele estava bem mais cedo, mas agora parecia irritado. Será que algo deu errado? Talvez tenha recebido uma visita indesejada, dormido mal, ou discutido com alguém? Blondie normalmente estava por dentro de tudo, mas talvez algo tenha escapado. Ela não aguentava mais especular.

— Pegue qualquer livro que achar útil para o que precisamos. — Gaspard disse de repente, virando-se rápido, com a mesma frieza no olhar.

Ela deveria perguntar agora ou esperar que ele se acalmasse?

— Tudo bem! Eu de um lado, você do outro? — ela sugeriu.

— Pode ser. — ele respondeu, sumindo entre as prateleiras.

Blondie pegou um carrinho de livros que estava por ali e entrou na seção de magia e feitiçaria, onde Gaspard não estava.

Aquele frio cheio de raiva e ansiedade ainda apertava seu peito enquanto caminhava pelo corredor, observando os livros. Pegava os que achava interessantes, folheava para ver se serviam. De vez em quando, entre as estantes, conseguia ver Gaspard - o suéter vermelho, os cachos rebeldes. Sempre que isso acontecia, sentia uma necessidade quase urgente de quebrar o silêncio.

Três minutos depois, ela não aguentava mais.

— Você mencionou que a poção era pra uma pessoa, mas nunca disse pra quem. Fiquei pensando nisso.

— Se você disser que também andou me observando, vou achar que é obcecada por mim.

Ela sentiu o rosto esquentar e olhou em volta, procurando Gaspard entre os livros, pronta pra explicar que não era isso que quis dizer. Mas o encontrou agachado, na altura de seus olhos, com um sorriso travesso nos lábios.

— Bem — começou, tentando ignorar o calor no rosto —, isso também faz parte da pesquisa. Mas eu queria saber quem era o seu alvo, talvez me ajude a entender o motivo da poção.

— E como isso vai ajudar no nosso problema?

— Não vai. — ela admitiu, puxando um livro chamado Sintonia Mágica e folheando as páginas. Viu que era sobre poções de conexão de almas. — Mas daria uma ótima matéria! Imagina: 'O filho de Gaston está apaixonado. Quem será a sortuda?' E uma foto de vocês dois, com o rosto dela coberto, por enquanto. Seria incrível! — ela colocou o livro no carrinho, batendo palmas de leve. — E eu já tenho alguns palpites.

— Claro que a dona do Mirror Cast tem palpites. — Gaspard respondeu, mas o tom dele era tranquilo, fazendo-a sorrir, orgulhosa de sua fama. — Me conte.

— Bom... — ela parou e percebeu que ele também tinha parado, pois não ouviu mais os passos. Olhou para os livros no carrinho enquanto falava. — Meu primeiro palpite é a Raven.

Ouviu um som de desgosto de Gaspard.

— Da onde você tirou isso?

— Todo mundo comenta. Vocês estão sempre juntos, são solteiros, e, de todas as pessoas com quem você conversa, ela parece a mais próxima.

Houve uma pausa.

— Você e o Cupido fizeram aquele episódio do Mirror Cast sobre casais possíveis até o fim de Ever After High. Faz sentido o palpite. — ele admitiu. — Quais são os outros?

— Então lembrei que você é um royal, quer seguir os passos do seu pai. Vai ter que lutar contra a Fera pela sua Bela, que na verdade não é sua Bela, é a da Fera.

Outra pausa.

— Você acha que eu gosto da Rose?

— Sim.

— Por que você sempre acha que é uma garota?

— Então é um garoto?

Blondie ouviu um riso baixo escapar de Gaspard.

— O que você acha que era a poção? — ele perguntou.

— Fácil. Devia ser uma poção de conexão de almas. Eu sempre sei quando você está por perto e você também. Temos vontades parecidas. — ela respondeu com confiança. — Está com uma paixão não correspondida? A Cupida pode ajudar! E eu também.

— Não preciso de ajuda.

— Então você admite que tem uma paixão não correspondida.

— Eu não admiti nada.

— Mas também não negou. — ela cantarolou, percebendo que sorria.

Os olhos de Gaspard apareceram entre as prateleiras de livros, e quando ele a olhou, Blondie sentiu uma onda de eletricidade, suave, mas intensa.

— Não gosto da Raven e muito menos da Rose. — ele disse, firme.

— Mas você é um Royal.

— Não preciso gostar da Rose para seguir o legado do meu pai.

Blondie acreditou nele, mas ainda tinha uma dúvida. Decidiu guardar essa informação para refletir melhor depois.

— Garotas ou garotos? — ela perguntou, curiosa.

— Ambos. — respondeu Gaspard, voltando à postura séria. — Precisamos começar logo para terminar antes do amanhecer. O feitiço de silêncio nos protege aqui, mas não sou muito bom com feitiços de viagem no tempo. Encontrou tudo que precisa?

Blondie olhou para o carrinho cheio de livros.

— Sim. — ela disse, abrindo a boca para falar mais, mas Gaspard foi mais rápido.

— Ótimo. Vamos começar.

Por duas horas, eles se debruçaram sobre os livros que haviam coletado. Conforme o tempo passava, o frio no ambiente parecia aumentar, e Blondie tremia, esfregando os braços para tentar se aquecer. No entanto, em determinado momento, o frio deu lugar a um calor suave que envolveu seu corpo, como se estivesse sendo abraçada por um raio de sol. Ela agradeceu mentalmente pela mudança e continuou a escrever em seu caderno, anotando o que achava relevante. De vez em quando, lançava um olhar para Gaspard, que folheava as páginas lentamente, sem anotar nada, confiando apenas em sua memória. Ao contrário dele, sempre que ela encontrava algo que considerava importante, compartilhava com ele, mas Gaspard frequentemente desdenhava, dizendo que não era o que procuravam. Blondie suspirava frustrada e voltava a pesquisar.

Enquanto trabalhava, sua mente vagava por outros pensamentos. Embora Gaspard fosse parte dos Royals, ela e ele nunca foram próximos. Talvez fosse porque ele também se dava bem com os Rebels, o que Blondie não entendia. Como isso não afetava sua reputação entre os Royals? Talvez fosse o carisma natural dele, algo que ela definitivamente não possuía. Era cansativo ter que forçar uma simpatia para se encaixar.

Mas essa não era a verdadeira razão. Afinal, Blondie era amiga de Cupido, a única Rebel com quem tinha um vínculo, principalmente porque dividiam o quarto. De qualquer forma, ela passava a maior parte do tempo com Apple, Briar, Dexter e Humphrey, e esse era seu círculo social. Por isso, fazia sentido que ela e Gaspard quase não tivessem contato.

Gaspard LeGume, filho de Gaston e Paula, era um Royal com habilidades mágicas, provavelmente herdadas da mãe, já que nem seu pai nem seus irmãos possuíam esse dom. Ele tinha amigos variados, mas costumava andar com Raven e Hunter, e, às vezes, com Cedar e Cupido. Era bem visto por todos por sua sinceridade, mas ainda mantinha um ar misterioso. Quem exatamente era sua mãe? Para que lado sua magia pendia? Raven Queen entendia profundamente a magia negra por causa de sua mãe, mas e Gaspard? Ele parecia gostar de fazer poções, isso era certo...

Blondie bocejou discretamente, cobrindo a boca com a mão.

— Certo, já chega. — disse Gaspard, quebrando o silêncio, fazendo com que Blondie levantasse os olhos do livro.

— Como assim? — ela perguntou, confusa.

— Sei que você está cheia de perguntas desde que cheguei aqui. Já que estamos estagnados, que tal fazermos uma pausa e jogarmos um jogo?

Blondie sorriu, animada com a ideia.

— Oh sim! Eu adoro jogos! — exclamou batendo suavemente palmas antes de ajeitar rapidamente o cabelo colocando os cachos atrás dos ombros. — O que jogaremos? Ah já sei! O que acha de um jogo de perguntas e respostas? Vamos nos conhecer melhor.

Gaspard inclinou a cabeça, parecendo pensar profundamente. Em seguida abriu um sorriso divertido.

— Vamos deixar o jogo mais dinâmico o que você acha de um jogo de uma palavra um pensamento? Um diz uma palavra e o outro responde a primeira coisa que vier a cabeça.

Blondie ficou ainda mais animada ideias já se formando na sua linda cabeça loira.

— Parece muito divertido! Prepare-se, sou muito criativa nas respostas.

Ela viu Gaspard abrir um sorriso travesso, e não conseguiu evitar sorrir também.

— Também sou um jogador habilidoso.

— Tenho uma regra: Não pode pensar muito.

— Também tenho uma: Sem perguntas.

Ela fez um beicinho, desapontada. Blondie sempre tinha perguntas, era curiosa demais, igual à mãe. Mas balançou a cabeça concordando, ainda determinada a arrancar o máximo que pudesse. — Tudo bem.

— Você começa.

— Aventura.

— Emocionante. — ele respondeu na hora. — Desafio.

— Divertido. — ela respondeu e em seguida lançou: — Honra.

— Legado. Segredo.

— Passado. Caça.

— Presa. Cor.

Branco. Ursos.

Uma vontade de perguntar por que ele escolheu branco em vez de vermelho surgiu, mas ela se conteve.

— Amigos.

Ele estalou os lábios. — Demorou para responder.

— Estava pensando por que você escolheu branco em vez de vermelho, já que é uma cor que você usa sempre, ao contrário do branco. — ela comentou algo que percebeu nos últimos dias.

Gaspard a olhou com uma intensidade que a deixou inquieta. — Você percebe coisas interessantes. — disse, ainda a olhando profundamente.

Ela tentou rir, mas soou nervosa e desconfortável. Muitas pessoas diziam isso e ela nunca soube se era um elogio ou algo ruim, deixando-a insegura sempre que o comentário surgia.

Porque você é inconveniente.

— Ter um olhar aguçado é bom, ainda mais para uma jornalista de primeira como você. — Gaspard falou, tirando-a dos seus pensamentos com uma piscadela rápida.

A vozinha desapareceu deixando espaço para um calor suave invadir seu peito, espalhando-se como um abraço reconfortante era uma sensação gostosa.

— Vamos continuar. — Gaspard pediu, recostando-se na cadeira e relaxando o corpo contra o encosto. — Sua vez.

— Ah, certo! Magia. — disse ela.

— Vida. — ele respondeu de imediato. Ela percebeu a intensidade na voz dele, o que atiçou ainda mais sua curiosidade. — Conquista.

Ela parou por um instante, refletindo sobre o que aquela palavra fazia sentir.

— Orgulho. Poção.

Uma risada suave escapou de Gaspard.

— Esperta.

— Quem?

— Você.

Mais uma vez, ela sentiu aquele calor invadir seu corpo, mas se controlou, prendendo a respiração para não perder o foco. Na verdade, sua atenção costumava se desviar com facilidade, mas dessa vez parecia que ele estava fugindo da pergunta, e ela não podia se distrair.

— Você não está jogando direito. Acho que está pensando antes de responder. — Blondie disse, cruzando os braços.

Ele a olhou surpreso, mas com um sorriso no rosto. — Como assim? Respondo quase no mesmo segundo que você fala.

— Não sei, mas parece que está sim.

— Sabe o que eu acho? Acho que você está frustrada porque eu não caí na sua armadilha.

Ela parou. Ele tinha razão. Era verdade que ela estava tentando puxar informações, já que sua curiosidade era grande e ele parecia ter muito a dizer.

— Seria mais fácil se você dissesse que poção quer fazer. Eu poderia pesquisar a partir disso, ao invés de focar nos efeitos ou ingredientes. — Blondie sugeriu. — Pode ser que existam efeitos que ainda não apareceram, ou talvez você tenha errado algum ingrediente.

— Eu não erro.

— Bem, aparentemente errou. — Blondie murmurou, fingindo não perceber os olhos de Gaspard fixos nela. — Não vai responder? — perguntou, dessa vez, diretamente.

Gaspard a observou por um longo momento, como se estivesse tomando uma decisão, e então se levantou, começando a empilhar os livros.

Demorou um pouco para ela entender que ele estava se preparando para ir embora.

— Tive uma ideia melhor. Vou procurar receitas de poções para inibir os efeitos colaterais da poção que tomamos. Isso deve nos ajudar enquanto buscamos a solução. — Gaspard disse, enquanto organizava a mesa.

— Você está fazendo isso de novo.

— O quê? — ele perguntou, sem tirar os olhos dos livros, tanto os dele quanto os dela, o que a irritou um pouco.

— Fugindo.

— Não estou, espertinha. Está tarde, precisamos descansar. Eu tenho aula amanhã com Rumpelstiltskin e, se você não sabe, ele adora...

— Implicar com tudo. — Blondie completou, entendendo, mas sem acreditar nas palavras de Gaspard.

Ele podia dizer o que quisesse, mas o filho de Gaston estava claramente escapando.

— É por isso que acho melhor encerrarmos por aqui. Não estamos indo a lugar nenhum, e precisamos saber a hora de parar. — Gaspard se levantou, empilhando os livros no carrinho antes de empurrá-lo de volta ao lugar onde ela o havia encontrado.

— Não acho que seja isso. Parece mais que você está arranjando desculpas para fugir. — Blondie o acusou, seguindo-o. Observou enquanto ele murmurava algumas palavras para os livros, que brilharam com um forte verde antes de desaparecerem. As estantes ao redor também brilharam na mesma cor em alguns pontos. Para uma pessoa comum, aquilo seria surpreendente, mas, crescendo naquele mundo, ela sabia que ele estava transportando os livros de volta aos seus lugares. — Você fugiu antes e está fugindo agora. Eu não sabia que o filho de Gaston era bom em fugir. — comentou inocentemente, sem perceber o peso do que dizia.

Gaspard parou e a encarou.

— Tudo bem. Pergunte o que quiser.

Blondie sentiu um sorriso se formar em seus lábios, mas ele logo interrompeu o momento.

— Mas precisamos ser rápidos. Sei que você vai ter mais perguntas depois, então vamos fazer um trato. Vou responder três perguntas. Três, porque você adora esse número. Eu também tenho limites... Mentira, não tenho, mas três parece um bom número, não acha?

Ela estava pronta para sorrir de novo, mas sua curiosidade falou mais alto. — Como você sabe que gosto do número três? — perguntou, intrigada.

Gaspard arqueou uma sobrancelha, um sorriso divertido dançando nos lábios.

— Tem certeza de que quer gastar uma pergunta com isso? — provocou, visivelmente se divertindo.

Blondie fez um beicinho exagerado, cruzando os braços de forma dramática.

— Isso é injusto. — reclamou, emburrada.

Gaspard deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos.

— A vida não é justa.

Era a segunda vez naquela noite que ele dizia algo negativo sobre si mesmo. Havia claramente mais por trás disso, e ela queria entender.

— Já é a terceira vez que você se deprecia. A primeira foi no armário do zelador, a segunda foi mais cedo hoje, e agora de novo. Parece que você está sempre se criticando, como se estivesse sofrendo mais do que vivendo. Por quê? — ela soltou a pergunta que vinha lhe rondando a mente.

Houve um silêncio.

Ele balançou a cabeça, e um lampejo de dúvida passou por seus olhos, como se nem ele mesmo soubesse o motivo. Mas o momento passou rapidamente.

— O sofrimento é uma forma de arte, e eu sou o artista da minha própria tragédia.

Blondie o estudou com atenção, como se cada palavra fosse uma peça de um enigma.

— E de onde vem isso?

— Do meu legado, eu diria.

Ela soube, então, que ele falava da família. Mas não se deixou abalar. A curiosidade dentro dela ainda não estava satisfeita.

Restava apenas uma pergunta.

— A poção que eu bebi... Qual era o efeito dela?

Gaspard revirou os olhos, como se dissesse "é claro que você perguntaria isso". Mesmo assim, seus olhos verdes, profundos como uma floresta cheia de segredos, encontraram os dela. Uma corrente elétrica percorreu o corpo de Blondie, arrepiando sua espinha.

— Era uma poção do amor. — ele respondeu, com uma voz carregada de algo que ela não conseguiu decifrar.

🕗

— Conseguiu dormir? — perguntou Cupido assim que Blondie saiu do banheiro, fechando a porta e enrolando alguns cachos nos dedos, tentando defini-los melhor. Duas horas no banheiro e ainda assim não tinha dado certo. — Você parece ter acordado com as galinhas hoje. Todos os dias sou eu que preciso te acordar pra você não perder o café da manhã. O que aconteceu?

Gaspard aconteceu.

Só de pensar no nome dele, as memórias de ontem voltaram. Depois de responder a pergunta dela, Gaspard virou as costas e saiu da biblioteca, ignorando suas perguntas, o que deixou Blondie surpresa e cheia de teorias. Ela até tentou segui-lo, mas não o encontrou. Frustrada e irritada, voltou pro quarto e se preparou pra dormir, mas não conseguiu. A cabeça não parava de pensar. Quem poderia estar por trás daquilo? Por que fariam isso? Será que Gaspard gostava de alguém que não correspondia seus sentimentos? Mas isso não seria errado? Na maioria das histórias, poções do amor são usadas com más intenções. E Gaspard, sendo um Royal, era fácil imaginar que ele seguiria esse caminho. Mas ele parecia tão legal...

— Blondie?

— Hm? Oi?

— Você tá muito distraída. Aconteceu alguma coisa que quer contar?

— Ontem... Eu... — Blondie começou a falar, mas não sabia por onde começar: sobre a poção ou o encontro à noite? De repente, as palavras sumiram, deixando-a confusa, mas nem um pouco surpresa.

Não era a primeira vez que isso acontecia.

Sempre que tentava contar sobre isso para suas amigas, parecia que algo a impedia. Nem perguntas simples sobre o assunto ela conseguia fazer. No fim, teve que aceitar, por mais frustrante que fosse.

— Olha a hora! — Cupido disse, com os olhos arregalados, fazendo Blondie se apressar também. — Temos que ir, se você quer mesmo comer mingau com mel.

— Na verdade, estou com vontade de comer frutas vermelhas. — Blondie respondeu, correndo para pegar os sapatos dourados que combinavam com seu vestido azul.

Em pouco tempo, as duas estavam fora do quarto, andando de braços dados.

— Parece que você trocou o mingau com mel por qualquer comida vermelha como seu prato favorito. — Cupido brincou.

— Ah, eu ando com vontade de comê-las o tempo todo. E dá pra misturar com o mingau! — Blondie respondeu animada, o bom humor evidente na voz.

Elas caminhavam pelos corredores em passos rápidos, cumprimentando alguns alunos pelo caminho.

— Tudo pronto para sábado?

— Sim! Fiz uma lista de sonhos e objetivos com base nas respostas dos alunos que entrevistei. — respondeu ela. — Estou muito animada para discutir o significado dos sonhos e aspirações de uma forma mais romântica! — a loira sorriu, empolgada com o dia que se aproximava.

Ela ouviu a risada suave de Cupido.

— Eu também estou ansiosa! Quero trazer uma nova perspectiva sobre o medo e a ansiedade que muitos sentem ao tentar alcançar seus sonhos. Obrigada pelo convite!

— Nós duas tivemos a ideia, então, obrigada a você também!

Logo depois, elas deram uma risada juntas e avistaram o refeitório. Entraram, e o lugar estava lotado, cheio de conversas por todos os lados, o que era normal para o café da manhã. Mas Blondie não estava focada na multidão. Ela procurava por alguém com cabelo escuro e encaracolado, esperando ansiosa pela faísca de eletricidade que sempre sentia quando o encontrava, mas nada aconteceu. Talvez ele ainda não tivesse chegado.

— Vou falar com Raven, tudo bem? — Cupido perguntou quando pegaram suas bandejas, após enfrentar a longa fila de comida.

Blondie apenas sorriu, embora o sorriso não tivesse chegado aos seus olhos. Tentava não dar ouvidos àquela vozinha na cabeça que dizia que, na verdade, Cupido só não queria passar muito tempo ao lado dela. Logo depois, a loira procurou seus amigos, vasculhando a multidão com o olhar, e foi nesse momento que sentiu a familiar corrente elétrica percorrer seu corpo. Seus olhos buscaram rapidamente por Gaspard, e quando o viu, ele estava acompanhado de uma garota de cabelos castanhos longos. Blondie a reconheceu de imediato: Rose, filha de Bela e Adam. E os dois pareciam...

— Procurando alguém? — Cupido perguntou de repente, fazendo Blondie se lembrar de que ela ainda estava ao seu lado. Rapidamente, desviou o olhar, sentindo-se desconfortável por um momento.

— Não, nada — respondeu, torcendo para que sua voz saísse firme.

— Sei... — Cupido cantarolou, obviamente sem acreditar. — Até mais, então?

— Sim, até mais.

Blondie mal viu Cupido se afastar e, em seguida, foi em direção à mesa onde Apple e Briar estavam.

— Oi, meninas! — ela as cumprimentou enquanto colocava a bandeja na mesa e se sentava. Foi recebida com dois sorrisos calorosos, que aqueceram o coração da filha de Cachinhos Dourados.

— Oi, Blondie! — as duas responderam em uníssono.

— Estou pensando em mudar a festa de sexta para sábado — Briar começou, espetando o garfo no alface antes de continuar. — Apple disse que poderia nos ajudar a nos preparar, já que a festa foi marcada de última hora. Concordo com ela, e ainda poderíamos fazer algo temático! O que acha?

— Parece uma boa ideia. Já pensou em um tema?

— Festa dos 100 anos! — ela respondeu. — Em homenagem ao meu destino de dormir por 100 anos. — Briar falou com um tom de desdém, revirando os olhos. — A decoração seria inspirada em diferentes décadas, e as roupas e músicas também seriam de qualquer época...

— E, para isso, precisamos de tempo. — Apple interrompeu, deslizando a bandeja para o lado e apoiando os cotovelos na mesa. — E, para ter tempo, precisamos mudar a data e avisar todo mundo rápido pelo MirrorCast Show. Podemos contar com você, né?

— Sempre!

Elas continuaram conversando sobre a festa, discutindo os detalhes durante todo o café da manhã. Blondie estava animada e envolvida no papo, mas, de vez em quando, levantava os olhos e acabava olhando para Gaspard, que conversava animadamente com seus amigos. Embora ele parecesse focado na conversa, às vezes a pegava olhando e dava um sorriso malicioso, fazendo com que Blondie sentisse uma corrente elétrica correr pelo corpo, mais intensa e diferente. Envergonhada, ela desviava o olhar e voltava à conversa.

Em uma dessas vezes, Briar a olhou com uma expressão suspeita, mas Blondie preferiu ignorar e continuar o assunto.

🕗

— Ei, Blondie!

Blondie parou de andar assim que ouviu alguém chamá-la, interrompendo a conversa que estava tendo com Apple sobre roupas. Virou-se e viu Gaspard se aproximando, segurando uma poção verde.

— Oi? — perguntou, confusa sobre o que ele queria.

— Beba isso, por favor. — ele falou, quase como uma ordem.

— Oi, Gaspard! — Apple o cumprimentou com um sorriso.

— Oi, Apple. — ele respondeu cordialmente, mas não tirou os olhos de Blondie. — Vai, beba. É o que combinamos ontem.

Blondie se inclinou um pouco em direção a ele, invadindo seu espaço, e sussurrou: — Achei que você não quisesse que ninguém soubesse.

Ele abriu um sorriso maroto, como se tivesse um segredo que ela não conhecia. Blondie abriu a boca para perguntar, mas antes que conseguisse, ele empurrou a poção para suas mãos. Ela a pegou automaticamente, e então ele se virou e se afastou.

Ela pensou em ir atrás dele, mas a voz de Apple a impediu.

— O que aconteceu ontem?

— Ontem... Humm...

As palavras novamente escaparam dela, mesmo sabendo exatamente o que responder. Ela só gemeu de frustração.

🕗

— Ele realmente parou vocês no meio do caminho e, em vez de pedir— não, desculpa — corrigiu-se rápido. —, mandou a Blondie beber alguma coisa? — Briar perguntou, surpresa, depois que Apple contou o que tinha acontecido mais cedo. Ela já estava se preparando para ser a próxima da fila a saltar os obstáculos na aula de educação física. Em seguida, olhou diretamente para Blondie. — E você bebeu?

Blondie ficou um pouco envergonhada.

— Bem... Sim.

— Por quê? — Briar perguntou, curiosa.

— Porque... hum...

— Você não quer dizer? — Briar estreitou os olhos, inclinando a cabeça para o lado. — Ou não pode?

— Hum...

— Acho que ela não quer nos contar, e tudo bem. Contanto que isso não afete meu 'felizes para sempre', estou feliz por você. — Apple deu de ombros, ajustando o rabo de cavalo enquanto se olhava no espelho.

Blondie queria dizer que não era isso, mas aparentemente nem isso ela podia explicar, então soltou outro suspiro frustrado.

🕗

— Não funcionou. — Gaspard disse quando ela o encontrou depois da aula de educação física.

— Não mesmo. — ela respondeu, franzindo a testa. — Na verdade, acho que só aumentou minha vontade de comer geleia de morango. 

— Pois é. Já perdi a conta de quantas vezes comi mingau com aveia... — ele falou, sempre com aquele jeito de quem estava escondendo algo, como se quisesse dizer mais. Ele tirou uma poção rosa da sua bolsa transversal e entregou para ela.

Curiosa, ela pegou a poção e bebeu, querendo descobrir o sabor.

Com o passar dos dias, isso virou uma rotina entre eles. Mas logo perceberam que algumas das poções que tentavam usar para inibir a primeira tinham efeitos colaterais. O cabelo deles mudava de cor, o humor oscilava, algumas partes do corpo inchavam, e, às vezes, a poção só funcionava por pouco tempo, logo perdendo o efeito. Isso só levou a uma busca ainda maior por uma forma de encontrar o antídoto, mas, segundo Gaspard, eles não encontraram nada. Blondie também tentou achar algo, mas não conseguiu nada que ajudasse.

Uma semana se passou, e eles continuavam presos nessa situação.

Uma noite, depois da festa de 100 dias para o despertar de Briar, ela se preparou para dormir e escolheu um sonho para sonhar. Era um dos seus favoritos, onde um príncipe a salvava em um cavalo branco. Depois disso, ela era recebida no reino dele, e juntos se tornavam rei e rainha. Mas, de repente, o dia ensolarado virou frio e escuro. O príncipe desapareceu, assim como o cavalo, deixando-a sozinha em uma densa névoa fria que se espalhava sem aviso. Ela não conseguia ver muita coisa e esperou que aquilo passasse.

Esperou.

E esperou.

E nada.

O sonho estava estranho.

Ela se perguntou o que havia na névoa. O medo cresceu dentro dela, mas, ao mesmo tempo, a curiosidade também. Então, começou a andar devagar. Só percebeu que tinha avançado bastante quando esbarrou em algo duro. Ela tateou e reconheceu: era uma porta. Girou a maçaneta e a abriu, encontrando uma biblioteca levemente iluminada e aconchegante, apesar do frio.

Ela suspirou, sentindo o cheiro dos livros. Seus olhos examinaram o lugar. A biblioteca era pequena, com prateleiras lotadas de livros. Blondie foi até uma delas e puxou um livro, olhando para a capa. "Gaspard Legume", dizia.

Ela achou estranho e pegou outro.

O título era o mesmo.

Ela puxou mais alguns, todos com o mesmo nome na capa.

Sentindo-se confusa com tudo aquilo, ela decidiu pegar um deles e abriu.

FINALMENTE o capítulo saiu, cheio de acontecimentos importantes, muitos deles nos detalhes que serão lembrados mais pra frente! Com isso, a primeira parte da fanfic chega ao fim. O que vocês acharam? Do momento entre Blondie e Gaspard na biblioteca, e da desconfiança de Briar? Acham que isso vai levar a algo? E, principalmente, o que vocês acham que esse final significa? Beijos e até a próxima! 💜

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