01
UM
Euforia
O sorriso de Blondie Lockes se alargou quando a mudança de sabores aconteceu em seu paladar. De canela para maçã, de maçã para mel, de mel para baunilha, e mais sabores seguiram rapidamente, alguns não reconhecidos por ela, especialmente porque tudo aconteceu em questão de segundos.
— Uma combinação excêntrica de sabores. — Blondie reconheceu, olhando rapidamente para a câmera que a filmava, segurada por Dexter ao lado de Humphrey, ambos com sorrisos no rosto e polegares erguidos em apoio, revigorando sua confiança e fazendo-a continuar. Ela voltou sua atenção para Madeline. — Adorei a inovação! Mas não acha que a mudança constante pode confundir o paladar dos convidados? — perguntou, genuinamente preocupada.
Com um sorriso de orelha a orelha, Madeline negou com a cabeça, se afastando da bancada em que estavam atrás, e prontamente respondeu:
— Claro, esse é meu propósito! Por que se concentrar em um sabor quando você pode ter uma festa inteira em sua xícara? Este chá é o anfitrião perfeito para uma reunião de gostos!
— E é exatamente isso! Eu diria que os chás são como um baile de máscaras para o paladar, onde cada sabor revela algo novo e encantador. É como se cada gole fosse uma nova aventura! — A filha de Cachinhos Dourados, animada com a ideia, deu alguns pulinhos de empolgação. — Podemos fazer um chá dos enigmas!
Madeline arfou de prazer.
— Ou uma roleta de sabores! — Madeline sugeriu também.
— Os dois juntos em um quadro ficariam incríveis!
— Tic tac, um sabor diferente que salta para surpreender seu paladar!
— Combinado então. — Blondie voltou de frente para a câmera novamente. — Vamos nos despedindo por aqui depois de experimentar 6 chás diferentes e todos excelentes, o que não é de se admirar da melhor e mais excêntrica loja de chás!
— E corta! — anunciou Dexter, desligando a câmera e ajeitando o restante dos equipamentos.
Em seguida, Humphrey se aproximou das duas com duas garrafas de água em mãos.
— Obrigada. — as duas murmuraram em uníssono, mas apenas Blondie abriu para beber, instalando um breve silêncio entre elas.
— Quando vai estar disponível? — perguntou Blondie, os olhos fixos no rosto da filha do Chapeleiro Maluco. — Semana que vem pode ser?
Madeline arregalou os olhos. — Semana que vem? — Blondie achou ter percebido um toque de medo e desespero na pergunta, mas decidiu ignorar. Devia ser coisa da sua cabeça.
Você sabe que não é.
— Sim. — sorriu, balançando a cabeça. — Ou prefere apressar? Está tão ansiosa quanto eu, né? — riu brevemente.
— Err... Sim...
— Ótimo! Nos vemos no sábado. — acenou em despedida, alheia ao sorriso amarelo de Madeline, e se aproximou dos dois amigos que carregavam os equipamentos e a esperavam na porta da loja. — Precisam de ajuda?
— Não, apenas gostaríamos de saber se vai precisar da gente ainda - Humphrey respondeu.
- Ou se quer que nós a acompanhamos - Dexter complementou.
- Sintam-se livres da minha presença, rapazes - deu uma risadinha, mas quem a conhecesse bem perceberia que era uma risada depreciativa. Infelizmente, ninguém a conhecia. Por que gostariam de conhecer alguém comum? - Podem ir na frente, irei passar na Floresta Encantada antes de voltar para a escola.
Eles assentiram e se afastaram, e ela também, mas em direções opostas.
Chegando na floresta encantada, Blondie encontrou alguns rostos conhecidos, como Cerise, Ashlynn e Hunter, cumprimentando-os rapidamente. A loira adorava explorar a floresta, que muitas vezes lhe oferecia inspiração e uma válvula de escape, algo que ela precisava muito naquele momento. Conforme avançava pela floresta, mais silenciosa ficava, exceto pelos sons dos pássaros cantando. Quando percebeu que caminhava sozinha, suspirou, sentindo o cheiro fresco de terra úmida e vegetação, aliviando a tensão que sentia sobre os ombros, que relaxaram ao ponto de se sentir tão leve a ponto de acreditar que poderia voar. Logo, ela rodopiou sob o sol irradiante de calor e luz, entre os arbustos e flores silvestres, uma risada alegre explodindo dela.
De repente, parou e olhou ao redor para identificar onde estava, percebendo que estava nas profundezas da floresta ao avistar o gazebo de madeira entre as árvores, com sua estrutura simples e acolhedora.
Ao se aproximar do gazebo, encontrou-o como sempre, com bancos de madeira com almofadas e uma mesinha de centro com alimentos sob ela. Dessa vez, havia balas de gelo e um copo de vidro em forma de violão, cheio de uma bebida azul e violeta que brilhava suavemente. Ela não estava com sede, mas ao vê-lo, sentiu vontade de tomar. Pensando que talvez fosse a última chance, não hesitou em pegar e beber. O sabor era doce e refrescante, como se cada gole fosse um sopro de ar numa manhã de primavera.
— Muito bom. — suspirou de satisfação, uma sensação reconfortante e revigorante espalhando-se pelo corpo, colocando o copo de volta no lugar. Porém, em meio ao ato, uma nova onda de sensação se espalhou pelo corpo, dessa vez desconfortável, fazendo-a franzir a testa em confusão.
— Blondie! — uma voz familiar surgiu, despertando-a de sua confusão e deixando-a em segundo plano quando girou a cabeça na direção do som, avistando uma Apple desesperada vindo em sua direção. — Finalmente achei você! O que você está fazendo?!
— Eu...
— Raven está me deixando louca! Você viu o que ela fez? Três boas ações em uma semana! Três, Blondie! Isso vai acabar com meu futuro! - Apple reclamou, visivelmente chateada. — Não faz sentido . — disse ela, cruzando os braços com irritação. — Como ela pode pensar só em si mesma?
Blondie teve que se segurar para não discordar de Apple, mas ela era sua amiga e precisava de apoio. Amigos são prioridade.
Não invente desculpas. Sabemos que tem mais por trás disso.
— Estou aqui para você, Apple. Só me diga o que precisa.
Com um gesto, Apple a envolveu num abraço apertado. — Eu te amo! Que bom que você está aqui. — Ela se afastou, segurando as mãos de Blondie, mas seu olhar logo se tornou desapontado. —Chamei a Briar também, mas ela está ocupada, então somos só nós duas.
Vê? Se Briar Beauty estivesse livre, ela nem te chamaria. Você é esquecível, não tem sangue real suficiente para ser notada.
A voz que sempre sussurrava em sua cabeça foi difícil de ignorar, fazendo seu sorriso vacilar e seu corpo se arrepiar.
— Blondie? Você está bem? — A preocupação era evidente na voz de Apple.
Blondie afastou a voz e forçou um sorriso, que Apple pareceu não perceber.
— Sim, estou bem. E então, qual é o plano?
— Ah, sim, o plano. Escute, eu preciso que você...
🕗
Durante a hora seguinte, Blondie se dedicou a ajudar Apple com seu plano. Elas seguiram Raven pela escola, tentando convencer ela dos benefícios de aceitar seu destino, e mudando de estratégia toda vez que uma não funcionava. Blondie não podia negar que estava se divertindo com essas aventuras ao lado da amiga. Era bom sentir que fazia parte de algo.
Depois de tentarem a última ideia, que também não deu certo, Apple e Raven começaram a discutir no corredor, com uma pequena multidão se formando ao redor. Blondie estava ao lado de Apple.
— Não, Apple, eu realmente não entendo. — disse Raven, abraçando-se e visivelmente chateada. — Achei que você tivesse entendido meus sentimentos sobre isso.
Apple suspirou com desdém, colocando as mãos na cintura. — Eu concordei porque achei que você veria o quanto está sendo egoísta.
Raven soltou uma risada amarga e deu um passo à frente, parecendo se elevar sobre Apple. Blondie colocou em alerta, pronta para defender sua amiga. Raven notou e, com um suspiro exausto, recuou.
— Não é egoísmo priorizar a mim mesma. — Raven afirmou.
Um brilho faiscante surgiu nos olhos de Apple, e ela estava prestes a responder quando foi interrompida por uma voz alegre e confiante, que Blondie reconheceu quase instantaneamente. Mesmo não sendo próximos, ela identificaria aquela voz em qualquer lugar – era Gaspard LeGume, filho de Gaston, querido tanto por royals quanto por rebels, apesar de ser um royal que desejava seguir os passos do pai.
Diferentemente das outras vezes em que estivera na presença de LeGume, Blondie sentiu uma onda de euforia ao vê-lo se aproximando do tumulto, abrindo caminho entre as pessoas para chegar até Raven e ficar ao seu lado de forma protetora. Quando os olhos escuros de Gaspard encontraram os dela, foi como se uma corrente elétrica invisível os conectasse, causando arrepios em Blondie e uma ruga quase imperceptível na testa de Gaspard. Curiosa, Blondie abriu a boca para perguntar sobre isso, esquecendo-se momentaneamente de onde estava, mas quando começou a falar, Gaspard virou o rosto para Apple.
— Ora, ora, o que temos aqui? — Ele perguntou com um sorriso divertido, colocando as mãos nos bolsos.
Como sempre, na presença de Gaspard Legume, Apple pareceu relaxar um pouco mais, afinal, diferente de seu pai e irmãos, ele era uma pessoa confiável.
— Por favor, explique para sua amiga por que ela precisa assinar o Livro das Lendas.— Apple pediu, ainda com as mãos na cintura.
— Apple, você já viu o que acontece quando você pressiona muito um livro? — Gaspard perguntou com uma expressão séria.
— Não, o que? — Apple perguntou, curiosa.
— Ele só fecha mais ainda! Que tal a gente deixar o livro respirar um pouco, hein?
Blondie não se conteve e caiu na risada, e até Raven, que era mais reservada, deixou escapar um sorriso, relaxando um pouco.—Isso foi surpreendentemente perspicaz. — Raven comentou.
Gaspard deu de ombros. — Eu tento balancear, ser engraçado e inteligente ao mesmo tempo. É tudo questão de timing... tipo assinar livros.
Apple deu um suspiro e levantou as mãos, como quem se rende. — Ok, ok, eu entendi. Vou dar um tempo para a Raven... e para o livro também.
— E eu fico de olho pra manter tudo nos trilhos pra gente. — Blondie disse rapidamente.
— Ótimo! E enquanto isso... — Gaspard desviou o olhar de Apple para a multidão. — que tal nos divertirmos com algo em que todos podemos concordar? Como um jogo de charadas ou um concurso de caretas? — sugeriu, fazendo o coração de Blondie saltar de alegria, pois ela adorava esse tipo de brincadeira.
Ela viu a multidão vibrar em concordância.
— Estou dentro se for para ver Gaspard tentando imitar o rosto do seu pai quando ele olha no espelho. — Raven brincou.
— Ei, eu pratico essa expressão desde que era criança. Estou pronto para o desafio! — Gaspard respondeu, entrando na brincadeira e dando um leve cutucão em Raven.
— E eu que vou julgar! Sou boa em reparar nos detalhes... e nas caretas! — Blondie avisou, toda contente.
— Então vamos todos para a sala de jogos! — Apple anunciou, e todos se dirigiram para lá. Quando Apple estava prestes a seguir o grupo, Blondie a chamou.
— Preciso voltar ao quarto para pegar meu mirrorpad. Quero gravar esse momento para o anuário.
Os olhos de Apple brilharam em aprovação, deixando Blondie ainda mais contente com a reação. — Ideia genial. Vá lá, e obrigada por hoje.
Blondie correu em direção aos dormitórios para pegar o mirrorpad e voltar a tempo de filmar o começo da brincadeira. Mas, ao virar o corredor, uma mão agarrou seu pulso, impedindo-a de continuar, e a girou para encarar Gaspard Legume. De repente, aquela corrente elétrica passou por ela de novo, arrepiando os pelos de sua nuca.
— Precisamos conversar. — ele disse, sério.
Demorou, mas aqui está o primeiro capítulo! O que acharam? Gostaram de como estou desenvolvendo a Blondie? Decidi focar nesse lado dela que sente a necessidade de pertencer e acaba fingindo para conseguir isso, então vocês vão ver mais daquela voz autosabotadora dela. E o Gaspard? Era assim que vocês imaginavam o filho do Gaston? Espero que tenham curtido! Beijos e até a próxima!
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