the only exception | mason mount
EU MAL PODIA ACREDITAR que estava naquela situação. Seria uma merda completa se tudo não fosse extremamente engraçado também. Eu estava tão bem vestida, com um vestido de cetim verde tiffany na altura dos joelhos e um par de saltos brancos, mas no pior lugar para estar assim: sentada na calçada menos movimentada, o que não era muita coisa partindo do pressuposto que todas aquelas calçadas eram horrivelmente movimentadas, do Soho. As pessoas passavam e me encaravam como se eu fosse um animal exótico, talvez se perguntando o que uma garota que parecia estar pronta para ir a uma festa de gala estava fazendo ali.
Pois é, eu não os julgava. Era estranho, mesmo.
Especialmente porque eu deveria estar em um lugar parecido com uma festa de gala. Não que o ambiente da Casa Cruz fosse exatamente igual ao ambiente de um salão de festas do, sei lá, The Savoy ou Plaza Athenee, mas exigia uma roupa mais elaborada — o que me levara a passar alguns dias preocupada com o que iria vestir, já que eu não dispunha de muitas roupas dadas como elegantes. Mas, no fim das contas, todo aquele esforço não serviu de muita coisa. Se tivesse servido, por que eu estaria ali?
Dei uma risadinha nervosa e mexi no cabelo, sentindo as costas queimarem com mais uma ruma de olhares curiosos recaindo sobre mim. Eu queria gritar com o culpado disso tudo, mas ele sequer estava por perto para que isso fosse possível.
Mason Mount havia se enfiado em algum lugar há mais de dez minutos e desde então não deu mais nenhum sinal de vida. Talvez eu devesse ficar preocupada e tentar estabelecer algum contato, mas de jeito nenhum queria que levassem meu celular embora. Não importava o que dissessem sobre a boa segurança londrina, eu jamais tentaria abusar dela. Ficar sentada ali sem que ninguém roubasse minha bolsa já estava de bom tamanho.
Olhei para o outro lado da rua, onde uma criança falava com uma mulher que parecia ser sua mãe e apontava em minha direção sem se importar. Acenei para ela, sorrindo. Eu amava crianças, mesmo quando elas eram maldosas e faziam as pessoas prestarem uma atenção desnecessária em você.
Um caminhão passou na rua, interrompendo minha visão e o aceno alegre. Demorei encarando os saltos que calçavam meus pés com perfeição. Foi por causa deles que Mason me deixou ali sentada; por mais que fossem visualmente bonitos e me deixassem com um ar de mulher interessante, eram desconfortáveis. Tão desconfortáveis que depois de andar durante dez minutos, precisei descansar. No chão, claro, já que todos os bancos dispostos ao longo da calçada estavam ocupados.
Olhei para trás pelo que eu imaginava ser a quinta vez. Mas agora podia ver a figura do garoto de Portsmouth cortando a multidão e voltando para mim. Lhe dei as costas e esperei que se acomodasse ao meu lado para saber o que tinha trazido. E é claro que caí na risada quando um combo do McDonald's foi colocado em meu colo.
— Odeio você — disse assim que consegui parar de rir. Encarei Mason, então. Ele estava todo vermelho, como quem correu uma maratona, e suando um pouco. — É o que temos para hoje?
— É o que temos para hoje — afirmou, exibindo um meio sorriso. Um sorriso não muito sincero, na verdade. Eu não conhecia Mason há muito, mas conhecia o suficiente para saber quando seu sorriso era verdadeiro ou descaradamente falso. E aquele era descaradamente falso. — O McDonald's foi o lugar com a menor fila que eu encontrei. Os outros lugares tinham filas absurdas, juro. Não quis demorar muito porque sabia que você estava com fome.
E eu realmente estava. É claro que comi antes de sair de casa, mas já estava fora há quase duas horas e precisava começar e reabastecer a energia do corpo. Chegar na Casa Cruz e descobrir que nossa reserva não tinha sido feita com certeza não estava nos planos. Mas quem consegue controlar a vida e as peças sacanas e nada engraçadas que ela prega na gente?
— Bom, pelo menos você acertou no lanche — abri a caixinha com o hambúrguer e beberiquei o refrigerante, um pouquinho do meu batom ficando no canudo. — Amo Bacon McDouble.
Antes de dar a primeira mordida no que parecia ser o jantar da noite, cometi o erro de olhar para Mason. Encontrei um par de olhos tristonhos e caídos, a ausência do sorriso que eu tanto gostava de admirar e uma testa que raramente se franzia. Levei a mão até seu rosto, tocando a região entre as sobrancelhas, exatamente onde havia um vinco que eu gostaria que sumisse. Queria fechar os olhos para não ver como ele parecia decepcionado ou simplesmente fazer com que ele voltasse a ser o Mason de sempre.
— Sinto muito, Percy.
Suspirei, descendo a mão até sua bochecha. Gostava de tocar sua barba, ela era macia e cheia — principalmente levando em conta como eram as barbas da maioria dos britânicos — e geralmente arrepiava minha pele. Descobri como gostava de toques, de ser tocada e tocar os outros, após começar a sair com Mason. Sempre que ele encostava em mim ou eu encostava nele, meu corpo reagia de uma maneira diferente e muito boa. As formas bobas de contato que antes eu evitava com os caras com quem saía, como tocar meu rosto, meu braço ou até minhas mãos, passei a apreciar.
Gostava de pensar tanto que Mason tinha despertado uma delicadeza há muito tempo adormecida dentro de mim quanto que ele era o causador dela; que antes dele não havia nada além de um desgosto genuíno por toques desnecessários.
Meu polegar dançou sob sua pele. Ainda que eu estivesse um pouco chateada com toda aquela loucura, não queria que ele ficasse se sentindo mal. Sabe, essas coisas acontecem e às vezes somos descuidados sem querer — embora não devêssemos ser —, então o melhor a se fazer nessas situações é tentar enxergar algo positivo ou a melhor forma de lidar com elas. E eu queria fazer isso. Choramingar ou praguejar de pouco ou nada adiantaria.
— Sinto muito mesmo — Mason voltou a falar, segurando minha mão e brincando com meus dedos com o polegar. — Não queria que nossa noite se tornasse… isso. Eu jurava que tinha feito a reserva. Não sei onde estava com a cabeça e…
— Mason — interrompi-o. — Relaxa. Isso não é o fim do mundo. É claro que eu tô um pouco chateada por ter vestido essa belezinha aqui — rindo um pouco, olhei para o vestido de caimento perfeito. — quase que à toa, mas não tô brava com você. Até porque você também está muito bonito para estar comendo lanche do McDonald's na calçada.
Quando finalmente consegui arrancar uma risada dele, relaxei. Afastei minha mão e peguei o hambúrguer outra vez, erguendo-o em uma altura boa o suficiente para simular um brinde. Queria que ele soubesse que a noite poderia terminar bem, apesar de ter começado de um jeito esquisito.
— Posso ser sincera? — questionei. No entanto, não esperei uma resposta. Apenas segui falando. — Se isso acontecesse no nosso primeiro encontro, você nunca mais veria a minha cara.
Ele riu outra vez.
— Eu ia deixar uma impressão horrível e você ia passar o resto da vida falando mal de mim!
— E provavelmente te chamando de pão-duro. Qualquer pessoa que falasse bem de você perto de mim ia ser obrigada a ouvir um relato nada legal sobre como você me fez jantar fast-food no meio de uma rua no Soho.
Mordi o hambúrguer, sentindo uma felicidade absurda explodir dentro de mim como se fossem fogos de artifício. Eu não sabia a quantidade de conservantes e coisas do tipo que haviam ali e nem queria saber, porque isso certamente me faria deixar de pensar que comer aquele hambúrguer talvez fosse melhor do que comer qualquer prato chique da Casa Cruz.
— Você ia acabar com a minha reputação, Persephone Mavers — ele reclamou, como se tudo aquilo não passasse de mera imaginação. — Ainda bem que esse é nosso, o que? Décimo encontro? Caramba.
— Por aí — dei de ombros. — E, sim, ainda bem que esse encontro é algum bem depois do primeiro. Sei que você não é um babaca pão-duro.
— Você sabe que eu ainda posso mostrar ser um cara totalmente contrário ao que sou agora, não é?
Interrompi a mordida que ia dar apenas para olhá-lo de soslaio. Mason estava com a boca cheia e precisou beber refrigerante para não engasgar quando começou a rir. Alguém passou atrás de nós e me deu um empurrãozinho, por muito pouco não me fazendo derrubar tudo o que estava no meu colo. Os segundos que levei olhando ao redor foram mais que suficientes para me fazer constatar que era mais seguro e menos incômodo andar por aí do que continuar sentados na calçada.
— Estou brincando, linda. Eu sou exatamente como você está vendo. Não precisa ter medo. — Mason piscou.
— Não estou com medo, pode acreditar. Você já teve várias oportunidades para revelar uma segunda face, mas isso não aconteceu. E você não ia querer fazer isso logo comigo. — supus, falsamente inocente. Então foi sua vez de me olhar de soslaio.
Mason detestava quando eu brincava, ainda que implicitamente, com o fato de ele ter tido um pequeno pé atrás comigo no início devido ao meu trabalho no famoso e odiado The Sun. Aparentemente ele achava que eu podia fazer da sua vida um inferno apenas por ser da área editorial, sendo que, para todos os efeitos, eu não tinha nenhuma influência sobre o que era publicado no jornal. Estava muito além da minha alçada.
Mas que era engraçado um jogador estar saindo com uma garota que trabalhava em um jornal famoso por noticiar tudo e mais um pouco — sendo verdade ou não — sobre famosos, incluindo jogadores, era.
— Você nunca vai esquecer isso, não é?
Comi mais algumas batatinhas antes de respondê-lo.
— Não, não vou. É muito engraçado — disse sem pestanejar. Limpei uma mão na outra e fitei-o outra vez. Havia brilho em seu olhar, e não era um brilho causado pelos pisca-piscas natalinos. Era natural de verdade. — Você não precisa tentar me impressionar desse jeito. Sabe, com jantares em lugares chiques e tudo mais.
— Eu não estava tentando te impressionar. — ele entortou a boca e meneou a cabeça.
— Ah, sim, claro. E eu sou a Marilyn Monroe. É claro que estava. — mexi os ombros outra vez e coloquei na boca o último pedaço do hambúrguer. Levei mais tempo que o normal para mastigá-lo e observei a movimentação das pessoas e dos carros enquanto isso. — Acho que é melhor sairmos daqui. Está ficando cheio demais. Vão acabar pisando em nós dois.
Mason riu e concordou, olhando para trás o suficiente para minha sugestão ganhar ainda mais força. Estava fazendo menção de levantar quando ele segurou meu braço e me fez sentar outra vez. Fiz uma cara feia.
— O que foi?
— Seus pés. Não estavam doendo? Como raios você vai andar assim?
Fiz bico. É, eu tinha esquecido desse detalhe. E assim que encarei os belos e desconfortáveis saltos, me arrependi de não ter escolhido outra coisa para calçar. Contudo, não havia o que fazer, certo? Ganhar alguns machucados nos pés era bem melhor do que pegar alguma doença por andar descalça.
— Ah — murmurei. — E agora?
Foi uma pergunta para mim mesma, mas Mason com certeza ouviu. Ele ficou me encarando por sabe-se lá quanto tempo até me entregar o lanche quase acabado e levantar da calçada com afobação. Ia dando as costas sem dizer nada, mas então deu meia-volta.
— Volto em alguns minutos, espere aí. Vou buscar uma coisa.
Não pude responder, já que ele simplesmente deu no pé. Continuei exatamente onde estava até notar que uma das pessoas sentadas no banco à minha direita foi embora, deixando vago um lugar ideal para eu sentar. Levantei, equilibrando da melhor forma possível todas aquelas coisas que estavam comigo, e sentei no banco. Ao meu lado havia um senhor de meia idade tomando um café e do lado dele havia outro senhor, esse lendo com atenção a primeira página do Daily Mirror.
O primeiro homem me cumprimentou com as sobrancelhas, ao passo que o outro não tirou os olhos do jornal. Sorri educada e timidamente, minha mente vagueando pelos mil possíveis lugares para onde Mason poderia ter ido. Mesmo sentada em um lugar confortável, esperava que pelo menos dessa vez ele não demorasse tanto. O Soho costumava ficar bastante agitado conforme a noite ia se arrastando, e o ponteiro já marcava pouco mais de oito horas. As famílias cheias de crianças davam lugar aos adolescentes e jovens adultos cheios de energia em busca de diversão.
E eu não queria estar exatamente ali quando os primeiros grupos dessem as caras. Nunca fui careta ou com espírito de velha, mas andava bastante resguardada ultimamente. Não precisava de muito para me divertir: um parque de diversões, um jantar em um restaurante qualquer — mas gostoso —, um parque ou algo igualmente tranquilo era suficiente para mim. E uma das coisas que mais me atraiu em Mason foi sua capacidade de compreender isso embora ele fosse o contrário quase perfeito de mim. Ele gostava de agitação, noites cercado de pessoas enérgicas e tudo o que eu apreciava apenas a uma boa distância.
Ainda assim, nunca reclamou dos nossos encontros menos badalados, muito menos encheu meu saco para que eu fosse às reuniões sociais que ele ia — apesar de eu ter ido algumas vezes para não passar a impressão de que não me importava com seus gostos, uma vez que eu sinceramente me importava. Além do mais, depois de anos observando meus pais, consegui aprender que relacionamentos são uma via de mão dupla. Imagino que isso tenha sido um fator importante para que meus antigos relacionamentos tenham fracassado com tanto vigor. Aqueles caras não se esforçavam por mim, então como eu poderia me esforçar por eles também?
Pensar demais em Mason me deixava envergonhada, era como se todo o sangue do meu corpo subisse diretamente para minhas bochechas e se instalasse ali sem se importar se as pessoas me olhariam estranho ou não, mas ao mesmo tempo era muito bom. Porque conseguia perceber como um homem, repito, um homem, age quando realmente está interessado em você.
Encarei o céu estranhamente estrelado. Raramente as estrelas se destacavam tanto, já que as luzes artificiais da cidade brilhavam bastante e ofuscavam as pobres coitadas, mas naquela noite estavam especialmente majestosas. Uma parte de mim dizia que essa associação ocorrera devido aos pensamentos que estava tendo segundos atrás, mas aquele céu estava mesmo tão brilhante quanto o céu da noite em que Mason e eu nos conhecemos.
O Chelsea estava jogando contra o Sheffield United e eu estava bem perto da barra de proteção, tirando algumas fotos amadoras para postar no meu blog. Era uma noite de quarta-feira e Andie estava comigo, mesmo que ela não estivesse ao meu lado na hora em que Mason foi empurrado por um jogador adversário e caiu por cima da barreira de publicidade que separava a torcida do campo. Eu e minha câmera estávamos bem atrás e recebemos o impacto de graça. Quando Mason se levantou com a ajuda dos torcedores, aparentemente seu primeiro impulso foi voltar para o gramado como um touro irritado, e a julgar pelos punhos cerrados ele estava doido para socar alguém, mas assim que viu o estrago que seu pé tinha feito na câmera, hesitou um pouco.
Ele olhou para mim e seu rosto se contorceu em uma careta. Em meio a gritaria da torcida, soltou um "Vou dar um jeito nisso aí" e saiu.
Eu não levei a sério, claro. Afinal de contas, por que ele se importaria em consertar a câmera de uma pessoa que nem torcedora era? Fora que o causador de toda aquela confusão nem tinha sido ele. Mas, vejam bem, Mason realmente tinha palavra e não queria saber se o pivô era ele; eu estava me recolhendo junto com os demais assim que o juíz deu o apito final, então ouvi vozes masculinas desesperadas gritando "Ei! Menina da câmera, espere aí!".
Me virar para ver o que estava acontecendo foi instintivo. E lá estava ele, abrindo caminho pelos colegas de time, alguns dos quais estavam me gritando, acabei descobrindo isso mais tarde, e sacudindo a mão para mim. Eu e Andie trocamos olhares apavorados e confusos, e continuamos nos olhando assim enquanto Mason pedia desculpas pela câmera quebrada e se oferecia para pagar o conserto daquela ou, no caso de não ter mais jeito, me dar uma nova.
Eu não era idiota, óbvio que não recusei. Peguei o número do empresário dele e concordei em esperar que o homem entrasse em contato. Mason sorriu e cordialmente estendeu a mão para mim.
— Prazer, Mason Mount.
Na hora eu não percebi, mas aquilo fora um flerte bem descarado. Ele sabia que eu sabia seu nome. Estando em pleno Stamford Bridge e bem no meio da torcida do Chelsea, não saber não era uma opção.
— O prazer é todo meu, Mason. Persephone Mavers.
Recebi uma piscadela, e depois disso foi tudo muito rápido e até irreal demais. Seu empresário entrou em contato comigo dois dias depois e eu ganhei uma câmera novinha em folha, e logo na semana seguinte acabamos nos encontrando na festa de uma conhecida de Andie.
E esse dia foi cataclísmico.
Mesmo estando acompanhado de outros amigos, alguns sendo jogadores do Chelsea, Mason se manteve por perto a festa inteira. Andie não parecia nem um pouco preocupada com a suspeita aproximação só jogador, já que se misturou na multidão e me deixou sozinha assim que ele apontou no balcão do bar onde estávamos sentadas bebendo. Sua primeira pergunta foi sobre a câmera, se eu tinha gostado dela, depois se eu realmente tinha o perdoado pelo incidente e então se havia alguém, além de Andie, me acompanhando.
Logo eu descobri que poderia passar horas e mais horas da minha vida conversando com ele. Porque Mason tinha bom papo, era magnético, sabia chamar e prender a atenção de qualquer pessoa sem fazer esforço desnecessário, era mais do que um rostinho bonito ou um bom jogador de futebol. Suas perguntas eram tão sutis e cuidadosas que eu não percebia quanto ele estava arrancando de mim. As pessoas diziam que me conhecer tinha um toque extra de dificuldade, mas Mason pareceu tornar isso muito fácil.
E no instante em que meu celular tocou, eu atendi e lágrimas encheram meus olhos e escorreram ligeiras por minhas bochechas, uma parte do meu mundo pessoal ruindo bem abaixo de mim, seu olhar tremeu de preocupação. Das poucas coisas que lembro daquele momento em diante, ainda conseguia visualizá-lo se levantando comigo, perguntando se estava tudo bem — e recebendo uma resposta negativa e desesperada — e me conduzindo para fora da casa. Mason não fazia ideia de que meu avô tinha acabado de morrer, mas meu choro foi suficiente para que se compadecesse de mim.
Quis chamar um táxi, mas ele não deixou. Como não estava bebendo, pegou o carro e me levou até o hospital. Só me dei conta de como fui louca por aceitar aquela carona quando já estava sozinha na calçada do Chelsea and Westminster Hospital. Ao menos eu tinha chegado bem e tinha conseguido deixar com ele a incumbência de avisar a Andie onde eu estava, uma vez que dificilmente tocaria no celular pelo restante da noite.
Só fui pensar em Mason outra vez quando o reconheci na multidão parada em volta do túmulo do meu avô. O enterro fora dois dias depois e deixou o cemitério lotado de pessoas, então me ocorreu que o jogador chegara até lá não necessariamente porque Andie tinha lhe dito algo. Meu avô passara anos no comando do Grupo Mavers, fundado muito tempo atrás por meu bisavô, portanto era de se esperar que a notícia do seu falecimento se espalhasse por aí — e Mavers não é exatamente um sobrenome que você encontra a cada esquina.
Mason deixou que a maioria das pessoas fosse embora para só então deixar um buquê de flores em seu túmulo. Observei tudo de longe, esperando que ele fosse me cumprimentar. E para minha surpresa, não foi o que aconteceu. Mason foi se retirando sem dizer nada, de modo que me obriguei a tentar alcançá-lo.
— Vim aqui pensando em prestar minhas condolências a você, mas depois pensei melhor. Não queria te incomodar, e como já estava aqui, achei melhor ir embora sem fazer alarde — ele explicou quando eu questionei a razão de ter se retirado na surdina. — Eu ia dar um jeito de te encontrar depois.
Eu entendia o ponto de vista dele, embora não tenha achado necessário que pensasse em ir embora sem dizer nada. Ficamos cara a cara por um minuto quase interminável, minha família afastada o suficiente para que não soubessem quem estava comigo. Só saí do transe em que havia inconscientemente me enfiado quando vozes alteradas sobrepuseram meus pensamentos. Olhei de esguelha para eles, ainda em pé frente ao túmulo de meu avô, discutindo de forma ridícula sobre algo que poderia ser deixado para depois.
Minha boca amargou na hora.
Lembro de sorrir para Mason e com o coração em pedaços, propôr-lhe algo:
— Quer tomar sorvete?
Ele me olhou como se aquilo fosse um absurdo, e pensando bem, acho que era mesmo, mas não se dignou a contrariar uma pessoa esmagada pelo luto. E não só isso, eu queria um pouco distância da minha família. Os dias anteriores foram um tormento, embora tenham passado como um borrão do qual era impossível se lembrar direito. Meu avô mal tinha falecido e alguns abutres já estavam de olho nas questões financeiras que envolviam a empresa. Era garantido que meu pai, por ser o mais velho dos irmãos, assumiria o cargo de CEO, mas ainda havia cadeiras no Conselho e em outros setores da empresa a serem disputadas.
Eu poderia enfrentar isso depois. Aquele não era o momento, então fiquei muito agradecida e aliviada quando Mason saiu andando comigo até seu carro e dirigiu rumo a uma sorveteria que ele conhecia. Hoje eu consigo ver como sou completamente incapaz de tomar decisões racionais quando estou inundada por algum tipo de sentimento; eu nunca penso direito.
Conversamos sobre tudo durante o tempo em que ficamos na sorveteria, menos sobre meu avô e minha família. Só consegui me abrir sobre isso quando já estávamos bem avançados no relacionamento e eu sabia que podia confiar nele. Desde o primeiro instante Mason me encantou, e continuou encantando à medida que demonstrava ser diferente dos caras que eu havia conhecido ao longo da vida. Todos os que eram minimamente parecidos com ele já estavam comprometidos, para minha surpresa — ou não.
Encontrar Mason Mount foi quase como um milagre.
Mesmo com vidas corridas, ele com o futebol no Chelsea e eu com tudo o que precisava organizar no The Sun, conseguíamos arranjar tempo um para o outro. Estávamos saindo e nos conhecendo mais e mais há pouco mais de três meses, e quanto mais tempo passava, mais nossa sintonia aumentava. Eu me sentia nas nuvens, como se estivesse vivendo um sonho, um conto de fadas na vida real. Apesar dos problemas que eventualmente enfrentávamos e das diferenças que tínhamos, nos dávamos tão bem.
Pisquei. Estava encarando o céu há tanto tempo que meus olhos começaram a arder. Ajeitei os lanches no colo e tentei olhar para trás por cima do ombro, torcendo para que Mason estivesse vindo.
Não estava.
Os dois senhores continuavam sentados ao meu lado, cada um preso ao seu próprio mundo, exatamente como eu estava segundos atrás. Os minutos foram se arrastando e se arrastando, até que enfim congelaram. Mason surgiu em minha frente, um pouco ofegante e com o cabelo desgrenhado. Trazia consigo uma sacola de papel branca, o nome de alguma loja gravada nela com letras douradas.
— Você foi fabricar alguma coisa? — questionei risonha, erguendo as sobrancelhas para ele. Assisti-o se abaixar em minha frente e lutar para tirar da sacola o que quer que estivesse dentro dela. — Porque pela demora…
— Fila, linda, fila — se explicou. Uma caixa também branca saiu da sacola e foi empilhada na perna dele. — Trouxe isso para você. Não tenho certeza se acertei o tamanho, mas uma vez te ouvi falar sobre sapatos com a Andie, então acho que sim. E julgando pelas que você usa, você vai gostar.
Meus olhos quase saíram do rosto ao verem o par de sandálias birken de amarração que Mason exibiu. Elas eram tão lindas, não dava para negar, e o amarelo bem fraquinho combinava perfeitamente com meu vestido — o que me fez questionar se fora Mason a pessoa a escolhê-las —, mas senti uma pontada de culpa pelo gasto que não era exatamente necessário. Desviei a atenção das sandálias para o homem ainda abaixado em minha frente, e ele sorria largo como quem esperava ansiosamente por uma resposta de aprovação ou coisa do tipo.
Ri nasalado, sem jeito. Não sabia o que dizer, sequer como reagir. Eu deveria agradecer, certo?
— Estou começando a achar que seu objetivo hoje é gastar metade do seu salário comigo — brinquei, quase deixando escapar um riso nervoso. Mason, por sua vez, rolou os olhos. Sem pedir permissão nem nada, foi tirando meus saltos e colocando as sandálias. Colocou uma por uma, ajustando e mexendo nas amarrações. Dentro de mim, um coração teimoso acelerava e acelerava sem parar. — Tô me sentindo péssima, Mason.
Ele murmurou algo que eu não consegui entender.
— Está se sentindo assim à toa, porque eu quis comprar — rebateu. Tentava a todo custo achar um jeito de guardar meus saltos na caixa das sandálias e só se deu por satisfeito quando conseguiu. Enfim, ergueu os olhos para mim. — Não ia te deixar andar com esses saltos, bobinha. E… você está ainda mais linda com essas sandálias.
Minhas bochechas coraram quase automaticamente, e ele sorriu ao ver isso. Segurou minha mão, que pendia em um dos lados do meu corpo, e passeou o polegar pelas costas dela, os movimentos delicados de vai-vem esquentando minha pele. Queria tanto parar de encará-lo, mas quanto mais eu mantinha meus olhos sob os seus, mais me sentia atraída. Havia algo em Mason, algo muito bonito e tremendamente difícil de explicar, que me deixava entorpecida. Minha vida era tão fácil e tão difícil com ele. Apenas sua existência mexia comigo como se eu estivesse sendo acometida por um maremoto de emoções.
Naquela época eu nunca diria isso em voz alta, parecia precipitado e intenso demais até para mim, mas sabia bem como me sentia. Como se Mason Mount sempre tivesse sido a pessoa certa e tudo o que deu errado antes contribuiu para que déssemos tão certo.
— Percy?
A voz dele preencheu minha audição, arrancando-me dos meus devaneios. Estendi-lhe um sorriso desesperado e relaxei o corpo, me dando por vencida.
— Obrigada, Mase. Elas são lindas. E combinaram muito com meu vestido.
Seu sorriso se alargou e o meu, como que por conexão, fez o mesmo. Nos perdemos no olhar um do outro por mais tempo. Tempo o suficiente para flocos de neve começarem a despencar do céu como se nevar em Londres fosse muito comum. O Soho praticamente inteiro parou para observar e registrar o fenômeno. Também fiquei com vontade de pegar o celular para fazer uma filmagem, mas ainda estava insegura quanto às chances de ser roubada ou não.
— A previsão de hoje não era neve. — Mason comentou sem tirar os olhos do céu. Os flocos foram caindo e tomando conta de seu rosto e cabelo.
— Nem de hoje nem do resto do inverno. Que diabos aconteceu?
— Não faço ideia, mas vamos aproveitar. Não é todo dia que neva nessa parte da Inglaterra — ele disse e eu concordei. Na maioria das vezes, caso quiséssemos ver a neve, tínhamos que ir para outra parte do país. — Toma.
Estava tão concentrada nos flocos despencando céu abaixo que só percebi o que ele estava fazendo quando o sobretudo que passara a noite inteira vestindo foi parar em meus ombros. Mason ajustou-o em mim e pegou seu lanche — que a essa altura do campeonato já estava frio — do meu colo. Deu uma piscadela e saiu andando, como quem dizia que não iria dar ouvidos aos meus protestos.
Levantei do banco com pressa, agora menos atrapalhada porque a quantidade de coisas comigo havia diminuído. O sobretudo dele, no entanto, quase caiu. Se não fosse o senhor sentado ao meu lado, teria parado no chão com maestria. A figura carismática que ainda segurava o copo de café me estendeu a peça pesada e sorriu.
— Aceite o sobretudo. Ele só está tentando ser um bom namorado para você.
Dei uma risadinha sem graça. Não me admirava que as pessoas achassem que ele era meu namorado, mas por vezes isso me deixava desconcertada. Nas últimas semanas, Mason e eu vínhamos falando, meio que implicitamente, sobre deixar o relacionamento mais sério, mas, apesar disso, não chegamos a um consenso final ou coisa do tipo. Dessa forma eu não sabia exatamente onde estávamos, mas também sabia que não éramos oficialmente namorados.
Talvez eu devesse estar preocupada com isso, mas surpreendentemente não estava. Tudo o que habitava em mim era tranquilidade, uma vez que tinha noção de que íamos acertar as coisas da melhor forma possível.
— Ah, obrigada — respondi após algum tempo. — Mas ele não é meu namorado.
O senhor meneou a cabeça.
— Desculpe a intromissão, mas deveria ser, mocinha. Ele gosta muito de você, e dá para ver que você também gosta muito dele — suas palavras foram diretas e sinceras, atingindo-me bem no meio do peito. — Certos amores só aparecem uma vez na vida. Sessenta e oito anos atrás eu tive a minha chance — ele ergueu a mão esquerda, exibindo a aliança dourada que envolvia o dedo anelar. Sorri. — Talvez essa seja a de vocês.
Tentei formular uma resposta, mas não fui capaz. E também não adiantaria nada, já que ele se levantou após dizer isso e saiu trotando pela direção contrária a que Mason fora e eu também deveria ir. De qualquer forma, agradeci-lhe mentalmente pelas palavras e me apressei para ir no encalço do homem que antes me fazia companhia. Ultrapassei várias pessoas até por fim alcançá-lo.
Mason estava terminando de comer seu lanche com exímia tranquilidade e parecia não se importar em ter me deixado para trás.
— Não quero seu sobretudo. — teimei, dando-lhe uma cotovelada nas costelas.
— Está nevando e vai fazer bastante frio, Percy. Eu estou com um pulôver e você com um vestido de alças finas. Quem tem mais chances de morrer de frio?
Fiz uma careta.
— Eu não vou morrer de frio, idiota.
— Nem eu! — Mason riu. Ainda andando, ofereceu um pedaço do seu hambúrguer e algumas batatas fritas. Aceitei. — Apenas aceite a minha gentileza.
Eu realmente não queria discutir, tampouco tentar fazê-lo voltar atrás. O tanto que o conhecia era suficiente para que eu soubesse que tirar uma ideia de sua mente era excepcionalmente complicado. Seria mais fácil eu ser vencida pelo cansaço, no fim das contas.
— Posso fazer uma pergunta um pouco aleatória? — ele voltou a falar. Atirou as caixas e o copo vazio na primeira lixeira pela qual nós passamos e eu fiz o mesmo com a próxima, assim que terminei minhas batatas e o refrigerante. — Por que você nunca se apresenta com o primeiro sobrenome?
Ergui as sobrancelhas, tentando entender exatamente o que o levara a pensar nesse questionamento. Mason balançou os ombros com despreocupação.
— Eu disse que era aleatória.
— Bom… Acho que é porque não combina com meu nome. Um nome tão grande com um sobrenome tão pequeno… Parece que não encaixa. Deveria ser ao contrário, ou pelo menos mais balanceado. Como o seu.
— Mason Mount. Mason Tony Mount. — pronunciou o próprio nome com lentidão. — Persephone Kim. Persephone Kim Mavers.
Mesmo saindo de sua boca, achei aquela pronúncia horrível demais. Persephone e Kim eram tão diferentes, nada compatíveis, totalmente contrários. Eu realmente não gostava dessa junção; desde criança só usava o Mavers para me apresentar, embora não fosse possível esconder que, em algum lugar, havia um sobrenome vindo do leste asiático. Não que eu tentasse esconder isso, muito pelo contrário, me orgulhava bastante da minha herança sanguínea, mas ainda que pensasse em tentar, não seria possível.
Os olhos monólidos, o cabelo liso e pesado naturalmente tingido por uma tonalidade escura de castanho não deixavam enganar. Quando adolescente eu costumava gastar muitos minutos na frente do espelho, gostava de admirar minhas características, mas minha mãe entendeu as coisas de um jeito meio torto. Acho que ela uniu minha quase obsessão pelo espelho com meu desgosto pela combinação esquisita de Persephone e Kim e concluiu que eu odiava tudo o que envolvia o que até então ela considerava apenas como sua — e não nossa — cultura, quando na verdade eu amava.
Era só a questão do sobrenome esteticamente incompatível que me incomodava.
Por outro lado, todo esse equívoco serviu de algo: minha mãe me fez ter aulas semanais de coreano, começou a me falar mais sobre sua vida antes de morar na Inglaterra e me apresentar coisas da cultura que fariam eu me aproximar mais dela, além de criar o hábito de viajar comigo pelo menos uma vez por ano para a Coréia.
Exalei, as lembranças dessa fase da minha adolescência passando por minha mente como uma fita de videocassete.
Olhei para Mason, que balançava a cabeça devagarinho.
— É, você tem razão. Persephone Mavers combina muito mais.
— Eu não disse? — estalei os dedos. Virei o rosto para o lado, e por alguma razão Mason sorria para mim. Ele estendeu o braço e eu entrelacei o meu ao seu. Pela primeira vez desde que a noite começara, me dei conta da significativa quantidade de pessoas que nos observavam aqui e acolá.
Bom, um tempo atrás eu ficaria horrorizada com isso e nos puxaria para bem longe de todos aqueles olhares curiosos, mas a essa altura do campeonato já estava meio calejada. Bem lá no início, creio que em nosso segundo ou terceiro encontro, fomos fotografados na rua e minha cara foi parar nas redes sociais e em diversos sites de fofocas sobre atletas. Só então descobri como Mason era popular entre o pessoal mais jovem, em especial as garotas, e como esse mesmo pessoal era bom em descobrir as coisas.
Ficamos preocupados no início, as antenas bem erguidas quanto a tudo e todos, mas acho que começamos a relaxar mais e mais conforme íamos nos envolvendo. Quando bem nos demos conta, não podíamos mais contar nos dedos a quantidade de vezes em que nos tornamos o assunto do momento nas comunidades de fofocas e futebol — ou fofocas de futebol —, quase sempre depois de irmos a algum lugar com os amigos ou então sozinhos.
Só nos restou rir e tentar seguir nossas vidas como qualquer pessoa. Para todos os efeitos, minha vida não foi exatamente afetada com o que aconteceu. Segui com meu trabalho, apesar de ter passado a receber diversos tipos de olhares, dos mais tortos aos mais interesseiros, desde então, não deixei de andar na rua sossegada, tampouco comecei a ser reconhecida nos lugares. Fora das redes sociais, noventa e nove vírgula nove por cento das pessoas não se importam com quem um jogador de futebol anda saindo.
Graças a Deus.
— Vamos naquela praça — Mason apontou para a direita da avenida em que estávamos. Não dava para ver muita coisa, apesar disso eu tinha conhecimento da praça em questão. Ela era muito charmosa, cheia de barraquinhas de comidas, banquinhos ao estilo vitoriano, árvores com copas altas e verdejantes, jardins floridos e famílias felizes. Um pedaço de calma no meio da loucura do centro londrino. — Sentar em um banco, conversar, não sei. É melhor do que só… zanzar.
Concordei sem dizer nada. Aumentei minhas passadas e Mason me acompanhou. Cortando a multidão apressada e cheia de vontade de esbanjar litros de dinheiro nas lojas de grife, chegamos na praça. Ela não estava muito diferente do que eu conhecia, exceto pelo verde das árvores rapidamente substituído pelo branco glacial da neve. Também estava mais vazia, como se a mudança de tempo tivesse espantado boa parte das pessoas. Pff. Um grande erro, se podia ser tão eufemista.
Tudo na cidade ficava mais bonito quando nevava: os semblantes das pessoas, os bosques, as ruas, o céu, as estradas, tudo. Trancafiar-se em casa apenas com o intuito de se proteger da neve era um ponto bem próximo da burrice. Como minha família sempre gostou de invernos mais rigorosos, costumávamos passar o inverno fora da Inglaterra. Inicialmente o destino mais procurado por nós era a Suíça, por conta de toda aquela coisa dos Alpes e tal, então trocamos ela pela Coréia.
Montes Taebaek, Pyeongchang e a própria Seul… Ah, saudade.
— Minha mãe me fez prometer de pés juntos que eu não te contaria isso — ele começou, esticando o braço por sobre minha cabeça, imagino que tirando os flocos que se amontoavam ali. — Mas ela está doida para te conhecer.
Mason riu, um risinho nervoso e muito tímido, do tipo que me faria enchê-lo de beijinhos caso não estivéssemos em público. Encarei-o com os olhos levemente arregalados, tomada por uma surpresa genuína diante de sua confissão. Eu conhecia Debbie Mount, mas apenas de longe, não o suficiente para dizer que éramos amigas nem nada assim. As poucas vezes em que estive no mesmo ambiente em que sua família fiquei envergonhada demais para me aproximar. Não sabia como reagiriam a mim.
— Sério?
— Seríssimo. Ela disse que precisa conhecer a garota que me fisgou. Eu não conseguia sair de forma séria com ninguém desde… — parou de falar. — Bom, você sabe. Sharon.
— Sharon. — repeti o nome bem devagarzinho.
Quando nos conhecemos, eles tinham terminado há cerca de um ano e meio. E muito embora tentasse não demonstrar, parte de seu coração estava quebrado e magoado com o que aconteceu — ou pelo menos com a forma com que aconteceu. Passei boa parte do nosso primeiro mês saindo carregando uma medida de desconfiança comigo. E se Mason ainda estivesse apaixonado por ela? Eu não queria servir como tapa-buraco para ninguém. E acreditar que era mais do que isso exigiu um certo tempo.
— Por que ela não queria que você me contasse isso? — quis saber.
— Porque não queria parecer… emocionada? Sei lá, não queria te espantar. Mamãe acha que, para a juventude atual, conhecer tão cedo — ele riu e fez aspas. — a mãe da pessoa com quem você está saindo pode ser chato.
— Para a sorte dela, e a minha também, eu não tenho o menor problema com isso.
Mason abaixou a cabeça, então ergueu o rosto para mim. Paramos ao lado de uma árvore e fui pega de surpresa com sua mão em meu rosto, o polegar acariciando minha pele sem qualquer resquício de pressa. Ele me admirava como se estivesse diante de algo tão belo que todo o resto se tornava insignificante.
— Podemos ir até Portsmouth quando você voltar de viagem — propôs, o olhar ainda concentrado em mim. Sorri e ele espelhou meu sorriso. — O que acha? Seus pais podem ir também, se quiserem.
— Não me parece uma má ideia.
Mason se limitou a alargar o sorriso e me tomar em seus braços. Apoiei a lateral do rosto em seu peitoral, enchendo meus pulmões com um pouco mais do seu cheiro. O abraço dele era tão confortável e relaxante, sobretudo familiar, como se eu já tivesse o experimentado muitas vezes antes de nos abraçarmos pela primeira vez naquele jogo de golfe. Um pensamento atravessou minha mente e me deixou tão assustada que estremeci: eu poderia ficar ali uma vida inteira.
Mas… por quê?
Por que eu me sentia tão segura com ele? Por que com ele até as coisas mais difíceis pareciam tão fáceis e o lado complicado de uma relação se tornava tão mais suportável? Por que eu sentia que poderia deixar de apenas gostar dele e passar a amá-lo e não sentir medo disso?
Era tão assustador, mas tão surpreendente ao mesmo tempo. Talvez fosse algo que eu nem devesse questionar ou tentar entender e sim apenas sentir e aproveitar.
— É incrível — Mason disse baixinho. "O que?", sussurrei de volta contra seu ombro. — Como você se encaixa perfeitamente em mim mesmo sendo praticamente da minha altura.
Sou pega desprevenida por suas palavras e o beijo que ele me dá na lateral da cabeça, bem perto da minha orelha. Meu coração estava saltitando no peito e minha única vontade no momento era apertá-lo o mais forte possível e nunca deixá-lo sair dali. Era como se eu estivesse transbordando de tanta paixão. Uma paixão avassaladora e por muito tempo desconhecida.
— Algumas pessoas apenas combinam e se encaixam como se não houvesse mais nada possível além disso, Mase.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos.
— Acho que você é o meu encaixe perfeito, Percy — suas palavras me atingiram em cheio e minhas pernas tremeram. — O que eu sinto quando estou com você é o mais próximo que algo que eu faço consegue chegar da perfeição.
Eu naturalmente não soube o que dizer, e acho que Mason compreendeu isso, pois não me cobrou por uma resposta — fosse a altura, fosse qualquer coisa que mostrasse que eu aceitava sua declaração de coração e peito abertos. O simples fato de ter continuado em seu abraço, e quem sabe de ter o abraçado ainda mais forte, era uma resposta suficiente para o momento. E ficamos assim por tanto tempo que eu quase me senti sonolenta. Quando estava prestes a relaxar de uma vez, o que sem sombra de dúvidas seria um erro, uma melodia muito bonita tomou conta do lugar.
Nós enfim nos afastamos, determinados a saber de onde vinha o som. A procura não demorou muito; logo achamos os provedores daquela música bonita: três senhores alinhados ao pé de uma árvore frondosa, um com um saxofone, o outro com um clarinete e o outro com uma tuba. Juntos, os três instrumentos de sopro davam forma a um jazz muito bonito e atraiam a atenção das pessoas que estavam na praça. Foi questão de segundos para não se ouvir quase barulho nenhum na área.
Praticamente todos, até mesmo as crianças, estavam concentrados na música.
Observei-os tocar, encantada. Os senhores sorriam com os olhos, apaixonados pelo que faziam e encantados com a atenção que estavam recebendo. Isso só fortaleceu meu pensamento de que poucas coisas são tão incríveis quanto fazer o que se gosta e receber devido reconhecimento por isso.
Quando a inconfundível melodia de Strangers In The Night de Frank Sinatra começou a tocar, Mason se pôs em minha frente, tomando conta do meu campo de visão, e estendeu a mão. Ergui as sobrancelhas e ele apontou com o rosto para um pouco além dos senhores que tocavam, então me fazendo observar que algumas pessoas dançavam em duplas aqui e ali. Amigas, casais idosos, casais mais jovens e até crianças.
Esbocei um sorriso nervoso e outra vez mexi as sobrancelhas; queria saber se era isso mesmo que Mason queria fazer. Sua resposta veio silenciosa e a mão continuou estendida. Tão logo ele me prendeu com seu olhar pidão, me vi colocando em um banco as coisas que estavam em minha posse — e ele fez o mesmo — e segurando sua mão.
Fechei os olhos quando nossos corpos se aproximaram mais uma vez, agora se movendo lentamente e no compasso da música. Mason firmou o toque de sua palma em minha cintura e entrelaçou nossos dedos, buscando meu olhar por alguns segundos. Não evitei-o, mas senti uma urgência de encarar outra direção. A lateral do seu rosto encontrou a minha, e descansamos encostados um ao outro. Apesar do som da música, estava com medo que ele ouvisse as batidas aceleradas do meu coração.
Porque eu estava ouvindo as dele.
Eram tão ritmadas e ao mesmo tempo descompassadas. Como uma sinfonia que apesar de desorganizada tinha sua beleza. Eu queria muito saber a razão de todas aquelas batidas: nosso ritmo, a presença das pessoas ao redor ou eu.
Mantive o foco no céu, surpreendentemente estrelado para aquela área da cidade e mais ainda para a nevasca que parecia estar cada vez mais próxima de forrar completamente os terraços dos prédios e o chão da capital londrina. Pouco a pouco fui relaxando, me vendo encantada por estar ali, fazendo algo completamente normal como uma pessoa normal em uma noite não muito normal. Às vezes, se relacionar com alguém cuja vida está longe de ser anônima é um tanto complicado. Você não pode fazer absolutamente tudo ou ir a todos os lugares — pelo menos não à vista de todos — e isso pode ser frustrante.
Na maioria das vezes achava fofo como Mason sempre tentava compensar as coisas que não conseguíamos fazer juntos porque ele com certeza ia precisar lidar com mais pessoas do que o desejado no momento, mas nem sempre era tão agradável assim. Porque chegava a um ponto em que ele se desesperava, como se eu fosse sair correndo apenas porque não pudemos tirar algumas fotos na Abbey Road sem ter dezenas de blues passando e pedindo alguma coisa — que ele dava com um sorriso no rosto que fazia meu coração derreter, muito embora algumas vezes só quisesse sossego.
Então era bom estar ali. Onde as pessoas estavam concentradas demais em suas vidas, na neve, na música e na dança para prestar atenção em qualquer outra coisa. Quando você se acostuma a receber tanta atenção, ter a chance de não se sentir o centro do mundo é fantástico.
— Você é o maior pé de valsa que eu já conheci na vida — comentei baixinho, espalmando minha mão em sua nuca com delicadeza. Senti sua pele arrepiar. — Nem eu danço tão bem assim.
— Tenho duas irmãs mais velhas que me faziam de gato e sapato, Percy — ele riu. — Eu era o único que topava ensaiar valsa e essas coisas com elas na época dos bailes do ensino médio.
— É, não é como se você não tivesse muita escolha. Mas não posso julgar elas. Eu também faria meu irmão mais novo de gato e sapato se tivesse um.
— Vocês são cruéis!
— Vocês que são bobinhos.
Mason riu baixinho e beijou minha têmpora. Ficamos um tempo em silêncio, conforme a vida acontecia ao nosso redor e os músicos ainda tocavam Frank Sinatra.
— Você já deve ter dito isso, mas não lembro bem — ele tornou a falar. Tentei olhá-lo de onde estou com o rosto, mas não consegui. — Sua viagem vai demorar quanto tempo?
— Duas semanas.
— Ah — sibilou. — Duas longas semanas...
— Sem drama, Mount. Se eu fosse juntar todos os dias que você fica fora por conta dos jogos, daria bem mais que duas semanas.
— Essa cartada aí não vale, Percy — ele resmungou. Mason era um ótimo resmungão. — Meus jogos tem intervalos de tempo entre um e outro. Você vai ficar fora durante duas semanas corridas.
Podia imaginá-lo fazendo biquinho enquanto dizia essas palavras, e esse quadro mental me obrigou a rir. Travei os passos, obrigando-o a fazer o mesmo. Afastei-me e levei as mãos até seu rosto, apertando-o de uma forma que seus lábios se uniram em um bico. Mason ergueu as sobrancelhas, questionando com o olhar se eu fiquei maluca.
— Não seja dramático. Essas duas semanas vão passar rápido. Vou te enviar muitas fotos de Seul, tudo bem? E tente se lembrar que depois disso vamos para Portsmouth!
— Lembrar disso só vai me deixar mais ansioso para você voltar. — ele disse, ou pelo menos tentou dizer, ainda com biquinho.
— Deveria era te deixar ocupado fazendo uma boa programação de pontos turísticos e locais para me levar. Eu nunca fui a Portsmouth.
— E eu nunca fui a Seul.
Revirei os olhos.
— Você vai com a gente na próxima viagem. Não se preocupe. — ao dizer isso fiquei espantada, porque levá-lo até lá implicava em deixá-lo conhecer o lado mais louco da minha família, e eu nunca tinha pensado em fazer isso até então. — Só não se assuste com meus parentes. Eles são meio doidos. Sem exceção. Até halmeoni é meio...
— Como você?
— Um pouco mais que eu.
— Então ela deve ser perfeita também.
De alguma forma enrubesci com esse comentário, no entanto, ele sorriu. Sorriu e me puxou para o abraço mais apertado que me deu na noite. Fiquei em seu enlace até a música acabar, mas algo dentro de mim alertou que se fosse possível, me manteria ali até minhas forças se esgotarem. Ao nos afastarmos um do outro com o término da música, uma salva de palmas direcionada aos músicos tomou conta do ar. Nos juntamos aos demais espectadores e nos dirigimos até a caixinha que eles colocaram em um banco para deixar uma gratificação. Mason ficou sem graça e até sem reação quando um deles o abordou e pediu uma foto.
De longe assisti a cena se desenrolar. As pessoas foram se dissipando, uma fila quase quilométrica ganhou forma na frente de um carrinho de pretzels e sorvete e as crianças ganharam seu espaço para brincar. Mason se despediu do músico com um abraço camarada e ao invés de ir até mim, passou direto, me dando apenas uma piscadela. Franzi o cenho.
Seus passos o guiaram até um carrinho de chocolate quente. Ele era o sétimo da fila e não parecia estar com pressa. Sentei no banco onde deixamos as coisas e concentrei toda a minha atenção nele; sinceramente, Mason não tinha um porte físico tão atlético quanto certos jogadores aqui e acolá, mas sua postura era de atleta. Dava para ver isso pela maneira como ficava em pé e tinha uma expressão de concentração toldando seu rosto, exatamente como ficava durante os jogos. Não recordava de já termos conversado sobre o que seríamos caso não tivéssemos seguido com nossas atuais profissões, mas tinha para mim que Mason jamais seria outra coisa senão jogador de futebol.
Não porque ele não era bom em outras coisas, mas porque o futebol fazia parte do seu ser. Eu nunca tive algo que realmente fizesse parte de mim, gostava de inúmeras coisas e poderia ser várias coisas, então admirava ele e tantos outros que tinham pertencimento exclusivo a uma única questão. Todavia, talvez essa fosse a graça da vida e das pessoas. Alguns nascem unicamente para determinada coisa e se tornam especiais por isso, à medida que outras nascem para muitas coisas ao mesmo tempo e são tão especiais quanto. O mundo não seria mundo se não houvesse quem não pudesse fazer apenas o que faz e quem pudesse fazer qualquer coisa que sinta vontade de fazer.
A versatilidade e a imutabilidade andam lado a lado.
É o pensamento que me ocorre assim que observo meu querido jogador pedir chocolate com caramelo salgado para mim, porque eu não bebo chocolate quente com qualquer outra coisa sem ser caramelo salgado, e chocolate com menta para ele, porque ele sempre experimenta vários sabores diferentes e ao seu ver isso é ótimo. Versátil e imutável, sabe? Os dois lado a lado.
— Esse encontro está saindo melhor do que a encomenda — disse, pegando o copo com chocolate quente fumegante de sua mão. Aproximei a borda da boca, balançando o corpo em uma dancinha animada à medida que Mason se acomodava ao meu lado. Seu braço repousou em meu ombro e seus lábios alcançaram minha testa. — Acho que finalmente posso te perdoar por não ter feito nossas reservas.
— Você ainda não tinha perdoado? — ele perguntou com uma curiosidade desesperada. Ri.
— Claro que sim, besta. Só estava tentando irritar você.
Pude ver Mason revirar os olhos dramaticamente, mas não me importei. Estava tão concentrada no chocolate quente e em como o mundo parecia mais bonito e a vida se movia mais devagar. A maioria das pessoas que moram em grandes metrópoles raramente tem a oportunidade de relaxar ao ponto de não ter a sensação de tudo estar ocorrendo em uma velocidade desigual e impossível de ser alcançada. Me sentir diferente de como me sentia na maior parte dos dias, sucumbindo à mesma rotina de acordar, me arrumar e ficar até as 17h dentro de um escritório compartilhado, era louvável.
Beberiquei a bebida outra vez, o doce do chocolate e o salgado do caramelo se misturando com esplendor em minha boca. Tinha gosto de infância, dos invernos na Noruega e de bons momentos com meu pai. Nenhum chocolate quente chegaria aos pés do que ele fazia quando passávamos um tempo em Tromsø, usando as mais altas horas da noite para ver a aurora boreal do quintal de casa, mas dava para o gasto.
Papai nunca mais saiu do país desde o acidente de avião que quase tirou sua vida.
— Percy — Mason me chamou, e sua voz soou como um puxão do transe no qual estava entrando. Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas. — Eu ouvi sua conversa com aquele senhor.
— Que senhor?
— O que estava com você no banco. Ele te disse para você aceitar meu sobretudo, porque eu estava tentando ser um bom namorado para você — então ele pausou. Eu não disse nada, contudo. Não fazia ideia de onde Mason queria chegar com aquela constatação tão repetina. — Aí você disse que eu não era seu namorado.
Talvez estivesse louca, quem sabe sentindo os efeitos do frio e do emaranhado de sentimentos causados pela noite anormal, mas dei conta de uma ponta de decepção em sua voz. O silêncio que se arrastou em seguida me fez tomar distância dele e sentar com postura no banco, agora encarando-o nos olhos. Mason se mantinha impassível, mas sua boca tremulava levemente, como se lutasse contra as palavras que se debatiam em desespero para sair.
— Você é meu namorado? — quis saber.
Seu olhar abaixou, recaiu nas próprias mãos. E foi extremamente estranho ver sua figura cheia de confiança e lábia ser substituída por uma versão amedrontada e insegura. Mason parecia travado nas palavras, sem saber o que dizer, o que tornava tudo ainda mais esquisito — e até desconfortável. Ele sempre sabia o que dizer, o contrário exato de mim.
— Não, não sou — enfim pude ouvir sua voz e encarar suas írises outra vez. Após mais alguns segundos calado, completou: — Mas quero ser. Quero tanto que estou há semanas pensando no jeito certo de te pedir em namoro, mas sempre chego na conclusão de que não tem jeito certo de pedir que a garota certa seja sua namorada. Porque para ela nada é suficiente. Nem fazer um pedido diante do mundo inteiro durante uma partida entre o Chelsea e o Real Madrid pela Champions League.
Não consegui conter a risada..
— Eu te mataria se você fizesse isso.
— Viu? Por isso eu não fiz — os lábios de Mason se ergueram em um sorriso brilhante e caloroso. — E por isso eu estou te contando isso tudo bem... aqui, somente com a neve como testemunha. Porque eu só preciso que você seja minha namorada, Percy. Não que eu não já te considerasse assim antes — pude sentir uma vermelhidão subir por minhas bochechas e um sorrisinho ameaçar despontar. —, mas quero que seja oficial. Preciso que seja.
— Mason...
— Vou te comprar uma aliança linda e fazer alguma coisa muito bonita para você tirar várias fotos, não se preocupe, mas hoje, agora, é o que temos. E sua resposta é o que realmente import...
Nem mesmo permiti que ele terminasse de falar. Deixei o copo no canto vazio ao meu lado para segurar seu rosto de maneira digna e calar sua boca com a minha. Mason não esperava por isso, seu corpo ficou rígido e ele levou alguns segundos para processar o que estava acontecendo, mas então... Então ele caiu em si. E nossas bocas se encaixaram como nunca antes, como se agora finalmente tivessem se dado conta de que não precisavam de nenhuma outra. Sua mão segurou minha nuca, puxando-me para mais perto em uma tentativa quase inconsciente de fundir nossos seres.
Mason mal se afastou e aproximou o rosto do meu outra vez, agora beijando cada milímetro dele ao mesmo tempo em que sorria.
— Minha namorada. Minha.
Aquiesci lentamente, juntando nossas mãos. Fechei os olhos quando nossas testas se tocaram e nossas respirações se misturaram. Droga, eu realmente amava ele. E isso era tão bom e assustador, porque eu nunca tinha amado um cara antes. E agora ele estava ali, me fazendo sentir um turbilhão de coisas e desejar sentir isso pelo resto da minha vida.
Mason Mount, minha única exceção.
— Acho que eu já era sua e você meu desde aquele dia em Stamford Bridge.
— Eu queria poder dizer que lamento muito por ter quebrado sua câmera, mas... Sinceramente, Percy? Eu não lamento nenhum pouco.
Beijei a ponta do seu nariz e voltei a abraçá-lo bem apertado. Eu não precisava dizer mais nada. Nenhum de nós precisava.
Há males que vem para o bem e câmeras quebradas que vem para o início de namoros.
━━━━━ ✦✗✦ ━━━━━
esse conto tá guardado há tanto tempo que o mason nem tinha saúdo do chelsea ainda!! mas o importante é que ele finalmente saiu, né? irruuu!!
eu amei escrever sobre ele e a percy e estou com planos (não sei pra quando, deixo logo avisado) de escrever mais
espero que tenham gostado! não deixem de votar e comentar, hein? contem pra mim o que acharam :)
obrigada por lerem até aqui e até mais veeerrr!! <3
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