no control | frenkie de jong
Não é estranho como algumas pessoas conseguem nos hipnotizar de uma maneira tão astronômica que, Deus tenha dó de nossa pobre alma, a única coisa que podemos fazer é orbitar ao redor delas? E não é estranho como algumas dessas pessoas fazem essa viagem intergaláctica, completamente assustadora que é o que chamamos de paixão, ser um dos momentos mais marcantes de nossa singela existência?
Foi isso que aconteceu comigo. Em um dia, eu era apenas Flora Carrizo, no outro, eu estava perdidamente apaixonada por Frenkie de Jong. Simples como abrir os olhos, avassalador como uma chuva torrencial em meio ao verão.
Nunca fui o tipo de garota que deixou garotos monopolizarem minha vida. Não mesmo. Garotos eram divertidos e quando beijavam bem valiam a pena, mas era só isso. Uma noite de bebedeira com um bonitinho qualquer e depois o mundo real voltava a funcionar como antes. Suas manivelas internas me levando ao que sempre chamei de "futuro", e no meu futuro brilhante caras não tinham muito espaço.
Eu nunca completei os estudos porque estava focada demais na minha carreira como futebolista. Sabe, estudar requer muito de nossa mente e minha mente vivia por apenas duas coisas: vencer todos os campeonatos que nosso time em Buenos Aires participava e conseguir que os gigantes do futebol feminino me olhassem lá do topo de seus castelos nas nuvens. Criancinhas como eu, do tipo baixinhas e de narizes em pé, tinham um bocado de sonhos muito maiores que nós mesmos.
Então, durante muito tempo trabalhei para chegar aqui. E por aqui estou dizendo Barcelona, na Catalunha, dentro das fundações míticas do Camp Nou.
Eu era aquele tipo de menina que tinha na parede um pôster da One Direction e de Harry Styles ao lado do elenco da Champions de 2011 e um tamanho real de Messi que cobria toda minha porta. Na minha cabeça músicas do Midnight Memories se misturavam ao hino da Champions e ao hino do meu país, meus passatempos tinham a ver com shows de bandas pops e partidas de futebol semanais. Mas, acima dos meus devaneios por cantores britânicos e minha vontade avassaladora de ver Lionel Messi cara a cara, havia um desejo que me erguia todos os dias de manhã e me fazia viver como louca: ser uma grande estrela do esporte.
Nunca pensei na fama desenfreada ou em toda a grana que eu receberia caso conseguisse um contrato de verdade, mas em algo muito mais primitivo que isso. Estive durante vinte anos, desejando sentir a vibração que eu sentia ao ser ovacionada pela torcida de meu time em Buenos Aires, mas vestindo o manto daquele clube que estava incrustado em meu coração, como uma tatuagem antiga.
Então, quando cheguei a Barcelona e conheci o resto do elenco e entrei pela primeira vez em campo com as cores blaugrana, quando marquei meu primeiro gol e sofri minha primeira lesão, descobri que quando se tem tudo aquilo que deseja, você percebe que sempre quer mais. E o Barcelona tinha tudo para que eu desejasse mais e mais. Era como um casamento, eu acho. Eram dias bons e ruins, mas quando o amor era real, você tinha o deleite de se permitir ter muito mais.
Bom, eu sei que a história não parece muito animada até aqui, mas preciso falar dos meus sonhos antes de falar sobre aquilo que transformou a minha estadia em Barcelona numa verdadeira jornada até o caos absoluto.
Eu tinha tudo aqui, me sentia em casa e não via como as coisas pudessem ser melhores do que aquilo que eu já tinha.
Ele, com seu sorrisinho de menino e sua boa aparência, não era meu ponto de partida nem minha reta final. Ele não estava na equação, mas como um daqueles furtivos felinos que se misturam à paisagem da savana, se achegou ao meu lado e transformou minha Via Láctea em seu playground particular.
— Por favor, pare de babar em cima dele, Raquel.
Rolo os olhos.
De soslaio, encaro Lita. Ela caminha até mim com o uniforme de treino e um moletom escuro, seus cabelos castanhos estão presos em um rabo de cavalo alto e ela segura um pirulito perto de sua boca que me entrega um sorriso maligno.
Essa beldade esguia, com coxas grossas e tatuagens que cobrem quase todo o corpo é minha melhor amiga. Ou deveria ser. Lita é norte-americana, tem olhos angulosos e que me lembram o olhar de um predador pronto para acabar com a minha vida. Ela fala um catalão arrastado que sai de sua boca de forma aveludada e sexy. Essa garota exibia uma placa em seu torço que dizia: perigo, mas poucos eram os que davam atenção aos avisos.
Ela para ao meu lado nas grades de proteção da arquibancada. Estamos na parte inferior, perto do gramado e do túnel que leva até ele. Na grama sintética o time masculino principal conversa em grupos pequenos pela extensão verde. Eles parecem relaxados e tranquilos; distantes, mas alguns olhares rápidos deixam claro que há certo nervosismo entre eles. É assim com todos nós, eu acho. Tentamos sempre parecer calmos, mas quando jogos importantes se aproximam a ansiedade é nossa maior inimiga.
Meus olhos grudam no garoto loiro de costas para mim. Estou babando completamente na bunda dele, é verdade, mas não estava até que Lita me fizesse lembrar que Frenkie tem um corpo perfeito.
— Ih, seu Ares está uma gracinha hoje — ela sussurra bem perto do meu ouvido. — Uh lá lá.
Mais uma vez, rolo os olhos.
— Deus tenha dó, para de chamar ele assim!
— O quê? Você tá aqui parada olhando pra ele igual uma stalker maluca. Isso é totalmente Raquel e Ares. — Ela cutuca minha testa com o indicador. — Te falta um pouco de cultura pop, Bruja.
Desde que assistiu Através da Minha Janela, Lita ficou obcecada. Tipo, muito obcecada. Ela adorava clichês e qualquer baboseira adolescente que a Netflix lançava, mas não ajudava muito que o livro tivesse sido adaptado como uma franquia espanhola e todo o enredo saísse da monótona América do Norte e desse boas-vindas ao melhor lugar do mundo para se produzir um longa: a Espanha. Agora, em qualquer oportunidade, ela estava me chamando de Bruja e o garoto no gramado de Dios Griego. Era ridículo e ela amava. Eu por outro lado...
— Mas é ridículo.
— Bom, é, acho que Frenkie nunca conseguiria ser como Ares... — Ela me encara e percebe o descontentamento que irradia de mim. Sua risada altiva enche o lugar e alguns rostos se viram em nossa direção. Acenos surgem para nós pelo gramado e tento esconder minha carranca com um sorriso. — Ei, pessoal — Lita grita para eles. — De qualquer forma, você precisa admitir que é um pouco parecido. Sem toda a merda familiar e melhores amigos apaixonados, claro. Mas vocês dois juntos é explosivo como eles.
Não tinha nada parecido, penso, mas não digo em voz alta. Ela sabe o que eu acho disso tudo.
Encosto minha cabeça sobre os braços e encaro aqueles caras. Não sei o motivo de estar aqui. Simplesmente estou. Nosso treino acabou há alguns minutos, eu estava pronta para ir embora quando os vi aqui. Eles estão acostumados com o time feminino ao redor deles porque somos como uma grande família feliz e o Camp Nou é nossa casa quando não estamos na Cidade Esportiva Joan Gamper. Eles nem ao menos piscaram quando fiquei minutos a fio os observando correr, pular, chutar e rir um com o outro.
Ao meu lado, Lita suspira, se debruçando sobre a proteção. Escuto os murmurinhos pelo túnel e minha cabeça mal se move para que eu descubra quem está se aproximando. Nós duas os fitamos. Busquets é o primeiro que nos encara, com aquele sorriso simpático que lembro de receber desde o primeiro dia. Ele acena para nós e pergunta como estamos e nos parabeniza pelo último jogo. Ele é um dos caras aqui dentro que tenta fazer todo mundo se sentir bem e isso é legal porque essas figurinhas repetidas e antigas costumam ser o motivo de estarmos aqui.
Quando cheguei aqui, Messi ainda era jogador do Barcelona. Eu o via em todos os lugares e me sentia como uma criança de novo, de frente para o meu grande ídolo. Chorei como na saída de Zayn da One Direction no dia que anunciaram o fim da jornada do clube com o jogador. Eu me sentia muito próxima dele apesar de, sabe, não ser exatamente a melhor amiga do cara. Mas nós dois éramos do mesmo lugar, ver o que ele fazia aqui me dava certo orgulho por ser argentina também.
— Sem ofensas , Florita, mas nosso deus grego tá um verdadeiro gato hoje — Lita alfineta sorrindo travessa quando ele se afasta. Ela abana o rosto e segue os movimentos de Frenkie no gramado. A regata cobre o torço dele, se agarrando aos músculos como se necessitasse disso. Ele ergueu o calção até metade da coxa e os músculos firmes dele se desenham pela pele dourada, ele estava bem bronzeado depois das férias. E estou sofrendo como uma coitada por isso.
Fungo uma vez antes de me virar para ela.
— Você não tem mais nada pra fazer, não? Cuidar da sua própria vida amorosa? E o Pedri?
Lita diz que o apelido Bruja faz sentido para mim. Porque, segundo ela, eu tenho a porra de uma boca santa e naquele momento acredito nisso. Enquanto a garota está prestes a retrucar o que eu digo, atrás dela o garoto aparece ao lado de Gavi. Eram dois moleques que tinham em suas testas a palavra futuro escrita. Eram adolescentes, mas eram grandes em esperança para o clube. Pedri chegou ao clube junto comigo, de Las Palmas, a estrela dele não demorou a brilhar e os culés já o adoravam como se tivesse saído das entranhas de La Masia.
A garota trava na frase mal educada que soltaria para mim e nós duas observamos os recém chegados surgirem na ponta do gramado. Gavi é o primeiro a nos ver, acenando com a cabeça. Ele meio que ignora todo o resto e vai embora, mas Pedri encara Lita. Daquele jeito que meninos e meninas se encaram quando não sabem o que aquela tensão entre eles quer dizer.
Um silêncio reverberante se instala antes do menino balançar a cabeça e se afastar. Nenhuma palavra, mas quem precisa disso quando todo o ar ao nosso redor fica tenso desse jeito?
Ela coça a garganta e desvia o olhar dele. Não pergunto mais nada, às vezes é melhor deixar histórias como aquela apenas como histórias.
— Droga, odeio tanto ele — ela quem decide não deixar para lá. — Queria que meu Ares Hidalgo fosse como o seu. Decidido. Mas recebi um moleque confuso em troca de toda a minha boa vontade com os clichês. Em que merda de história eu me enfiei?
— Decidido? — pergunto a ela, olhando mais uma vez para o loiro no gramado. Solto uma risada sardônica. O caralho, é isso que digo.
Durante todo aquele tempo, Frenkie de Jong fingiu que minha presença era irrelevante. Até aquele momento. Quando sei que seus olhos estão me examinando, não consigo conter o calor e o rubor. Estou queimando e estou ficando vermelha, mas ele nunca vai poder enxergar isso. É estressante que ele me deixe assim, principalmente quando jurei que nenhum homem faria isso comigo. Mas estou orbitando ao redor dele e me sinto descontrolada enquanto dou voltas e mais voltas. Ele me deixa em estado de alerta com sorrisos simpáticos e olhares inocentes, mas entre nós nada é inocente.
Lita está falando e falando, mas estou prestando atenção nos movimentos dele. Os cabelos loiros caem na testa, seu rosto está avermelhado e ele parece cansado. Ele passa uma das mãos no cabelo, deixando-o ainda mais desarrumado. Frenkie bate uma vez nas costas de Depay e se afasta, seus passos acompanham a direção de seus olhos e a garota ao meu lado se cala.
— Ah, merda. Ele tá vindo aqui, eu vou embora — ela murmura, mas antes que se afaste eu a seguro. Lita ri e faz com que eu a solte. Um desespero novo surge em meu coração. — Nem vem. Não quero ficar entre uma DR de casal. E Gaia está me esperando para irmos embora então, arrivederci, Bruja.
E ela desaparece. Fico tentada a sair correndo, mas a cada passo dele meu coração parece se tornar ainda mais agitado, sinto o magnetismo de sua aura etérea e austera. Ele parece uma miragem e seu jeito doce esconde tudo o que ele pode fazer. Frenkie é uma caixinha repleta de segredos e me sinto um pouco orgulhosa quando penso que conheço alguns deles.
Quando ele para na minha frente sou só uma ideia do que era há alguns segundos. Mais perto de mim, consigo notar toda sua beleza que me deixa hipnotizada. Olhos azuis cristalinos, cabelos loiros sedosos, um sorriso de menino arteiro que sabe como esconder a bagunça, músculos que se prendem ao tecido de seu uniforme e aquele jeito suave com que ele me encara, como se pudesse dizer tudo apenas pelos olhos. Ele coloca as mãos na cintura e tomba a cabeça um pouco para o lado.
— Flora.
Ele não diz oi e nem pergunta como estou. Me sinto sempre traída quando ele não age como deveria. Na minha cabeça, Frenkie colocaria as mãos em minha bochecha, diria que havia sentido minha falta durante a semana inteira e com um sorriso que acabaria com todas as guerras no mundo, me beijaria como se fosse a primeira vez.
Não era difícil fingir que o que tínhamos ia além do que quer que fosse aquilo. Eu meio que o amava, mas ele... Eu não tinha ideia do que passava pela mente dele. Mas na minha, tudo era transparente. Eu estava totalmente e humilhantemente apaixonada por Frenkie de Jong.
Há meses.
— Frenkie — eu respondo a pergunta que ele não fez.
Há uma agitação no ar enquanto seus olhos passam pelo meu rosto, sinto que ele hesita um pouco e então morde o lábio inferior. Muitas pessoas achavam que Frenkie era só um menino bonzinho, sem muito do lado sombrio que todos nós temos e em partes até que era verdade. Ele era uma boa pessoa, mas havia sempre uma perturbação que o cobria quando estava vulnerável. Sinto ele vulnerável naquele momento e quero implorar para que me diga o que está em sua mente.
Estamos longe um do outro há alguns dias. Desde que eu disse a ele que o amava. Escapou, sabe. Eu não queria demonstrar que tinha sentimentos porque desde o início eu sou a garota que não quer um namorado, não quer um relacionamento, não quer se apegar. Eu comecei isso, eu fiz ele acreditar que amor era uma coisa que não cabia na minha vida. Agora acho que o transformei em um monstro, só porque sempre disse que não podia dar a ele aquele tipo de coisa.
Eu o afastei porque o amo. Não parece loucura? Ele deveria me afastar, dizer que nós dois nunca funcionaremos, que relacionamentos eram uma perda de tempo. Mas agora eu o amo e quero que ele suma. Ao mesmo tempo, quero que ele diga que me ama também. Quero que ele prove que não preciso fugir daquilo que sinto porque nós dois podemos funcionar juntos.
Estou completamente apaixonada por ele, por seu lado doce e seu lado amargo, pelo sorriso de menino quando está feliz e o cenho franzido quando está irritado. Sou apaixonada pelo cheiro que ele deixa em meu travesseiro de manhã cedo e o café que ele faz quando estamos juntos, sou apaixonada pela forma que ele me beija e me leva até o paraíso, sou apaixonada pelos nossos silêncios e pelas nossas risadas, sou apaixonada pela sua mão entrelaçada na minha e em seus olhos que me fitam com um turbilhão de sentimentos que nós dois não conseguimos explicar.
Acho que sempre estive apaixonada, orbitando junto a ele, mas agora que disse as palavras que não conhecia... Não sei o que fazer.
— Eu sinto sua falta, Flora — Frenkie confessa em um sussurro que invade meu corpo e caça meu coração. Perco o ar e aperto a grade. Ele já me disse aquilo inúmeras vezes enquanto nos beijávamos e nos jogávamos sobre a cama, mas nunca me disse isso tão distante de mim, de um jeito tão sincero.
Eu olho para ele uma última vez antes de indicar a saída com a cabeça. Não quero ter aquela conversa na frente de tantos olhos. Ele entende o que quero dizer e assente, tão resignado quanto eu.
♡
Conheço Frenkie desde que ele era um jogador do Ajax. Quero dizer, nunca tinha falado com ele antes, óbvio, mas quando pisei em Barcelona pela primeira vez já conhecia seu nome há um bom tempo.
E o achava o cara mais gato por aqui. Claro, esses garotinhos loiros e de olhos azuis nunca foram meu tipo. Eu gostava de caras grandes, morenos e repletos de músculos. Eram meio que meu fraco, mas, cara, não se pode subjugar garotos como Frenkie. Ele tinha um charme diferente, ele não era rude nem bruto, não era só papo e beijo e sexo e acabou no fim da noite. Eu era esse tipo de garota, mas ele era diferente.
Dizem que a gente se acostuma com o tipo de amor que recebe. Eu nunca acreditei muito nisso, eu gostava da vida que levava e não via muito problema nela. Eu e Frenkie começamos assim, só papo e beijo e sexo e acabou no fim da noite, mas era diferente. Ele tinha aquele quê a mais que nenhum outro cara tinha. Ele era engraçadinho de um jeito fofo, e sempre que conversávamos ele estava olhando nos meus olhos, não desviava até que eu fizesse o mesmo. Eu sentia que ele prestava atenção em mim num todo e não em algumas partes, e pensei que aquele tipo de jogo dele era do tipo experiente. Ele sabia o que fazer para uma garota sentir que era desejada por completo e não apenas pelos gemidos que ela soltaria no final da noite.
A primeira vez que saí com Frenkie foi um encontro triplo. Lita e Pedri, Nati e Milena, eu e Frenkie. Um grupo curioso, eu diria. A noite terminou com todos nós na sala da casa de Lita, muita bebida em nosso corpo e muitas risadas ao nosso redor. Ele parecia não pertencer à loucura da norte-americana, mas não parecia se importar também. Nós acabamos na sacada, debaixo das estrelas daquela noite quente de verão emendando uma conversa na outra, sentindo a brisa ficar gradativamente mais fria enquanto nossos corpos se aproximavam cada vez mais.
Lembro de como meu coração pulou em expectativa quando ele se aproximou e suas mãos desceram para meu quadril, seu indicador traçando um caminho suave na pele exposta da minha barriga. Senti frio e calor tudo ao mesmo tempo, fiquei sem ar e sem gravidade, como se fosse desabar a qualquer momento e nada na terra pudesse me parar. Ele esperou que eu desse o sinal para que pudesse fazer a próxima jogada e a única coisa que fiz foi enlaçar minhas mãos em sua nuca, puxando-o para mais perto de mim.
Os primeiros beijos sempre eram explosivos, mas com ele parecia que havia um incêndio me queimando por inteira. Ele comandava aquele ritmo lento, me seduzindo como um tango que me levaria até ao inferno sem que eu fizesse objeções. Quando decidiu que me torturar era seu novo hobby, senti mordidinhas em meu lábio e ouvi o gemido rouco que seria meu som preferido no mundo inteiro algum tempo depois. Foi o melhor primeiro beijo, sem mais ou mas. Frenkie me deu pequenos selinhos, um sorriso triunfante brotando em seu rosto bonito. Naquele momento, eu meio que sabia que estava fo-di-da.
Eu só não sabia que alguns meses depois eu estaria perdidamente apaixonada por ele. Sem chances de redenção.
Do lado de fora das janelas do meu Audi, as nuvens começam a sombrear Barcelona. Me sinto como a cidade agora, uma tempestade pronta para me atingir. Ao meu lado, Frenkie olha para as janelas, seu corpo tenso no banco do carona, suas mãos pousadas sobre os joelhos. Ele trocou o uniforme por roupas casuais. Calças de moletom e uma camiseta branca simples. Seu cabelo está molhado, seus olhos perdidos.
Estamos em silêncio desde que chegamos aqui. Não liguei o carro, não perguntei nada a ele. Ficamos parados consumidos pelos nossos pensamentos. Quero gritar e me afastar dele, mas também quero subir em seu colo e o abraçar.
Sinto falta dele como nunca senti falta de nada em minha vida.
— Também senti sua falta — sussurro. Minhas mãos estão inquietas sobre meu colo, fito seu perfil e abro a boca, mas o tremor que consome meus músculos me impede de continuar. Acho que vou começar a chorar.
O pomo de adão de Frenkie sobe e desce. Ele pisca uma vez, duas vezes e seus olhos correm para todos os lados até que ele passe as costas das mãos sobre eles.
— Você foi sincera quando disse aquilo, não foi? Quando disse que...
Ele vira para mim, pela primeira vez desde que entramos naquele carro. Vejo emoção pura nas írises azuis dele, como se a chuva de verão caísse sobre aquele azul que sempre foi tão cristalino. Ele espera que eu seja sincera com tudo que tenho, que eu nunca minta para ele. Não quero fazer isso.
— ... Você me ama, Flora?
Amar. Tinha um gosto agridoce quando eu pronunciava aquela palavra. E quando eu dizia a sequência que formava a frase mais importante que já disse, aquele gosto aumentava, me consumia. Eu levei algum tempo para entender que todas aquelas borboletas, toda aquela vontade de tê-lo comigo e toda a preocupação primitiva que me consumia quando se tratava dele, tinha a ver com meus sentimentos que nasciam e cresciam em relação a ele. Eu amava Frenkie, desde sempre acho, ou desde que ele virou minha vida de ponta cabeça.
Confirmo com a cabeça, mas sei que ele quer que eu diga em voz alta.
— Desde o dia que você conheceu minha família e não fugiu — digo em um tom divertido, mas sei que algumas lágrimas estão escorrendo em meu rosto. Não limpo nenhuma delas como costumo fazer. Quero que minhas emoções escorram por completo. Ele sorri, uma risada fraca escapa por seus lábios e Frenkie limpa outra lágrima fugitiva de seus olhos.
— Eles são incríveis, Flora. Amo todos eles.
Sei que ele é sincero. E aquilo faz algo explodir dentro de mim, um orgulho diferente.
— É verdade, Frenkie. Sobre eu te amar desde aquele tempo. Eu não consegui dar um nome naquela época, mas agora eu consigo. Você... — Levo minhas mãos até meu coração e depois levo até o coração dele. — Entrou aqui e fez alguma coisa comigo. Me fez perceber que tudo depois de você é brilhante e antes era cinzento. Eu perdi todo o controle que tinha por esse coração que nunca quis sentir nada. Você... — Sacudo a cabeça e limpo pela primeira vez meu rosto. — Ligou algo em mim, que eu sempre precisei, mas nunca percebi. E, mesmo que você não sinta o mesmo, ainda assim me sinto grata por ter aprendido a amar dessa forma com você.
Sua expressão se tornou dolorosa e aquilo poderia ter me matado ali mesmo, mas quando ele colocou as mãos sobre minhas bochechas e se aproximou de mim, senti que estava finalmente respirando desde que o conheci. Frenkie acariciou a maçã do meu rosto com seu polegar, ainda parecia que algo dentro dele o machucava. O franzir de sobrancelhas desapareceu e um sorriso estonteante pintou em seu rosto, naquele instante tudo parecia certo novamente.
— Sua cabeça dura irritante — ele disse, como sempre fazia quando brigávamos por coisas pequenas e irrelevantes. Meu coração pulou e meu sorriso cresceu. Frenkie negou uma vez, beijando o topo da minha cabeça, minha testa, minhas bochechas, meu nariz e meus lábios. Ele sorriu como se tivesse acabado de descobrir que o mundo lá fora é muito mais colorido do que imaginava. — Como eu poderia não te amar, Flora? Quando você é você... Tão Flora. E me jogou no seu mundo sem medo, me transformou em seu sem nem perceber. — Frenkie parou e sua mão correu até meu coração, senti sua pele quente contra a minha e aquilo me fez subir até as estrelas, tentando caçá-las com minhas próprias mãos. — Te amar é a única coisa que sei que posso fazer sem nunca me arrepender.
E naquele momento eu sabia que o que sentíamos era muito parecido. Estávamos juntos, orbitando nosso próprio universo. Talvez eu também fosse o tipo de pessoa que poderia hipnotizar Frenkie de Jong e fazê-lo descobrir o amor que nunca esteve com a gente antes. Talvez eu fosse um tipo de amor que o marcava também. Que o faria lembrar daqueles pequenos momentos até que nossa memória fosse a única coisa que tivéssemos.
Seus olhos desceram para os meus lábios, lá fora os primeiros pingos de chuva manchavam o horizonte e subiam um som ritmado de água da chuva e lataria dos carros de encontro um ao outro. Ouvi o suspiro longo de Frenkie quando o agarrei pela barra da camiseta e o trouxe para mais perto de mim.
— O que fazemos agora? — ele perguntou em um fio de voz, seus lábios já eram meu destino certo.
Dei de ombros.
— Nós ficamos juntos.
— Ficamos?
Concordei e sorri.
— Uhum.
— Gosto disso.
— Eu também.
Ele passa a língua sobre o lábio e me beija na bochecha, um dos gestos mais doces que já recebi dele. Frenkie se afasta e sua mão se entrelaça com a minha.
— Vamos embora, Flora.
Não preciso que ele peça mais uma vez.
Vamos ficar juntos e vamos aproveitar cada segundo.
BOA NOITE PESSOAL
Já faz muito tempo que não posto um conto aqui e já faz muito tempo que prometi algo com o loirinho do Barça da minha amiga Laura. Espero que ela aceite ele com um atraso de, sei lá, um ano (perdão amiga).
Enfim, espero que vocês aí também tenham gostado e ainda gostem dos contos do mundinho, às vezes a gente sai da aposentadoria e aparece por aqui. Se vocês gostam, não deixem de comentar viu. Todo mundo é meio fantasma no grupo agora, mas é bom saber o que vocês estão achando das histórias.
Vejo vocês qualquer dia desses e leiam as fanfics na lista do mundinho!!
(off, frenkie e flora estão de volta em mastermind, minha fanfic com o pedri no perfil lwtranger)
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