lavender haze | kai havertz
Eu odiava correr no calor. Cheguei ao final do campo completamente sem ar. Xingando todas as gerações de todos os responsáveis por terem escolhido um país desértico para sediar a Copa do Mundo. Que, para acrescentar, parecia ser o menor dos problemas com essa escolha. Depois da homofobia, machismo, toda a história do trabalho escravo... É, realmente o calor era um pequeno inconveniente.
Olhei para o céu em busca de uma nuvem para ter uma sombra. Eu precisava de um tempo. Todos nós. Alemães não estavam acostumados com isso. E morar na Inglaterra realmente fez com que eu me acostumasse com o tempo nublado. Cara, o que eu não daria por uma chuva agora.
Estava com tanto calor que não percebi que estava parado na frente da área destinada a imprensa e só me dei conta quando um flash foi disparado em minha direção. E talvez o calor estivesse chegando no meu cérebro porque jurei que vi Lavender ali no meio. Mas era impossível, porque ela era fotógrafa de casamentos e se eu me lembrava bem, ela odiava futebol.
— Havertz! Tá parado por quê? — o técnico berrou. Respirei fundo e voltei a correr. Os treinos de cardio realmente eram os piores.
Encontrei Julian no meio do campo.
— Irmão, vou derreter. — ele reclamou.
— É feito de açúcar, Brandt? — Müller passou por nós, ainda cheio de energia. Simplesmente uma máquina. Seja lá o que o Bayern estava dando aos seus jogadores, eu precisava.
— Sim! — Julian respondeu rindo.
— Eu preciso do banho de gelo, tipo agora! — comentei.
Longe de mim sair como o reclamão e rabugento, afinal, era a Copa do Mundo. Eu havia treinado tanto para esse momento e cada sacrifício me trouxe até aqui. Esse era o sonho. Para ficar melhor que isso, apenas se levássemos a taça para casa.
Mas, você sabe, nunca estive tão feliz como agora, mas ainda precisava reclamar. Faz parte da natureza do ser humano e o calor realmente era de matar.
Flick bateu no meu ombro quando o alcancei. Sinalizando o final daquela tortura em forma de preparação física. Pelo menos, também, me entregou uma garrafa de água.
Um dia antes da partida contra a Espanha, tínhamos muito trabalho pela frente. Eu entendia a rigidez e a cobrança. Depois de 2018, nós tínhamos um dever com o nosso povo de ir bem nessa Copa, ainda mais depois do começo ruim, perdendo do Japão.
Flick passou a mão pelo rosto.
— Tenho que encarar os tubarões agora. — era assim que ele se referia aos jornalistas na coletiva de imprensa que o esperava. — Venha comigo, o que acha? Eles sempre gostam de jogadores.
— Quer me jogar na fogueira, treinador? — perguntei brincando, mas ele não gostou. — É, vamos lá.
Tomei um banho rápido e me arrumei para parecer apresentável em frente às câmeras. Entrei ao lado de Hans e ele começou respondendo as perguntas. Sempre a mesma coisa. Novidades na escalação, previsão para o próximo jogo. Eu odiava.
Antes dos tubarões se voltarem à mim, encontrei Lavender ali no meio das câmeras. Então, no final das contas, o calor não estava me deixando louco ainda. Mas fazer essa descoberta foi horrível porque só conseguia pensar no que ela estava fazendo ali.
Enquanto Hans respondia mandei uma mensagem rápida para um dos meus amigos mais antigos, Louis.
K: sua irmã tá no Qatar?
Louis Beck e sua família tinham se mudado para a casa ao lado da minha quando tínhamos 6 anos. Ele era o tipo de garoto mais artístico, gostava de histórias em quadrinhos, vídeo games e de desenhar. Sempre se metia em confusão na escola por desenhar durante as aulas. Os meninos da nossa idade não gostavam muito dele, ele não falava bem alemão e não jogava futebol, mas era meu melhor amigo. Estávamos sempre um na casa do outro e um sempre protegendo o outro. Na escola, quando mexiam com ele, eu o defendia. Se eu estava jogando e alguém me xingava, Louis arranjava uma briga.
Eles voltaram para a Inglaterra, no verão em que fiz 15 anos. Eu ia visita-los nas férias e vice-versa. Nunca perdi o contato com Louis, mas não via sua irmã mais nova desde que ela tinha 16 anos. Lavender não era minha maior fã. Se eu e Louis tínhamos a fama de sermos briguentos, Lavender era mil vezes pior.
Apenas um ano mais nova, ela sempre queria participar do que a gente fazia e Louis nunca deixava. Não havia muito o que fazer em Aachen e às vezes eu ficava com dó de deixar ela de lado, mas eles tinham brigas tão grandes que eu não queria ficar meio. Uma vez, ele não deixou ela andar de cavalo com a gente e ela, num acesso de raiva, tirou o óculos de grau de Louis do rosto dele e o quebrou.
Quando me mudei para Londres, Louis estava morando na Espanha, atrás da carreira artística e todas as vezes que encontrei os pais deles, Lavender não estava junto. Foi estranho vê-la ali, do outro lado do mundo e tão diferente da última vez que a tinha visto.
Ela com certeza sabia que eu era o Kai que ia todos os dias à sua casa e não sei porque estava esperando que ela falasse comigo ou apenas me avisasse que estaria aqui.
Continuei respondendo as perguntas da coletiva em piloto automático. É, precisamos organizar melhor o time. Sim, estávamos atrás das vitórias. Tentei prestar atenção, mas estava esperando meu celular vibrar com uma mensagem de Louis. Ou da própria Lavender.
O que não aconteceu até eu já estar no quarto que dividia com Julian na concentração da seleção.
Louis: É, uma amiga dela não pode ir e pediu pra Lav substituir. Não entendi muito bem a história pra ser sincero, Lavender só estava reclamando de ter que ir.
K: Acabei de vê-la na coletiva de imprensa mas não tinha certeza se era ela.
Louis: Ela tá odiando, mas com certeza era ela.
K: Avisa que se ela precisar de alguma coisa, pode me procurar
Louis: Valeu, Kai. Vou falar com ela.
Louis me mandou o número de Lavender e eu não tinha intenção nenhuma de usar, a não ser que ela me mandasse mensagem antes. Parecia errado ser o primeiro a iniciar a conversa e eu não sabia porque me sentia assim. Lavender era uma amiga antiga, no final das contas.
— Jule. — chamei. — Pergunta.
— Manda.
— Vamos supor: seu melhor amigo tem uma irmã mais nova que você não há anos, aí, do nada, você encontra ela.
— Cara, que merda você tá se metendo? — ele riu.
— E você conta pro seu amigo que você viu ela e ele manda o número dela pra você porque tipo, vocês dois tão no fim do mundo sem conhecer ninguém. Seria errado usar?
— Primeiro: achei que eu fosse seu melhor amigo, isso me magoou. — ele colocou a mão no coração e respondi jogando uma almofada nele. — Ok. — ele riu. — Ela é gata?
— Bem... sim.
— Óbvio que é. Então, sim. Eu ficaria puto se fosse o irmão.
— Mas ele que mandou o contato dela. — rebati.
— É, mas se você mandar mensagem inocente falando: "ah quanto tempo! vamos matar a saudade como amigos" você não teria criado uma situação hipotética pra me perguntar se está errado. Você já teria feito, porque não teriam dúvidas.
Touché, Julian Brandt.
— Eu não a vejo desde que ela tem 16. E ela me odiava. Não sei porque to pensando tanto nisso.
— Porque ela tá gostosa. Duh. — revirei os olhos para ele.
Tive a péssima ideia de contar para minha irmã que Lavender estava aqui. Lea era mais velha, mas, tínhamos passado muito tempo com os Beck na infância e adolescência e ela lembrava de Lavender com carinho, por isso, insistiu que eu a chamasse para jantar conosco na noite seguinte, quando eu estivesse de folga.
Coloquei na cabeça que não tinha motivo para ficar com o que Julian me disse na cabeça e mandei uma mensagem.
K: Oi, é o Kai. Seu irmão mandou seu número.
K: Amanhã, depois do jogo eu tenho a noite de folga. Quer jantar comigo e com a Lea? Ela ficou animada que você está aqui.
Lavender: To de folga amanhã também, pode ser.
K: O dia todo? Posso te conseguir ingresso pro jogo.
Lavender: Eu passo, superstar. Preciso não ver futebol por um dia.
K: Justo. Te vejo de noite, então.
Lavender: Me passa os detalhes depois
Lavender: Até amanhã
A última coisa que eu precisava era me preocupar com Lavender. Não era sua babá no Qatar. Mesmo assim, o jantar com ela ocupou grande parte dos meus pensamentos naquele dia.
Não entrei no jogo entre Alemanha e Espanha. Fiquei um pouco frustrado, mas não deixei transparecer. Queria entrar em todos os jogos, todos os jogadores querem isso e nem sempre é possível. Mas, é bem ruim ser colocado no banco após ter sido titular e é péssimo ver sua seleção precisando de um gol e você não poder fazer nada para ajudar. O empate não era o pior dos mundos, mas ainda estávamos com a corda no pescoço. Era ganhar ou ganhar a próxima partida contra a Costa Rica.
A moral do time estava melhor depois do empate, mas foi um alívio ver minha irmã e poder relaxar. Os jogadores não tinham permissão para sair do hotel, mas naquela noite, os familiares eram bem-vindos dentro da concentração. Apenas minha irmã tinha vindo para o Qatar e agora Lavender estava aqui também.
Vi Julian sorrir maliciosamente em minha direção ao ver a loira chegando junto de Lea ao meu encontro.
Droga, ela realmente estava bonita. Ela e Lea já conversavam como se fossem melhores amigas.
— Ei, Lav! Quanto tempo! — a abracei e depois abracei minha irmã.
— Acho que a última vez que eu te vi você era uns 20 centímetros mais baixo. — ela comentou.
— Ele está mais alto que Jan agora. — Lea comentou.
— E a última vez que eu te vi, você odiava futebol e olhe agora, trabalhando na Copa! — provoquei.
— Não por opção, isso eu te garanto.
Lavender, então, me explicou que a amiga dela que trabalha com esportes tinha engravidado e se tratava de uma gravidez de risco, por isso não poderia viajar. E tudo aconteceu de última hora, o que tornava difícil conseguir gente para substituí-la, e foi assim que ela acabou nessa. Um favor para uma amiga.
— Mas me mando daqui assim que a primeira fase acabar. Depois, eles já conseguiram outro fotógrafo. Só estou quebrando o galho para ela mesmo.
Foi bom ter Lea ali. Assim não parecia como um encontro. Mas eu definitivamente estava sentindo que estava fazendo algo errado. Odiava quando Julian estava certo. Eu estava atraído por Lavender. Ela era bonita, engraçada e inteligente. Me tratava como sempre tratou, me provocando, como fazia com seu irmão.
— Você está mais boazinha agora. Só me lembrava de você toda bravinha quando seu irmão não deixava você brincar com a gente.
Ela deu de ombros.
— Não preciso mais competir com a atenção de Louis com você, não preciso mais ficar brava.
— Era por isso que você me odiava?
— Claro que sim. Louis te venerava e minha mãe brigava comigo quando eu brigava com vocês, porque você era o único amigo dele. E eu só queria participar.
— Eu sempre dizia pra ele deixar você ficar com a gente, mas ele é cabeça dura, você conhece.
— E o seu jeito de me ajudar era brigar comigo também?
— Bem, você era a irmãzinha dele e ele, o meu amigo. Eu tinha que ficar do lado dele.
— Eu era? — ela provocou.
— Você cresceu. — dei de ombros.
Lea, então, começou a perguntar sobre Louis. Lav contou sobre como ele estava bem na Espanha e que finalmente havia terminado com a namorada italiana dele. Fiquei surpreso com a notícia, mas era um alívio.
— Eu a conheci uma vez, no verão. Ela era tão ciumenta e parecia me odiar, mesmo antes de me conhecer. — comentei.
— Não se sinta especial. — Lav respondeu rindo. — Ela era assim com todos. Até com meus pais. Por isso eu disse a Louis: se você quiser acabar com uma doida, o problema é seu, mas o mínimo é ela respeitar sua família. Mas, ela tinha ciúmes da minha relação com ele. Ela era folgada quando ficava na casa dos meus pais, era um horror.
— Jan teve uma dessas também. Você lembra, Kai? — Lea relembrou.
Eu infelizmente me lembrava de todas as malucas que Jan já havia levado para casa. E também, dos malucos que Lea tinha namorado. Ela tinha sua própria cota de namorados ruins que tinham não só traumatizado ela, mas como todos na casa Havertz.
Na família, eu era a salvação. Nunca tinha apresentado nenhuma garota horrorosa para meus pais. Na verdade, até hoje, apenas tinha apresentado uma namorada para eles. E fiquei com ela por tanto tempo que ela era praticamente da família e quando terminamos, porque nenhum dos dois estava afim de manter um relacionamento a distância, todos nós sofremos.
— E, você, Lav? — Lea perguntou. — Está namorando?
A inglesa riu alto.
— Oh, Deus. Não. Está impossível achar um cara decente em Londres nesses tempos.
Não queria participar dessa conversa. Primeiro, porque fiquei aliviado ao saber que ela estava solteira e segundo, sentia que qualquer coisa que eu dissesse sairia de forma errada.
O que estava acontecendo comigo? Que grande merda.
— E você, Kai? Ainda namorando?
Gelei ao escutar meu nome saindo da boca de Lavender.
— Terminamos quando me mudei para Londres.
— Oh. Louis dizia que achava que você iria se
casar.
— Nem perto. E agora estou solteiro e encalhado, praticamente.
— Eu duvido muito, mas vou deixar passar. — ela riu. O que ela quis dizer com isso?
Durante o resto do jantar tentei mentalizar que a nova atração que eu estava sentindo por Lavender não era nada menos do que uma surpresa grande por encontrá-la depois de tanto tempo ali no Qatar, de todos os lugares. Afinal, estávamos vivendo na mesma cidade há algum tempo e nenhum dos dois havia se interessado em manter contato com o outro.
Mas, o fato era que Lavender tinha deixado de ser a irmã mais nova do meu melhor amigo, uma lembrança de infância, alguém que eu conheci há tempo atrás. Lavender era uma pessoa muito real que estava na minha frente esperando seu táxi que parecia que não chegaria nunca.
Perto da hora do toque de recolher, quando eu teria de voltar para a concentração, Lea e Lavender terminaram de comer a sobremesa e encerramos a noite. O táxi da minha irmã chegou rápido, mas Lav estava tendo problemas em conseguir um motorista.
— Você mudou bastante. — ela comentou sem me olhar, estava focada no seu aplicativo do Uber.
— Você mudou muito. — enfatizei.
— Eu sei. Eu tinha 16 anos quando você me viu pela última vez.
— E eu tinha 17. Era aquela fase horrorosa da adolescência. — ri.
— Era mesmo. Mas, quero dizer, você não parece mais o amigo irritante do Louis. Você virou uma pessoa decente, até.
— Até? — provoquei.
— Ah qual é. Grande jogador, gol na final da Champions, talvez você seja o solteiro mais cobiçado de Londres e ainda assim é um cara legal. — ela explicou.
— Por que você faz parecer que ser um jogador é uma coisa ruim?
— Pela fama que vocês tem, ué. E eu não gosto de futebol, você sabe. — rolei os olhos ao ser lembrado desse fato. Às vezes, seus pais iam aos meus jogos junto com os meus pais e sempre levavam Lavender, que sempre reclamava muito e fazia questão de me deixar ciente que não estava ali por vontade própria.
— Não acredito que você estava esperando que eu fosse um babaca.
— Ah, sei lá. Faz realmente muito tempo que eu não te via. Não sabia o que esperar. — ela deu de ombros. — Oh, consegui um táxi. Ele já está chegando.
— Me avise quando chegar no seu hotel.
— Pode deixar, superstar. — ela me abraçou. — Obrigada por hoje. Adorei ver vocês.
— Podemos fazer isso de novo qualquer dia. Ou em Londres.
Ela sorriu maliciosa e depois caiu na gargalhada.
— É o seu jeito de me convidar para um encontro?
Acho que tentei falar que não era isso, mas só gaguejei. Ou talvez não tenha respondido nada e ficado em completo choque, mas ela continuou rindo. Deu um beijo na minha bochecha quando viu o seu táxi se aproximar.
— Era brincadeira. Não precisa levar pro coração.
Engraçado da parte dela, porque eu definitivamente levei para o coração. Assisti o carro dela ir embora paralizado, da mesma forma que ela havia me deixado. O que era ótimo, além de péssimo amigo, eu também era patético.
Voltei para dentro do hotel e Julian me bombardeou com perguntas que eu não estava afim de responder, que eu desconversei dizendo que estava cansado.
Tomei banho e quando saí, tinham duas notificações no meu celular. Uma, era Lea dizendo que eu deveria sair com Lavender, ela achou que poderíamos formar um bom casal. E a outra, era dela.
L: Cheguei, superstar.
Decidi ignorar minha irmã.
K: Qual é desse apelido?
L: É o que você é, não?
K: Se você está dizendo.
Eu não estava imaginando que Lavender tinha flertado comigo antes de ir embora. Poderia estar desacreditado, mas não estava totalmente louco. E estaria mentindo se falasse que não queria descobrir o que essa atração repentina poderia trazer. Nunca tinha me sentido assim, foi tão inesperado e confuso. Quase que como mágica. Como se eu tivesse sido acertado pela flecha de um Cupido ou tomado uma poção do amor.
Quando Lavender fez 14 anos, ela ganhou sua primeira câmera fotográfica. Não era nada comparada com a que vi usando na coletiva de imprensa. Naquele aniversário, a única coisa que ela pediu de Louis era que ele a deixasse tirar fotos dele. E quando ele se cansou de ser o modelo, a levou para meu jogo e disse para ela treinar tirar fotos espontâneas e em movimento. Na época, acho que ela não percebeu que ele só queria paz. Ela estava tão feliz e eu me surpreendi com algumas fotos que ela tirou, saindo boas para uma primeira tentativa. Até postei uma delas no Instagram para deixá-la feliz e orgulhosa.
Não sabia que ela se tornaria uma fotógrafa profissional, mas nossa, ela era boa. Ela me mandou algumas fotos que havia tirado no treino e disse que eu poderia postar se quisesse. Disse que sua editora não iria usá-las, mas que ela tinha gostado muito para descartar.
— Sabe, Kai. — Julian entrou no quarto e se jogou na cama. — Estive pensando sobre sua situação.
— Eu preciso escutar?
Ele me ignorou.
— É a irmã do Louis, não é? Eu me lembro dele. Daquela família que era toda artística e morava perto de você. Ela se parece um pouco com ele.
— Não parece não. Ela é loira, Louis é moreno.
— Ok, você está em negação. Mas, se eu fosse ele, gostaria que você namorasse minha irmã. Dito isso, estou muito feliz por apenas ter irmãos. — ele riu.
— Idiota. — murmurei.
— É sério, cara. Você pode ser chato, briguento e teimoso mas pode ser considerado um cara legal para namorar. Então, acho que se você pegar a Lavender, o Louis vai entender.
— Deus, Jule. Eu te odeio.
— Acho bom você ser legal comigo. Posso ser seu único amigo daqui um tempo.
— Julian. Cala a boca!
Para mudar de assunto, mostrei as fotos para Julian. Outra péssima decisão, porque ele insistiu que eu perguntasse se ela tinha alguma foto dele. Lavender logo me mandou um anexo com várias, até com algumas fotos minhas e de Julian conversando no meio do campo. Pegos no flagra.
Não sei explicar como mandar as fotos que eu havia tirado do amigo do Kai levou a conversar com o Kai em todos os momentos que eu não estava trabalhando e ele não estava treinando. A Lavender de 10 anos estaria gritando agora se ela pudesse imaginar.
Se eu estava livre, estava conversando com Kai por mensagens ou saindo com Lea. Ela estava sozinha em Doha e doida por uma companhia. Saímos para jantar, para fazer compras, apenas para ficar na praia. E, logo, eu não estava mais odiando minha estadia no Qatar.
Com o avanço da terceira rodada da fase de grupos, meu tempo ali estava terminando e em breve eu voltaria para minha vida em Londres, fotografando casamentos. Era o que eu amava, sem dúvidas, mas ter essa experiência no esporte me fez ver o futebol com outros olhos. Era bem mais emocionante do que eu pensava.
Eu sempre fui uma garota do automobilismo. Assistia as corridas da Fórmula 1 com meu pai desde criança e achava que o futebol era muito mais chato. Não tinha a adrenalina que uma corrida tinha. Era nossa coisa, minha e do meu pai, passar os fins de semana vendo as corridas e torcendo por Sebastian Vettel e agora, Max Verstappen. É, o futebol ainda precisava fazer muito para me conquistar mas com certeza tinha crescido no meu conceito.
Quando compartilhei esses pensamentos com Louis, ele respondeu dizendo que era tudo culpa de Kai, que a paixonite que eu tinha nele quando éramos mais novos estava de volta. Sim, verdade, mas ele não precisava saber disso. Mesmo antes de Kai, eu já estava curtindo mais acompanhar os jogos.
Fui escalada para o jogo da Alemanha. Seria meu penúltimo jogo antes de voltar para casa. Eles estavam em busca da classificação, então seria intenso. Me peguei preocupada com Kai, mas pelo que entendi, as chances eram favoráveis à eles.
Me posicionei na beirada do campo junto com os outros da imprensa enquanto os jogadores subiam para o aquecimento.
— Havertz está no banco. — escutei alguém falar.
— Flick é burro ou o quê? — outra pessoa rebateu.
Sorri involuntariamente ao escutar praticamente todos na área das câmeras demonstrarem frustração ao saberem que Kai não ia jogar. Como eu era idiota.
Eu nunca fui legal com ele. Quando o conheci, achava que ele estava roubando meu irmão de mim. Louis sempre preferia brincar com Kai do que comigo. Quando entrei na pré-adolescência, ele já jogava bola e passou a ser o cara mais legal que eu conhecia. Louis não demorou a entender que eu estava apaixonadinha por Kai mas jurou nunca contar, e eu tentei não demonstrar o que sentia, então, passei a ser ainda mais mal humorada perto dele.
Eu cresci, ele cresceu. Mas, foi só olhar para ele por dois segundos para sentir a paixonite voltando. Patético, eu sei. Não foi meu melhor momento. Eu queria saber se eu tinha uma chance ou se ele realmente só me via como a irmãzinha de Louis, e por incrível que pareça, ele retribuiu.
Kai entrou na metade do segundo tempo e marcou dois gols. Foi brilhante, mas não o suficiente para classificar a Alemanha. Encontrei com ele enquanto ele recebia o prêmio de Man of the Match, sussurrei um "desculpe" enquanto tirava sua foto.
Voltei para o hotel sentindo a eliminação da Alemanha como se fosse da minha própria seleção. Editei todas as fotos e encaminhei para minha chefe temporária. Estava preocupada com Kai, mas segundo Lea, ele queria ficar sozinho. Mesmo assim, decidi tentar a sorte.
Ela disse que as famílias dos jogadores foram liberadas na concentração depois do jogo, mas que Kai estava desanimado e ela foi embora logo.
L: Acho que a gente vai voltar para casa no mesmo voo, no final de contas.
K: Ha-ha. Morri de rir.
L: Desculpa, precisei. Como você tá?
K: Querendo me jogar na frente de um ônibus.
L: Ajuda se eu disser que eu to chegando?
Foi uma ideia arriscada aparecer no hotel dele sem avisar. Já era tarde. Quando cheguei, ele estava me esperando no hall sozinho.
Kai me abraçou forte.
— Só podemos ficar por aqui. Amanhã temos alguns compromissos com a federação, mas depois já seremos liberados.
— Tudo bem.
— Posso pedir comida, o que acha? — ele sugeriu e eu agradeci.
Ele pediu hambúrgueres e comemos sentados no sofá do hotel. Não percebi o quão perto ele estava até me pegar ajeitando minha cabeça em seu ombro. Estava olhando a janela, o céu escuro com poucas estrelas mas cheio de prédios luminosos. Não era possível ver a Lua.
— Obrigado por ter vindo. Era o que eu precisava e não sabia.
— Louis mandou dizer que sente muito. Ele também disse que vocês não iriam ganhar da Inglaterra, de qualquer forma.
Kai riu.
— Ele é um idiota. Mas eu sinto a falta dele.
— Eu também.
Kai tinha os olhos verdes mais bonitos que eu já tinha visto na vida. O verde acinzentado que dependendo da luz ficava mais azul ou até amarelado.
— Sabia que eu era apaixonadinha por você?
— O que? Não! Você me odiava.
— Era para mascarar o que eu sentia, seu idiota. Você não podia saber.
— Por que não?
— Porque eu era a irmã do seu melhor amigo. Não uma garota, só a Lavender, irmã do Louis, que você conhecia desde sempre. E, porque era mais legal assim. Qual graça teria se você retribuísse o sentimento?
— Você é uma idiota, Lavender.
Parei de observar o céu e virei para ele. Encarando seus olhos que eu tanto gostava e Kai me beijou. Porque agora ele me via como uma garota e agora, a graça era ter um sentimento mútuo.
— Quando você volta para Londres? — perguntei.
— Volto para a Alemanha amanhã, depois estou livre por um tempo.
— Volto daqui dois dias, mas estou de férias. Estava pensando em visitar Louis na Espanha. Você deveria ir comigo.
— Ir com você, como? Tipo, amigos que se reencontraram ou...
Rolei os olhos.
— Se você quiser me beijar e me chamar de amiga, eu vou embora e não volto mais.
Ele riu, mas segurou minha mão mais forte.
— Louis não vai se importar? Não sei se eu gostaria de ter meus amigos junto com minha irmã.
— Ele não vai se importar porque é você, Kai.
•
n/a:
quase perdi o timing de postar esse conto de tanto tempo que faz que a alemanha foi eliminada, pra tristeza do kai e para nossa alegria.
acontece, né
espero que vocês tenham gostado desse continho que eu tinha prometido pra bruna e tive que cumprir pq sou uma mulher de palavras. por isso, esse é pra vc bruninha
tbm espero que vocês estejam curtindo a ressurreição desse livro com a Copa e digo que vem muito mais por aí, se preparem
e venho aqui IMPLORAR mais uma vez pra alguém escrever com o frenkie de jong. gente, por favor eu faço qualquer coisa!
bjs e até a próxima :)
laur
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